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Casa de Fundição de Ouro

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Escola Vaz Caminha

Escola Vaz Caminha

CASA DE FUNDIÇÃO DE OURO MUSEU MUNICIPAL

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HISTÓRIA DO IMÓVEL

Localização: Rua das Neves, Largo da Neves

Em meados do século XVI, as águas do Rio Ribeira de Iguape e de seus afluentes seguiam o curso arrastando em seu leito quantidades consideráveis de ouro em pó, que era explorado por mineradores em Eldorado (antiga Xiririca), Apiaí, Iporanga, Cananeia, chegando ao litoral paranaense. O ouro de aluvião garimpado nessas águas seguia até um posto de fiscalização, situado no local onde hoje é a cidade de Registro. Ali, o metal era pesado e enviado para a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro, em Iguape. Apesar de não haver consenso entre os pesquisadores, muitos consideram essa a primeira Casa de Fundição construída no Brasil na década de 1630. Por outro lado, dados obtidos em registros da Receita Federal do Brasil indicam que foi em São Paulo que se estabeleceu a primeira Casa de Oficina, por volta de 1580, para fundir o ouro extraído das minas do Jaraguá e de outras jazidas nos arredores da vila. Conforme esse registro, somente mais tarde, em torno de 1650, duas outras casas de fundição foram instaladas na capitania de São Vicente: uma em Iguape e outra em Paranaguá. Outro documento localizado por um historiador iguapense, com dados transcritos na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, aponta a existência de uma Casa de Fundição em Iguape no ano de 1668, com o nome de “Casa da Oficina”. As Casas de Fundição eram dirigidas por um provedor, auxiliado por escrivães. A parte prática do trabalho era desenvolvida por fundidores, ensaiadores, cunhadores, meirinhos, tesoureiros e fiscais. Estes últimos eram nomeados por indicação das Câmaras Municipais. O local tinha como finalidade controlar a circulação do ouro e assegurar o pagamento do quinto para Portugal.

Em Iguape, o prédio que recebeu a Casa de Fundição é uma das construções mais antigas da cidade e um dos imóveis que representam a época de prosperidade oferecida pela extração do ouro e pelo trabalho de mãos escravizadas. Nesse período houve a expansão dos povoados do Vale do Ribeira, incluindo os escravos que chegaram à região entre os séculos XVI e XVII, para a atividade mineradora. Todo o metal precioso encontrado na região era fundido em barras, gravado com o selo real e remetido para a Vila de Santos, onde se localizava o Tesouro Real da Fazenda. É muito provável que essa atividade tenha funcionado em Iguape até meados do século XVIII, quando os recursos auríferos da região foram deixados de lado após a descoberta das Minas Gerais, que atraiu a atenção de aventureiros para o interior do país. Por volta de 1763, o governo do Rio de Janeiro solicitou à Câmara de Iguape que recolhesse os utensílios e instrumentos usados na fundição do ouro e cunhagem de moedas, e que fossem levados para o Museu Nacional, encerrando esse processo na cidade. O prédio continuou sendo usado para outras funções. Entre 1778 e 1820, serviu como local para aquartelamento de tropas; por volta de 1820 e 1890 passou a abrigar a Cadeia e, em outro período, foi utilizado pela Câmara Municipal. No século XX, em 1969, grande parte do material histórico da cidade foi reunido no espaço utilizado como

um museu, com um núcleo de peças composto por objetos antigos e variados, mas que não incluía uma política de acervo e não contemplava um propósito específico na área de museologia. Em 1975, o imóvel passou pelo processo de tombamento do Condephaat e, em 2009, do Iphan. Um projeto de reestruturação, em 1989, através da parceria do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e da Prefeitura Municipal de Iguape, com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), alterou a configuração do espaço, com peças e painéis sobre a história dos homens dos sambaquis. Em 2014, a construção foi uma das três obras selecionadas para serem executadas com recursos do PAC Cidades Históricas -Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal.

Restauro de Patrimônio

A primeira reforma e restauração do imóvel onde funcionou a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro foi em 1737, em função de seu precário estado de conservação. Em 1969, foi novamente reformado para receber o Museu Municipal, mas não havia, na época, um projeto de recuperação e adaptação do prédio para essa finalidade. Na década de 1990, um trabalho de escavação no quintal do então Museu, realizado por uma equipe de arqueólogos da Universidade de São Paulo, resgatou informações que comprovam o uso do espaço como uma Oficina de Fundição do Ouro. Durante esse estudo foram encontrados vestígios de artefatos de ferro, de louças, vidros de uso doméstico e alguns ossos como restos de alimentos, que podem sugerir que a parte superior da construção era usada como moradia, possivelmente para abrigar guardas e funcionários. Apesar de as ocupações posteriores ao período do ouro terem descaracterizado o local, a indicação é de que no térreo funcionavam o atendimento e a administração e, na parte dos fundos do prédio, onde hoje está o jardim, ficava a Oficina de Fundição do Ouro. Por duas décadas, o imóvel permaneceu sem grandes reformas. Em fevereiro de 2011, a Prefeitura de Iguape admitiu uma empresa para elaborar um projeto de recuperação e de restauro da antiga Casa de Fundição. Entretanto, a proposta apresentada foi básica, e incluía apenas o diagnóstico e a intervenção acompanhada dos devidos desenhos. Dois anos depois, em 2013, outra organização foi contratada para rever e complementar o projeto preliminar. Essa revisão levantou itens sobre o sistema construtivo histórico do imóvel, análise arquitetônica da edificação, levantamento cadastral, diagnóstico de patologias, e outros itens que pudessem manter ou resgatar as características da arquitetura do prédio. O projeto contemplou duas salas para exposição no térreo e duas no pavimento superior, onde também está uma sala de “reserva técnica de objetos”. No térreo fica o arquivo técnico e mais um pátio coberto, que pode também ser utilizado para exposição e, na parte dos fundos, há um anexo, que de acordo com as pesquisas, foi construído posteriormente ao prédio principal. Nesse espaço estão os sanitários adaptados para portadores de necessidades especiais e uma copa para uso de funcionários e durante eventos culturais realizados nos jardins do Museu. A obra de restauro foi licitada em novembro de 2013 e iniciada em meados do ano seguinte, tendo sido finalizada em 2016. Em contrapartida ao investimento do Iphan na obra de restauro, a Prefeitura de Iguape deveria apresentar um projeto museográfico para o espaço, o que não ocorreu na época. Em 2017, a municipalidade solicitou ao Iphan autorização para utilizar o pré-

dio como espaço para exposições, enquanto viabilizava a contratação de uma empresa para elaborar esse projeto, o que aconteceu apenas em 2021, quando uma outra firma recebeu a missão de desenvolver um novo estudo museológico e museográfico visando transformar a antiga Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro, finalmente, em Museu Municipal.

Conceitos e detalhes da arquitetura

A fachada do imóvel, como na maior parte das construções do Centro Histórico, possui paredes grossas em pedra e cal, e recebeu pintura recente na cor branca, que cobre as paredes e, em amarelo, que destaca os barrados do prédio, das sacadas, assim como dos beirais, das ombreiras, das vergas em arco abatido e dos peitoris. Um azul vibrante colore a madeira da porta central e das duas janelas do térreo, e de uma janela e duas portas-janelas do piso superior. Na parte térrea do imóvel estão duas salas para exposição e uma para arquivo técnico. A primeira fica logo na entrada, seguida por um vão aberto que dá acesso à segunda sala. Ambas possuem as paredes do lado direito com o processo de descascamento, deixando à mostra o modo construtivo em pedra entaipada. As demais paredes que circundam os ambientes receberam reboco e pintura na cor branca. O arquivo técnico possui uma porta e uma janela com vista para o jardim, e ambas são feitas em madeira. Na parte dos fundos do imóvel, há uma sala anexa, que mantém as características de pintura em branco. Uma abertura interligada a um pátio cimentado e coberto por telhas de vidro, leva aos banheiros (todos com acessibilidade), à cozinha, à área de serviço e ao jardim, onde podem ser encontradas grandes rodas em pedra- que eram utilizadas em moinhos de água - além de uma corrente usada, na época, para aportar navios. Ainda nos fundos, um portão de ferro forjado dá acesso a Rua XV de Novembro, popularmente conhecida por “Funil de Baixo”.

Na segunda sala do térreo, por uma passagem estreita e em um ângulo bastante acentuado, uma escada em madeira possibilita o acesso ao segundo pavimento. Da escada também é possível observar duas vigas originais e uma abertura na parede, à direita, onde foi instalada uma peça em madeira com frestas para ventilação. Em busca por resgatar aquilo que possa ser mais parecido com o original, a obra de restauro instalou nas salas do térreo um piso que simula cimento queimado, oferecendo um aspecto mais rústico ao lugar. As salas não possuem forro, o que deixa aparente o piso em madeira do andar superior, que é sustentado por uma viga central. Acima das escadas, o pavimento conta com três espaços, sendo duas salas abertas e uma sala para reserva técnica. As salas são separadas por uma parede construída com tábuas que atendiam às necessidades do Museu quando foi aberto em 1969, e tem outras paredes rebocadas e pintadas de branco. A sala principal, com piso e o forro feitos de madeira e vãos voltados para a rua, garante vista para o Largo das Neves, para o prédio histórico do antigo Clube Primavera e para o Beco do Porto Grande. Do lado esquerdo, em direção ao Morro do Espia, ainda é possível observar a Rua das Neves, conhecida popularmente como “Funil de Cima”, e, do lado direito, está a Praça da Basílica e boa parte do casario do Centro Histórico, com destaque para a Basílica do Senhor Bom Jesus. Esta sala possui uma janela e duas portas-janelas com sacadas entaladas, e são todas em duas folhas de madeira. Todas as salas do prédio receberam iluminação especial, projetada para atender às necessidades das exposições museológicas. O telhado em quatro águas é cober-

to por telhas constituídas de argila do tipo capa e canal, também conhecida por telha colonial, que têm forma côncava e são assentadas em fileiras com posições invertidas. A fachada e as laterais do prédio possuem beirais, e as paredes laterais são geminadas com pinturas em cal na cor branca.

Molduras da janela

Detalhe da porta de entrada

COMO CONHECER

A Casa de Fundição de Ouro integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

DETALHES E ORNAMENTOS

FOTOS INTERNAS

DETALHES DO PORTAO E PAREDES EXTERNAS

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