Praça Boulevard - Linearidade, fluidez e permanência na cidade consolidada

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Praça Boulevard

Linearidade, fluidez e permanĂŞncia na cidade consolidada



Centro Universitário Senac

Praça Boulevard

Linearidade, fluidez e permanência na cidade consolidada Trabalho final de graduação - Senac Karine Andrea Falk Braz Orientador: Fabio Robba

São Paulo 2018



Índice Apresentação 07 Agradecimentos 09 Introdução 10 1. Praça: o elemento atráves do tempo Praças Secas 14 Praças Jardins 19 Praças Modernas 22 Praças Contemporâneas 24 Pracialidade 26 2. Estudo de casos: Os Projetos Nova Paulista 31 Pocket Parks 36 Ruas Compartilhadas 40 Times Square 44 3. Pinheiros A área: do bairro a rua 49 Análise: Rua dos Pinheiros 60 4. Praça Boulevard Projeto

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Conclusão 85 Lista de Imagens

Bibliografia

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APRESENTAÇÃO

Nos últimos 10 anos, a cidade de São Paulo, assim como todas as grandes metrópoles do mundo, tem suportado o trânsito intenso, o calor excessivo devido às mudanças climáticas, a poluição visual e sonora, e o abandono e degradação dos imóveis, esses ocasionados pelo crescimento constante e fortalecido da urbe que, na última década, foi equipada para saciar o consumo da população, ficando carente de espaços livres de edificação para respiro e fuga da cidade. Este crescimento fez com que os espaços livres que restavam nos centros econômicos fossem adquiridos pelo setor imobiliário e mais construções surgissem intensificando a vida nos bairros. Os custos comerciais dos lotes fizeram com que as praças passassem a ser apenas espaços residuais com a intenção de cumprir leis de impacto ambiental, perdendo assim sua função e simbologia histórica, que fora construída desde a idade média. Uma vez que a conscientização dos hábitos saudáveis e a procura por espaços de contemplação e vivência ao ar livre cresceu em paralelo ao valor imobiliário, o projeto planeja recuperar estes espaços a fim de melhorar a qualidade de vida, proporcionando um ambiente de convivência que estimule a economia e vida social local sem que seja necessária a intervenção e compra de lotes particulares. Isto posto o projeto propõe a apropriação da via e reestruturação do trânsito local em áreas de importância comercial, transformando-as em uma praça linear e compartilhada, com estrutura para permanência ou passagem.

APRESENTAÇÃO |

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“O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar” Oscar Niemeyer

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AGRADECIMENTOS

A todos que estiveram ao meu lado, principalmente nos momentos mais difíceis quando tive vontade de desistir. Aos meus pais que me educaram e amaram todos os dias. A minha irmã que tenho muito orgulho como pessoa e profissional. Ao meu orientador, Fabio Robba, que aceitou minha ideia, ajudou e incentivou. E por fim agradecer a minha cidade, São Paulo, que me faz acordar todos os dias pensando em como melhorá-la.

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INTRODUÇÃO

Como forma de organizar logicamente o projeto proposto, e de maneira a permitir um claro entendimento e visualização, a monografia está dividida em quatro grandes blocos. O primeiro conceitualiza elementos fundamentais para a compreensão da proposta que será desenvolvida. Para isso, inicialmente foram pesquisados e analisados os significados da praça para as sociedades, procurando averiguar e recuperar as funções perdidas para incorporá-las em um projeto único, denominado aqui como Praça Boulevard. Com a visão de que a praça é um importante símbolo para a urbe e um dos espaços mais antigos quando estudamos a história das cidades, compreenderemos seus inúmeros formatos e diferentes papéis para seu entorno, entendendo a diferença das praças secas, praças jardins e praças resíduos. Os espaços públicos podem ser de diversas escalas, então quando falarmos de espaço livre público, assimilaremos estes às ruas, avenidas, calçadas, canteiros, margens de rios e até mesmo térreo de edifícios - espaços que contenham característica para pracialidade, termo definido por Eugenio Queiroga em sua tese de doutorado e que finaliza o primeiro bloco expondo que “quem define a praça é o que nela se realiza, assim um sistema de ações e objetos que apresente forte conotação pública, de livre acessibilidade é o que vai caracterizar o espaço como praça.” O segundo bloco de conteúdo expande as referências buscadas ao exemplificar estudos de caso que trazem elementos de interesse para o projeto da Praça Boulevard. Os projetos apresentados ao longo do capítulo mostram que o urbanismo contemporâneo europeu vem se preocupando desde os anos 60 com o espaço para o pedestre e a sociabilidade dos ambientes perante o crescimento da cidade.

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Já nos Estados Unidos o tema “Espaço público” foi introduzido na década de 80 com inúmeros debates que se concretizaram, por exemplo, pelos Pocket Parks. O Brasil, com sua conturbada trajetória política e econômica, manteve o urbanismo e paisagismo esquecidos por muitos anos - suas praças concebidas em moldes europeus de jardins palacianos foram construídas a partir do ponto central da cidade e tornaram-se, em vez de um oásis para passeio, um espaço de medo e insegurança em meio ao caos imposto pelo ritmo frenético da passagem de pessoas. Por isso, a reestruturação destes locais começa a se fazer necessária. Com o urbanismo contemporâneo, volta a ganhar força a ideia do pedestre como importante parâmetro do desenho do espaço da cidade. Nas áreas centrais de centenas de cidades, o pedestre retoma alguns dos espaços perdidos para o automóvel. Proliferam calçadões e em inúmeras situações, algumas praças voltam a ter, ao menos em um de seus lados, um espaço de circulação de pedestre contínuo até os edifícios, excluindo a circulação de veículos. Por fim, o terceiro e quarto bloco de conteúdo apresentam a proposta da Praça Boulevard, inicialmente demonstrando a área da implantação sob diferentes perspectivas, para na sequência introduzir os três conceitos fundamentais que trará à urbe: linearidade, fluidez e permanência, sempre com intuito de melhorar o espaço público e repensar as necessidades de determinado ambiente, para que ele se torne mais seguro e de uso diário e contínuo para os habitante e comerciantes da região escolhida.

“Aprendamos com o lugar, com quem dele se apropria”. Eugenio Queiroga, 2001

INTRODUÇÃO |

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Praça: o elemento atravÊs do tempo


PRAÇA SECA

Sabemos que a praça se caracteriza independentemente de sua tipologia pela função de espaço público para convivência da população, mas para que a ideia possa ser desenvolvida, começaremos a falar de forma separada dos termos que se referem à praça neste capítulo, e assim entenderemos a construção e formação de cada uma delas: secas, jardins, molhadas e resíduos.

HERANÇA DAS CIVILIZAÇÕES

Frequentemente encontradas na Europa e Ásia, aparecem na história da arquitetura desde o relato das primeiras cidades, em 4000 a.C.. As praças secas são espaços vazios marcados por edifícios, palacetes e comércios em seu entorno, e evoluíram nas diferentes sociedades, de acordo com características de cada povo. Entenderemos cada uma dessas evoluções e suas funções para cada sociedade, analizando os diferetentes termos que representam a praça seca.

NÚCLEO

Esse tipo de espaço é encontrado nos relatos das primeiras cidades e é denominado de núcleo devido a sua configuração central, em que a cidade cresce a partir de seu entorno. Muito presente na idade medieval, as praças secas com características de núcleo normalmente se situavam próximas ou em frete a construção principal e desempenhavam função de espaços para comercialização e encontro dentro das cidades muradas ou castelos.

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ÁGORA

Símbolo do espírito de coletividade e cidadania da antiga civilização grega, de onde emergiram alguns dos pensadores mais importantes da história, era um espaço aberto livre, onde ocorriam os debates, julgamentos e decisões. Pela sua importância para a sociedade grega, continha em seu entorno diversas edificações públicas e ou pórticos, onde ocorriam os mercados e feiras.

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FÓRUM

O Fórum, maneira como as praças secas ficaram conhecidas durante o longo reinado romano, era um ponto central onde ocorriam as relações sociais e atividades comerciais, assim como o Núcleo e a Ágora. Porém, se diferenciava da Ágora grega pelo fato de as decisões políticas e assembleias não ocorrerem mais ao ar livre, mas sim nos imponentes edifícios públicos que representavam a monumentalidade do Estado e que o circundavam.

Imagem 3 PRAÇA: O ELEMENTO ATRÁVES DO TEMPO

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ADRO E TERREIRO

Apelido que recebe a praça que é cercada uma igreja ou por construções arquitetonicas, esta tem caráter público e agregador social, pois serve para festa, feiras e mercador ou mesmo espaço de lazer. O Adro no brasil recebe o nome de terreiro e era comum que o cemitério da cidade surgisse a partir dele.

PÁTIOS

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Bastante comuns no crescimento inicial das cidades brasileiras, os pátios são espaços livres que podem estar contidos em uma residência, ou mesmo a uma igreja, e que servem o propósito de oferecer locais de respiro e proteção para seus frequentadores.

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” Na cidade, os pátios são espaços livres públicos definidos a partir de uma igreja ou outro elemento arquitetônico expressivo, além do casario antigo aos quais dá acesso, quase sempre pavimentados e exercendo a função de respiradouros, de propiciadores do encontro social e eventualmente destinados a atividades lúdicas temporárias.” (SÁ CARNEIRO, 2000, p. 29)

LARGO “São espaços livres públicos definidos a partir de um equipamento geralmente comercial, com o fim de valorizar ou complementar alguma edificação como mercado público, podendo também ser destinados a atividades lúdicas temporárias.” (SÁ CARNEIRO e MESQUITA, 2000, p. 29)

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PRAÇA: O ELEMENTO ATRÁVES DO TEMPO |

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PRAÇA JARDIM

EMBELEZAMENTO E CONTEMPLAÇÃO DA CIDADE No Brasil, as praças foram introduzidas em dois formatos distintos; na colônia, conforme vimos anteriormente, como pátios, núcleos e adros de onde se desenvolveram as cidades, e com o ecletismo e modernismo, as praças jardins. Esse último termo faz referência aos espaços ajardinados, com árvores ou simplesmente gramado, que são destinados ao passeio e contemplação da natureza ou equipados para diversas atividades. “Desde a Antiguidade, o jardim era um espaço destinado à meditação e à contemplação da natureza, ainda que essa natureza fosse criação humana do ambiente selvagem. O jardim representava a metáfora do Éden, atraindo para si uma imagem de paraíso e de tranquilidade celestial”. (Robba e Macedo, 2002, p.23)

Este modelo de praça chega ao Brasil no começo no século XIX com o Passeio Público do Rio de Janeiro, que era um espaço de prazer destinado ao descanso, exibição e encontro das elites, criado para embelezar e melhorar a região do aterro na cidade. Os Jardins, segundo o livro praças brasileiras, “eram restritos às propriedades religiosas ou aos quintais das residências, sendo destinados a fins utilitários” como meditação, hortas e pomares. Este modelo como espaço público só funcionou na metade do século com o enriquecimento das burguesias cafeicultoras e disseminação dos pensamentos franceses.

PRAÇA: O ELEMENTO ATRÁVES DO TEMPO |

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As cidade brasileiras passam, no final do século XIX, a arborizar as ruas e construir grandes alamedas nos bairros nobres. Os palacetes ganham em seu entorno jardins clássicos inspirados nos modelos franceses, como o jardim de versailles, e as praças coloniais que até então eram largos e pátios são redesenhadas de forma a incorporar árvores e jardins, se tornando um modelo de sucesso para a cidade republicana. Sabemos que na primeira metade século XX, com o surgimento da energia elétrica e novos meios de comunicação e transporte, as cidades passaram por mais um processo de urbanização, este diretamente ligado à expansão industrial e comercial. A realidade das cidades já não era mais a mesma, o que passou a exigir que capitais como São Paulo e Rio de Janeiro passassem por mudanças e se adaptassem ao crescente número de veículos e ao estilo de vida da população, que clamava por espaços de lazer como parques e clubes e procurava nestes ambientes segurança. Assim, vias estreitas e escuras deram lugar à vias largas e iluminadas, com a cara de boulevards e alamedas, e as praças ajardinadas adquiriram novos significados, com sua função alterada pela relação da nova cidade moderna.

Imagem 8 e 9: o passeio público do Rio de Janeiro em 1880 e o jardim do pálacio de Verssailes que foi inspiração de muitos dos jardins brasileiros que compunham com os palacetes.

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“As praças já não podiam ter as características dos largos coloniais, sem vegetação ou sem os elementos pitorescos da belle époque. Ao longo das primeiras décadas do século XX, o modelo da praça ajardinada tornouse um padrão de qualidade do espaço livre, e mesmo os mais antigos e tradicionais logradouros passaram por tratamentos paisagísticos e ajardinamentos. Esse padrão de projeto da praça ajardinada, devido à influência cultural francesa e inglesa, é dotado de uma forte unidade em seu programa e forma, e é típico de uma linha de projetos da arquitetura paisagística brasileira denominada Ecletismo.” (Robba e Macedo, 2002, p.30)

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Imagem 9 PRAÇA BOULEVARD - LINEARIDADE, FLUIDEZ E PERMANÊNCIA NA CIDADE CONSOLIDADA |

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PRAÇA MODERNA

ATIVIDADE E CULTURA PARA O POVO

Na segunda metade do século XX, surgem as cidades planejadas, como Brasília, e cidades reestruturadas por planos urbanísticos, como Curitiba. Organizadas, limpas, produtivas e motorizadas, essas localidades passam a oferecer as praças com um carácter de lazer ativo para atender suas populações, que requerem espaços públicos com programas de esporte, recreação e passeio. “As novas tendências formais modernas, aliadas aos novos programas de uso, que englobam atividades de lazer ativo, caracterizam uma nova linha de projeto paisagístico denominada Modernismo. Essa linha está diretamente ligada ao movimento artístico e arquitetônico homônimo e seu grande expoente no brasil é Roberto Burle Marx.” (Robba e Macedo, 2002, pg.36)

As praças modernas, com lindos jardins e inúmeras variedades de espécies de plantas em seu paisagismo, abrigam também pavilhões de exposições e museus, que trazem para o ambiente a função de lazer cultural e permanência. Em 1974, o sistema de transporte público metroviário é inaugurado em São Paulo e várias das estações são implantadas em praças, o que fortifica a importância destes espaços para a cidade, pois conecta a nova articulação ao programa existente, trazendo para este novos usuários.

Ao Lado, na imagem 10 praça desenhada por Burle Marx para o edifício do ministério da saúde na cidade do Rio de Janeiro.

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Imagem 10 PRAÇA BOULEVARD - LINEARIDADE, FLUIDEZ E PERMANÊNCIA NA CIDADE CONSOLIDADA |

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PRAÇA CONTEMPORÂNEA

QUANDO A JUNÇÃO ACONTECE

Durante o século XX as cidades brasileiras cresceram expressivamente - Com o crescimento, surgiu o trânsito ocasionado pelo excesso de veículos nas vias; o aumento da violência, devido ao número de habitantes; e a degradação do ambiente e da qualidade de vida, consequências do lixo, da poluição e da falta de gerenciamento das cidades. “O espaço público volta a ser palco de atividades como comércio e serviços, lembrando a tradição do largo colonial, usado como mercado ao ar livre, que as políticas sanitaristas do final do século XIX baniram na praça ajardinada. Surgiram projetos que se utilizam desse artifício como meio de atrair usuários, propondo mercados, lanchonetes, lojas e instituições públicas na praça.” (Robba e Macedo, 2002, pg 41)

A praça neste momento tem a necessidade de absorver os fluxos de passagem existentes na cidade, agora já consolidada. Importante ressaltar que estamos falando de um período que começa nos anos 90 com uma cidade de trabalhadores e de consumo, em que o espaço da praça precisa minimizar ao máximo as obstruções para não atrapalhar a passagem. No livro Praças brasileiras, os autores descrevem a praça contemporânea por seu traçado geométrico, gráfico e rígido, com propostas que valorizam o projeto cênico. Há, portanto, uma liberdade de desenho, sem regras e que incorporam ao ambiente fontes, escadas, pórticos e obras de arte dos mais diversos formatos e tipos.

Ao Lado, na imagem 11 Praça Victor Civita localizada no bairro de Pinheiro, São Paulo.

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PRACIALIDADE

IMPORTÂNCIA E SIGNIFICADO

Durante os capítulos iniciais, foram foco de estudo os diversos desenhos e funções que a praça teve e tem, com as características físicas de cada modelo pormenorizadas, então pode parecer estranho afirmar que o que menos define uma praça é exatamente suas características físicas. É dentro dessa aparente contradição que o conceito de Pracialidade foi desenvolvido por Eugenio Queiroga, e a compreensão de sua análise é de fundamental importância para a proposta que o trabalho desenvolverá. Queiroga define o termo Pracialidade, em sua tese, como o espaço do encontro público, onde acontecem as ações de convívio, encontros e manifestações públicas, e cita que o contexto urbano é que potencializa o uso da praça. O ponto crítico, então, não é a estrutura física do local em questão, mas o uso que se faz do local. “Lugares inadequados, pela impropriedade do sistema de objetos e de ações que se realizam no entorno, tendem a inviabilizar qualquer desenho de praça, ainda que, aparentemente, sejam de competente elaboração. Muitas são as praças apenas no projeto e no discurso do arquiteto. Por outro lado, devemos ser capazes de reconhecer também o inverso: muitas são as praças sem projeto do arquiteto. Aprendamos com o lugar, com quem dele se apropria.” (Queiroga, 2001 p.10)

É nesse contexto que fica constatado que alguns espaços que chamamos de praças não passam de espaços residuais da cidade. Os aspectos arquitetônicos que levaram ao tradicional apadrinhamento como praça podem até permanecer, mas seja pelo abandono decorrente da falta de investimento público, simplesmente a perda de interesse dos transeuntes em de fato utilizar o local, fato é que a parcialidade do ambiente foi perdida.

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“É um espaço de reunião, construído para e pela sociedade, imbuída de significados, marcos centrais da constituição de trajetos, ponto de chegada e partida, concentração e dispersão. Consiste em espaço para pedestres e é palco representativo da dimensão cultural e histórica da cidade, além de abrigar, frequentemente, o comércio formal e o informal, como as feiras populares, coloniais, de artesanato, entre outras.” (FONT, 2003)

Na contramão dessa triste constatação, inúmeros espaços vêm ganhando a conotação de praça, sob o olhar da parcialidade, sem fisicamente se assemelhar às praças tradicionais. E, nesse contexto, abre-se espaço para propostas inovadoras que abracem a função social da praça sem ficarem presas às amarras dos formatos das praças listadas anteriormente no trabalho. É nessa direção que caminham os estudos de casos que serão apresentados e a proposta da Praça Boulevard. Se não estamos atados aos modelos historicamente consagradas, faz sentido analisar as características fundamentais que levam o boulevard a ter a parcialidade buscada e ser o caminho escolhido. “O viver em público se transformou, há maior uso dos parques em cidades de todos os tamanhos. As calçadas continuam, em sua maioria, pouco adequadas aos pedestres, mas são inúmeras as ruas que ainda apresentam forte vida pública.” (Queiroga, 2012, p.25)

A escolha do modelo urbanístico está pautada em dois elementos principais: fluxo e permanência. Se a parcialidade está ligada ao uso que se faz do espaço, é mandatório que o novo espaço seja capaz de atrair frequentadores e fazê-los utilizar consistentemente as atividades e empreendimentos que farão parte do espaço. Para isso, a vegetação, os equipamentos e o desenho são elementos-chave para aumento do convívio social dos frequentadores. Em relação à vegetação, as árvores influenciam de forma positiva o psicológico das pessoas, pois proporcionam conforto ambiental de forma visual e sensorial. A sensação de bem estar ocorre a partir da melhoria microclimática de manutenção da umidade do ar, da projeção das sombras sobre as vias, da retenção dos ventos e das partículas de poluentes, da introdução de espécies de pássaros e animais, e se tratarmos de um ambiente com uma vegetação adensada, da barreira acústica.

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Quanto aos equipamentos, entende-se que são as estruturas comerciais e de lazer que atraem e o público e o mantém engajado durante a permanência. A proposta combina um viés gastronômico forte, elemento já presente hoje na via, e busca reviver o espaço como mercado e ponto de encontro, mas mantendo um desenho de qualidade para a relação entre fluxo e permanência. Por fim, o desenho incorpora o novo plano diretor, estudos de caso nacionais e internacionais e defende que o espaço seja convidativo e seguro, retomando algumas caraterísticas de uso das praças secas e jardins para que haja conforto, de forma a permitir a permanência no espaço. Mais do que uma via compartilhada, o que se propõe é fundamentalmente uma via peatonal, com tráfego de veículos somente para serviços essenciais. “Os projetos de implantação de ruas de pedestres têm início, em sua maioria, com o fechamento do tráfego para veículos na via. Na sequência, são feitas reformas de nivelamento de piso, troca de pavimentação, paisagismo e adequação de mobiliário urbano.” (Januzzi, 2006, p.108)

Neste trabalho a pracialidade está compreendida pelo uso do que já existe na área, sendo a principal atividade um polo gastronômico. Acreditamos o espaço requeira um novo desenho para potencializar ainda mais a economia e vida local. O desenho defende que o espaço seja convidativo e seguro retomando algumas caraterísticas das praças secas e jardins para que haja conforto de forma a permitir a permanência no espaço. Outra característica que queremos reviver é do espaço como mercado, ponto de encontro mas mantendo um desenho de qualidade para a relação dos fluxos que simplesmente passam. “Os projetos de implantação de ruas de pedestres têm início, em sua maioria, com o fechamento do tráfego para veículos na via. Na sequência, são feitas reformas de nivelamento de piso, troca de pavimentação, paisagismo e adequação de mobiliário urbano.” (Januzzi, 2006, p. 108)

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Estudo de casos


OS PROJETOS

Neste capitulo analisaremos quatro projetos de caráter urbanístico e que apresentam mudanças significativas para a cidade em relação à vivência do espaço livre público. Algumas das propostas que aparecem aqui serão levadas em consideração para o desenvolvimento do projeto Praça Boulevard. O primeiro estudo de caso, Nova Paulista, tratará de uma obra pública que foi interrompida e abandonada devido às mudanças politicas brasileiras e que, conforme falamos ao longo do capitulo anterior, acabam deixando em segundo e terceiro plano obras de melhorias para a cidade. Já no segundo e terceiro, veremos que o pensamento e a preocupação europeia e norte americana com o ambiente de convívio é constante e estes estão sempre propondo e executando novas ideias. No Brasil, estas começaram a reaparecer recentemente com iniciativas privadas e, em âmbito público, após a execução do Novo Plano Diretor, em 2014. Por fim, o último projeto, Pedestrianização da Times Square, é exemplo de que uma obra de grande porte é viável mesmo em um ambiente caótico e de uso intenso.

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Na foto ao lado, calçadão de copacabana de Roberto Burle Marx, projetado e executado em 1970. Um exemplo de excelência no urbanismo brasileiro.


NOVA PAULISTA Ano: 1967 - 1973 Local: Av. Paulista, São Paulo, Brasil Projeto de Arquitura: Figueiredo Ferraz e Nadir Mezerani Status: Incompleto - Suspenso CONTEXTO HISTÓRICO Foi construída em 1891, durante o governo de Eugenio de Lima, que visava à expansão da cidade e busca de uma nova área que pudesse ser um grande Boulevard de passeio e um espaço agradável de moradia. Desde sua inauguração um ponto importante para cidade, a Av. Paulista foi a primeira via asfaltada de São Paulo e abrigou até 1952 enormes palacetes residenciais. Após este período, com as modificações sócias e o desenvolvimento tecnológico a região ganhou um novo plano urbanístico que previa a verticalização das edificações de habitação e permitia também um uso misto. Entre 1960 e 1968, foram construídos diversos edifícios de grande importância para a avenida, como o MASP, o Conjunto Nacional e o que abriga a FIESP.

Construção do primeiro trecho modelo da Nova Paulista em 1968. Imagem 13 ESTUDO DE CASOS |

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Em 1965, devido ao intenso trafego de veículos, a região necessitava de um novo plano e um projeto que implantasse o transporte público para atender o crescimento da região. Assim, foi solicitado ao escritório de Figueiredo Ferraz, que veio a ser prefeito anos mais tarde, uma proposta de um novo desenho para permitir cruzamentos livres das vias perpendiculares e um alargamento de 28m para 48m da Avenida Paulista. Figueiredo Ferraz convidou então o arquiteto e urbanista Nadir Mezerani para desenhar o projeto que previa o aterramento das vias veiculares, metrô para transportes de massas abaixo das vias, e uma explanada para uso dos pedestres, de forma a separar os espaços para cada modal, diminuindo os conflitos e aumentando a amplitude visual para crescimento dos fluxos. A execução do projeto teve início em 1967, dividido em 4 trechos da Consolação ao Paraiso, entregues a diferentes construtoras, para que fosse finalizado de maneira mais ágil. Contudo, apenas o trecho-modelo da obra foi inaugurado, já que Figueiredo Ferraz se desentendeu com Laudo Natel, então governador, que o destituiu do cargo de prefeito e suspendeu as obras.

Avenida Paulista em 1966 antes do alargamento da via. Imagem 14

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O PROJETO

Redesenhado para atender aos pedidos de expansão e crescimento do governo militar, o projeto se estendia ao longo de 2.800m com 3 níveis de vias, sendo elas: Peatonal, Veicular e Metroviária; As duas primeiras com 48m de largura. Segundo o arquiteto Nadir Mezerani, para o projeto foram propostos dois estudos e no escolhido, o desenho “cria um “túnel” semi-aberto que libera interações verticais e horizontais a partir de aberturas ovais para ventilação, iluminação e amplitude visual do leito rebaixado com a esplanada central e seus edifícios. Assim promove qualidade ambiental contextualizada à convivência e eficiência urbana do maior centro econômico da América Latina” . No Estudo 01 (imagem 15): Esplanada, pista de veículo em túnel semi-aberto, passagens de pedestres sob ruas transversais, galerias de cultura e comércio sob os passeios de pedestres. Solução, hoje de maior impacto urbano na execução das obras.

Imagem 15

ESTUDO DE CASOS |

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Já no estudo 02 (imagem16): Esplanada, pista de veículos em túnel, passagens de pedestres sob ruas transversais, galeria de cultura e comércio sob os passeios de pedestres. Hoje, a solução 1 seria de maior impacto urbano que a 2, sendo esta mais viável a execução das obras sem que atrapalhasse o fluxo existente segundo Mezerani. O arquiteto ainda explica em várias entrevista que o projeto poderia facilmente ser retomado mesmo que a estrutura esteja abandonada e degradada pelo tempo.

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Em 2012, Nadir junto ao escritório de Figueiredo Ferraz, propuseram uma solução para readequação da estrutura existente de túneis que hoje encontrasse abandonada e parte dela subutilizada por 22 empreendimentos. O novo desenho conta com galerias de comércio e serviço no subsolo junto a liberação do de vias para corredores de transporte público, para que a pretendida ‘explanada” possa ser executada de forma que ainda mantenha um via exclusiva para acesso aos edifícios e um via central para veículos de emergência e abastecimento como ambulâncias, bombeiros, viaturas e outros. 34

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POCKET PARKS Ano: 1967 Local: Manhattan, Nova York, EUA Projeto de Arquitura: Zion & Breene Associates Status: Concluído

CONTEXTO HISTÓRICO

Em 1965, Thomas Hoving, diretor e consultor de arte do Metropolitan Museum of Art, deixou a diretoria a convite do prefeito John Lindsay para tomar conta da comissão de criação de parques da cidade de NY. Hoving conta que resolveu andar por Manhattan sem destino em busca de novas ideias, quando passando pela 43th street, se deparou com um terreno onde por muitos anos havia sido a casa noturna Stork Club, e que agora havia sido fechada e demolida. Thomas, então, teve a ideia de propor que terrenos residuais se tornassem pequenos parques que pudessem ser um espaço para relaxamento em meio a intensidade do ambiente que o circunda. Assim, em 1966, foi construído o primeiro pocket park, que recebeu o nome de Paley Park em homenagem ao pai de William Paley, investidor do local.

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Imagem 18 PRAÇA BOULEVARD - LINEARIDADE, FLUIDEZ E PERMANÊNCIA NA CIDADE CONSOLIDADA |

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O PROJETO

Espaço de 390 m² (13,8m de largura por 30,5m de profundidade), foi desenhado pelo escritório Zion & Breene Associates para a “William S. Paley Foundation”. O ambiente, pensado para que o espaço servisse como local para relaxamento, tranquilidade ou mesmo ponto de encontro, foi um sucesso e virou algo comum em Nova York. O projeto conta com uma cafeteria, uma queda d’água de 6m que elimina quase por completo os ruídos externos e vegetação para sombrear o local e tornar possível a permanência em dias de sol. Em 1998, o parque passou por adaptações às normas de acessibilidade, em que foram construídas rampas de acesso para cadeiras de rodas. Hoje, segundo dados da fundação, passam pelo parque, por dia, em média, 2.500 pessoas, sejam turistas ou usuários que trabalham na região.

COMO CONSTRUIR “POCKET PARK”

UM

1. Ser localizado em ruas movimentadas para que as pessoas sejam atraídas a olhar e entrar; 2. Propiciar opções de boa alimentação e a preços razoáveis; 3. Ter cadeiras e mesas soltas para que as pessoas possam se sentir à vontade e tenham controle sobre onde desejam sentar; 4. Possuir uma queda d’água (cascata) para proporcionar um ambiente tranquilo e de privacidade, sem ruídos externos; 5. Oferecer sombra de árvores no verão, porém sem que sua estrutura seja tão profunda a ponto de evitar a passagem de luz; 6. Proporcionar postes com lâmpadas que produzam calor para quando fizer frio. Fonte: Livro “Great City Parks” de Alan Tate

A cidade de Nova York hoje conta com um roteiro de mais de mil pocket parks. Na foto, Paley Park movimentado mesmo no inverno.

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POCKET PARKS NO BRASIL Em 2014, com a aprovação do Novo Plano Diretor, foram implementados em suas diretrizes os pocket parks, ou “parques de bolso”, como incentivo à iniciativa privada. Para que haja interesse na construção destes pequenos espaços, o plano propõe o aumento do Coeficiente de construção para quem tiver o seu térreo livre ou doar um espaço para construção dos minis parques.

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Ao lado nas fotos dois exemplos de projetos existentes na cidade de São Paulo. O primeiro, um terreno doado e mantido pelo Grupo Pão de Açúcar na Rua Amauri, hoje utilizado pelo restaurante Forneria San Paolo, que mantém um bar no fundo do terreno e serve refeições no espaço; e o segundo na famosa Rua Oscar Freire, conhecido como Pracinha Oscar Feire, com 300m², idealizado por Reud e Instituto Mobilidade Verde e projetado pelo escritório Zoom, que recebe hoje diversos shows, eventos, oficinas e food trucks rotativos.

Imagem 21 ESTUDO DE CASOS |

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RUAS COMPARTILHADAS Ano: 1976 Woonerf / 2003 Shared Space Local: Holanda / Reino Unido Projeto de Arquitura: Joost Vàhl / Ben Hamilton-Baillie Status: Concluído

CONTEXTO HISTÓRICO Woonerf é um conceito de rua para pedestre que surgiu na Holanda em 1967, com o crescente número de veículos. O urbanista Joost Vàhl teve a ideia de restringir a via à circulação de ciclistas e pedestres nas proximidades de comércios e residências. O trânsito de veículos motorizados é permitido desde que a 20km/h, mesma velocidade que o pedestre consegue atingir andando rápido. Em 2003, o conceito passou a ser disseminado pela Europa com o nome de Shared Space. Desta vez, a ideia é a rua compartilhada entre todos os modais. O arquiteto britânico Ben Hamilton-Baillie acredita que ao permitir que carros e pessoas circulem no mesmo nível, se requer mais atenção e diminui-se os acidentes, o trânsito e a velocidade.

O PROJETO Um dos projetos entre os vários que deram certo foi em Londres. A iniciativa foi executada no ano de 2013 na Exhibition Road, uma das principais vias da cidade, onde há diversos museus e institutos. Nela, propõe-se restringir a entrada apenas aos veículos autorizados e de serviço, como ônibus, táxi, ambulâncias, viaturas e outros. A partir do momento em que estas são implantadas, esperam-se para o ambiente algumas melhorias, entre elas a diminuição do nível de poluição e do número de acidentes entre modais ou entre o mesmo modal, uma maior atenção dos usuários, maior vitalidade econômica, cultural e social na área, e aumento da segurança dos pedestres. 40

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Lembrando que veículos motorizados são considerados “convidados” neste desenho de via, pois não há sinalização e nem semáforos, apenas um desenho de piso que indica a partir do bom senso do usuário como conduzir. A implantação de uma via compartilhada requer algumas mudanças no espaço, como: • Resgatar a função pública das vias; • Nivelar o solo em um único nível; • Diminuir incidentes viários; • Gerar locais de encontro e permanência; • Ativar a economia local e a vida pública; • Proporcionar uma transição suave a diferentes áreas da cidade, contraponto às barreiras e vias segregadas.

Nas imagens , antes e depois da Exhibition Road e a Oxford Street fechada para veículos em Londres 42

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TIMES SQUARE Ano: 2010 - 2017 Local: Times Square, Nova York, EUA Projeto de Arquitura: Snohetta Status: Concluído

CONTEXTO HISTÓRICO

Em 2009 o empresário magnata e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg fechou parte da Avenida Broadway para os carros e instalou praças temporárias com o objetivo de aumentar a segurança para os pedestres e diminuir o congestionamento de veículos. A ideia foi uma intervenção vista como experimento e foi um sucesso, tornando-se permanente entre as avenidas 42 e 47 em 2010. A Times Square é o principal ponto turístico de NY; por ela transitam diariamente cerca 400 mil pessoas. Em 2013, o departamento de trânsito contratou o escritório de arquitetura norueguês Snohetta para desenvolver um projeto urbano, com intenção desta vez de aumentar e melhorar o mobiliário da região para aumentar o espaço para pedestres.

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O PROJETO

A obra foi executada por partes e desde sua inauguração foi um sucesso: foram remodelados em 7 anos cerca de 130.000 m², com a construção de cinco praças entre as avenidas 42 e 47. A obra custou cerca de US$ 55 milhões, que foram investidos pela Fundação Bloomberg, que foi a autora inicial da ideia. O novo desenho trouxe a Times Square mais espaço para os pedestres e mostrou uma redução de 40% no número de acidentes com pedestres, 20% no índice de criminalidade da região, bem como um aumento de 180% na quantidade de estabelecimentos comerciais, valorizando ainda mais a região. Devido ao sucesso de aceitação do novo espaço, o governo pretende criar mais 59 praças como esta pela cidade de Nova York.

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Pinheiros


PINHEIROS: O BAIRRO E A RUA Localizado na zona oeste de São Paulo, o bairro de Pinheiros teve sua origem no século XVI com a criação das aldeias tupis em uma região com grande concentração de araucárias brasilienses e é considerado por historiadores o primeiro bairro de São Paulo. A região ficou pouco populada com a saída dos índios, mas já no final do século XIX apresentava construções importantes para a sociedade paulista, como o Mercado caipira, a Sociedade hípica e uma cooperativa agrícola. (Mapa Sara - 1930) A ampliação da infraestrutura local, com calçamento e iluminação, ocorreu devido à presença destas instituições na região, que a pedido da sociedade, intensificou o desenvolvimento e a criação de um bairro sofisticado.

Ao lado Mapa Sara de 1930, omde podemos ver a sociedade hipica e a Rua dos Pinheiros já existente antes mesmo da Av. Rebouças. Imagem 30 PINHEIROS |

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Hoje, como sabemos, Pinheiros é um bairro que apresenta grande e diversa rede comercial, além de uma vida cultural única. Dentre as inúmeras vias do bairro, a Rua dos Pinheiros é um referencial quando falamos destas características apresentadas pela região. Localizada próxima a três importantes avenidas de ligação da cidade, Av. Brig. Faria Lima, Av. Brasil/Rua Henrique Schaumann e Av. Rebouças, a Rua dos Pinheiros tem um desenho singular em relação à malha ortogonal existente no bairro, pois ela acompanha a hidrografia do córrego verde que passa no local. Além disso, possui algumas características importantes para a implantação de um projeto de desafogo do espaço livre público, como baixo gabarito e prevalência de uso comercial. Nesse sentido, a escolha da área está ligada ao grande fluxo de pessoas e número de restaurantes existentes. A rua hoje acolhe mais de 60 estabelecimentos entre restaurantes, bares e docerias, sendo considerada o maior pólo gastronômico de São Paulo em 2017, e um exemplo de revalorização após anos de decadência. Durante a pesquisa para o desenvolvimento do projeto descobrimos que já existe uma movimentação no bairro para melhorias da via por parte da Associação de moradores e empresários de Pinheiros (Amepi), o que o torna mais interessante. Em 2003, projetos como este já foram propostos pelo governo paulista para 70 ruas comerciais de São Paulo. Estas se transformariam em boulevares com características como alargamento e padronização das calçadas, novos mobiliários, fiação elétrica aterrada e novo paisagismo. Porém com a dificuldade de viabilização, apenas 6 vias foram entregues com algum tipo de modificação, sendo estas a João Cachoeira (Itaim-Bibi), Avanhandava (Bela Vista), Joaquim Nabuco (Brooklin), 25 de Março (Centro), Benedito Andrade (Pirituba) e Oscar Freire (Jardins). Neste capítulo apresentaremos e entenderemos o projeto desde seu zoneamento até os detalhes do desenho proposto. Para o desenvolvimento serão levantadas as diretrizes do novo plano diretor aprovado em junho de 2014, que prevê para a cidade novos calçadões e para a área escolhida um adensamento construtivo e uma reestruturação viária.

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O desenho proposto para o projeto da praça se adapta à urbe consolidada a partir de um raciocínio de linearidade, para que o mesmo possa ser inserido e replicado em outros pontos da cidade; o desenho tenta recuperar a ideia existente por trás do Boulevard, de espaço arborizado, retilíneo e de passeio, porém proposto aqui em um projeto peatonal que está subdividido em 3 grandes praças. No mapa abaixo, vemos a grande concentração de restaurantes ao longo da Rua dos Pinheiros, conforme falamos anteriormente e em amarelo os 3 trechos escolhidos, considerando a necessidade de cruzamentos na rua para ligação com a Av. Rebouças, e entrada e saída do bairro. As vias de cruzamento serão; Rua Mourato Coelho, Rua Joaquim Antunes e Rua Francisco Leitão. • Trecho 1 - Av. Pedroso de Morais até Rua Mourato Coelho; • Trecho 2 - Rua Mourato Coelho até Rua Joaquim Antunes; • Trecho 3 - Rua Joaquim Antunes até Rua Francisco Leitão.

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USOS DO SOLO

Resid. horiz. médio/alto padrão Comércio e Serviços 52

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Resid. vert. médio/ alto padrão

Residencial e Comércios/Serv.

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Escola Comécio ou armazéns


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ZONEAMENTO

ZEU - Zona de estruturação urbana

ZC- Zona centralidade

ZM - Zona Mista

ZCOR-2 - Zona corredor 2

ZCOR-1 - Zona corredor 1 ZER-1 - Zona residencial 1 PINHEIROS |

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ARBORIZAÇÃO

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Conforme vemos no mapa há cerca de 100 árvores ao longo da Rua dos Pinheiros, portanto muito pouco e se comparado à parte debaixo do bairro que é considerada zona exclusivamente residencial e de preservação ambiental. 54

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HIDROGRAFIA

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O Cรณrrego Verde tem sua nascente no bairro de Perdizes e foi canalizado, passando bem embaixo da rua dos Pinheiros. Existe um projeto para desaterrar o cรณrrego e criar um parque na regiรฃo da Vila Madalena.

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LINHA METRÔ

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Na Rua dos Pinheiros está localizada a estação Fradique Coutinho, da linha 4 - Amarela do metrô. A linha faz ligação da Vila Sônia (zona sul) com a República (centro), e por ela passam todos os dias aproximadamente 600 mil usuários. 56

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EIXO DE PINHEIROS

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Neste mapa podemos observar que a área escolhida está localizada dentro do eixo de estruturação da transformação urbana, e este prevê adensamento e a ampliação dos espaços públicos que se localizem em um eixo de 400m do metrô ou corredores de ônibus. PINHEIROS |

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FLUXO VIÁRIO

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No mapa acima vemos que o sentido das vias coletoras e a presença de 3 grandes vias estruturais, representadas em vermelho, permitem parte da desativação da Rua dos Pinheiros para a proposta da Praça Boulevard. 58

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Na imagem abaixo, um desenho da proposta dos Novo Plano Diretor para os eixos localizados próximos aos sistemas de transporte público. -COTA PARTE Estabelece o número mínimo de unidades habitacionais -AUMENTO DO COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO Permite adensamento construtivo, promovendo melhor aproveitamento da infraestrutura existente -CALÇADAS LARGAS Largura mínima 5 metros nos eixos de mobilidade e 3 metros na área de influência dos Eixo -FRUIÇÃO PÚBLICA Incentivo urbanístico para empreendimentos que destinarem áreas para uso público -FACHADA ATIVA Incentivo urbanístico para edifícios com comércio, serviços e equipamentos no térreo, com acesso aberto à população.

PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO (2014) ZEUP-u - Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana Previsto (urbano) Zonas Eixo de Estruturação da Transformação Urbana são porções do território em que pretende promover usos residenciais e não residenciais com densidades demográfica e construtiva altas e promover a qualificação paisagística e dos espaços públicos de modo articulado ao sistema de transporte público coletivo Espaços Públicos Humanizados Foram estabelecidos incentivos urbanísticos e fiscais para implantação de edifícios de uso misto, fachadas ativas, espaços para fruição pública e de largura mínima das calçadas, qualificando os espaços públicos na área de influência dos Eixos Transformação urbana articulada à mobilidade Definidos no entorno dos sistemas de transporte coletivo de alta e média capacidade – como o metrô, trem e corredores de ônibus – e com o estabelecimento do desestímulo ao uso do automóvel, com a criação de um limite máximo para o número de vagas que não são consideradas área construída. Adensamento construtivo e habitacional O aumento do potencial construtivo combinado com a definição da Cota Parte Máxima de Terreno por Unidade – que define o número mínimo de unidades residenciais a serem construídas em novos empreendimentos – induz o adensamento construtivo e habitacional destas áreas, otimizando o uso da terra em áreas bem localizadas.

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ANÁLISE: RUA DOS PINHEIROS

O projeto da praça que vamos tratar neste capítulo é um espaço livre público necessário para a construção de novos cenários urbanísticos e transformação da urbe, que se encontra consolidada, e que demanda soluções alternativas para sua melhoria, visto que novos espaços livres, hoje estão disponíveis quase que exclusivamente em periferias ou por meio da verticalização do centro. O estudo traz uma proposta específica, para uma determinada localização da cidade, mas tem como motivação a construção de uma solução que possa ser replicada, como modelo, para outros espaços da cidade. Por isso, propõe uma nova forma de espaço livre público que se adeque às regiões consolidadas da metrópole, tendo em vista a importância de espaço para o respiro, o convívio, a passagem, e tendo que considerar as limitações financeiras que a cidade impõe hoje, como a necessidade de contornar o alto custo dos terrenos nas áreas centrais. Mais do que uma proposta puramente arquitetônica e paisagística, o projeto busca responder aos anseios populacionais, de forma a propiciar espaços de interação social, ambiental e econômica a partir de um desenho moderno e funcional, que atenda aos interesses da sociedade e abranja um tema presente nos maiores debates atuais, como a agenda 2030. De forma resumida, o projeto se apropria de uma via local para a construção de uma praça linear sustentável, prevendo a melhoria do entorno e tornando este um ambiente acessível, com impacto perceptível na segurança, qualidade do ar e nas relações econômicas, ambientais e sociais do bairro. É fundamental a implantação efetiva de projetos humanizados que prevejam novos ambientes realmente compartilhados para que uma cidade como São Paulo, que vive permeada de caos e violência, possa mais uma vez oferecer espaços de lazer, permitindo que a população redescubra a qualidade e a possibilidade do uso no espaço livre público, que veio perdendo nos últimos anos. 60

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MAPA 1 - LOCALIZAÇÃO VIAS EXISTENTES, ÁREAS VERDES E INDICAÇÃO DA RUA DOS PINHEIROS

Vias Peatonais - Calçadas Vias veículares - Ruas e Avenidas

Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros

Piscinas particlares

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MAPA 2 - ÁREA DE PROJETO ÁREAS VERDES E ÁREA PARA INTERVENÇÃO Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros - proposta

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Calçadas e lotes para projeto

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3 2 1

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MAPA 3 - APROXIMAÇÃO ÁREAS VERDES, ÁREA PARA INTERVENÇÃO E TRECHOS Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros - proposta

Calçadas e lotes para projeto Delimitação dos trechos

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TRECHO 1 - 354M AV. PEDROSO DE MORAIS ATÉ RUA MOURATO COELHO

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Vias Peatonais - Calçadas Vias veículares - Ruas e Avenidas

Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros - área proposta

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TRECHO 2 - 473M RUA MOURATO COELHO ATÉ RUA JOAQUIM ANTUNES

Vias Peatonais - Calçadas Vias veículares - Ruas e Avenidas

Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros - área proposta

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TRECHO 3 - 212M RUA JOAQUIM ANTUNES ATÉ RUA FRANCISCO LEITÃO

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Vias Peatonais - Calçadas Vias veículares - Ruas e Avenidas

Praças/áreas verdes existintes Rua dos Pinheiros - área proposta

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Imagem 45

Em breve análise, o mapa de localização da Rua dos Pinheiros mostra que se trata de uma via alongada com um traçado próprio em relação às demais vias do bairro. Podemos verificar que há poucas praças no entorno, sendo a maior delas, a Praça Gastão Vidigal, localizada no Jardim Paulistano. No segundo e terceiro mapa fica clara a dimensão da intervenção em relação aos espaços existente de área livre pública, como praças, áreas verdes e calçadas existentes. Os mapas seguintes, são referentes aos 3 trechos propostos. Para cada um verificaremos seu entorno, adequando os usos e implantando uma arquitetura sustentável para intensificar a permanência do local. Ao lado, os croquis apontam como podem ser os projetos das novas praças. Este é imaginado, mantendose um gabarito preferencialmente baixo ao longo da Praça Boulevard, com um novo mobiliário, iluminação e arborização que traga ao ambiente uso cotidiano e estável, livre de inseguranças. O espaço deve fornecer aos indivíduos um lugar para se experienciar e viver a cidade, sem que seja necessária a fuga para o interior ou litoral em busca da tranquilidade, conforme costume de muitos Paulistanos.

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Nas fotos temos as principais características que podemos observar na Rua dos Pinheiros atualmenente. • Via veicular de mão única, com duas faixas e 10m de largura; • Calçada irregulares, em más condições, com dimensões que variam de 3,5m a 5m de largura; • Pouca ou nenhuma arborização; • Árvores sem área permeável de 1x1m conforme NBR; • Postes com fiação aparente e bagunçada; • Lotes de baixo gabarito, na maioria de uso comercial ou misto; • Inexistência de mobiliário urbano como: bancos, parqueamento de bicicletas, bebedouros, bancas, floriculturas, etc.

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Abaixo, dois dos croquis que fizeram parte do processo de projeto da praça, buscando um espaço com uma vegetação expressiva e ao mesmo tempo que seja um ambiente de convivência e passeio para pedestres.

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Praรงa Boulevard


O PROJETO

Ao longo deste capítulo explicaremos como foi pensado o desenho para tornar este espaço público em um ambiente de convivência a partir de um paisagismo convidativo e estimulante. Durante o processo de criação, analisamos as principais características oferecidas pelo bairro e pela rua, e chegamos a um desenho composto por três pilares: linearidade, fluidez e permanência. Os três pilares se entrelaçam em um desenho expressivo, com a linearidade mantida na nova proposta através da praça que é composta por uma faixa central peatonal de 10m de largura e duas vias compartilhadas de 5m de largura, separadas por uma faixa de árvores. Neste caso, para que o desenho funcione, tivemos a necessidade de inverter a ordem rua-calçada, de forma que esta nova ordem proporcionasse um espaço livre de qualidade, seguro e fluido ao pedestre. Como podemos perceber, além de manter uma via linear em forma de praça, a inversão das vias tem como objetivo mostrar a importância da cidade para o pedestre e minimizar a primazia do veículo em relação a este, uma vez que em grande parte do tempo o espaço livre público reservado à circulação de pessoas é estreito e sem qualidade para o passeio. A área repleta de restaurantes e comércios se faz fluida com a possibilidade de circulação rápida e, ao mesmo tempo, recebe tratamento de uma nova vegetação para garantir um ambiente agradável para quem busca um local de permanência. Conforme estudamos ao longo da pesquisa, o Manual técnico de arborização urbana firma que, “através do paisagismo se obtém uma infinidade de formas e cores, anulando o efeito monótono de construções retilíneas, e a presença de espécies arbóreas na paisagem promove beleza cênica, melhoria estética e funcionalidade do ambiente e, em consequência, um aumento à qualidade de vida da população.” (pg. 18, SMVMA) 72

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Abaixo temos um diagrama composto por cinco desenhos que nos ajudam a entender o caminho do pensamento prosposto no projeto da Praça Boulervard a partir dos resturantes existentes na Rua dos Pinheiros.

Faixa peatonal e vias compartilhadas

Conexão restaurantes

Faixa de plantio

Arborização

Área permeável

Diagrama completo

PRAÇA BOULEVARD |

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DESENHO DO PISO E ACABAMENTOS O desenho do piso busca ressaltar a importância do que temos de mais marcante na região, a quantidade de restaurantes. Portanto a ligação entre estes estabelecimentos é o ponto de partida para o projeto. O caminho é guiado por faixas de 1m de largura que direcionam o visitante da Praça Boulevard. Tendo em vista nosso ponto de partida, os restaurantes, buscamos para a palheta de cores do piso uma referência que deles emana, e encontramos na cozinha um objeto de extrema importância, a panela, que pode ser confeccionado com diversos elementos como cobre, ferro, barro e pedra. Dessa forma, usaremos estes elementos como inspiração: as faixas de conexão destacam-se por sua cor avermelhada extraída do cobre, o piso interno às faixas recebe um tom terroso vindo do barro e o piso externo às faixas um tom acinzentado que remete à pedra. O ferro entrará na composição do mobiliário local, fechando por fim a composição de cores da Praça Boulevard.

Acima, exemplo de piso intertravado nas cores escolhidas e panelas usadas como referência para a palheta de cores.

FAIXAS - Ligação restaurantes

PISO INTERNO - Permanência

PISO EXTERNO - Fluidez 74

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MOBILIÁRIO E ILUMINAÇÃO

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Conceitualmente, entendemos que o mobiliário para a praça deveria trazer elementos modernoa e interagir com a natureza, de forma a proporcionar conforto e incentivar as pessoas à permanência no ambiente. As referências que constam ao lado exemplificam perfeitamente o imaginado: bancos circulares valorizando as árvores centrais, conjuntos de banco, mesa e bancada de 3 diferentes alturas (45cm, 75cm e 90cm), e boxes modulares para pequenos comércios, como bancas, floriculturas, livro solidário e sucos. O projeto propõe ainda que o ambiente seja bem iluminado para possibilitar o uso diurno e noturno, proporcionando segurança ao pedestre. A iluminação na praça será feita através de postes de 4m de altura com fiação aterrada e por meio de luz de piso nos jardins.

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PRAÇA BOULEVARD

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VEGETAÇÃO A praça recebe no novo plantio árvores, jardins coloridos, hortas verticais e pomares, tendo como objetivo a escolha de uma diversidade de espécies nativas brasileiras, seguindo critérios culturais e de desenho. A arborização intensa traz ao projeto um clima mais ameno e a melhoria da qualidade do ar, além de abrigar uma infinidade de seres vivos, aumentando a biodiversidade. As flores e os frutos também trazem à cidade um ganho ambiental significativo, pois se prestam como atrativo da avifauna urbana. Abaixo listamos algumas espécies escolhidas para os 3 portes que trabalharemos, tendo a menor copa de até 5m, a intermediária com copa aproximada de 8m e a maior com copa a partir de 12m.

NOME CIÊNTIFICO Psidium cattleianum Schinus molle Campomanesia phaea Eugenia involucrata Erythrina speciosa Psidium guajava Solanum betaceum

Tabebuia spp Plinia grandifolia Tibouchina mutabilis Licania tomentosa Eugenia uniflora Tibouchina granulosa Lecythis pisonis Eugenia pyriformis

Tabebuia avellanedae Jacaranda mimosaefolia Caesalpinia leiostachya Triplaris americana

Calycophyllum spruceanum Caesalpinia peltophoroides

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PEQUENO PORTE (COPA ≤ 5M) NOME ALTURA ARAÇA 3 A 6 METROS AROEIRA SALSA 3 A 9 METROS CAMBUCI 3 A 6 METROS CEREJA-DO-MATO 3 A 9 METROS ERITRINA 3 A 5 METROS GOIABEIRA 3 A 6 METROS TAMARILHO 3 A 6 METROS MÉDIO PORTE (COPA > 5 ≤ 8M) IPE AMARELO 4 A 10 METROS JABUTICABEIRA 5 A 10 METROS MANACÁ-DA-SERRA 7 A 12 METROS OITI 6 A 12 METROS PITANGUEIRA 6 A 12 METROS QUARESMEIRA 8 A 12 METROS SAPUCAIA 5 A 15 METROS UVAIA 5 A 10 METROS GRANDE PORTE (COPA > 8M ≤ 12M) IPE ROXO 8 A 20 METROS JACARANDÁ 8 A 12 METROS PAU- FERRO 12 A 20 METROS PAU-FORMIGA 8 A 20 METROS PAU-MULATO 12 A 30 METROS SIBIPIRUNA 8 A 25 METROS

FLOR OU FRUTO FLOR (BRANCA) / FRUTO FLOR (BRANCA) / FRUTO FLOR (BRANCA) /FRUTO FRUTO FLOR (VERMELHA) FLOR (BRANCA) /FRUTO FRUTOS FLOR (AMARELA) FRUTOS FLORES (BRANCA E ROXA) FRUTOS FRUTOS FLOR (ROXA) FLOR (ROSA) FRUTOS

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FLOR (ROXA) FLOR (ROXA) FLOR (AMARELAS) FLOR (VERMELHA) FLOR (BRANCA) FLOR (AMARELA)


TRECHO 1 - 354M AV. PEDROSO DE MORAIS ATÉ RUA MOURATO COELHO Restaurantes existentes

Árvores e área permeável

Piso - ligação restaurantes

Rua existentes

Piso interno - permanência

Piso externo - fluidez

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TRECHO 2 - 473M RUA MOURATO COELHO ATÉ RUA JOAQUIM ANTUNES Restaurantes existentes Rua existentes

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Árvores e área permeável Piso interno - permanência

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Piso - ligação restaurantes Piso externo - fluidez

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TRECHO 3 - 212M RUA JOAQUIM ANTUNES ATÉ RUA FRANCISCO LEITÃO Restaurantes existentes Rua existentes

Árvores e área permeável Piso interno - permanência

Piso - ligação restaurantes Piso externo - fluidez

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PRAÇA BOULEVARD |

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CONCLUSÃO

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Em uma cidade que cada vez mais distancia as pessoas do convívio social e da interação com a natureza, e que minimiza a importância do espaço livre público como elemento de alavancagem do bem-estar e da qualidade de vida, o projeto Praça Boulevard tem como objetivo apresentar um desenho funcional para novos espaços livres públicos, que revertam esse movimento anti-humano. O projeto preza pelo resgate e realce das características do bairro em que for implantado. No caso de Pinheiros, a vida gastronômica deu inspiração aos desenhos e às cores que moldam o trabalho. Mais do que um desejo arquitetônico, tal proposta de implantação já encontra eco nas vozes da população. No dia 06 de Maio de 2018, a própria Rua dos Pinheiros recebeu um festival gastronômico que serviu de ensaio para a receptividade de iniciativa similar. Durante o evento, a via encontrava-se parcialmente fechada para pedestres desde a Rua Mourato Coelho até seu final, na Praça Portugal. O festival propunha aos estabelecimentos que se apropriassem da rua, com mesas, barracas de comida, food trucks, palcos musicais e uma feira de artesanato montada. Com apoio da prefeitura para organização, o que se viu foram comércios com alto movimento, grande fluxo de crianças e adultos aproveitando as atrações, e uma interação que sonhamos que comece a ser mais presente na vida dos paulistanos.

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CONCLUSÃO |

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LISTA DE IMAGENS

1. Heydar Aliyev Center, Baku, Azerbaijão - www.zaha-hadid.com 2. Modelo de Ágora baseado nos vestigios arqueológicos - www.klepsidra.net 3. Forúm Romano vista do palatino, Roma, Itália - www.flickr.com 4. Adro da Igreja da Vila Caiz, Portugal - http://www.panoramio.com 5. Mosteiro São Bento, Salvado/BA - www.flickr.com 6. Largo do Rato, Lisboa - http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com.br 7. Praça do Mercado, Siena, Itália - http://www.italymagazine.com 8. Passeio Público do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - www.vitruvius.com.br 9. Jardins de Vaux le Vicomte, Palácio de Versailles, França - Galeria Google 10. Jardim denhado por Burle Marx no Ed. do Ministerio da Saúde, RJ, 1936 - / sabiabraziliandesign.com/burle-marx-art-and-landscape/ 11. Praça Vitor Civita, 2011, Pinheiros, São Paulo - www.archdaily.com.br 12. Calçadão copacabana, Rio de Janeiro/RJ - Galeria Google 13. Av. Paulista em 1966 - nadirmezerani.blogspot.com.br 14. Av. Paulista em 1968 - nadirmezerani.blogspot.com.br 15. Estudo 1 para Nova Paulista - nadirmezerani.blogspot.com.br 16. Estudo 2 para Nova Paulista - nadirmezerani.blogspot.com.br 17. Reestudo do projeto, 2012 - nadirmezerani.blogspot.com.br 18. Paley Park, Nova York -uffpaisagismo.wordpress.com 19. Paley Park no inverno - cidadequequeremos.wordpress.com 20. Praça Amauri, São Paulo, 2002 - isayweinfeld.com 21. Praçinha da Oscar Freire, São Paulo, 2014 - www.mobilize.org.br 22. Woonerf , ruas de viver para pedestres - blog.naturespath.com 23. Antes e depois da Exhibition Road, Londres - www.dailymail.co.uk 24. Oxford Street fechada para veículos, Londres - www.gazetadopovo.com.br 25. Pedestrianização da Exhibition Road, Londres - www.alamy.com 26. Times Square após projeto de Pedestrianização, NY, 2017 - snohetta.com 27. Antes e depois da Times Square - snohetta.com 28. Desenho do projeto antes e depois das praças propostas - snohetta.com 29. Praça em funcionamento na Times Square, 2017 - snohetta.com 30. Mapa de restaurantes, Pinheiros, SP - Karine Falk 31. Mapa de uso dos solos, Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura.sp.gov.br 32. Mapa de zoneamento, Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura.sp.gov.br 33. Mapa de arborização, Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura.sp.gov.br 34. Mapa de Hidrográfia, Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura.sp.gov.br 35. Mapa Metroviário, Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura.sp.gov.br 36. Mapa do Eixo de Transformação de Pinheiros, SP - geosampa.prefeitura. sp.gov.br 84

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37. Mapa de fluxos das vias do entorno - Karine Falk 38. Desenho esquema para eixos de transformação - Plano Diretor 39. Mapa 1 - Karine Falk 40. Mapa 2 - Karine Falk 41. Mapa 3 - Karine Falk 42. Mapa trecho 1 - Karine Falk 43. Mapa trecho 2 - Karine Falk 44. Mapa trecho 3 - Karine Falk 45. Desenho proposta Praça Boulevard - Karine Falk 46. Desenho proposta Praça Boulevard - Karine Falk 47. Foto rua dos pinheiros/ problemas trechos- google earth 48. Foto rua dos pinheiros/ problemas - Karine Falk 49. Foto rua dos pinheiros/ problemas- Karine Falk 50. Desenho proposta Praça Boulevard - Karine Falk 51. Desenho proposta Praça Boulevard - Karine Falk 52. Exemplo banco - Galeria Google 53. Exemplo mobiliário urbano - Galeria Google 54. Exemplo box multiuso - mobiliário urbano - Galeria Google 55. Foto exemplo iluminação proposta - Galeria Google 56. Elevação trecho 1 - Google Earth 57. Elevação trecho 2 - Google Earth 58. Elevação trecho 3 - Google Earth 59. Ilustração Praça Boulevard - Karine Falk 60. Foto rua dos pinheiros/ festival - Karine Falk 61. Foto rua dos pinheiros/ festival - Karine Falk 62. Foto rua dos pinheiros/ festival - Karine Falk

LISTA DE IMAGENS

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BIBLIOGRAFIA

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