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Sobrado do Zé Juca
HISTÓRIA DO IMÓVEL
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Localização: Praça da Basílica
Neste imponente edifício, localizado na esquina da Praça da Basílica com a Rua Padre Porto Roma, conhecido por Sobrado do Zé Juca, foi instalada a primeira sede do Hotel São Paulo, empreendimento administrado por Sebastião Ferreira que, naquela época, mantinha uma parceria comercial com o capitão Floramante Regino Giglio na firma Floramante e Ferreira de Moraes. Não foram identificados registros que orientem ao exato período em que o Hotel São Paulo esteve em funcionamento nesse imóvel, apenas que, em 1916, foi transferido para o prédio na Rua Nove de Julho, onde permaneceu até o encerramento de suas atividades, no início do século XXI. O Sobrado do Zé Juca tem uma localização privilegiada no Centro Histórico de Iguape. Recebeu esse nome em homenagem a um de seus proprietários, José Emílio de Carvalho. Entretanto, poucas são as informações sobre a origem desse sobrado, de seu idealizador e de seu construtor. Alguns historiadores sugerem que tenha sido o comendador Luiz Álvares da Silva, também proprietário do Sobrado do Comendador (Paço Municipal) e do Sobrado da Pirá. O fato é que os herdeiros do comendador venderam o imóvel ao capitão Augusto Rollo em dezembro de 1909, que depois o transferiu a João de Souza Gatto e sua esposa, no início de 1917. Após três décadas, em 1943, o prédio foi repassado a Arlindo Nunes Rodrigues, que por mais de uma década usufruiu do edifício, antes de ser adquirido por seu último proprietário, José Emílio de Carvalho, em 1956. Durante décadas, o espaço do térreo vem sendo utilizado como comércio. Por ali passou o “Bar Viaducto”, o “Restaurante Zé Juca” e mais recentemente, a “Pastelaria Li”, além de outros estabelecimentos nesse ramo. O segundo pavimento sempre serviu como moradia, e é onde ainda vive sua família, que das sacadas pode apreciar o movimento em volta da praça e da igreja, às vezes, regido pelo som das marchinhas de carnaval e, em outros momentos, pelo silêncio das orações e demonstrações de fé, nos dias de festa em louvor ao Senhor Bom Jesus.
Vice-consulado de Portugal em Iguape
Ao lado do Sobrado do Zé Juca, também na Praça da Basílica, está outro belo imóvel que ganhou destaque por ter sido sede do Vice-consulado de Portugal em Iguape, de 1864 até a década de 1920, quando encerrou suas atividades devido à decadência econômica e política da cidade a partir do final do século XIX causada, em parte, pela abertura do Valo Grande, que prejudicou diretamente o funcionamento do Porto Grande, e pela falência das lavouras de arroz, por não haver mais mão de obra escrava. Esse Vice-consulado tinha por objetivo tratar dos interesses lusitanos em Iguape. Hoje, no Brasil, essas repartições têm como propósito principal a defesa dos direitos e assistência emergencial dos residentes em sua jurisdição.
Conceitos e detalhes da arquitetura
No início do século XX, a fachada principal do sobrado do Zé Juca tinha quatro janelas no pavimento superior e quatro portas no
térreo. Na fachada voltada para a Rua Padre Porto Roma, eram dez janelas no andar de cima e no pavimento inferior oito portas, duas janelas e um portão. O sobrado é composto por três edificações, sendo que a principal possui a fachada voltada para a Praça da Basílica, e as outras duas para a Rua Padre Porto Roma. O edifício tem uma localização privilegiada, ocupando um lote que vai até a Avenida Princesa Isabel, onde ficava localizado o Porto Grande, e que está a apenas alguns passos da escadaria do Santuário do Bom Jesus. As suas características arquitetônicas são as mesmas dos sobrados construídos no estilo colonial. A cobertura é feita em telhas de argila em quatro águas. As paredes externas receberam a cor verde claro, e as portas e as janelas estão em marrom; as molduras dos vãos, os barrados, os frisos, as colunas, as cimalhas e demais ornamentos foram pintados na cor branca. A parte térrea da edificação principal é usada como comércio, e o pavimento superior e as outras duas edificações são utilizadas como moradia pelos proprietários. A fachada principal do imóvel é delimitada por dois cunhais em pedra trabalhada em cantaria, com colunas em argamassa salientes, e quatro vãos no pavimento térreo que estão preenchidos por quatro portas, sendo três delas utilizadas para acesso ao comércio. Essas portas possuem duas folhas de escuro em madeira e apenas uma delas tem bandeira fixa envidraçada. A porta localizada na extremidade à direita, com apenas uma folha de escuro em madeira, está isolada por uma parede do salão de comércio e serve de acesso ao pavimento superior, garantido por uma larga escada em madeira. Todas as molduras das portas desta fachada possuem vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhada em cantaria. Acima das sobrevergas corre um friso que se estende por toda a fachada. No pavimento superior, de frente para a Basílica, quatro vãos alinhados aos do pavimento térreo, são preenchidos por portas-janelas com sacada corrida em ferro, que destaca, ao centro, as siglas “FBSG”, talvez uma marca da família construtora ou que ali viveu, inscrições comuns em edifícios da época. Nesse piso, as portas-janelas são em duas folhas, sendo a porção superior com caixilhos envidraçados, e apenas uma pequena parte inferior almofadada. Também possui bandeiras fixas que embelezam a frente do imóvel e são idênticas às do Sobrado do Comendador (Paço Municipal), localizado na Rua XV de Novembro. As molduras dos vão carregam as mesmas características das do pavimento térreo e as colunas neste pavimento são ornamentadas com traços em relevo. Como no térreo, acima das sobrevergas, um friso percorre a parede entre as colunas. Na fachada da edificação principal voltada para Rua Padre Porto Roma, no pavimento térreo em declive, é possível encontrar seis vãos que são preenchidos por quatro portas com duas folhas de escuro em madeira, sendo que as duas últimas, bem próximas à coluna, possuem um gradil em ferro como parapeito do lado externo, pois esses dois vãos estão localizados bem acima do nível da calçada. As molduras das portas são iguais às da fachada principal, voltada para a Praça da Basílica, e duas das janelas têm fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina envidraçadas. Estas janelas possuem vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris e, acima das sobrevergas, observa-se um bonito friso em relevo, e um outro que demonstra a divisão entre os pavimentos. No piso superior desta fachada, seis vãos estão alinhados aos do pavimento térreo, sendo que os dois, próximos à esquina com a Praça da Basílica, estão preenchidos por portas-janelas com características iguais às
da fachada voltada para a igreja, inclusive com a varanda corrida. Os outros quatro vãos são preenchidos por janelas que também compartilham de todas as características daquela do pavimento térreo. A segunda edificação, que é anexa às outras duas e tem a fachada principal voltada para a Rua Padre Porto Roma, possui uma escadaria que leva à porta, pois o declive da rua é ainda maior neste ponto. Esta edificação é também composta por dois pavimentos, sendo que no térreo os vãos são preenchidos por uma porta e uma janela em duas folhas de escuro em madeira, e têm as mesmas características das molduras das outras fachadas. O friso acima das sobrevergas é marcante, e há a mesma linha da divisão dos pavimentos observada na edificação do lado direito. No piso superior está a lavanderia da moradia, que foi construída com recuo em relação ao pavimento superior das outras edificações. Também alinhado à parede térrea, acima do friso que divide os dois pavimentos, está um pequeno gradil em ferro. No pavimento térreo da terceira edificação anexa, que tem sua fachada principal voltada para a Rua Padre Porto Roma, há quatro vãos que estão preenchidos por três janelas e uma porta com duas folhas de escuro em madeira. Todas as molduras têm as mesmas características descritas nas demais fachadas. Acima das sobrevergas há um friso igual ao das outras fachadas desta rua, mas que não está alinhado a eles devido ao declive do terreno, ainda mais acentuado. O friso que demarca a divisão dos pavimentos também aparece nesta fachada alinhado aos demais. No pavimento superior, os quatro vãos são preenchidos por quatro janelas com o fechamento interno com duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina com caixilhos envidraçados, além de molduras em vergas de arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris. Eiras e beiras e, logo abaixo, um bonito friso, garantem o acabamento desta edificação em ambas as fachadas. Aos fundos, na fachada voltada para a Avenida Princesa Isabel, das janelas do pavimento superior é possível apreciar uma vista privilegiada do estuário e de toda extensão da Orla do Mar Pequeno. No pavimento térreo, há uma alta calçada e dois vãos que são preenchidos por duas portas, sendo uma em cada extremidade da parede, com duas folhas de escuro em madeira e bandeira fixa com caixilhos envidraçados, e molduras com vergas retas e ombreiras. O friso em relevo presente em quase todo o imóvel, e que marca a divisão dos pavimentos, não aparece nesta fachada. O pavimento superior possui quatro vãos preenchidos por quatro janelas, com fechamento interno em duas folhas de escuro em madeira, e com guilhotinas com caixilhos envidraçados para o fechamento externo. As molduras são em vergas retas com ombreiras e peitoris. Há poucos anos, o Sobrado do Zé Juca passou por uma reforma geral, inclusive do telhado.
Detalhe da facahda
Detalhes da bandeira fixa
COMO CONHECER
O Sobrado do Zé Juca integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros