REVISTA ARTE TRANS BAHIA 1ª EDIÇÃO

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Revista

Arte Trans Bahia Primeira edição. Janeiro de 2016

Gilvan Oliveira

Valerie O’Rarah

Rainha LouLou Drag KING

Scarleth Sangalo

Estudos de Gêneros

Militancia LGBTT

Âncora do Marujo

E mais...


EDITORIAL

Quem somos e como nascemos

Mariana Figueiredo

Mariana, é encantada por fotografia portanto os melhores cliques do Arte Trans Bahia são dela. Adora o transformismo e pensa em um dia vivenciar um personagem na forma de Drag King para fundamentar suas análises de discurso em torno disto. Porém, entende que a relação de vivência com a arte transformista pode acontecer nas relações de amizade. Pretende estudar a Constituição federal e traçar novos caminhos para a melhoria da vida social de pessoas trans*.. Já estagiou no sistema penitenciário baiano e de lá trouxe a ideia de traçar projetos sociais que assuim possam ajudar na melhoria daquele reduto. Se denomina “Sapatão”, Estudante de Direito na Faculdade Regional da Bahia (UNIRB), Integrante do Grupo de Pesquisa em Gênero e Sexualidades, da UNIRB e uma das idealizadoras do site Arte Trans Bahia.

Fazíamos parte de um grupo de estudos de gêneros e sexualidades na faculdade. As teorias de gênero ajudavam nos pensamentos em torno das relações sociais e da vivência humana. As pesquisas eram necessárias, mas os dados em torno da arte transformista não eram suficientes. Em junho de 2015 tivemos a ideia de catalogar as artistas que conhecíamos e foi neste momento que nasceu o site Arte Trans Bahia, uma plataforma onde artistas da cena transformista da Bahia tivessem um espaço de fácil acesso para a divulgação e promoção das suas personagens. A cada perfil criado e utilizado no site, o pedido de liberação de imagem e o convite para que fizessem parte desta plataforma, se lhes fosse interessante. Fizemos uso de fotos de parceiros iniciais, com liberação escrita destes profissio-

nais, porém percebemos que ainda não era o que queríamos. A página, no facebook, nasceu pela necessidade e praticidade em reproduzir as propagandas de eventos. A partir do núcleo desenvolvido, e a página no facebook criada, nasceu então a ideia de imprimir o que conseguimos captar. Desta forma nasceu a ideia de produzir uma revista mensal que trate do mundo da arte transformista. Para que esta revista tenha um serviço positivo na sociedade LGBTT acadêmica, estaremos convidando pesquisadoras e professoras para a cada edição escrever conosco. O site Arte Trans Bahia dedica esta primeira edição ao bar Âncora do Marujo e a todas as pessoas que receberam “ESSAS” meninas de braços abertos.

Edméa Barbosa

Expediente:

Apaixonada por linguagens corporais e pelo mundo do transformismo, acredita que além de artístico, montar-se e transformar-se é um ato político. Dentro das transformações, tatuagem, corte de cabelo, vestimenta ou qualquer outra mudança é um signo capaz de traduzir a semiótica da comunicação; Desta forma entende que além da figura material, a pessoa induz um entendimento em um outro ser à cada aparição. Néa, como é mais conhecida, busca entender os signos descritos em espetáculos da arte transformista, na musicalidade, na fotografia ou na vivência com pessoas que se transformam e expereciam o que desejam para si. Estudante de Jornalismo pela Faculdade Regional da Bahia, participante do grupo de estudo de Gêneros e Sexualidade da UNIRB e uma das idealizadoras do site Arte Trans Bahia.

Edméa Barbosa e Mariana Figueiredo

Arte Trans Bahia, Divulgação e exposição da Arte Transformista na Bahia. Web: Transartebahia.com E-mail: Transarte.bahia@gmail.com Telefone: 71-993228603 Diretora Geral: Edméa Barbosa Produção: Edméa Barbosa Diretora Administrativa: Mariana Figueiredo Jornalista Responsável: Manuela Simão Projeto visual: Edméa Barbosa Diagramação: Edméa Barbosa Matérias: Mariana Figueiredo e Edméa Barbosa Especiais: Andrea Magnoni, Adriana Prates e Gilmaro Nogueira Fotógrafos Arte Trans Bahia Alessandra Novais Andréa Magnoni Edição: Nº1 - Janeiro de 2016


ANDRÉA MAGNONI

Andréa Magnoni em “Andro Salto” A exposição "Andro Salto - Eles não são todos iguais" se propõe a subverter os dogmas do patriarcado e transversalizar as fronteiras do permitido, do aceitável e do proibido para o guarda-roupa deles, passeando de forma conceitual e artística pelo horizonte de diversas masculinidades. Ao todo, 8 homens foram fotografados para esse projeto, entre eles 2 homens trans e 6 cisgêneros, exaltando a beleza masculina não estereotipada. A foto-instalação foi lançada em setembro, simultaneamente no Espaço Cultural da Barroquinha e no Teatro Gamboa Nova, ambos em Salvador. Essa série fotográfica é a primeira parte do ensaio “Cores e Flores para Tita” um projeto foto-ativista contemplado pelo edital “Arte em Toda Parte II,” da Fundação Gregório de Mattos e Prefeitura de Salvador, que além desta ação, também esta realizando mais duas séries fotográficas abordando as feminilidades e não-binaridades de gênero. O projeto foi inspirado na história familiar.

“- Mas Renato, eu sou sua mãe, eu te limpei quando pequena, você é MULHER! - Não sou! Eu sou HOMEM! Eu me sinto HOMEM!” Não, não se tratava de uma lésbica “masculinizada”, era um homem trans! 41 anos depois de sua morte, tantos outros jovens, homens e mulheres trans, ainda pagam com a vida a ousadia de serem a sua verdade! E me pergunto até quando vão confundir comum com normal e diferente com errado; me pergunto também, até quando livros com regras de determinadas religiões, serão usados como autorização para humilhar, agredir e matar? “ O “Cores e Flores para Tita”, surge como mais um grito de basta e alerta contra estereótipos, crueldades e intolerâncias. A exposição abriu possibilidades de discussões em escolas, como aconteceu na Escola Estadual de Monte Gordo, em Camaçari, e segue seu fluxo já em terceira fase.


Valerie O’Rarah Fotos: Arte Trans Bahia

EDMÉA BARBOSA

ra e dublagem impecável, suas artistas representadas de maior sucesso são Ellen Oléria e Maria Betânia, porém artistas como Alcione e Daniela são carros chefe das suas apresentações. Sua personagem principal passeia entre a diva, a drag e a androgena sem muito esforço. Entre perucas e maquiagens é sempre uma surpresa encontrala para um show ou close. Dos figurinos as estampas fortes, a cor vermelha ou amarela, o branco do vestido rendado, o sincretismo religioso que domina no palco ou fora dele. Já participou de filmes e documentários, fez parte e foi aplaudida de pé no teatro baiano, cheia de criatividade, força e muito talento, é assim que vive a musa, a mãe, a amiga de muitos, a querida de tantos Valérie O’Rarah.

Faz shows há 6 anos na La Bouche Creperia todas as quintas –feira, aos domingos e segundas especiais no Âncora do Marujo e é integrante do leque de artistas da Sauna Planetário.

Foto: Arte Trans Bahia

Sabemos da grandeza inovadora da transformista Valerie O’Rarah, o que não fazemos ideia é de como nascem estas inovações. Poderíamos entrevistar e tentar desvendar toda essa façanha artística, mas preferimos nos conter ao núcleo das surpresas e caminhar dia após dia, sendo surpreendidas neste mundo intenso de fantasia e talento. Por falar em talento, há exatos cinco anos, nasceu o “Talento Marujo”. A idealizadora e apresentadora Valerie, convidou algumas artistas para os desafios. O concurso tinha como meta eleger um personagem da cena transformista, porém não seria uma simples eleição, a figura representada precisava ser testada a cada semana, num bar com palco pequeno, Âncora do Marujo. A premiação principal seria, fazer parte do cenário fixo do espaço. O concurso ganhou proporções valiosas e com o intuito de melhorar, em 2015 Valerie fechou parceria com a Lufra Produções e acabou por fazer da última noite do concurso um grande evento no Teatro da Barroquinha. O’Rarah é uma das mais respeitadas transformistas do Brasil, com onze anos de carrei-


Loulou por Loulou: “A rainha surgiu no ano de 2001, estreando no Âncora do Marujo e na extinta boate BR-W, de Dion Santiago.Começou como uma caracteristica de provocação , de ir contra a corrente do que era visto nos palcos da cidade. No inicio eu dublava várias de ópera, como Carmem, Madame Butterfly, O Barbeiro de Sevilha, entre outras Causou estranhamento uma drag dublando ópera, vestida de rainha, com figurinos de época, mas deu certo. A cada apresentação existia uma curiosidade grande pra saber como eu viria vestida. O fato de ser figurinista e maquiadora de teatro e cinema facilitava a pesquisa e o acesso a essa estética e durante o primeiro ano eu explorei essa vertente até a exaustão. Nesse ano ganhei prêmios, troféIs, etc...Mas, o principal foi o reconhecimento do publico e dos demais artistas. A partir daí fui pesquisando e me interessando por outras estéticas e a rainha foi se aproximando dos sú-

Foto: Andrea Magnoni

R A I N H A

EDMÉA BARBOSA A Transformista Loulou é uma das mais inteligentes artistas de Salvador. Na bagagem artistica, Loulou é reconhecida por vestir-se bem, ser fina e elegante e nunca desprenderse da luta politica. Rainha, sempre rainha, escreve com propriedade sobre qualquer tema relacionado ao mundo Gay. A artista é uma das convidadas de honra de vários concursos, como jurada, dentre eles o “Talento Marujo” concurso de Valerie Orarah. Seu profissionalismo pode ser visto nos julgamentos que direciona as candidatas, independente da relação de amizade que tem com cada uma.

ditos, rsrsrsr. Madonna, artista q eu era fã desde criança , passsou a ser constante fonte de inspiração, seja musical ou esteticamente. Cher, Shakira, J-Lo, Glória Estefan tb entraram no rol das preferências. Posteriormente ‘descobri” a MPB e as cantoras maravilhosas do Brasil e passei a pesquisar e investir na linha do samba e da nova safra de cantoras como ana Carolina, Maria Rita, Roberta Sá, Maria Gadu, Vanessa da Matta , dentre outras. Paralelo aos shows fui me interessando sobre política e militância LGBTS e passei a trazer os temas para o palco e redes sociais sempre q possivel. acredito q o fato de se montar e se inserir socialmente já é uma forma de militância , mas creio q podemos mais. E é essa semente que procuro colocar para as outras colegas de palco e no publico jovem e muito carente

L O U L O U

de informação e comprometimento. As vésperas de comemorar 15 anos (abril de 2016) preparo diversas ações, desde show comemorativo num grande teatro, até exposição fotográfica, exposição de figurinos, rodas de debates, etc. Quem viver, verá!!!! Heheheh”.

Foto: Arte Trans Bahia


Com 15 anos de carreira e mais de 30 afilhadas, Scher é uma das figuras mais requisitadas da cena LGBTT da Bahia. A apresentadora nasceu no berço de Dion Santiago, a empresária baiana que movimenta por quase três décadas a cultura transformistas de Salvador. O nome escolhido é uma homenagem a cantora que admira, “Cher a Deusa do Pop dos Estados Unidos” e Marie da apresentadora Michelle Marie. Os nomes parecem ter um energia positiva com o lado pessoal da moça, pois ao pisar no palco demostra o mesmo sorriso da cantora e a graça cheia de leveza de Michelle. Scher nos contou sobre sua carreira, disse não sentir incomodo em ser transformista, se pudesse voltar no tempo faria tudo outra vez, de forma ainda melhor. Quanto aos concursos falou sobre a importância e a valorização da arte transformista, e acredita que através dos concursos as personagens são testadas e desafiadas até que superem seus próprios limites. Como uma produtora nata, a apresentadora já criou um Big Brother Gay. Alugou uma casa em Itinga, levou artistas, gravou tudo e incentivou o público a votar. Criou e produziu diversos concursos de beleza feminina e masculina, premiou celebrida-

des com troféus, por sete anos manteve um quadro de entrevistas no Âncora do Marujo e para lá levou grandes nomes da sociedade soteropolitana. Participou de documentários e de peças teatrais como “Sou Transformista, mereço respeito” continua desenvolvendo ideias. Hoje produz e apresenta o “Esse Artista Sou Eu gay” no Marujo todas as sextas e já está preparando o Miss Suburbio e Miss e Mister Beleza que aconteceráão em breve. Sobre seus projetos, conta das parcerias que faz com os amigos e parece não se aquietar com a falta de apoio do governo. Scher diz que o respeito e o profissionalismo são as principais características do trabalho que desenvolve. Não gosta muito de sair de casa, sai para trabalhar, mas diz que adora se juntar com amigos para manter a “família unida”

Foto: Arte Trans Bahia

Scher Marie

Divulgação

Foto: Arte Trans Bahia

EDMÉA BARBOSA


O perfil de Twyggi é o da diva, gosta de desenhar no próprio rosto todas as façanhas que uma noite de gala necessita, é claro que isso não é tão difícil, pois quem faz a personagem tem um rosto lindo e é um maquiador profissional; Atrelado ao fato de que a artista tem como companheiro um dos melhores cabeleireiros do mercado; Cleber Manieri, empresário maquiador, diretor de cena e figurinista. Sim, os figurinos assinados por este rapaz, são incontestáveis em traços de perfeição. O conjunto de dois homens e uma equipe de grandes bailarinos, roteiriza e produz sempre um belo espetáculo. Twiggi já levou o titulo de ”Talento Marujo” em 2012 e faz shows com amigas no Âncora, na boate Tropical e na Planetário.

É elogiada por figuras antigas do transformismo baiano, pois a moça faz parte de uma cena que faz lembrar o deslumbrante desfile de divas que trabalham para alcançar um estereótipo de mulher perfeita.

Foto: Arte Trans Bahia

Foto: Arte Trans Bahia

A boneca de louça da noite soteropolitana é também uma das artistas que mais gostam de trabalhar com espetáculos, geralmente acompanhada por um lindo balé, leva para o público a sintonia entre dublagem e compasso. Seus shows são banhados por faixas de musicais internacionais e classicas. Adora dublar Adele e é muito aplaudida, mas com grande maestria “canta” Maria Betânia e entra em desafios, como por exemplo, dublar “As Coleguinhas” com uma amiga.

T W Y G G I


ADRIANA PRATES

Caio Roberto Emanoel Belsetto, de Ingridy Carvalho Foto: Arte Trans Bahia

O Cabaret Drag King é um espetáculo de variedades e reúne performances sobre o tema “masculinidades”. Formato é inspirado nos shows de transformismo que ocorrem nas casas LGBT, onde um (a) mestre de cerimônias recepciona o público, introduz os demais artistas e faz comentários e brincadeiras entre uma apresentação e outra. Cada edição compreende apresentações de dez artistas, que criam em cima do tema “masculinidades”, das mais diversas maneiras: dublagens, solos, intervenções, instalações, etc. O elenco de cada edição é diferente, e mesmo aqueles que se apresentam de forma recorrente, costumam variar seus números. Não existe restrição de gêneros para participar do Cabaret, visto que compreendemos o gênero como performance, usando o palco, como uma moldura extrema para ressaltar este pressuposto. Neste sentido, podem se apresentar artistas de todos os gêneros desde que desejem expressar artisticamente seu ponto de vista a respeito do tema central do cabaret – a masculinidade. Entre os participantes, entretanto, vem recebendo muito destaque as atrizes que fazem personagens “Drag Kings”, pois esses compreenderem uma novidade, sendo um dos diferenciais do projeto. Nossos drag kings são, em sua maioria atrizes que criam personagens masculinos e realizam dublagens e solos de dança. Muitas já foram convidadas para se apresentar em outros espaços e mesmo para realizar oficinas sobre o processo de construção de seus drag kings.


Foto: Alessandra Novais

Karol Senna – Atriz formada pela ufba, de vasto curriculo, karol senna costuma caprichar na transformação drag king. No cabare ela já fez Sidney Magal, Martinália, James Brown, Justin Timberlake e Lenny Karolvitz, um roqueiro sensual inspirado em Lenny Kravitz.

Foto: Alessandra Novais

Foto: Ricardo Santiago

Foto: Alessandra Novais

Mirella Matos Sales – Atriz de formação, ao longo das apresentações vem revelando o íntimo do personagem Carlos Jocevaldo Salomão Silveira, o Carlão, dono de uma história de vida muito tocante. No palco do Cabaret Carlão costuma declamar poesias de teor erótico. Simone Gonçalves - Simone, formada em dança, costuma passear por vários personagen. Já performou Magary Lord, um b-boy, um animador de auditório, mas um ponto alto de suas apresentações é o solo 44, onde ela brinca com os gestuais de gênero, transitando com muita graça entre o que masculino e feminino.

Ingridy Carvalho – Oriunda do curso livre de teatro da ufba, a moça já criou diferentes personagens no cabaret, mas é o seu drag king, Caio Roberto Emanoel Belsetto, que vem chamando a atenção. Neste sentido, ela já se apresentou como Belsetto na Semana de Combate a Homofobia, do Solar Boa Vista, no projeto Barulhino e no bar Âncora do Marujo, onde participou do concurso talento marujo em 2015. Sobre Belsetto é um gentil cavalheiro, boêmio, romântico à moda antiga, de ascendência italiana, O nome Caio foi dado por Rainha Loulou. Bia Mathieu acrescentou o “Emanoel”. Ainda em 2015 recebeu o “Troféu New Face” da boate Tropical, comandado por Ferah Sunshine.

Foto: Alessandra Novais

Nildes Sena – O drag king de nildes sena se chama Ivan Bernardino. Ele traz para o palco do cabaret a magia boêmia do centro antigo de salvador, a sutileza e a malícia da capoeira, embalada em trajes finos. Ivan costuma fazer dobradinha com Paulo Vitor, performado por Juciara Awô. Juntos, esses kings fazem sketches onde revelam o tom erótico onde a competição e a camaradagem masculina muitas vezes escondem.

Foto: Alessandra Novais

Foto: Divulgação

Matéria por Adriana Prates – Produtora e curadora do Projeto. Colaboração- Edméa Barbosa


GILMARO NOGUEIRA

É preciso trans-formar o movimento lGbt

Ainda hoje encontro pessoas que não sabem o significado de cada letra do movimento lGbt (G em caixa alta, de Gay Governista). Isso porque, desde da década de 80, essa sopa de letrinhas tem passado por mudanças, de GLS, GLBT, LGBT e por último LGBTI, incluindo os sujeitos Intersex. Por vezes já inclui os sujeitos que se denominam Queers, Assexuais entre outros, e não vejo problemas em colocar o alfabeto e evidenciarmos o quanto cada sujeito é singular. Nos últimos anos, ao menos nos últimos dois, parte do movimento T tem criticado o movimento social por ser GGGG (Gay, Gay, Gay, Gay) e, inclusive, dito que transexuais e travestis deveriam se separar do movimento. E essas pessoas têm motivos para tal. Não concordo com essa desarticulação, mas é preciso revermos nossas formas de organização e, está mais do que na hora de evidenciarmos o T em nossas letrinhas, ou seja, transformar o movimento em TLGBI ou qualquer outra ordem que comece com o T. Colocar a letra T em evidência não significará nada se o movimento continuar com os caciques Gays à sua frente, dizendo que falam em nome de todxs e, por vezes, com posturas machistas, misóginas e transfóbicas.

Diferente do Deputado Jean Wyllys, que acredita que o casamento igualitário fará uma transformação na sociedade (o que ainda não aconteceu em nenhum país onde ele passou a ser permitido, vide o livro Que os outros sejam o normal, de Leandro Colling), penso que as pessoas trans tem mais a contribuir que as cerimônias, os ritos de monogamia e o pleno acesso à divisão de bens, pois elas deslo-

Foto: Divulgação

que não irá acontecer se for como a conferência passada, em que líderes do governo entregaram papeis com os nomes de quem deveria ser votado e para ter um lugar ao sol na Rede LGBT Governamental, as pessoas seguiram as indicações, pensando em governo e não nos sujeitos. É hora de transexualizar o movimento, de pensar nossas representações midiáticas e leis que tomam os gays como prioridade, embora esses tenham mais conquistas. Vamos de T, de transformação, porque todxs temos a ganhar.

cam as concepções de sexo, gênero, desejo e práticas sexuais. Não quero dizer que os sujeitos trans estão fora da norma, mas evidenciam que ter um pênis ou uma vagina não estabelece uma verdade sobre o corpo ou gênero. Também não vejo como diminuirmos o preconceito contra as outras letras/sujeitos sem problematizarmos essas concepções lineares e naturalistas sobre as sexualidades e gêneros. Mas sem leis que protejam os sujeitos trans, seja na saúde, educação ou em outros setores da vida, nada disso será possível. Com o momento das conferências estaduais lGbt é hora de colocarmos em evidencia o movimento T. Escolhermos mais delegados transexuais e travestis ou ao menos garantirmos que ocorra uma divisão igualitária. O

Foto: Arquivo pessoal

Gilmaro Nogueira é psicólogo, especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens, mestre em Cultura e Sociedade (UFBA), membro do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS). Pesquisa práticas e discursos afetivo-sexuais entre homens em sites de relacionamentos e quinzenalmente se reúne com amigos para assistir e discutir filmes sobre a temática da sexualidade.


EDMÉA BARBOSA

Por que estudar gêneros sexuais? Quando se fala em gêneros, estudos, pesquisas ou qualquer coisa sobre a identidade de um ser humano fora dos padrões normatizados pela sociedade, logo olhares atentos se viram em direção. É preciso ficar atento, pois estudar gêneros, se identificar dentro das representações humanas “anormais” é o mesmo que se declarar contra a “natureza”. Essa tensão é defendida por alguns, mas o que seria a natureza humana, tendo em vista que sofremos mutações diárias? Os estudos de Gêneros não têm como meta quebrar regras, desfazer famílias ou reclassificar a humanidade. Os estudos Queer abre possibilidades para novas expressões humanas, sendo que essas expressões não devem ser escondidas no subalterno. Estudar gêneros possibilita o entendimento do que significa, por

exemplo, ser mulher, afinal de contas, segundo a teorica Simone de Beauvoir “Ninguém nasce mulher: torna-se”. Tornar-se mulher significa estruturar as aspirações de onde se vive, com quem convive e dos processos indenitários que sofre a cada evolução. Ainda é possível entender o papel da masculinidade, que tipo de macho é preciso ser para ser aceito socialmente, ser homem significa algo além da barba e da gravata? Dentro das necessidades de aprendizado é necessário entender que o mundo não é feito de machos e fêmeas, que além da formulação exposta na binariedade, existe um mundo onde a figura é representada como identidade de gênero indefinida. Isso porque a sociedade apenas se predispõe a aceitar a humanidade em duas formas. Diante das possibilidades de ser humano, de identidades, de produção

das figuras ou de construção de gênero é necessário que esses estudos sejam facilitados. O MEC reconhece alguns cursos superiores em estudos de gênero e vem indicando que faculdades e universidades possibilitem discussões. Porém são poucos os ambientes que abrem espaços para estes entendimentos. Algumas faculdades já praticam grupos de estudos, seminários e orientações acerca da temática, mas existe uma demanda imensa de assuntos a serem debatidos para que novas políticas públicas sejam implantadas o quanto antes. Temas como transexualidade, feminismo, raça, identidade e tudo que abrange as sexualidades precisam ser discutidos para que haja um novo olhar sobre o que significa viver em sociedade humanizada.

Indicações de leitura

Travestis na Tv de Tess Chamusca

Este livro nos intui a uma analise sobre o papel da travesti; “pensa para além de categorias, ou melhor, transgride categorias fixas já usadas e as preenche com análises interdisciplinares que nos ajudam a compreender não só as travestilidades na mídia, mas como se (re)produzem as hierarquias de gênero em nossa sociedade” Leandro Colling. Tess escritora, é Mestre em Cultura e Sociedade, formada em Comunicação Social, doutoranda da UFBA, professora da UNIRB, entre outros.

A revenção do corpo de Berenice Bento

Este livro se ancora em histórias de vida de pessoas que mudaram o corpo, cirurgicamente ou não, para se tornarem reais, para não serem 'aberrações', expressão comum entre os/as transexuais. Sugere que as explicações para a emergência da experiência transexual devem ser buscadas nas articulações históricas e sociais que produzem os corpos-sexuados e que têm na heterossexualidade a matriz que confere inteligibilidade aos gêneros.

Berenice escritora, Doutora em Sociologia. Atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, transexualidade, sexualidade, direitos humanos, estudos queer. Editora da Revista Cronos/PPGCS (2011-2013).


MARIANA FIGUEIREDO

O MEU ENCANTO

Foto: Arte Trans Bahia

Âncora do Marujo é o bar da Carlos Gomes que te recebe de terça a domingo de braços aberto - e alguns períodos também nas segundas. No bar que é re-

sistência não tem tempo ruim, não tem greve, não tem feriado - precisou de um cantinho pra ser bem acolhido, curtir um show, dar risada, dar e ser vítima de uma xurria gostosa - pode correr pro Marujo que você vai encontrar Fernando na porta, com um sorriso aberto pra te receber. Este local tem tantas peculiaridades que o tornam único. Vamos começar por ordem alfabética e falar logo dela, a que verdadeiramente manda naquele lugar, a que nos deixa mais felizes, a responsável por trazer sempre a cerveja mais gelada do freezer, ela... Angélica! Quando se vai a primeira vez, você se engana e pensa que ela é uma pessoa fechada, alguns diriam até que ela é tímida, mas essa mulher é a mais artista da casa. Ela conhece os cliente por nome, sabe como e quando brincar, ela dá xurria em todas as artistas da casa e permanece imune a receber o troco. Sabe porquê? Ela tem uma arma secreta de proteção - uma não! duas! ela é também costureira. Responsável pelo figurino de gran-

des artistas da casa e de uma boa parte das Drags de Salvador, Angélica A-HA-Z-A nas roupas! A segunda arma secreta que protege ela de todo e qualquer ataque já foi citada, ela é que é a responsável por trazer a cerveja gelada e por preparar os drinks, rs. Brincadeira a parte, falar sobre o Âncora é falar sobre Angélica. Ela faz tudo com muito amor e dedicação, tratando sempre com respeito os clientes, amigos, colegas, e até Jéssica, a gatinha de seu Fernando, recebe os cuidados e broncas dela. Uma mulher de ouro, que torna aquele lugar ainda mais especial. Agora pulando a história de ordem alfabética, porque foi só uma desculpa pra falar dela primeiro, vamos falar do acesso, da entrada, da portaria, que ferve do começo até o final da noite. Cláudio e Paulo! Duas figuraças. Cláudio - cheio de graça tá ali sempre brincando com todo mundo, se você começa a conversar um pouco com ele.. ah, desvenda todos os esquemas e já fica de vontade de sair pra beber por ai com ele. Esse cara deveria tá no palco, não perde a oportunidade de uma piada com um amigo. Ele tá sempre sorrindo, cochilando ou bebendo, mas engana-se quem pensa que ele não tá ali alerta. Na primeira presença estranha ele já levanta da cadeira e você pensa que tá ao lado de um exército inteiro, porque ele mostra que não tá ali SÓ pra brincar. Menino especial. Já Paulo tem aquele jeito sério, vai te deixar cheio de medo de procurar brincadeira, mas na

hora que pega intimidade... já foi! Com aquela cara de durão, ele é todo cuidadoso. Sempre tirando as garrafas de vidro vazias de locais fáceis de cair e quebrar, sempre de olho em tudo e alertando dos perigos - que vai de uma barata pra quem tem medo, como eu, a aproximação de algum sujeito esquisito. Só que ao mesmo tempo que ele alerta da barata, ele vai te dar xurria quando você correr que nem uma louca pra dentro do bar, porque é pré requisito pra se manter naquele ambiente ter a alma leve e o riso frouxo. Paulo é um ursinho carinhoso na pele de Hulk. Uma pausa nas pessoas para falar do bar. Com tudo decorado com o maior cuidado e BAR EDMÉA carinho, com atenção aos detalhes, o Âncora do Marujo tem seu padroeiro - o Marujo - em local de destaque. Uma vez por ano o Marujo movimenta o bar com seu desfile que sai do Âncora, vai até o final da Avenida e retorna. Desfile esse que é puxado pela Garota Marujo do ano. No interior do bar temos um

Foto: Uendel Leal


aquário, alguns quadros com animais marinhos, mesas fixas e as cortinas que são um charme! Mas, o bar não é só a parte interna, onde tem o show, uma das partes que não deixa a desejar no quesito diversão e resenha é a area de fumante na porta do bar. Sempre cheio, as pessoas saem pra fumar e engatam papo com outros clientes, com amigos, com Paulo ou Claúdio - um plus nesse papo é quando Fernando, Zé ou Wilson estão lá fora também. No Marujo a diversão é de dentro pra fora e de fora pra dentro. Falando em Fernando - o moço da risada gostosa - ele é uma pessoa ímpar. Sempre com uma piada na ponta da língua, uma brincadeira de última hora, uma despedida ou recepção exclusiva - acompanhada de uma gracinha - ele encanta e arranRBOSAca sorriso de quem quer que seja. Não tem sono, mau humor, estresse.. nada resiste a energia boa de Fernando. Ah! Não posso deixar de falar do homem dos abraços carinhosos, Seu Zé. Sabe aquele dia que você tá precisando de um abraço que te faça esquecer os problemas? Vá pro Âncora! Lá você vai encontrar Zé, que com um jeitinho simples e todo especial vai perguntar como você tá e vai te dar um abraço. Só que o abraço dele é diferente, é aquele despretensioso, aquele que transfere energia, o tipo de abraço de cuidado, carinho, preocupação. Seu Zé é um pai de cada cliente e amigo ali, o homem transborda cuidado e atenção. Como comecei com Angélica, deixei ele mais pro fim, porque os dois juntos não valem nada. Sabe aquele cara que você olha e pensa "esse ai é chaaaato", pois Seu Wilson pas-

sa longe disso. Não parece ser chato não, mas é. Ele é coligado de Angélica e, assim como ela, é mestre na arte de chatice. O problema todo é que eles são insuportavelmente encantadores. Wilson me ganhou e ganha qualquer um. Um cara super honesto e sincero. Ele adora brincar com as pessoas, ele faz piada com um sorrisinho descarado de conquistador barato. Ah, Wilson... como pode ter alguém tão do bem assim?! Sou suspeita pra falar, esse cara que faz os pedidos dos bolinhos de charque mais gostosos do mundo tem minha total admiração. Um ser humano incrível que tenho orgulho de compartilhar alguns dias da minha semana. Já que falei do bolinho, quero entrar nesse assunto. Como pode um bar provocar uma discussão entre três pessoas que são praticamente uma familia de tão unidas? Ah, mas

Foto: Banco de imagens

o frango com aipim, a carne de sol com fritas e o bolinhos de charque do Âncora foram capazes disso. Eu, defensora, adoradora e viciada no bolinho de charque do Âncora, declarei que tal iguaria é a mais gostosa oferecida no bar. Eis que meu grande amigo disse que não, a carne de sol com fritas era MUITO melhor - que audácia dele inferiorizar o bolinho. Ai minha digníssima namorada se manifesta e fala que somos loucos, que melhor que o frango com

aipim não há. Ocasionou-se uma grande discussão, mas lhes digo: provem cada prato e compartilhem de minha opinião, o bolinho de charque vence qualquer um! rs Sem esquecer do bolinho de charque, mas sem falar dele agora. O bar tem vários drinks, dentre os quais se destacam a "Tarja". Famosa por lá por ser a preferência das artistas da casa,

Foto: Banco de imagens

o drink preparado por Angélica leva vodca e refrigerante. Aconselho que provem cada drink e cada tira gosto pra chegarem a uma conclusão. Há tanto a falar sobre o Âncora, mas ficaria dias escrevendo e não acabaria. Vou me conter e falar apenas que o Âncora não apenas tem um palco, é um palco. Lá você encontra artistas no palco, na plateia e por detrás do balcão. Há sempre gente fazendo arte, tornando a vida, ou pelo menos aquela noite, mais gostosa e bela. Quem não conhece, apenas conheça você não vai se arrepender.

Âncora do Marujo, rua Carlos Gomes- Centro Portaria R$ 5. Terça a domingo - 00:30


MARIANA FIGUEIREDO

Scarleth Sangalo a cover de Ivete, vai levando arte transformista por onde passa.

Foto: Arte Trans Bahia

Foto: Arte Trans Bahia

Scarleth Cabochart Sangalo, animadora, hotsses, faz telegrama animado, shows, apresenta bingo, dá pirueta, dirige... A moça é mil e uma utilidades. Scarleth, é cover de Ivete Sangalo e já teve alguns encontros com a idola. Com uma grande variedade de performances e uma atuação incrível, ela já esteve também no teatro com a peça Soul Transformista. Sangalo é uma das transformistas que prova que assim como 2 + 2 são 4, transformismo é arte sim e arte não é apenas gay ou para locais “especificos” Atualmente Scarleth é contratada para animação de diversos eventos que saem do mundo gay. Com grande número de shows em casamentos, aniversários, bodas e festas em geral, ela mostra que a arte transformista pode deixar de ser vista apenas em estabelecimentos LGBTT e invadir novos palcos.

A receita é o respeito e profissionalismo na realização daquilo que faz por amor. Quando se fala em levar a arte para outros ambientes, não se quer que ela perca suas origens. Scarleth faz isso com uma maestria. Ganhou seu espaço e expandiu sua atuação além do centro da cidade, mas sem deixar de se apresentar nos ambientes de nascimento e resistência do transformismo soteropolitano, um exemplo são as apresentações no Âncora do Marujo, local onde iniciou e consolidou sua carreira. Em show consegue mesclar um belo repertório, mas seu forte é verdadeiramente as músicas mais animadas e a apresentação. Com um carisma único, ela conquista o público que se rende às suas brincadeiras e tornam seus shows sempre animados.


Gilvan Oliveira, é Ney Matogrosso

Gilvan Oliveira é fã de Ney Matogrosso desde 1973, quando Secos e Molhados iniciava performances e provocava discussões no Brasil. Nesta época os estudos de Gênero começava em seus pequenos e lentos passos, mas foi a androginia, a sedução, a maquiagem e ousadia que encantaram o baiano. Na época de aparição dos secos e molhados, Gilvan só tinha 11 anos, mas aos 17 começou a imitar. Isso pode significar o início da arte transformista contemporânea da Bahia. Tendo em vista que o transformismo é uma identificação masculino x feminino, hoje conseguimos entende que a arte transformista não é apenas binária, mas também andrôgena ou intersex. Gilvan é um homem que no final da década de 70 passou a ser cover de outro homem, a dedução do andar, os figurinos caros e bem produzidos, a maquiagem impecável que além de facilitar a identificação, necessitava acompanhar as fases inventadas e produzidas pelo artista homenageado. Gil, se inseriu na cultura soteropolitana e mais que isso, é uma referência no mundo do transformismo da cidade, é um dos atores que resistem, que se montam e sobem num palco para brilhar. Em 2016 o ator completa 37 anos de carreira e é um dos ícones mais importantes da arte cover.

Foto: Arte Trans Bahia

“Se canto sou ave, se choro sou homem Se planto me basto, valho mais que dois Quando a água corre, a vida multiplica O que ninguém explica é o que vem depois..”

EDMÉA BARBOSA

“Ney Matogrosso é tudo na minha vida, não só porque sou seu fã incondicional, mas pelo exemplo ético, humanista e de talento nato” “Chance de Aladim” de Ney, Gilvan sempre reproduz esta frase em seus shows

Gilvan, para o portal Marccelus


EDMÉA BARBOSA

Em março, o Beco dos Artistas, um dos mais antigos redutos LGBTTS será ocupado por Thiago Romero e sua trupe. Arte transformista, teatro, cinema e música estão dentro do projeto cultural do produtor. Os eventos que promete ocupar e recuperar a cultura do espaço, tem uma proposta ousada de inovação com direção especial do rapaz, promoção do Teatro da Queda e Produção da Kalik Produções.

Um ícone na cultura baiana

Sites de pesquisa nos levam para alguns caminhos bem percorridos de Thiago, de um lado o ator carioca licenciado em História da Arte pela UERJ, do outro o figurinista, em outra ponta um maquiador, pelo lado oposto o cenógrafo, um diretor é de se encontrar com facilidade e também como ator na cena Transformista Drag.

Romero é ator há quase vinte anos, tem 33 anos, nasceu em Volta Redonda e mora na Bahia há quase 15 anos. Já foi indicado ao prêmio Braskem duas vezes, como melhor diretor no espetáculo “Breve Outono Inverno, pelo Teatro da Queda” e a segunda, como melhor cenário, figurino e maquiagem, na categoria especial com o espetáculo Exú, a Boca do Universo, do NATA (Núcleo Afro Brasileiro de Alagoinhas). Recebeu o “Zebrinha de Pretas Artes” pelo trabalho desenvolvido no NATA. Dentre os infinitos trabalhos estão os espetáculos montados no Teatro Castro Alves, o palco de maior referência na Bahia. Aparições de Thi no palco do Âncora do Marujo são sempre cheias de emoção, o ator envolve o público com figurinos exuberantes, maquiagem colorida e comprometimento. Uma música vira um espetáculo com facilidade.

Foto: Arte Trans Bahia

“cada homem é uma raça”Thiago Romero


E UVI RA

EDMÉA BARBOSA

“Nasci pro AFROnte e não abro mão.”

“E assim levo a vida, sem muitos freios - ou quase nenhum -. Fazer-se ausente na vida é pior do que morrer!“ Euvira

Misael Franco doa vida a Euvira, a mulher que quebra alguns parâmetros determinados pela sociedade. O ator tem ganhado espaço com o talento nato e a política que defende, é um transformista, porém é no papel de Euvira que tem causado incômodos e encantos por onde passa. O que seria a feminilidade senão uma construção social? Para ser mulher, representar o papel feminino é mesmo necessário tirar a barba? Ao que tudo indica, não. Misael mantém a sua vasta barba, mas Euvira baila com as mãos e o corpo, não anda, ela desfila. Euvira vive em uma passarela, sempre muito bem vestida,

com chapéus clássicos da classe alta burguesa, unhas pintadas, saltos, batom vermelho e quase sempre um cigarro por perto. A primeira noite do afronte com Euvira às terças feira tieve início no dia 07 de julho de 2015 no bar que é resistência na cultura Transformista. O ator brinca no palco e sempre que pega um copo de cerveja, diz: “Me chamo Euvira, e agora vocês vão ver o porquê.” Vira o copo e sorri. A personagem esteve no palco do Desfazendo Gêneros

Foto: Arte Trans Bahia

Em sua descrição pública a desigual das outras diz quem é: DragQueer na empresa Âncora Do Marujo e Produtora Cultural na empresa Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia.

(Seminário Internacional sobre estudos de Gêneros e sexualidades), na oportunidade esteve presente , Judith Butller (Teórica referencial dos estudos Queer), a sensação

Foto: Arte Trans Bahia

que dá é de que a participação desta personagem é a “pratica” que a teoria defende. Feminilidade é uma construção social, normatizar o sujeito é enquadrar o direito de viver de cada indivíduo. Euvira traz a feminilidade em traços, nas mãos, na maquiagem, nas vestimentas, porém é nos discursos, na conversa e na vivência que demostra a feminilidade que pouscos desconhecem. Ainda sobre a vida acadêmica, o aproveitamento tem sido o máximo possível, a desigual já esteve, por exemplo em Goiânia e Cachoeiras para seminários acadêmicos. Participou do clip “Bar de Bira” da cantora Marcela Bellas. Assim como de várias ações LGBTT e está em processo de gravação de um ‘documentário-clip’ que vai tentar mostrar o processo de criação e montagem, além de mostrar parte das músicas que dubla, performa e interpreta.


EDMÉA BARBOSA

CINDY WINKS faz de tudo: cabelo, maquiagem, design, atelier e acessórios

A personagem foi criada há cinco anos em um grupo de transformista do bairro da liberdade (OS COLORIDOS) o primeiro nome foi AYALA COLLOR, ficou dois anos no grupo e logo quando saiu trocou de nome para a CINDY WINKS. Duas histórias justifica o nome;

Foto: Arte Trans Bahia

Foto: Arte Trans Bahia

fibra. Os figurinos nasceram com a curiosidade. A mãe comprou uma máquina domestica para os serviços da escola dela

Foto: Aquivo pessoal

‘CINDY’ foi por conta da mãe que até hoje é fã da Cindy Lauper e ‘WINKS’ é do desenho animado que gosta até hoje. Não existe um conceito especifico, tão pouco uma única figura que inspira, se diz ter a própria concepção e com isso tem a facilidade de ser um pouco de tudo e todos. Gosta muito de pop e MPB, adora fazer Testando de Ellen Oléria e acha que nesta musica o público sente uma entrega maior da personagem. O talento de Cindy é nato, nunca tomou um curso especifico para nenhuma das atividades que desenvolve, é design e gosta muito de trabalhar com a área gráfica. Das perucas que produz, conta que iniciou os experimentos no início do grupo Os Coloridos “era novo e notava que no grupo nem todos gostavam de ajudar as novatas, foi então que comecei a aprender com tutoriais e todos os auxílios que a internet disponibiliza. “A cada dia foi se aperfeiçoando e hoje consegue, por exemplo, colorir e cachear qualquer peruca, mesmo sendo de

mas Cindy acabou tomando conta. É nesta mesma máquina que costura desde figurinos simples até os vestidos de gala que produz. Tudo fora dos padrões estabelecidos, não usa molde, faz no olhometro e até então os resultados são maravilhosos. Winks, pretende ingressar em um curso para melhorar suas técnicas e ser um profissional estabelecido e bem remunerado no mercado. Sobre as maquiagens artísticas, conta que sempre gostou de chamar a atenção como uma drag e ao decorrer do tempo foi melhorando os traços no próprio rosto, no início não achava bom, mas com o tempo chegou ao melhor limite, mas ainda busca a própria perfeição. Figurino desenvolvido por Cindy. Concurso Garota Marujo, 2015. Penelopy


MARIANA FIGUEIREDO

Com maquiagem impecável e uma conexão surpreendente com o público. Alehandra Dellavega é uma Drag Queen andrógena. O seu criador e intérprete, conseguiu unir duas grandes artes que admira e domina, a da maquiagem e a da transformação, aliadas a um carisma nato que encanta e prende o público. A negrita iniciou sua trajetória na arte da representação em 2013, aos 16 anos. Entretanto, aguardou até os 18 para estrear nos palcos do transformismo soteropolitano. No The Voice Marujo, Dellavega, chegou até a semifinal do concurso e iniciou

a carreira de shows no mesmo local. Em seguida, participou do Garota Tropical, em uma Boate que também é palco da arte transformista, onde levou o título de Garota Tropical 2015, com a apresentação de Valerie O’rarah. Com esse dom de cativar, Alehandra já garantiu seu lugar nos palcos de Salvador. A artista faz shows e participações frequentes no Âncora do Marujo e na Boate Tropical. No momento, participa do concurso “Esse Artista Sou Eu Gay” de Scher Marie, no Âncora do Marujo.

Foto: Arte Trans Bahia

Alehandra Dellavega, a negrita

Cliques do Arte Trans Bahia

Larissa Atenna Bravo Rios, a princesinha do gueto já tem o nome gravado na história. seu diferencial artistico garantiu ás terças de shows no Âncora do Marujo.

Orleth Ornelas de Orleans e Bragança é a filhota de Ginna D’ Mascar. A moça vem trazendo uma nova performace, cheia de graça e atitude, além de uma pitada à francesa.

Foto: Arte Trans Bahia

Foto: Arte Trans Bahia

Laís Fennell é a Garota Marujo 2015 e Miss Pau Miudo 2015. Fez o primeiro show no Âncora e com quatro meses de show consegue levar belos espetáculos.

Foto: Arte Trans Bahia

kimberly Portunayle é a garotinha querida de todos, a moça chega calada e faz questão de mostrar uma grande força no palco. É ousada e muito determinada. É segundo Lugar Garota Tropical.

Foto: Arte Trans Bahia


Próxima edição Sim, já estamos preparando a nossa segunda edição. Em fevereiro faremos um passeio sobre a história do transformismo baiano, traremos uma entrevista com um dos maiores nomes da cultura LGBTT. Seguiremos nossas edições fazendo um percurso sobre o início desta arte na Bahia. Teremos uma pesquisadora convidada e ainda uma personagem militante que irá nos contar sobre as políticas públicas para o público LGBTT. Lançaremos uma coluna de beleza. Nesta página a cada edição, ensinaremos um truque de maquiagem ou figurino. Ensinaremos não, uma Drag Queen ou um Drag King vai nos ensinar. Além disso teremos um desafio para você: Venha ser nosso colunista! Escreva um texto sobre qualquer assunto voltado ao interesse público e após analise publicaremos. Atenção, está coluna se chamará “Voz Transformista”, será uma das maiores oportunidades para que você diga o que pensa. Quer ser entrevistada ou entrevistado por nossa revista? Entre em contato conosco. Se quiser anunciar serviços, ser colaboradora ou patrocinar a revista nos envie um email e entraremos em contato. Não temos patrocinadores e se tivermos será para uso exclusivo da divulgação consolidação desta plataforma. A revista Arte Trans Bahia e suas colaboradoras agradecem a todas as pessoas pelo apoio e incentivo. Arte Trans Bahia

Foto: Arte Trans Bahia

Em fevereiro: Quem são elas?


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