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APAT no FIATA HQ Meeting 2023
from Revista APAT 140
by Apat
A APAT esteve, uma vez mais, presente no FIATA HQ Meeting, que decorreu entre 18 a 21 de Março, em Genebra, sob o tema “Navigating Uncertainty” – um trabalho conjunto para compreender o panorama instável atual e o impacto do mesmo no sector transitário.
No primeiro dia, depois da abertura dos trabalhos pelo Presidente da FIATA, Ivan Petrov, que partilhou as principais prioridades da associação para 2023, Jan Hoffmann, da UNCTAD, apresentou uma perspetiva da instituição sobre comércio e logística. Lembrando que no passado a indústria gastava mais na manutenção de inventários do que no transporte, referiu que, atualmente, se gasta o dobro em transporte em comparação com a manutenção de inventários, e não necessariamente porque o transporte seja mais caro. Destacou no transporte marítimo o aumento da dimensão dos navios e a integração vertical como indicadores para a diminuição do número de empresas a servir a cadeia global de abastecimento e, por consequência, o aumento das taxas de frete e do custo final dos produtos. Sondados os presentes, a (curta) maioria considerou que o volume de negócios poderá aumentar em 2023. De seguida, pediu-se que fossem identificados os principais desafios previstos para o ano e a resposta foi clara: a inflação, seguida da concorrência, da evolução económica, da digitalização e da descarbonização.
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Jan Hoffmann mostrou-se surpreendido com o baixo destaque dado à descarbonização tendo em conta a atual situação global e os objetivos da OMI de redução em 40% das emissões de CO2 até 2030.
Em resposta, James Corbett, do World Shipping Council, pediu aos transitários que se preparem para a mudança, de modo a não serem punidos numa fase posterior. Hoffmann concluiu: “Atrasar a mudança é mais dispendioso do que a mudança em si”. Seguiu-se a sessão sobre o transporte multimodal, a cargo do MTI (Multimodal Transport Institute). Nessa sessão, Roel Janssens, da UNECE, partilhou os progressos realizados no desenvolvimento de corredores estratégicos entre a Europa e a Ásia para o transporte rodoviário e o ferroviário. Por sua vez, Philip van den Bosch referiu que o transporte ferroviário tem uma quota de mercado limitada e que é0s necessário investimento (público e privado) para o desenvolvimento de uma maior e melhor rede dentro de cada país, desenvolvendo mais a intermodalidade. Da IRU, Jens Hügel destacou a falta de mão de obra qualificada, notando uma escassez de 2,6 milhões de motoristas em todo o mundo.
Depois do workshop desenvolvido para participação dos presentes, foi concluído que, para as regiões da Europa e das Américas, é essencial tornar a indústria mais atrativa para uma maior percentagem de pessoas (entre os quais, jovens e mulheres).
Hügel partilhou a proposta de reduzir a idade mínima legal para os motoristas de camiões de forma a acompanhar os jovens que terminam a escolaridade obrigatória antes que enveredem por outras carreiras profissionais. Por outro lado, regiões como África e Médio Oriente têm excesso de motoristas. O presidente do MTI, Mark Bromley, sugeriu que deveria existir maior aproximação a nível governamental entre os países por forma a criar um equilíbrio entre a procura e a oferta. O primeiro dia terminou com o painel “Sustentabilidade a que custo?”, com o objetivo de desmistificar a abordagem dos intervenientes que irão impulsionar a transição energética. O painel explorou a natureza das novas opções de combustível – biocombustíveis, amoníaco e GNL – e a sua avaliação preliminar, a sua escalabilidade e as infraestruturas que serão necessárias para apoiar os abastecimentos. As sondagens à plateia mostraram que o custo e a resistência à mudança são os principais desafios ao desenvolvimento sustentável da cadeia abastecedora.
O segundo dia começou com a sessão do CAI (Customs Affairs Institute), na qual o presidente do grupo, Steve Parker, reportou as conclusões das reuniões contínuas com a Organização Mundial das Alfândegas. Anunciou também a publicação “Business Continuity Planning: Guia para as alfândegas e desalfandegamento” da FIATA, um conjunto de lições aprendidas para uma futura resiliência, especialmente para os procedimentos aduaneiros. Os oradores convidados demonstraram o papel e aplicação do AEO, destacando os benefícios e desafios do mesmo. Entre os benefícios, Nadia Belkebir, da IATA, referiu a redução de inspeções físicas necessárias, a simplificação dos procedimentos e a comunicação mais eficaz com as autoridades aduaneiras.
A sessão seguinte, a cargo do ABLM (Advisory Body on Legal Matters), focou-se no trabalho da UNCITRAL, com a qual a FIATA colabora para o desenvolvimento de um quadro jurídico para Documentos de Transporte Multimodal Negociáveis. De notar a importância de separação da negociabilidade dos documentos da responsabilidade por danos à carga para que este quadro encontre uma aceitação mais abrangente e permita a celebração de um novo instrumento internacional, previsivelmente sob a forma jurídica de convenção internacional.
Simultaneamente decorreu a sessão do ABSS (Advisory Body for Safety and Security) onde foram abordadas as melhores práticas para um negócio mais resiliente ao cibercrime. Numa discussão aberta sobre ciber-consciencialização, a sessão garantiu uma visão reveladora do que é o nível de preparação dos transitários e a necessidade de melhorias na cibersegurança das empresas. Pelos oradores presentes foram destacados, como passos fundamentais, a necessidade de prevenção e a rápida resposta em caso de ataque.

Os trabalhos seguiram, na parte da tarde, com a sessão do AFI (Airfreight Institute), onde o presidente do grupo, Dawit Woubishet, abordou o trabalho realizado para o desenvolvimento de um programa global de carga aérea que responda à realidade comercial do mercado – em que os transitários deixaram de ser meros agentes das companhias aéreas e passaram a ser clientes das mesmas – e seja eficaz a nível global, eliminando a utilização de diversos programas em diferentes áreas geográficas.
O último painel do dia foi um projeto conjunto do ABSS e do AFI, no qual os oradores discutiram o manuseamento e transporte eficaz de dispositivos de carga unitária (ULDs). O painel abordou a segurança do transporte de carga aérea e as melhores práticas a aplicar. Um resultado chave da sessão foi o reforço da sensibilização de todos os intervenientes na cadeia de abastecimento sobre o tema da manipulação eficaz de ULDs.
O terceiro dia foi maioritariamente dedicado às reuniões das regiões.
No concernente à Europa, um dos tópicos ressonantes foi a implementação do ICS2. Os membros discutiram ainda o processo de implementação do eFBL e o trabalho realizado por muitas associações sobre sustentabilidade e redução de emissões de CO2.

O dia terminou a falar-se de digitalização. A sessão do ABIT (Advisory Body on Information Technology) abordou uma das principais prioridades definidas pela FIATA: acrescentar valor à solução digital eFBL. Os principais resultados da sessão foram:
1) a recomendação de coincidir os dados do eFBL com os requisitos do ICS2; 2) assegurar a interligação do eFBL com outros sistemas, de forma a circular a informação no transporte.
No último dia do FIATA HQ Meeting, a manhã foi dedicada ao futuro da formação na cadeia logística e os avanços na facilitação do comércio internacional.
O primeiro painel, a cargo do FLI (FIATA Logistics Institute), abordou a necessidade da constante aprendizagem e inovação na atividade transitária. O presidente do grupo, Stephen McDermott, começou por abordar os avanços realizados pelo grupo no desenvolvimento da temática e a importância da formação no sector.
Um dos elementos em desenvolvimento na formação é, inegavelmente, a digitalização da mesma. O painel seguinte, também do FLI, dedicou-se às tendências futuras na formação onde as novas tecnologias foram o desafio identificado. Por esse motivo, é fundamental que as entidades formadoras integrem as últimas tendências e atualizações da indústria nas formações que desenvolvem. De acordo com os membros do painel, a formação presencial continua a ser preferencial para os formandos, mas nota-se uma mudança no paradigma e a aceitação de metodologias online como uma componente fundamental para o futuro. Entre as vantagens da digitalização da formação foi referida a possibilidade de frequência das formações em qualquer lugar, sem necessidade de deslocação ou restrição horária. No período de workshop do painel foram discutidas as principais características e competências essenciais à atividade transitária. Depois da pausa de almoço foi altura de falar sobre o papel vital dos comités nacionais de facilitação do comércio. Um painel a cargo do ABIA (Advisory Body on International Affairs) onde a presidente do grupo, Cynthia Perisic Ivandic, começou por apresentar a última publicação do grupo para a FIATA – um manual de apoio à implementação da OMC-TFA. Poul Hansen, da UNCTAD, esteve presente e expôs à plateia o papel do sector privado nos comités nacionais. Deixou uma nota de incentivo ao envolvimento das entidades especialmente no sector dos transportes e da logística.
