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Sobrado dos Rollos
HISTÓRIA DO IMÓVEL
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Localização: Praça da Basílica
O imóvel conhecido por Sobrado dos Rollos está localizado na esquina da Praça da Basílica (antigo Largo da Matriz) com a Rua Augusto Rollo (antes Rua Senador Feijó e, também, Travessa Quinze de Novembro). É um dos sobrados mais antigos do Centro Histórico de Iguape. Entretanto, não há dados que indiquem quem foi o idealizador e o construtor deste edifício. O mais provável é que o seu primeiro proprietário tenha sido o comendador João Mâncio da Silva Franco, que o vendeu em maio de 1877 a José Antonio Lopes.
Em 1906, o prédio pertencia ao espólio de Isabel Lopes de Aquino Trigo, e em agosto desse mesmo ano foi adquirido pelo capitão Mário de Andrada Rollo, que o restaurou completamente, pois o imóvel estava em estado de ruínas. Nessa época, canos de chumbos foram embutidos nas paredes de todos os compartimentos para conduzirem o gás de carbureto, utilizado na iluminação dos ambientes internos. Após reformado, o imóvel serviu de residência para a família Rollo, que viveu no pavimento superior por mais de meio século. No térreo, funcionava um comércio, também de sua propriedade, onde se vendia um pouco de tudo: calçados, tecidos, querosene, bebidas, alimentos, produtos agrícolas, sacos de cacau, rapadura e diversos outros tipos de produtos. As mercadorias chegavam de navio pelo Porto Grande, e logo abasteciam as prateleiras e os espaços internos da casa comercial. Em 1931, com o falecimento do patriarca, o sobrado foi deixado como herança para seus oito filhos e, na década de 1950, recebeu nova reforma. Entre 1978 e 1979, ganhou melhorias com a troca do telhado e de todo madeiramento de sustentação, enquanto as esquadrias externas do edifício foram substituídas por novas, respeitando as características originais. Em novembro de 1985, os irmãos José Olavo Rollo e Edgard de Oliveira Rollo adquiriram as partes dos demais herdeiros e, em sociedade, decidiram estruturar o prédio com o objetivo de incluir o imóvel no setor de hotelaria. Depois de um período de reformulação do sobrado e da aquisição de equipamentos, em janeiro de 1989, a pousada “Solar Colonial” foi inaugurada e, desde então, recebe turistas e romeiros do Bom Jesus. Como grande parte dos imóveis no Centro Histórico, em 1974, o Sobrado dos Rollos passou pelo processo de tombamento do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (CONDEPHAAT) e, em 2009, pelo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Os Lampiões a Querosene
Até a primeira metade do século XIX, poucos lampiões a querosene eram a única opção de iluminação pública em Iguape, desde que substituíram aqueles à base de velas de cera ou de azeite de peixe, usados durante o período colonial. Esses lampiões a querosene eram encontrados apenas nas testadas de alguns casarões do Centro Histórico, ou em outros espalhados pelas cercanias, como no Porto do Ribeira, que naquela época contava com uma população considerável. Com o passar dos anos, a Câmara
Municipal ampliou a aquisição de novos lampiões a querosene que passaram a ser instalados em largos e ruas, e outros locais estratégicos da cidade. Os lampiões utilizados para a iluminação pública vinham quase sempre do Rio de Janeiro, e eram afixados nas fachadas ou em postes de ferro encimados por elegantes lanternas. Esse serviço de iluminação era executado por uma empresa que firmava contrato com a Câmara Municipal, com validade de um ano. Durante esse período a firma contratada deveria além de acender os lampiões, cuidar de toda sua manutenção, inclusive dos postes de sustentação. Os lampiões eram acesos todas as noites, exceto em dias de lua cheia -quando a luz do luar possibilitava maior claridade às áreas públicas. Durante o período de festa em louvor ao Bom Jesus permaneciam acesos por mais tempo, assim como nas longas noites de inverno. Na estação de calor, o consumo era menor graças ao Sol que bem cedo já iluminava a cidade. Em 1916, a população iguapense reivindicava os serviços de fornecimento de energia elétrica, em plena utilização em outros centros urbanos. Quatro anos depois, em outubro de 1920, a luz elétrica finalmente chegou à cidade, deixando no passado as lamparinas e os lampiões a querosene. A primeira usina elétrica de Iguape funcionou em um prédio construído no sopé do Morro do Espia, ao lado do Mar Pequeno, que mais tarde foi demolido quando a “Estrada do Cristo” (hoje Estrada Municipal Vereador Manoel Alves da Silva) foi inaugurada. Naquela época, a iluminação das ruas ainda era incipiente, com pouco mais de trezentas lâmpadas distribuídas em postes de ferro.
Conceitos e detalhes da arquitetura
O imóvel com dois pavimentos é um dos destaques no entorno da Praça da Basílica. Este belo sobrado ocupa um terreno de esquina, e foi erguido com largas paredes em pedra e cal. A fachada principal é enquadrada por cunhais e robustas colunas de argamassa em relevo, que possuem a base e o coroamento delimitados e decorados por frisos e relevos. Todos os vãos são emoldurados por vergas em arcos abatidos, sobrevergas, ombreiras e peitoris nas janelas e soleiras nas portas. As paredes das fachadas receberam a cor amarela; as portas, as janelas, os cunhais e o barrado que percorre todas as fachadas foram pintados na cor azul; as colunas, molduras dos vãos, cimalhas e frisos se destacam em branco. Um belo friso percorre todas as fachadas acima das sobrevergas dos dois pavimentos, e o acabamento das paredes, já próximo ao telhado, é feito por uma belíssima e larga cimalha presente em todo prédio. As calçadas são em pedra trabalhadas em cantaria. O telhado é em quatro águas em telha de argila e o forro em madeira. A fachada principal voltada para a Praça da Basílica possui no pavimento térreo quatro vãos, sendo três preenchidos por portas e um deles por janela. As duas portas, próximas à esquina com a Rua Augusto Rollo, possuem duas folhas com a metade superior preenchidas por caixilhos envidraçados coloridos, e outra metade almofadada, sem contar a bandeira fixa envidraçada, com o vermelho nas laterais e o azul em um pequeno pinázio. Na janela, o fechamento interno é garantido por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina com 12 caixilhos envidraçados, sendo somente coloridos os presentes na parte superior. Para acessar o prédio, há uma porta com uma folha de escuro em madeira na extremidade direita da fachada principal, e uma soleira em pedra trabalhada em cantaria. Essa porta se abre para uma pequena sala que hoje é utilizada como recepção da pousada, e uma larga escada com degraus e corrimãos em ma-
deira leva ao piso superior. A parede lateral à escada está totalmente descamada deixando aparente seu modo construtivo. O pavimento superior da fachada principal possui aberturas com quatro vãos rasgados até as soleiras que são em pedra trabalhada em cantaria, e estão alinhados aos vãos do piso térreo. Quatro portas-janelas iguais às duas portas do térreo se abrem para um avanço em pedra trabalhada em cantaria, com uma varanda corrida e gradil em ferro. Ao centro, nesse gradil, estão as iniciais “ RL”, da família a qual o sobrado leva o nome. A fachada voltada para a Rua Augusto Rollo está dividida em dois tramos, sendo o maior nas mesmas dimensões da fachada principal, e o outro um pouco mais baixo e com telhado independente. A divisão entre os dois pavimentos é bem evidente, marcada por um friso em relevo. O pavimento térreo desta fachada possui seis vãos no tramo maior, e dois vãos no menor, que estão preenchidos por duas portas e seis janelas. As janelas têm as mesmas características daquelas da fachada principal do pavimento térreo, e apenas o fechamento interno se diferencia, pois é feito em guilhotina em madeira, e as portas possuem soleiras em pedra trabalhadas em cantaria, com duas folhas de escuro em madeira. Somente a porta do tramo menor possui bandeira fixa envidraçada. No pavimento superior desta fachada, as aberturas dos oito vãos são alinhadas com as do pavimento térreo, e os dois primeiros, próximos à coluna da esquina, se destacam pois são preenchidos por duas portas-janelas com as mesmas descrições das da fachada principal que possuem varanda entalada em avanço. Todos os outros seis vãos são preenchidos por janelas iguais às do pavimento térreo. O tramo menor desta fachada possui o acabamento do telhado em madeira. O Sobrado dos Rollos, há mais de três décadas, funciona como pousada, contando com 13 apartamentos divididos entre os pavimentos térreo e superior. O pavimento térreo da fachada principal é utilizado como recepção dos hóspedes, e nos fundos há uma cozinha e uma lavanderia. A área para o café da manhã fica no piso superior, bem na esquina, de onde é possível o hóspede apreciar um lindo nascer do Sol, e ainda vislumbrar a Praça da Basílica e o magnífico Santuário do Senhor Bom Jesus.
COMO CONHECER
O Sobrado dos Rollos integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros