5 minute read

Funil de Cima

Next Article
Casa dos Jesuítas

Casa dos Jesuítas

HISTÓRIA DA LOCALIDADE

Advertisement

Localização: Rua das Neves

A Rua das Neves é um dos mais antigos e principais acessos ao núcleo urbano de Iguape. É até hoje conhecida pela sua denominação original: a Rua do Funil, ou ainda, Funil de Cima. Em todo território brasileiro, a maior parte das cidades coloniais que surgiram entre os séculos XVI e XIX foram construídas no alto de morros ou em áreas mais elevadas, fato esse que as tornava bastante vulneráveis. Iguape fugiu desse padrão, uma vez que seus primeiros moradores consideraram a defesa como fator principal para escolha do lugar onde seria implantado o núcleo urbano. Assim, o povoado que deu origem à cidade se transferiu, estrategicamente, para um território plano, protegido pelo Morro do Espia e circundado pelas águas do Mar Pequeno- o braço de mar que separa Iguape de Ilha Comprida, uma faixa de areia que também contribuiu para a proteção da Vila contra invasores. Dessa maneira, parte do traçado original do núcleo urbano foi construído nesse formato de funil, que além de garantir maior defesa e segurança, também facilitava o controle de acesso de moradores e viajantes.

O Largo das Neves, o Beco e o Jornal

O Largo das Neves está localizado na parte mais larga do Funil de Cima e tem uma posição estratégica no núcleo central urbano. Quem o observa em direção ao leste, consegue se encantar com o suntuoso Sobrado dos Fortes (Câmara Municipal) e com seu vizinho, o Hotel do Comércio, hoje utilizado como moradia, ambos posicionados à esquerda. Mais à frente está o Museu Municipal, no prédio onde funcionou a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro. Misturando-se a esses sobrados estão diferentes casas em estilo colonial português. Ao fundo, se voltando para o oeste, podem ser vistos a Praça da Basílica e o imponente Santuário do Senhor Bom Jesus. O Centro do Largo das Neves é formado por uma pequena praça que proporciona mais encanto à essa área tão charmosa da cidade. Do lado direito, ficam outras casas de moradia e um único sobrado do Esporte Clube Primavera, fundado em 1946, que faz divisa com uma via estreita, hoje denominada Rua Fernando Marques Fragoso, que foi conhecida no passado por Beco do Major e, depois, Beco do Quartel. Por esse beco, localizado em paralelo à Rua Porto Osório, passavam apenas pessoas e animais, tendo sido usado como mais um acesso ao Porto Grande. Também no Largo das Neves, em uma das casas, à esquerda, que se enfileiram em direção ao estreitamento do Funil, está aquela que foi sede da tipografia do semanário “O Iguapense”, o primeiro jornal editado em Iguape, lançado em abril de 1876, graças a uma máquina tipográfica doada por um músico santista, que era também editor do jornal “O Clarin”, distribuído naquela cidade. “O Iguapense” foi publicado até princípios do século XX, tendo sido interrompido por alguns períodos, possivelmente por falta de verba para sua impressão. Durante o tempo em que circulou entre os moradores, o periódico abriu espaço para autores e poetas da região, que expunham suas produções literárias, além de divulgar assuntos de interesse da população e de possibilitar ampla publicidade aos atos públicos da Prefeitura e da Câmara, que poderiam interessar à cidade.

Um pouco distante do Lago das Neves, um concorrente com tendências jornalísticas antagônicas surgiria apenas três meses depois. Lançado em julho de 1876, o também semanário “Commercio de Iguape” tinha gráfica própria, instalada no número 82 da Rua XV de Novembro, esquina com a Rua Capitão Dias, e encerrou suas atividades pouco mais de duas décadas depois.

Conceitos e detalhes da arquitetura

As construções encontradas no Funil de Cima são em pedra retiradas de costões, e em cal, vinda dos sambaquis, materiais construtivos que atestam a história de Iguape, e de uma das primeiras ruas instaladas no centro urbano, que até os dias atuais conserva seu formato. As edificações recebem um colorido diverso, estampado nas fachadas, nas janelas, nas portas, nas molduras e nos barrados. As cores não se repetem, e se destacam justamente por estarem intercaladas. De modo geral, a altura das casas também não segue um mesmo padrão, assim como as molduras dos vãos, que são bastante variados, reunindo diferentes tipologias. Essas características garantem singeleza, encanto e compõem um lindo cenário para fotografias. O conjunto arquitetônico do Funil de Cima surgiu com a fundação da Vila, mas cresceu substancialmente durante o Ciclo do Ouro, o primeiro ciclo econômico de Iguape, e com o Ciclo do Arroz, o mais faustoso, quando os sobrados se tornaram símbolo de riqueza e de poder. Esse contraste entre as edificações do Centro Histórico, através da observação desse surpreendente casario, possibilita a moradores e visitantes o contato direto com a história de Iguape e do Brasil. É um conjunto de obras arquitetônicas rico e harmonioso formado em quase sua totalidade, por casas térreas que são, principalmente, de porta e janela e meia morada construídas em parede-meia, situação onde as paredes laterais dos imóveis fazem divisas com o imóvel vizinho. Nessa rua ainda estão cinco sobrados, sendo quatro deles de grande importância histórica para a cidade. As plantas das casas em sua grande maioria ainda conservam o seu desenvolvimento a partir de um corredor lateral, que dá acesso às salas, aos quartos, à cozinha e ao quintal. Os lotes são de pequena testada (variando entre dois metros e meio e oito metros), podendo ser mais ou menos profundos. A singeleza desta arquitetura é conferida pela presença de pé-direito bastante baixo, recoberto por um telhado em duas águas, com terminação em eiras e beiras ou beira-seveira. Nas fachadas, os vãos são preenchidos quase sempre por uma porta frontal e por uma, duas ou mais janelas; em todas elas prevalece a métrica e os espaçamentos entre as aberturas. As diferenças sociais eram percebidas fortemente na arquitetura através da eira e da beira: detalhes presentes nos beirais, e que eram uma forma bem clara de mostrar o poderio das famílias. As folhas das portas e das janelas são de madeira, bem parecidas com as portas do passado, mantendo-se os mesmos padrões. As diferenças ficam por conta das disponibilidades técnicas e das características acessórias atuais. Em muitas das casas construídas a partir do século XVIII, quando o uso do vidro se tornou mais comum, podem ser notadas as folhas de pinázios com vidros.

COMO CONHECER

O Funil de Cima integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

FACHADAS

This article is from: