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Prefácio- Roberto Fortes
PREFÁCIO
Nascida nos primórdios da América portuguesa, a cidade de Iguape, fundada oficialmente em 3 de dezembro de 1538, pode ter a sua história recuada a 1502, com a chegada do misterioso Bacharel Cosme Fernandes que, segundo alguns historiadores, teria vindo na expedição que tinha Américo Vespúcio como piloto e cosmógrafo; ou até mesmo a 1498-1499, segundo outros pesquisadores, na expedição de Bartolomeu Dias, portanto, antes mesmo do Descobrimento do Brasil.
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A então Vila de Nossa Senhora das Neves de Iguape, que começou como um tímido povoado nas imediações do Outeiro do Bacharel, no bairro do Icapara, passou por vários ciclos econômicos, sendo o primeiro a mineração do ouro, praticada nos rios do Vale do Ribeira. Para fiscalizar a extração do ouro e cobrar o respectivo “quinto real” (vinte por cento), foi estabelecida na vila, por volta da década de 1630, uma Casa da Fundição do Ouro, considerada a primeira – ou umas das primeiras – do País. Com a descoberta das Minas Gerais, boa parte dos mineradores daqui migraram para aquela região, porém, a mineração, apesar de limitada, ainda se manteve no Vale do Ribeira até o final do século XVIII, quando a Casa da Fundição foi fechada pelo governo colonial.
A atividade econômica seguinte foi a construção naval, quando na Vila de Iguape, em diversos estaleiros, foram construídas dezenas de embarcações, que eram vendidas para armadores de Santos e Rio de Janeiro, notabilizando-se nesse ofício os habilidosos “carpinteiros da Ribeira”.
O ciclo do arroz – o mais rentável e que projetou a Vila de Iguape como a Capital do Sul da Província de São Paulo – teve início a partir do final do século XVIII, consolidando-se durante todo o século XIX, quando a vila foi considerada a maior produtora e exportadora nacional do afamado arroz, considerado “o legítimo de Iguape”. Em exposição realizada na cidade de Turim, Itália, em 1911, o arroz produzido no município foi considerado “o melhor do mundo”, recebendo um diploma de bronze, que hoje faz parte do acervo do Museu Municipal da cidade.
Por volta de 1614, a vila transferiu-se para o local onde modernamente se encontra estabelecida, às margens do Mar Pequeno. Os primeiros edifícios construídos em seu novo sítio foram a Igreja de Nossa Senhora das Neves, a Casa de Fundição do Ouro e a Casa da Câmara e Cadeia, demolida em 1827 para o aumento da Igreja dedi-
cada ao Bom Jesus. O processo de ocupação urbana teve início a partir do Funil (rua das Neves) e da rua Tiradentes (antiga rua da Palha). As casas eram pequenas, baixas, geminadas, inicialmente construídas de taipa e cobertas por palha de palmeiras. Com o incremento da mineração do ouro, sobrados de pedra e cal passaram a ser construídos, crescendo em número durante o ciclo do arroz, e assim o Largo da Matriz foi, aos poucos, adquirindo a sua configuração atual, apresentando, atualmente, a maioria de seus prédios ainda bem preservados.
Anísia Lourenço Mendes, com a publicação do livro digital “Iguape - Patrimônio Nacional”, vem resgatar toda essa riquíssima história, quase cinco vezes secular, dando especial destaque à construção dos belíssimos casarões, suas técnicas construtivas e destacando a importância desse patrimônio arquitetônico não somente para o Estado de São Paulo, mas também para o Brasil.
Boa leitura!
Roberto Fortes
Historiador e jornalista, sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo