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Palacete Eurico Moutinho

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Hotel do Comércio

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HISTÓRIA DO IMÓVEL

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Localização: Praça da Basílica

São poucas as referências existentes sobre este imóvel. É muito provável que sua construção original seja datada do século XIX e sua fachada tenha seguido os padrões de edifícios deste período. Os dados obtidos em documentos que citam o prédio apontam para o ano de 1914, quando o Santuário do Senhor Bom Jesus vendeu o sobrado para o capitão Eurico Moutinho que, por sua vez, o reformou por completo, alterando o estilo do imóvel, que passou a ter características do Art Nouveau, em alta na época. Dessa forma, o sobrado ficou conhecido por Palacete, levando o nome de seu proprietário. A família de Eurico Moutinho era da aristocracia, tinha ligação com a monarquia e muita influência em negócios ligados à navegação de cabotagem, comandando uma frota que percorria a costa brasileira entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande Sul movimentando o comércio e a economia daquele período. Eurico Moutinho chegou a Iguape controlando barcos que ancoravam no Porto Grande e que levavam parte do arroz produzido nas fazendas locais. Por um tempo, o empresário viveu nesse palacete, até a atividade econômica em Iguape ter sido afetada, em parte pelo assoreamento do porto — consequência direta da abertura do Valo Grande —, e pela centralização do comércio marítimo em Santos, cidade para onde se mudou, passando a morar em outro palacete de sua família. O empresário e sua esposa Adélia não tiveram filhos. Após o falecimento de sua irmã, adotou seu sobrinho e afilhado Alcindo Trigo, que passou a exercer todos os direitos de filho legítimo, mantendo apenas o nome de seu pai biológico. Alcindo Trigo foi casado com Maria Antonia Moraes Trigo, com quem teve dois filhos. Mesmo vivendo em Santos, Eurico Moutinho fazia questão de visitar Iguape durante as festividades em louvor ao Bom Jesus. Por alguns anos, alugou o palacete para um Juiz de Direito, que permaneceu por um tempo a serviço na Comarca. Quando o imóvel ficou novamente vazio, pediu a Manoel Moraes Netto que para lá se mudasse com sua família, o que ocorreu no final de 1955. Eurico Moutinho era amigo de Isachar de Moraes, sogro de seu filho Alcindo e pai de Manoel, que era responsável por cuidar dos negócios do empresário e de seu filho na cidade, que incluíam algumas casas alugadas e um bom número de cabeças de gado. Por quase trinta anos, Manoel viveu no palacete com sua esposa Maria Tomázia Silva Moraes e seus três filhos, e cuidou das preciosidades que compunham o acervo da propriedade, como os móveis personalizados “Eurico Moutinho”. Com a morte de Manoel Moraes, em 1982, sua família devolveu o palacete para Alcindo Trigo, já viúvo, e seus dois filhos. Muitos dos objetos de valor monetário e artístico que estavam no imóvel foram também entregues a eles, e parte da mobília foi vendida a parentes da família Moraes. O palacete ficou fechado por anos, ainda com móveis e objetos de decoração em seu interior, e na década de 1990, após o falecimento de Alcindo Trigo, seus filhos o venderam para o Grupo Lima. O palacete está sendo utilizado para fins comerciais, abrigando o Restaurante Porão, no mesmo espaço que deu nome ao

estabelecimento, e a parte dos fundos foi ampliada para atender ao público, e conta com um grande salão, cozinha e banheiros. O piso superior do imóvel é usado como escritório de advocacia do atual proprietário.

A Era dos Palacetes

Os palacetes paulistanos eram mansões imponentes e suntuosas construídas no fim do século XIX e começo do século XX. Seu surgimento está diretamente relacionado às mudanças sociais, urbanísticas e tecnológicas ocorridas no Brasil e, mais especificamente, em São Paulo, e foi um marco na troca de materiais como a taipa e a pedra para outros, vistos como mais modernos na época, como tijolos e granitos. Esses imóveis se diferenciavam não só por seu estilo de edificação, baseado nos costumes e padrões de consumo europeus, mas também por sua localização, em bairros melhor estruturados da cidade e, ainda, por abrigarem famílias de maior poder aquisitivo. Os palacetes passaram a deter características peculiares, com uma mistura de estilos, como o francês e o inglês, logo adaptados para atender às necessidades das famílias brasileiras. Tinham telhados recortados, eram cheios de ornamentos e peças de decoração, e incluíam pés-direitos altos. No térreo, ficavam os cômodos relacionados à convivência, sociabilidade e serviços, e o pavimento superior era reservado para espaços íntimos e de repouso. O porão funcionava como área de depósito, adega ou até cozinha e era bastante utilizado para eliminar a umidade no pavimento superior. Logo na entrada, os chamados vestíbulos funcionavam como um saguão de transição para os outros cômodos do palacete, onde os visitantes deixavam seus casacos e chapéus pendurados em cabides e mancebos. O piso costumava ser de madeira e as paredes, na maior parte das vezes, eram revestidas de tinta, lambris de madeira ou papéis de parede. Dessa “porta de entrada” era possível acessar todos os demais ambientes sociais da casa, como a sala de visitas, a sala de jantar, o gabinete - este que era espaço dedicado apenas para os homens, local para estudo, leituras e reuniões de negócios. As salas de convivência eram bem cuidadas e decoradas, tinham móveis franceses, ingleses e peças de arte vindas do exterior. Ficavam no centro do andar térreo, numa região privilegiada e nobre da casa. Nesse espaço, os ambientes eram desmembrados em salas de visitas, salas de música, salas de jogos, salas de estudos, biblioteca e sala das senhoras. As salas de visitas eram, em sua maioria, decoradas por papéis de parede com estampas florais, pinturas a óleo e muitos espelhos. No teto, era comum encontrar sancas e lustres e todo espaço era preenchido por móveis, tapetes e peças de decoração em bronze, prata, porcelana e cristal. Muitas dessas salas tinham um piano como símbolo de status que indicava a cultura musical da família. Com uma mobília mais simples, sem ornamentos e com menos objetos decorativos, as salas de jantar eram mais amplas que os outros cômodos e ficava localizada próxima à cozinha, instalada no porão ou nos fundos do pavimento térreo, perto do quintal. As cozinhas deveriam seguir as regras sanitárias da época, com ambiente arejado e um pé-direito alto, de no mínimo de 2,5 metros. A copa funcionava como um apoio para a cozinha. No centro do cômodo, era comum encontrar uma grande mesa de madeira, onde eram preparados os alimentos. As paredes também seguiam o mesmo padrão de altura do restante da casa, mas eram revestidas com azulejos até a metade. Os pisos costumavam ser de cerâmica, assoalho ou ladrilhos hidráulicos. No andar superior ficavam os quartos

e os banheiros, ambos ambientes de acesso exclusivo dos proprietários da casa. Os quartos quase não dispunham de móveis, para evitar o acúmulo de poeira e as janelas garantiam a entrada de luz e de ventilação. O piso era de assoalho de madeira na maior parte das construções, e as paredes pintadas à tinta ou ornamentadas com papel decorativo. Nos banheiros, os pisos e as paredes eram revestidos por ladrilhos hidráulicos, muitas vezes com padrões florais e geométricos, e se ficassem próximos ao quarto eram sinônimo de conforto e de modernidade, uma vez que em outros tipos de construção, os banheiros estavam localizados do lado de fora.

Conceitos e detalhes da arquitetura

Há grandes indícios de que este edifício possuía, originalmente, cinco portas na fachada principal em estilo colonial português. Após a reforma transformá-lo em Palacete, com características do estilo arquitetônico Art Nouveau, seu interior recebeu decoração com objetos importados, como cristaleiras, e as paredes foram recobertas por tecidos franceses e por ricas pinturas que se misturavam às cortinas de veludo das janelas frontais. Alguns registros indicam que o palacete tinha uma biblioteca com títulos valiosos, uma sala de música, e que parte das pinturas que embelezavam as paredes eram do artista Ernesto Thomazini, o mesmo que decorou o teto da nave principal da Basílica. O palacete construído no limite do lote, em ambos os lados, ostenta em sua fachada vários ornamentos e peças de decoração trabalhados em argamassa. As fachadas são compostas no sentido vertical, por embasamento através de porão alto habitável, por um pavimento com pés-direitos altos e por arremate feito pelas platibandas. No sentido horizontal são divididas em três módulos arrematados por belos frontões. Suas paredes são na cor salmão, e o branco destaca as molduras e os ornamentos, enquanto o cinza colore as porta-janelas, janelas e todo o gradil. Os telhados são formados por telhas de argila do tipo capa e canal, sendo o módulo principal em uma água e os outros dois módulos laterais em três águas. Um portão em ferro, que imita os desenhos do gradil presente nos vãos do porão, se abre para uma escadaria de lanço único, com degraus em mármore que se estendem ao portal de entrada do palacete, que possui um alpendre com guarda-corpo em ferro, piso em mármore iguais ao dos degraus, e vãos preenchidos por três altas portas. Uma das portas de acesso ao salão principal se destaca entre duas janelas que possuem características idênticas: são estreitas, altas, e em duas folhas com caixilhos envidraçados. As paredes laterais são base para outras duas portas que levam aos salões com vista para a Praça da Basílica. Estas também são idênticas, com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, e duas folhas em madeira preenchidas na parte superior por caixilhos com vidros e um gradil de proteção, sendo a parte inferior em madeira almofadada. Situado acima do alpendre, em todo seu entorno, está uma platibanda estreita com o coroamento feito em argamassa por cimalha, e por um pequeno e bonito frontão preenchido por elementos em argila e ornado por rococós e flores em argamassa. Há, também, uma pequena coluna ao centro, adornada por uma grande flor em relevo pintada na cor verde. Ainda neste frontão é possível observar que havia um pináculo em cima da coluna, que está quebrado na sua base. A fachada dos dois salões são iguais e se destacam por sua beleza. Os vãos são preenchidos por uma porta-janela no centro e duas janelas de cada lado. As porta-janelas possuem bandeiras fixas, com caixilhos preenchidos por vidros coloridos em azul, verde e vermelho. A parte externa dessas

porta-janelas possuem duas folhas em madeira, sendo uma das partes em caixilhos envidraçados com os pinázios superiores e inferiores, ambos na cor azul e, no restante, com vidro incolor e, outra parte das porta-janelas têm almofadas em madeira; ambas são encimadas por vergas em arco pleno e ombreiras até a altura das sacadas em balanço, entalada com guarda-corpo em ferro. Essas porta-janelas são adornadas com diversos elementos decorativos em argamassa. As janelas dos salões são altas e estreitas, com bandeiras fixas preenchidas por caixilhos com vidros nas cores vermelho e verde, onde o verde fica ao centro em um pinázio menor; as duas folhas externas têm caixilhos envidraçados e pinázios com vidros na cor azul, tanto na parte superior como na inferior, e o restante dos pinázios com vidros incolores, como os das porta-janelas. As janelas possuem molduras com vergas retas, ombreiras e peitoris. Um grande elemento decorativo em argamassa se destaca, centralizado logo abaixo do peitoril da janela, e um outro, em formato de uma grande flor, pode ser observado acima das vergas. O fechamento interno das porta-janelas e das janelas é em duas folhas de escuro em madeira pintadas na cor cinza. No alto das vergas são encontradas cornijas que acompanham as linhas retas das janelas e as curvas das porta-janelas, e percorrem toda extensão das paredes dos dois salões. A platibanda acompanha também as linhas retas e curvas, assim como as cimalhas. Encimando, um lindo frontão semicircular preenchido por elementos em argila com figuras geométricas, ganha evidência pela pintura em branco, e é emoldurado por um arco com um elemento em alto-relevo nas extremidades da fachada. Acima do arco, belos elementos decorativos em argamassa são realçados e, ao centro, em relevo, está uma pequena coluna com ornato logo abaixo do arco. No alto, a figura do rosto de um anjo barroco pintada na cor salmão ressalta a beleza da fachada, e no topo da coluna, é possível observar um pináculo que se encontra quebrado na base. Nas duas laterais das paredes dos salões, desde o frontão até as vergas retas das janelas, uma coluna em relevo com elementos decorativos em argamassa pode ser observada. No topo, uma palma pintada na cor verde se sobressai, e na base, revela-se a figura de um leão, dentre outras imagens. Um friso horizontal na cor branca, bem abaixo da sacada, emoldura e divide o pavimento superior e o porão habitável. Neste palacete, o porão possui seis vãos que são alinhados aos do pavimento superior, sendo em dois formatos, mas todos em arco na parte superior e na parte inferior, sendo diferenciados apenas pela largura. Ao centro, abaixo das sacadas, um vão com rasgo maior se destaca em ambos os lados. Ele está emoldurado por duas representações de colunas em alto-relevo que sustentam a sacada em balanço. Outros quatro vãos, com aberturas iguais e menores, se repetem nas paredes do porão. São em madeira, com caixilhos envidraçados, vedados com grades de ferro decoradas e, na parte interna, as madeiras de escuro garantem o seu fechamento.

Ornamento da fachada

COMO CONHECER

O Palacete Eurico Moutinho integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

PORÃO HABITÁVEL

ORNAMENTOS

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