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Sobrado dos Mâncios

HISTÓRIA DO IMÓVEL

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Localização: Rua Nove de Julho

O suntuoso sobrado localizado na esquina das Ruas Nove de Julho e Major Rebello foi construído no início do século XIX, pelo comendador José Jacinto de Toledo, também proprietário, na época, do Sobrado dos Toledos. Ao longo dos séculos, o imóvel serviu como moradia, clubes, escola e hotel, e é mais um dos marcos do auge do ciclo econômico do arroz na cidade. Em 1855, um ano após a morte do comendador, o prédio foi herdado por sua filha Maria do Carmo de Toledo, casada com João Mâncio da Silva Franco, que era viúvo de sua irmã mais velha Délfica (ou Delfina) Belmira de Toledo. João Mâncio foi um importante agricultor, capitalista e político iguapense, tendo exercido vários cargos públicos. Foi também proprietário da Companhia de Navegação a Vapor da Ribeira, fundada em 1875 e, ao lado do comendador Luiz Álvares da Silva e de Miguel Antônio Jorge, esteve entre os homens mais ricos da região. João Mâncio morou no prédio com sua família e, por volta de 1876, mudou-se com sua esposa para a Corte do Rio de Janeiro, onde viveu por vinte anos, até seu falecimento. O imóvel no Centro Histórico de Iguape foi herdado por João Américo Mâncio de Toledo, filho de João Mâncio e Délfica (ou Delfina), que viveu no sobrado com sua esposa Maria de Souza Castro Mâncio de Toledo. Em 1898, após sua morte, a viúva assumiu a propriedade e, algum tempo depois, casou-se com o ex-padre Luiz Vinciprova. O casal morou na Fazenda Itaguá, também de propriedade de Maria de Castro, até 1909, quando ela faleceu. Um ano depois, seu filho Eurico de Castro Mâncio de Toledo vendeu o prédio ao coronel Antônio Ludgero de Souza Castro. Nesse mesmo período, em torno de 1900, o Sobrado dos Mâncios foi alugado para a Câmara Municipal para abrigar o Grupo Escolar de Iguape, este que havia sido instalado na cidade em 7 de janeiro de 1894, pelo inspetor escolar Faustino de Oliveira Ribeiro Júnior, com o objetivo de promover a educação básica da população. Foi nesse sobrado que as alas masculina e feminina do Grupo Escolar foram unificadas no mesmo local, uma vez que funcionavam em prédios particulares alugados e pagos pelos próprios professores, sendo a seção masculina em um prédio no Largo de São Francisco, e a feminina na rua Dr. Cerqueira César. As atividades escolares no Sobrado dos Mâncios duraram mais de uma década, até que o novo prédio, erguido especialmente para abrigar o Grupo Escolar “Vaz Caminha”, estivesse concluído, o que ocorreu em 1916. Nesse mesmo ano, o sobrado foi vendido para Sebastião Ferreira de Moraes. O novo proprietário do prédio mantinha uma parceria comercial com o capitão Floramante Regino Giglio na firma Floramante e Ferreira, que administrava o já existente Hotel São Paulo, em funcionamento no sobrado hoje conhecido por Zé Juca, na Praça da Basílica. O comércio foi, então, transferido para o novo endereço na Rua Nove de Julho (antiga Rua Direita) e o Sobrado dos Mâncios passou a ser o Sobrado do Hotel São Paulo. Em 1945, com a morte de Sebastião Ferreira de Moraes, sua filha Deolinda de Aquino Moraes, casada com Orlando Sant’Anna de Moraes, herdou o imóvel man-

tendo sua finalidade. O Hotel São Paulo permaneceu por décadas acolhendo viajantes e membros da Caravana Santista, que ficavam no sobrado durante os dias de Festa em Louvor ao Senhor Bom Jesus. Além dos quartos distribuídos em ambos os pavimentos, e os banheiros instalados no final dos corredores, o imóvel oferecia um amplo salão revestido com assoalho de madeira, e preenchido por mesas e cadeiras que recepcionavam os hóspedes em suas refeições. Uma cristaleira secular guardava os utensílios que seriam utilizados nos cafés da manhã, almoços e jantares. Em um dos lados do salão um piano era a garantia de refeições ao som de boa música. Havia também um bar, e alguns poucos degraus levavam a cozinha, onde a saborosa comida era preparada em forno a lenha. No ano de 1991, os herdeiros de Deolinda de Aquino Moraes e Orlando Sant’Anna de Moraes assumiram a propriedade, e na primeira década do século XXI (buscar o ano exato), o Hotel São Paulo deixou de acolher os hóspedes e sua atividade comercial foi encerrada. Enquanto o inventário não é concluído, a estrutura em pedra e cal, se degrada com a ação do tempo, parte do telhado que cobria o espaço do salão e da cozinha desabou, portas e janelas lutam para se sustentarem nos vãos voltados para a área externa. Depois de dois séculos e de muita história, o imponente sobrado aguarda por solução.

Conceitos e detalhes da arquitetura

O Sobrado dos Mâncios se destaca no pórtico de entrada do centro histórico na Rua 9 de Julho, assemelha-se muito com o estilo construtivo do Sobrado dos Toledos, pois também tem muitas características do estilo neoclássico. Todas as paredes externas são pintadas de amarelo com as molduras de todos os vãos na cor branca e o barrado em vermelho. O telhado é em duas águas com telhas de barro. O sobrado está em completo abandono há muitos anos, as portas e janelas estão com partes faltando ou bastante deterioradas pela ação do tempo, a pintura já está muito desgastada, os cunhais, colunas e paredes também estão em muitas partes se desfazendo aos poucos e deixando à mostra as camadas do material utilizado na sua construção, os gradis estão resistindo ao abandono e no telhado e nas cimalhas pode se observar muitas plantas crescendo, ainda assim ele se mostra muito belo, sendo considerado um dos mais beloS sobrados do Centro Histórico. Da Rua Nove de Julho, uma cena vista na sacada do imponente frontão assusta bastante, pois não existe mais a porta deste vão que não aguentou a ação do tempo e assim pode se observar cavaletes sustentando o telhado. Na parte interna do prédio as marcas do tempo são ainda mais evidentes, pois toda estrutura interna está muito deteriorada, ainda se pode subir as escadarias para o segundo pavimento e observar pelas janelas as duas torres da Basílica, em algumas paredes o reboco caiu deixando à vista modo construtivo interno que era em taipa e no salão principal do pavimento térreo onde eram servidas as refeições e ocorriam grandes festas e recepções um velho piano ainda está lá para evidenciar a grandiosidade e a beleza do velho Sobrado. Através de fotos antigas que datam 1920, observa-se que os vãos do pavimento térreo das Ruas Nove de Julho e Major Rebello foram bastante alterados. Os da Rua Nove de Julho eram preenchidos por quatro portas e apenas uma janela, todas iguais as que hoje se encontram no sobrado e os da Rua Major Rebello possuíam os vãos preenchidos por tres portas idênticas às do segundo pavimento que possui varanda e os outros vãos eram preenchidos por portas e janelas intercaladas sendo que as portas eram em folha de escuro de madeira, as molduras iguais às atuais e as janelas do tipo guilhotina com os caixilhos

preenchidos por vidros. Isso evidencia que provavelmente o piso térreo foi construído para atender o uso como comércio. Na fachada da Rua Nove de Julho os vãos do pavimento térreo são preenchidos por quatro janelas e uma porta que dá acesso ao sobrado, todas estão pintadas na cor cinza, com molduras em vergas em arco pleno, sobrevergas e ombreiras. As janelas têm peitoris em madeira e a soleira da porta é em pedra trabalhada em cantaria. As janelas possuem duas bandeiras fixas sobrepostas, sendo a bandeira externa em ferro fundido com belos desenhos em formato de flor com a moldura e o miolo em rococós e a interna em madeira decorada com caixilhos envidraçados, duas folhas em escuro de madeira compõem as janelas que se abrem para parte interna e na parte externa as janelas são compostas de caixilharia envidraçada partilhada em seu terço inferior com as venezianas em madeira. A porta possuía também as duas bandeiras fixas iguais às das janelas, porém a bandeira interna já não existe mais, o fechamento é feito com duas folhas de escuro em madeira. Os dois cunhais e as colunas estão em reboco saliente. No barrado se destacam pequenas aberturas gradeadas, espécie de respiradouros abaixo das quatro janelas já próximas à calçada que permitem uma maior ventilação e assim evitam a umidade do solo ao piso. Acima das sobrevergas cinco vazadouros se destacam em um friso que corre toda a parede. No segundo pavimento os vãos são rasgados até as soleiras em pedra trabalhadas em cantaria e preenchidos por cinco portas-janelas com bandeira fixa em caixilharia envidraçada e com o fechamento interno de duas folhas de escuro em madeira e na parte externa duas folhas que possuem caixilharia em vidro na parte superior e na parte inferior almofadas em madeira. A varanda é corrida, em balanço com o piso em pedra em cantaria, com um gradil em ferro forjado com muitas decorações que lhe proporcionam extrema beleza para quem avista da rua, sendo que na porta-janela central a sacada tem um avanço em semicírculo e o gradil acompanha este avanço formando uma sacada em formato de bacia onde se destaca as iniciais de seu proprietário JMSF (João Mâncio da Silva Franco). As molduras das portas-janelas são iguais às do térreo. Acima das sobrevergas deste piso, as cimalhas correm toda a parede abaixo do frontão e se abrem em um desenho que emoldura a sacada do pavimento superior. O terceiro pavimento apresenta um frontão triangular, entablamento e uma belíssima sacada individual em balanço com o piso de pedra trabalhada em cantaria, gradil em ferro forjado e uma porta-janela com moldura idêntica às do segundo pavimento. Na Rua Major Rebello um extenso paredão com dois cunhais, duas colunas e quinze vãos, sendo quatorze vãos preenchidos por janelas e apenas um por porta que fica no final deste paredão e dá acesso a entrada aos fundos do sobrado. As três primeiras janelas são idênticas em todos os detalhes e materiais utilizados às da fachada da Rua 9 de Julho e as outras onze janelas se diferenciam das outras por possuir apenas uma bandeira fixa que é preenchida por caixilharia envidraçada, sendo que algumas delas apresentam vidros coloridos nas cores azul e vermelho, e pelas suas molduras, pois as vergas são em arco abatido. Os outros elementos que compõem as janelas e as molduras são os mesmos das descritas na fachada 9 de Julho. A porta é em duas folhas de escuro em madeira com verga em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleira em pedra trabalhada em cantaria. Acima das sobrevergas um extenso friso corre toda a parede. No barrado pequenas aberturas próximas à calçada foram colocadas para maior ventilação e para evitar a umidade do solo ao piso. O segundo pavimento da Rua Major

Rebello é preenchido por vãos com três portas-janelas idênticas às da fachada do segundo pavimento da Rua 9 de Julho com sacada corrida em balanço, piso em pedra trabalhada em cantaria e gradis em ferro forjado e por doze janelas guilhotinas com caixilharia envidraçada na parte externa e na parte interna duas folhas de escuro em madeira, as molduras das janelas são em vergas de arco abatido, sobrevergas e peitoris em madeira. Acima das sobrevergas um friso corre toda a parede e o acabamento do telhado é feito por cimalhas. As colunas deste pavimento recebem desenhos em relevo. A parede dos fundos do sobrado é em parte geminada a uma casa e nesta parede podemos observar uma grande parte descamada que deixa à mostra a parede em pedra e cal. A outra parede dos fundos do sobrado está na área de um jardim com acesso por portas no pavimento térreo. No pavimento térreo na parte interna um hall de entrada se destaca com duas colunas imitando as do tipo dórico e um pórtico em arco pleno e ombreiras que emolduram a entrada do acesso a uma escada de madeira que leva ao segundo pavimento. O piso do hall de entrada e da ala esquerda do sobrado é hidráulico nas cores branco e preto, sendo que os pisos dos quartos é de taco de madeira, os banheiros ficam nesta ala e na ala da direita onde ficam a cozinha e um grande salão que era utilizado para servir as refeições e onde aconteciam festas e recepções o piso é em madeira. As duas alas possuem acesso ao jardim. O pavimento superior possui também vários quartos e banheiros. Todas as portas dos quartos dos dois pavimentos possuem bandeiras fixas em caixilharia envidraçadas com vidros coloridos nas cores azul e vermelho e duas folhas com almofadas em madeira e recebem as molduras com vergas em arco abatido e ombreiras. Também todas as janelas dos dois pisos que dão acesso ao jardim são do tipo guilhotina com os castilhos envidraçados e não possuem molduras. O piso e o foro do segundo pavimento são em madeira.

COMO CONHECER

O Sobrado dos Mâncios integra os roteiros turisticos pelo Centro Historico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial www.valevisitariguape.com.br/roteiros

FACHADAS

GRADIS E ORNAMENTOS

DETALHES

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