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Hotel do Comércio
HISTÓRIA DO IMÓVEL
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Localização: Rua das Neves
Este bonito sobrado, localizado no Largo das Neves, se tornou um dos primeiros hotéis em funcionamento na cidade. Registros históricos indicam que sua construção original, no estilo colonial português, foi executada durante a primeira metade do século XIX e custeada pelo capitão Antonio Borges Diniz, um agricultor de posses e de influência na Vila, que foi proprietário de grandes sesmarias distribuídas pelo vasto território iguapense. Após a morte do capitão Diniz, em 1865, o prédio foi herdado por seu neto, o padre Antônio Carneiro da Silva Braga, mais conhecido por Cônego Braga. Anos mais tarde, após o falecimento do sacerdote, em 1891, outros herdeiros assumiram o imóvel e, em março de 1910, o venderam para o capitão Manoel Lino Alves Vieira, que fez uma reforma completa reconstruindo todo o sobrado em estilo arquitetônico Art Nouveau. Nessa ocasião foi instalado o Hotel do Comércio, que passou a hospedar visitantes que chegavam na cidade trazidos pelos vapores que ainda atracavam no Porto Grande. Em 1921, Juvenal de Mello, um comerciante local, arrendou o prédio da viúva do capitão Manoel Lino, e investiu na melhoria da qualidade do atendimento. O hotel foi alugado por outros comerciantes, e o estabelecimento teve seu nome alterado por duas vezes: Grande Hotel do Comércio e Central Hotel. Pouco tempo depois, em janeiro de 1929, o casal espanhol José Sanches Paz e Josepha Garcia Golpe desembarcava no Porto de Santos. Eles seriam os próximos proprietários do sobrado e, ao chegarem em Iguape, em 1943, logo adquiriram o prédio dos herdeiros do capitão Manoel Lino. O imóvel tinha muitos problemas estruturais e novamente recebeu uma reforma. Com tudo arrumado, seus novos donos resgataram o nome original do estabelecimento. Em janeiro de 1945, o sobrado foi doado aos filhos do casal: José Sanches Garcia, Carmem Sanches Garcia e Josefa Sanches Carneiro. Os dois primeiros faleceram em 2003 e 2018, respectivamente. A filha mais velha, Josefa, de 92 anos, continua sendo a principal herdeira do imóvel. Na década de 1960, além de acolher os hóspedes, o Hotel do Comércio contava com um amplo restaurante que servia deliciosas refeições àqueles que ali se hospedavam, e à algumas outras pessoas que viviam na cidade, como o Juiz de Direito e outros visitantes conhecedores dos apetitosos pratos preparados por sua proprietária, conhecida por todos como Dona Pepita. Com o falecimento de José Sanchez Paz, em 1967, as atividades do hotel ficaram paralisadas por alguns anos, tendo sido retomadas em 1980, quando sua viúva passou a cuidar do estabelecimento, com a ajuda de José Sanches Paz Neto, um de seus netos. E, assim, o Hotel do Comércio funcionou regularmente até dezembro de 2000, quando Josepha Garcia Golpe, também faleceu, aos 95 anos. Desde então, o imóvel deixou de funcionar como hotel e passou a ser utilizado como moradia de parte dos herdeiros, que hoje são responsáveis pela manutenção e pela preservação da memória desse importante edifício.
Alfredo Volpi e a “Grande Fachada Festiva”
Na primeira metade do século XX, o Hotel do Comércio era sinônimo de bom atendimento e de serviço de qualidade. Muitos foram os que ali se hospedaram, dentre eles, o pintor
ítalo-brasileiro Alfredo Volpi que visitou Iguape em 1953 e registrou a fachada deste hotel em pintura sobre tela, que ganhou fama e se tornou mundialmente conhecida. Intitulada “Grande Fachada Festiva” a pintura é considerada uma de suas principais obras de arte. Nascido em Lucca, Itália, em 1896, Alfredo Foguebecca Volpi chegou ao Brasil com pouco mais de um ano de idade, e sua família se estabeleceu em São Paulo, cidade onde ele viveu e faleceu em 1988, aos 92 anos. Volpi foi autodidata e começou a pintar murais decorativos com apenas 15 anos de idade. Suas pinturas representando casarios e bandeirinhas de festas juninas, garantiram a ele um destaque no mundo da arte e tornaram-se a sua marca registrada. O artista foi premiado em várias oportunidades, como o de melhor pintor brasileiro na II Bienal Internacional de São Paulo (1953), esteve na Bienal de Veneza (1952, 1954, 1962 e 1964), e integrou importantes exposições em cidades como Tóquio, Paris, Buenos Aires, Roma e Nova York. Em 2013, a Oficina Cultural Gerson de Abreu, atuante em Iguape naquela época, realizou um encontro para comemorar as seis décadas da visita do artista à cidade. A palestra “Volpi, 60 anos Depois” foi no próprio Hotel do Comércio, onde ele havia se hospedado. Dezenas de convidados prestigiaram o evento que contou com a apresentação feita pelo crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, também cineasta e curador de mostras de artes, entre elas duas sobre o pintor. Durante o tempo destinado a palestra, que também foi transmitida, ao vivo, pela internet, o crítico de arte comentou sobre as mudanças estilísticas que aconteceram na pintura de Alfredo Volpi de 1953 até o ano da morte do artista.
Conceitos e detalhes da arquitetura
Este sobrado de dois pavimentos em estilo Art Nouveau tem grande influência do Neoclássico, que pode ser encontrado na simetria da composição e no repertório ornamental. O seu telhado é em três águas com telhas de argila. A divisão entre os pavimentos está em evidência, em relevo saliente, nas duas fachadas, sustentadas por grossas paredes em pedra e cal. A fachada principal voltada para a Rua das Neves possuía, em sua forma original, os vãos preenchidos por quatro janelas e duas portas no pavimento térreo. Após a reforma, que transformou o imóvel no novo estilo arquitetônico, uma das portas foi fechada com alvenaria. Hoje, os vãos da fachada desse pavimento estão preenchidos por uma porta central com duas janelas do lado esquerdo e três janelas do lado direito, com vergas retas embelezando as molduras retangulares. Todos os vãos possuem bandeira fixa com caixilhos envidraçados. As paredes, os barrados, os balaústres, as janelas e as portas da fachada receberam pintura na cor vermelha e as molduras, colunas, cornija, cimalhas e ornamentos estão na cor branca. A porta é em madeira com duas folhas de escuro, e se abre para um corredor com piso hidráulico, destacando figuras na cor vermelha onde se encontra a porta de acesso ao sobrado que também possui bandeira fixa em caixilhos envidraçados e duas folhas de escuro em madeira almofadadas, que possuem na parte superior de ambas, uma abertura preenchida com vidro. As janelas seguem as mesmas características, são em duas folhas de caixilhos envidraçados sendo que abaixo do peitoril, o vão é preenchido na parte interna em alvenaria rebocada e, em frente à essa parede, do lado externo, foram inseridos balaústres que imitam uma sacada entalada, que anteriormente ali existia. No segundo pavimento da fachada principal os vãos, que durante muitos anos foram preenchidos por seis por-
tas-janelas com sacada entalada, passaram a ser preenchidos apenas por seis janelas, mantendo o padrão das do pavimento térreo que foram fechadas abaixo do peitoril com balaústres, como uma sacada entalada. As janelas são em caixilhos envidraçados com quatro pinázios separando os vidros. Acima das vergas retas das janelas um friso corre toda a parede e, acima do friso, está uma linda cimalha onde foram inseridas telhas de argila. O telhado do sobrado fica oculto por uma platibanda abalaustrada que possui, ao centro, um retângulo em relevo e, acima dele, um lindo ornamento em uma abertura em semicírculo, onde se destaca o rosto de um homem com um capacete e com asas de um anjo e, atrás de sua cabeça, existe um pináculo. Toda a platibanda é emoldurada por cornijas que se abrem ao centro adornando o ornamento. Dois globos, um de cada lado, em cima das cornijas enfeitam ainda mais o belo sobrado. O imóvel se estende até o Funil de Baixo, na Rua XV de Novembro e essa fachada, curiosamente, possui características bastante diferentes da principal, com elementos que remetem à arquitetura colonial, o primeiro estilo arquitetônico do sobrado quando da sua construção, o que pode ter sido mantido. Nessa fachada, o pavimento térreo possui cinco vãos que são preenchidos por uma porta e quatro janelas, com as molduras em vergas em arco abatido, sobrevergas e ombreiras e as janelas com peitoris. A porta é em duas folhas de escuro em madeira com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, assim como as quatro janelas também com bandeira fixa com caixilhos em vidros. No centro, dois retângulos com veneziana, e duas folhas de escuro em madeira se abrem para dentro, e duas folhas com a parte superior em caixilhos e a outra metade com veneziana, se abrem para o lado da rua. No pavimento superior os vãos são preenchidos por cinco janelas, com duas folhas de escuro em madeira e também possuem as molduras iguais às do pavimento térreo. As eiras e beiras emolduram o acabamento do telhado que se encontra coberto por flores. Abaixo, um lindo barrado em argamassa em relevo se destaca na cor vermelha, que é a mesma cor que recobre todas as molduras, as portas e as janelas desta fachada. As paredes são na cor branca.
Internamente, a parte original do hotel era de pau a pique, constituída por 18 quartos, com alguns no piso superior do prédio e outros no térreo, com banheiros nos corredores. No momento o sobrado passa por uma nova reforma das fachadas.
Sacada entalhada
Platibanda
COMO CONHECER
O Hotel do Comércio integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros