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Escola Vaz Caminha
HISTÓRIA DO IMÓVEL
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Localização: Rua Capitão Dias
A Escola Vaz Caminha é uma das edificações planejadas pelo governo do Estado de São Paulo entre os anos de 1890 e 1930, e sua arquitetura remete ao padrão de construção de escolas durante a Primeira República, quando surgiram os Grupos Escolares e as Escolas Normais. Em Iguape, o local escolhido para instalação do então Grupo Escolar foi uma grande área localizada na esquina das Ruas Capitão Dias e Major Rebello. Nessa época, o Grupo Escolar estava em atividade no prédio conhecido por Sobrado dos Mâncios, que depois funcionou durante décadas como Hotel São Paulo. A estrutura da nova escola foi entregue à população em 1917, com projeto de dez classes de ensino primário. Anos mais tarde, entre 1947 e 1951, o espaço acolheu alunos do ensino secundário, até a inauguração do prédio próprio do Ginásio de Iguape. E, assim, as turmas foram transferidas para a escola que recebeu o nome de “Coronel Jeremias Júnior”. Em dezembro de 1940, o Grupo Escolar de Iguape passou a ser chamado Escola Vaz Caminha, título em homenagem a Pero Vaz de Caminha, o português nascido na cidade do Porto em 1450, que fez parte da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral, aportando no Brasil em 1500. Ele foi o escrivão responsável por descrever as impressões iniciais das terras brasileiras no relato que ficou conhecido como “A Carta de Pero Vaz de Caminha”, o primeiro documento oficial sobre a história do país. Em 1971, o governo do Estado implantou o curso ginasial na Escola Vaz Caminha, e os estudantes da cidade passaram a se dividir entre essa unidade escolar e o antigo ginásio “Professor Eulálio de Arruda Melo”. O prédio da Escola Vaz Caminha passou por sucessivas reformas e, em 1979, foi inteiramente reformado. Em julho de 2010, a unidade escolar foi tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), juntamente com outras 126 escolas instaladas em diversas cidades paulistas. O órgão considerou como alguns dos critérios, o valor histórico e arquitetônico do prédio e da instituição, por sua importância cultural na categoria de bem cultural. O prédio pertence à Rede Estadual de Ensino, mas a escola é destinada ao ensino fundamental sendo denominada E.M.E.F “Vaz Caminha”. Dessa forma, a escola participa do Programa de Restauro de Edificações Escolares Estaduais, da Secretaria de Estado da Educação, cuja proposta é restaurar escolas estaduais localizadas em municípios paulistas, dentre eles Iguape. A recuperação dessas unidades escolares tem por objetivo não só a restauração física, mas o resgate de valores históricos e culturais.
O Grupo Escolar e o Ginásio
Ao longo dos anos, os levantamentos históricos não conseguiram identificar informações precisas sobre a área da educação em Iguape durante o período colonial. É provável que o ensino básico, destinado a meninos e meninas, tenha sido orientado por missionários jesuítas da Companhia de Jesus, no período em que estiveram na região - por volta da segunda metade do século XVII -, e as aulas fossem ministradas no imóvel até hoje
conhecido por “Casa dos Jesuítas”, ao lado a igreja de São Benedito. Com a expulsão desses missionários do Brasil é possível que o ensino básico tenha passado a ser aplicado nas residências das famílias mais abastadas, beneficiando uma parcela da população em idade escolar. Durante o período do Brasil Colônia e do Império, a falta de maior investimento na qualificação e remuneração dos professores foi uma das consequências de um ensino primário pouco eficiente, além da dificuldade em convencer os pais sobre a importância de encaminharem seus filhos à escola. Somente a partir de 1827, quando o Governo Imperial decretou que fossem instituídas as escolas primárias em todo o país, o ensino básico se estabeleceu, de fato, e recebeu melhorias. Nessa época, por volta de 1829 havia, em Iguape, uma pequena sala onde eram ministradas aulas de educação básica. Nos anos da República foram criados os primeiros grupos escolares em todos os estados brasileiros. O Grupo Escolar de Iguape foi instaurado em janeiro de 1894 com duas turmas, mas, mesmo assim, era necessário que a educação básica na cidade fosse ainda melhor. Os próprios professores eram quem alugavam e mantinham prédios particulares que serviam como salas de aula. As crianças eram divididas nas chamadas seção masculina e seção feminina, que funcionavam em locais diferentes: para as meninas, uma casa no Largo de São Francisco (hoje Praça de São Benedito), ao lado do Correio Velho, e para os meninos, um casarão na rua Doutor Cerqueira César (atual rua Major Rebello). Somente em 1900, as alas masculina e feminina foram unificadas e as atividades escolares passaram a acontecer no Sobrado dos Mâncios, até que o novo prédio estivesse concluído, o que ocorreu no ano de 1917. Até 1941, não havia um curso ginasial, e muitos alunos cujas famílias tinham poder aquisitivo maior, conseguiam estudar em outras cidades. Foi nesse período que a prefeitura fundou a Comissão Pró-Ginásio de Iguape, com o objetivo de promover a construção do prédio para abrigar o ginásio, com apoio da sociedade, pois a verba do município não era suficiente. Os responsáveis por essa comissão organizaram a “Campanha do Tijolo”. Em abril de 1942, a comissão passou a ser chamada de Sociedade Pró-Ginásio de Iguape, que arrecadou uma considerável quantia, utilizada na compra de material e no pagamento da mão de obra. O Ginásio Estadual de Iguape foi oficialmente instituído em 1947. No entanto, o prédio ainda não estava concluído e as turmas se instalaram no Grupo Escolar Vaz Caminha até o final de 1951, quando foram transferidas para o prédio recém-inaugurado e denominado “Coronel Jeremias Júnior’’.
A Escola Normal
Entre as décadas de 1870 e 1880, existiu uma Escola Normal em Iguape, em uma sala mantida pelo governo que funcionava em situação precária. Esse curso durou poucos anos, pois, na década de 1890, os estudantes normalistas foram estudar em outras cidades. Algumas décadas depois, em 1930, houve mais uma tentativa de investimento na formação de professores no município. A própria comunidade local organizou um movimento pela implantação da Escola Normal, mas o ensino era particular e, algum tempo depois, a escola foi fechada. Finalmente, em 1953, um Projeto de Lei enviado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo propôs a criação da Escola Normal de Iguape, que funcionaria anexa ao Ginásio Estadual da cidade. Passados alguns anos, e então denominada Escola Normal Municipal “Professor Veiga Júnior”, ganharia prédio próprio. Além da
formação de professores, a escola mantinha o Colegial e cursos profissionalizantes. Em razão disso, por um período, a unidade ficou conhecida como “Escola Industrial” e depois recebeu o título de EEPSG “Professor Veiga Júnior”, mantido até os dias atuais.
Conceitos e detalhes da arquitetura
A construção deste imóvel reflete as inspirações neoclássicas e o padrão das edificações da Primeira República, características marcantes dessa fase da arquitetura paulista. A Escola Vaz Caminha foi edificada recuada da via pública, e na frente da fachada principal há um jardim e grades de ferro. A estrutura do prédio contempla porão, pé direito alto, fachadas simétricas, muros de alvenaria que protegem todo entorno da escola e o acesso central é destacado pelo seu lindo frontão. As paredes externas estão pintadas na cor verde-claro, as janelas em branco e as molduras, os barrados, os elementos decorativos e o porão receberam a cor salmão. Os telhados são com telhas de argila em duas águas, com forros de madeira. A planta da escola é composta por quatro edificações, no formato de um quadrado. Ao centro, há um pátio interno descoberto, construído no nível dos porões, com vários respiros à amostra que possuem o mesmo fechamento e formato dos respiros localizados nas partes externas da fachada. As escadas levam a varanda e têm corrimãos em ferro e são gradeadas, pintadas na cor branca. A varanda é coberta, tem piso em ladrilho hidráulico e percorre todo o entorno do pátio. Possui várias pilastras em ferro que permitem sustentação ao gradil, também em ferro. As aberturas dos vãos são retos e na parte superior receberam um barrado em madeiras torneadas, pintadas na cor branca, assim como o gradil. As salas de aula e outras dependências da escola, como a sala da diretoria, a sala de professores, a biblioteca e a secretaria ficam voltadas para essa varanda. Os banheiros e o refeitório foram construídos em um outro prédio anexo que está atrás do principal. A fachada principal do edifício é voltada para a Rua Capitão Dias e está dividida por cinco tramos, sendo que o central e os dois localizados nas extremidades foram construídos com recuo. O acesso ao interior da escola é através do tramo central, por uma escadaria dupla que leva à um alpendre coberto por telhas de argila em meia água e tem um guarda-corpo em alvenaria, centralizado entre os acessos laterais, ricamente ornamentado com elementos decorativos diversos em argamassa. Esse guarda-corpo está sobre uma parede que possui um vão na parte inferior, em formato abaulado, onde está um dos respiros do porão.
Todos os tramos da fachada principal e das laterais possuem aberturas de vãos iguais no porão. São respiros em formato retangular com fechamento em treliças de madeira, alinhados abaixo de todas as janelas, onde há um friso em alto-relevo logo acima que destaca a divisão entre o porão e o pavimento térreo. Um vão retangular acima de todas as janelas e das portas tem a parte superior em arco e o fechamento em treliça de madeira para respiro das salas. O tramo central possui um alpendre com as paredes ornamentadas por largos frisos horizontais e verticais. O acesso principal à escola é através desse alpendre, que conta com três vãos preenchidos por uma porta, pintada na cor marrom, e que possui duas folhas almofadadas, bandeira fixa com caixilhos envidraçados e está centralizada entre duas janelas altas e estreitas, estas que ficam alinhadas à altura da porta. As janelas são idênticas, com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, por duas folhas com dez caixilhos envidraçados, e com dois pinázios em destaque na parte central por serem bem maiores que
os outros quatro, que estão localizados na parte superior e na inferior. Acima da fachada principal há um belíssimo frontão em arco, com diversos ornamentos e, no centro, entre duas colunas, está o brasão do Exército Brasileiro em destaque. Nas duas laterais são, também, encontrados elementos decorativos em alto-relevo emoldurando o frontão e, atrás desse frontão, uma platibanda com frisos horizontais em alto-relevo e quatro pequenas e robustas colunas, sendo duas alinhadas no centro, acima do brasão, e duas alinhadas nas extremidades. De cada lado do tramo central estão tramos idênticos, delimitados por colunas. Eles se destacam na fachada principal, pois foram construídos com um pequeno avanço em relação ao tramo central e aos dois outros presentes nas laterais do imóvel. Os vãos são preenchidos por três grandes janelas, com bandeira fixa em caixilhos ocupados por vidros. As janelas foram divididas em quatro folhas que se abrem para dentro das salas de aulas e possuem caixilhos envidraçados. Elementos decorativos em argamassa estão centralizados abaixo de cada janela. O coroamento deste tramo é feito por uma cimalha e um frontão em arco decorado por cornijas e quatro colunas com riscos verticais em evidência, sendo as duas maiores alinhadas no centro e, as outras duas nas extremidades. Os dois últimos tramos ficam nos limites da fachada principal e também são idênticos, construídos com recuo, seguindo o alinhamento do tramo central. Os vãos são preenchidos por duas janelas idênticas às do alpendre. O coroamento deste tramo é feito por uma estreita platibanda e as paredes receberam ornamentos iguais aos dos tramos laterais. As fachadas laterais -uma para a Rua Major Rebello e outra para a área interna da escola -têm as mesmas características, sendo que estão divididas em seis tramos. O tramo próximo à fachada principal possui dois vãos preenchidos por duas pequenas janelas idênticas às da fachada; no lado esquerdo há um único vão ocupado por uma porta, com bandeira fixa envidraçada e duas folhas almofadadas, que se abre para o corredor interno, onde há uma escada em frente à essa porta; os outros tramos subsequentes possuem todos a mesmas características, com os vãos preenchidos por três grandes janelas, com bandeira fixa em caixilhos preenchidos por vidros. As janelas foram divididas em quatro folhas que se abrem para dentro das salas de aulas e possuem caixilhos envidraçados. Os ornamentos das fachadas laterais têm as mesmas características da fachada principal e o acabamento do telhado é feito por uma estreita platibanda. Na parte dos fundos, a fachada se encontra anexa ao refeitório e aos banheiros, e conta com duas portas nas extremidades, que unem o corredor central avarandado ao anexo, e oito janelas idênticas às das salas de aula das fachadas laterais. As portas são em duas folhas de escuro em madeira, e uma estreita platibanda também garante o acabamento do telhado. Todas as salas de aula possuem piso em madeira e duas portas altas com bandeira fixa, uma parte ao centro em madeira com veneziana e nas laterais dois caixilhos envidraçados. As portas são em duas folhas de madeira, sendo a parte superior em veneziana e a inferior almofadada que se abrem para o interior da sala. A qualidade arquitetônica desse conjunto é caracterizada pela técnica construtiva simples e por uma organização espacial que distribuiu salas de aulas ao longo de locais de circulação, o que garantiu higiene, ventilação e iluminação aos espaços internos.
Ornamento da fachada
COMO CONHECER
A Escola Vaz Caminha integra um roteiro turístico pelo Centro Histórico de Iguape: o do Museu a Céu Aberto. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros