INTRODUÇÃO Apresento este livro com a comoção e o sentido de responsabilidade que marcaram todo o trabalho da comissão parlamentar de inquérito da Assembleia Legislativa que investigou o crime da Vale S.A. em Brumadinho. Instauramos a CPI pouco mais de um mês depois do rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, que despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre uma área de 300 hectares, soterrando seres humanos, animais domésticos e silvestres, contaminando rios e córregos, destruindo casas, pousadas e cultivos agrícolas, atingindo dezenas de municípios ao longo da Bacia do Rio Paraopeba. Foram 272 pessoas mortas (“joias perdidas”, como são chamadas por seus familiares), dez das quais continuam desaparecidas. Abrimos os trabalhos da CPI definindo objetivos precisos: investigar as causas do rompimento da barragem, apontar as responsabilidades, definir diretrizes para a reparação dos atingidos e, ao mesmo tempo, deixar instrumentos de controle e fiscalização para que crimes como esse nunca mais aconteçam. Nos seis meses de depoimentos, visitas a comunidades atingidas e análise de centenas de documentos, a CPI imprimiu aos seus trabalhos rigor técnico aliado à preocupação permanente com as pessoas. Dentro de suas atribuições legais e dos objetivos estabelecidos, pode-se dizer que foi uma CPI fortemente participativa. Nas diversas reuniões, sempre abertas e transmitidas ao vivo, tivemos a presença constante de familiares das vítimas, de atingidos e de suas entidades representativas. A imprensa cumpriu também o seu papel. Recebemos contribuições voluntárias de especialistas; buscamos informações junto à força tarefa, composta por órgãos e entidades estaduais e federais; partilhamos dados com as CPIs do Congresso Nacional e da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Contamos também com a valiosa colaboração das comissões permanentes da Assembleia. Tudo isso foi possível, cabe registrar, graças ao envolvimento do conjunto dos parlamentares que integraram a CPI, à condução equilibrada de seu presidente, Gustavo Valadares, e à confiança e à determinação do presidente da Assembleia, Agostinho Patrus. Desde o início das audiências, foram sendo comprovados fatos, decisões e omissões da Vale S.A. que concorreram para o rompimento da barragem e a magnitude dos danos. A mineradora tinha conhecimento dos riscos e agiu para ocultá-los. Em junho e setembro de 2018, a empresa de consultoria Tüv Süd emitiu duas declarações de estabilidade da Barragem 1 à Agência Nacional de Mineração (ANM), embora fosse real o risco de liquefação. A Vale S.A. ocultou também da ANM um fraturamento hidráulico com extravasamento de lama e água ocorrido em junho de 2018 e desconsiderou informações dos 10 piezômetros automatizados e dos radares, entre outros avisos técnicos desprezados em nome do lucro.
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