Elaborada pelo Sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Coronato, Raquel Rei PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento. / Raquel Rei Coronato - São Paulo (SP), 2018. 80 f.: il.color. Orientador: Ralf José Castanheira Flôres Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Senac, São Paulo, 2018. 1.Refúgiados 2.Patrimônio Cultural 3.Hospitalidade 4.Cidade 5. Patrimonial;II. Flôres. Ralf José Castanheira (Orient.). II. Título
Raquel Rei Coronato
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO DE ACOLHIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Centro Universitário Senac, como exigência para obtenção do grau de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Ms. Ralf José Castanheira Flôres
São Paulo 2018 3
AGRADECIMENTOS
Aos meus queridos pais por serem meus alicerces na faculdade e na
vida. Obrigada por me guiarem sempre pelo melhor caminho e me inspirarem todos os dias.
Aos meus dois irmãos, Daniel e Marcel, por terem feito nascer em
mim há 5 anos atrás a coragem para seguir Arquitetura e Urbanismo. Vocês reacenderam minha confiança, muito obrigada.
Agradeço também ao meu querido companheiro de vida, Alessandro,
por toda a paciência e amor. Sem você comigo nada disso seria possível.
Aos meus amigos que caminharam junto comigo durante toda essa
trajetória. Muito do que sou hoje é fruto de nossa convivência, meus sinceros agradecimentos.
Agradeço especialmente a Bruna por toda ajuda e parceria ao longo
destes cinco anos. Nossa amizade foi um dos grandes presentes que a graduação me deu, muito obrigada.
E por fim, ao meu orientador, Ralf Flôres, por ter despertado em mim um
novo olhar sobre a questão patrimonial e arquitetura, levarei nossas conversas sempre comigo.
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RESUMO
Este trabalho apresenta um novo olhar sobre a questão dos refugiados,
especificamente sua chegada em São Paulo, estudando um panorama completo de dados mundiais e a hospitalidade dos que procuram um local de acolhimento na cidade.
A partir desse estudo, surge um projeto de intervenção patrimonial
unindo dois grandes problemas que a cidade apresenta, de modo a auxiliar em sua melhoria. O primeiro trata dos prédios desocupados na região do centro, que podem servir de moradia para quem necessita; o segundo da acolhida de forma digna e confortável aos refugiados que hoje se encontram e chegam em São Paulo.
O projeto propõe a preservação da fachada tombada de um edifício
histórico no bairro da República e a valorização da sua estrutura existente, qualificando os espaços do programa de alojamento e convivência para a recepção dos refugiados. Palavras-Chave: Refugiados, Patrimônio Cultural, Hospitalidade, Intervenção Patrimonial
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PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
ABSTRACT
This paper presents a new look at the issue of refugees, specifically that
their arrival in Sao Paulo, presenting a comprehensive overview of global data and the hospitality about de people looking for a place in the host city; the second is about the second to welcome dignitarily and comfortably the refugees who are now and arriving in São Paulo.
From this study, a patrimonial intervention project unites two major
problems that the city presents, in order to assist in the improvement of them. The first problem deals with the vacant buildings in the center region, which can serve as housing for those who need it and the second to welcome dignitarily and comfortably the refugees who are now in São Paulo.
The project proposes the preservation fallen facade of a historic building
in the neighborhood of the ‘Republica’ and the enhancement of its existing structure, qualifying the spaces of the housing program and coexistence for the reception of refugees. Keywords: Refugees, Cultural Heritage, Hospitality, Patrimonial Intervention
7
SUMÁRIO 1. Introdução pág. 12
2. Refugiados 2.1. Dados Mundiais - pág. 16 2.2 Refugiados e a Hospitalidade no Brasil - pág. 20 2.3. Diáspora, Multiculturalismo e Identidade - pág. 24
3. O Centro 3.1. O Processo de Abandono do Centro - pág. 28 3.2 A Reestruturação do Centro - pág. 30
4. Estudos de Caso 4.1. Residencial Vila dos Idosos - pág. 34 4.2. Convento de Sant Francesc - pág. 37 4.3. RedBull Station de São Paulo - pág. 40
6. Considerações Finais pág. 96
7. Lista de imagens pág. 100
8. Referências pág. 104
5. Projeto de Intervenção 5.1. Levantamento do Entorno - pág. 46 5.2. Análise Patrimonial - pág. 51 5.3. Antigo Municipal Hotel - pág. 53 5.4. Diretrizes da Intervenção Patrimonial - pág. 59 5.5. Projeto de Intervenção - pág. 60
Temos de agradecer, portanto, às camadas mais pobres. Há quase duzentos anos são os maiores guardiães do nosso patrimônio. Já é tempo de tentar retribuir-lhes o favor, dignificando os espaços em que vivem e trabalham, sem espoliá-los. (SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos) 9
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
De fato, os refugiados partilham, com os
migrantes, seu deslocamento, as vias de acesso
e, em muitos casos, são vítimas das mesmas redes
Pensar na temática dos refugiados hoje é pensar em
um mundo globalizado e em constante transformação.
de
Nesse pensamento encontra-se um paradigma entre duas
fundamentais. Não obstante, no caso dos refugiados,
relações: a primeira é de um mundo onde a circulação
falamos de vítimas de uma migração forçada para
de dinheiro acontece de forma fácil e ampla; a segunda
traficantes,
vendo
vulnerados
seus
direitos
salvaguardar a vida, a segurança ou a liberdade ante
é a restrição da circulação de pessoas pelo mundo,
uma situação de perseguição, de conflito armado e
principalmente quando se trata de pessoas que necessitam
de violações massivas de direitos humanos. (GEDIEL e
de abrigo ou refúgio.
GODOY, 2016, 8).
A circulação de imigrantes acontece de forma
abrangente, onde se deslocam com a possibilidade de
volta para casa ou não são forçados a viver em outro
hospitalidade da chegada ao Brasil, especificamente em
país e cultura. No caso dos refugiados, esse processo se
São Paulo, torna-se cada vez maior e defasada. O objetivo
inverte à medida que o deslocamento é forçado, sua
do trabalho é a criação de um novo espaço de recepção
chegada é dificultosa e a falta de um olhar mais acolhedor
desses refugiados, com um olhar acolhedor e humano,
acerca disso ainda é recorrente. Ao retomar a ideia de
visando amenizar o desconforto dessa mudança forçada
mundo globalizado, o primeiro pensamento tratando-
para São Paulo. Tendo em vista este objetivo, o trabalho
se de imigração seria de que pessoas que se deslocam
desenvolve-se na intervenção patrimonial de um prédio
entre países deveriam ser tratadas de forma única, como
atualmente sem uso na região central de São Paulo. O
imigrantes. Mas a diferença acontece em uma única e
prédio que antigamente abrigava um hotel dará lugar a
exclusiva questão: o forçamento de se mudar de país.
um alojamento com espaços coletivos de convivência.
12
A partir disso, o trabalho acontece à medida que a
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
13
14
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
CAPÍTULO 2
REFUGIADOS
2. REFUGIADOS
reconhecida como refugiada, mas que ainda não teve
2.1. Dados Mundiais
Refugiados (Conare).
A questão da busca por refúgio sempre aconteceu
- Apátrida é a pessoa que não tem nacionalidade
no mundo, entretanto a partir do século XX, ao fim da
reconhecida por nenhum país. A apátridia ocorre por
Segunda Guerra Mundial, a temática ganhou maior
diversas razões, como discriminação contra minorias
visibilidade em consequência do deslocamento de muitos
na legislação nacional, falha em reconhecer todos os
europeus. Mesmo com o fim da guerra a questão ainda
residentes do país como cidadãos quando este país torna-
estava sem solução, dessa maneira a Assembleia Geral
se independente (secessão de Estados) e conflitos de leis
das Nações Unidas criou a ACNUR (Alto Comissariado das
entre países.
Nações Unidas para os Refugiados). A ACNUR é a agência
que garante a proteção aos refugiados e se dedica a
se deslocaram em todo o mundo saltou de 33,9 milhões
melhorar a situação em todo o mundo.
para 65,6 milhões de pessoas em 2016. O motivo desse
deslocamento decorre de perseguições, conflitos, violência
Segundo a ACNUR:
seu pedido deliberado pelo Comitê Nacional para os
Nas últimas duas décadas, o número de pessoas que
ou violação dos direitos humanos. Esse número representa - Refugiado é a pessoa que deixa o seu país de origem
um aumento de mais de 300 mil pessoas em relação ao
ou de residência habitual devido a fundado temor de
ano anterior e equivale a 20 pessoas deslocando-se por
perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade,
minuto em virtude desses acontecimentos.
grupo social ou opiniões políticas, como também devido à
grave e generalizada violação de direitos humanos, e não
e 2015, causado pelo conflito Sírio e em outras regiões
possa ou não queira acolher-se da proteção de tal país.
como Iraque, República Democrática do Congo, Sudão,
A maior parte desse aumento aconteceu entre 2012
entre outras. O gráfico abaixo aponta este aumento ao - Solicitante de reconhecimento da condição de refugiado
longo dos anos. O conflito na Síria acarretou profundas
é a pessoa que solicita às autoridades competentes ser
consequências em diversos outros locais que necessitam até hoje de ajuda humanitária.
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PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Pessoas Internamente Deslocadas Proporção Deslocada
Os sírios continuam sendo a maior população de
Eritreia
Rep. Centro Afriacana
Iêmen
Ucrânia
Nigéria
Somália
Congo
Sudão
Iraque
Sudão do Sul
Refugiados e Requerentes de Asilo
Afeganistão
Figura 1 – Tendência de Deslocamento Global e Proporção de Deslocados | 1997-2016 Fonte: ACNUR
Colômbia
Síria
Figura 2 – População Forçada a se Deslocar | 2016 Fonte: ACNUR
Inúmeros são os países que recebem esses refugiados.
deslocados. Com 12 milhões de pessoas, a problemática
A Turquia recebeu o maior número com 2,9 milhões
da Síria estende-se pois é o único país em que a maioria
(principalmente da Síria), enquanto o resto dos países
da população encontra-se em situação de deslocamento
europeus receberam 2,3 milhões de pessoas. Na África
forçado. A população colombiana foi a segunda com
subsaariana a maioria dos refugiados permaneceram nos
maior índice de deslocamento, com 7,7 milhões de pessoas,
países vizinhos. A partir deste dado é importante ressaltar
seguida por Afeganistão com 4,2 milhões e Iraque com 4,1
que a maioria dessas pessoas estão fora dos instrumentos
milhões de pessoas. Esses conflitos estendem-se também
internacionais de proteção aos refugiados.
a países como Sudão do Sul, Sudão, Congo, Somália,
Nigéria, Ucrânia, Iêmen, República Centro Africana, Eritreia
reconhecidos,
e geram novos deslocamentos. O gráfico abaixo registra
reconhecimento em andamento e no mundo são 2,8
esses números:
milhões que ainda dependem desse reconhecimento.
No Brasil, o cenário conta com 10.145 refugiados 86.007
estão
com
a
solicitação
de
17
A maior nacionalidade de refugiados reconhecidos são da Síria, com um total de 39%. O gráfico abaixo mostra o número e a porcentagem dos refugiados reconhecidos no Brasil:
Figura 4 – Crescente no Número de Refugiados no Brasil| 2007-2017 Fonte: ACNUR Reassentamento Acumulado Figura 3 – Refugiados Reconhecidos no Brasil por Nacionalidade | 2007-2017 Fonte: ACNUR
Reconhecimento por Extensão Acumulado Acumulado Histórico
A crescente do número dos refugiados que se
O perfil desses refugiados revela que 71% são homens
abrigam no Brasil aumentou significativamente nos últimos
e 29% mulheres, sendo sua faixa etária de 14% entre 0 a 12
dez anos, o gráfico a seguir mostra esse aumento ao longo
anos, 6% entre 13 a 17 anos, 33% entre 18 a 29 anos, 44%
dos anos de 2007 a 2017:
entre 30 a 59 anos e 3% para maiores de 60 anos. Portanto, a maioria encontra-se em situação economicamente
ativa. As solicitações de reconhecimento da condição de refugiado cresceram consideravelmente em 2017, como aponta o gráfico abaixo:
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PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Este panorama completo sobre a questão dos
refugiados no mundo revela o grau de importância da problemática em questão. Escassos são os locais onde a ajuda humanitária à esse público consegue dar conta do números de pessoas. Mais raros ainda são os projetos de arquitetura que pensam em locais para essa acolhida de forma digna e confortável. Figura 5 – Reconhecimento da Condição de Refugiado no Brasil| 2011-2017 Fonte: ACNUR Em Tramitação Solicitação de Refúgio Recebidas
As principais nacionalidades das pessoas que estão
em processo de solicitação no Brasil são:
Figura 6 – Principais Nacionalidades das Solicitações em Trâmite| 2017 Fonte: ACNUR 19
2.2. Refugiados e a Hospitalidade no Brasil
ditadura, o Brasil diminuiu significativamente o número de imigrantes que aqui chegavam, devendo-se ao fato de
Diariamente o número de pessoas que se deslocam
que a atual situação do país não despertava interesse para
entre diversas regiões do mundo têm aumentado, os
os estrangeiros. A partir de 2010, esse panorama inverteu-
motivos desses deslocamentos são inúmeros, mas todos
se e o país começou a receber um grande número de
eles estão relacionados com o processo de globalização
refugiados, muitos pela fronteira amazônica. A reação
mundial. A principal causa do abandono dos refugiados
brasileira a esse tipo de situação sempre foi de acolhida,
de seu país de origem acontece pela violação dos direitos
mesmo faltando locais apropriados para receber essa
humanos e traz novos contornos para a temática quando
população. Em consequência dessa reação, houve a
suas consequências são a xenofobia, controle de fronteiras
necessidade de ingressar uma política migratória menos
e o acolhimento deficiente dessa população.
rígida, com um olhar mais humanitário.
A questão da imigração e dos refugiados é de
Em São Paulo, a nova Lei de Imigração (Lei Municipal
extrema importância no âmbito dos direitos humanos, pois
16.478, de 07 de julho de 2016) considera que toda pessoa
os refugiados tornam-se mais vulneráveis à discriminação
que transfere sua residência habitual para o Brasil, incluindo
e opressão. Isso acontece à medida que eles carregam
pessoas em situação de refúgio, apátridas e suas famílias,
o estigma da condição de estrangeiro e por isso muitas
devem ser tratadas como imigrantes, independente da
vezes são deixados de lado na questão do mercado de
sua situação imigratória e documental. Esta mesma lei
trabalho, direitos, prestações sociais, além de muitas vezes
estabelece igualdade de direitos e oportunidades para
sofrerem restrições com as legalizações de documentos.
todos os que chegam, regularização da situação do
Somado a tudo isso, os refugiados ainda sofrem para
imigrante, combate à qualquer forma de discriminação e
lidar com essa situação quando não recebem apoio
diversos outros direitos que devem ser aplicados para que
comunitário, dificilmente têm conhecimento do idioma e
os imigrantes e refugiados sejam tratados como qualquer
estão mais distantes da cultura brasileira.
brasileiro.
Todo esse processo torna-se um grande contraponto
Apesar da tentativa de amenizar a chegada dos
se pensarmos que o Brasil é um país que historicamente
refugiados a um novo país, muitos são os desafios que
recebe imigrantes. Na década de 1960, época da
ainda existem para que essa população se sinta acolhida,
20
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
principalmente nas condições de trabalho, aproximação
prevenção de trabalho escravo, acolhida e proteção
com a cultura brasileira e a língua portuguesa.
das vítimas. A Missão Paz promove campanhas de
sensibilização e atua fortemente com incidência política
No Brasil, algumas organizações auxiliam nesse
processo de chegada dos refugiados:
nas esferas municipal, estadual e federal para a mudança do marco legal nacional e o fortalecimento de políticas
- ADUS (Instituto de Reintegração de Refugiado): localiza-
migratórias baseadas nos direitos humanos e protagonismo
se na Avenida São João, bairro da República, tendo como
dos imigrantes.
missão reduzir os obstáculos enfrentados pelos refugiados e a reintegração efetiva na sociedade. O Instituto
- CRAI (Centro de Referência e Atendimento para
oferece aulas de português, cursos de qualificação
Imigrantes): localizado na Bela Vista, é uma iniciativa
profissional, apoio psicológico, inserção no mercado de
da Prefeitura de São Paulo que oferece acolhimento e
trabalho, instrução e preparação em empreendedorismo
atendimento especializado aos imigrantes como suporte
e ações culturais. Atende cerca de 500 pessoas de 50
jurídico, apoio psicológico e oficinas de qualificação
nacionalidades por mês.
profissional.
Além das organizações que possuem o objetivo de
- Missão Paz: encontra-se no Glicério e se intitula como
auxiliar os refugiados, a Prefeitura de São Paulo oferece
uma organização filantrópica de apoio e acolhimento
alojamentos para todas as pessoas que necessitam, sejam
a imigrantes e refugiados. Sua criação foi em 1930 e
elas refugiadas ou não. A maioria desses alojamentos
possui a Casa do Migrante onde existem 110 vagas com
que os refugiados encontram no processo de vinda para
alimentação completa. Além do alojamento, oferece
São Paulo geralmente são simples ou não comportam
serviços de documentação; apoio jurídico; assistência
confortavelmente
social; atendimento psicológico e de saúde; educacional,
precisam desse auxílio, uma vez que não são destinados
com cursos de português, palestras interculturais e
exclusivamente para os mesmos.
encaminhamento
para
cursos
profissionalizantes;
o
alto
número
de
pessoas
que
Um dos programas da Prefeitura para alojamentos é
mediação de trabalho entre empresas e imigrantes com
o CTA (Centro Temporário de Acolhimento). O CTA é um
visitas posteriores de acompanhamento nas empresas,
centro de acolhida temporária criado em 2017 e possui 4 21
mil vagas espalhadas por São Paulo. Ao todo conta com
e para aqueles necessitam de cuidados especiais de
19 unidades, cinco delas encontram-se na região central
saúde após alta hospitalar da rede pública. Além de tudo,
e geralmente as unidades são divididas entre homens,
o abrigo oferece auxílio à retirada de documentação
mulheres e famílias. O CTA é exclusivamente criado para
para quem precisa.
pessoas que precisam de acolhimento rápido e, uma vez por semana, disponibilizam cursos profissionalizantes.
Figura 7 – Centro Temporário de Acolhimento (CTA) Fonte: Prefeitura de São Paulo
Figura 8 – Abrigo Dom Bosco Fonte: Prefeitura de São Paulo
Outro abrigo com uma proposta diferente dos
demais é o Abrigo Dom Bosco. Nesse abrigo, as pessoas que trabalham como carroceiros podem se abrigar tendo um espaço para guardar suas carroças. O abrigo também acolhe as pessoas e seus cachorros, diferente da maioria dos outros, sendo voltado para idosos, mulheres, catadores 22
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Ao todo, pelo site da Prefeitura de São Paulo, a
média dos Centro de Acolhidas em São Paulo é entorno de 60 lugares e na sua maioria falta infraestrutura e espaço para as pessoas que necessitam. Outro aspecto muito comum e importante ressaltar é de que a maioria desses centros é dividida entre homens, mulheres e famílias, sendo que a última opção possui um valor de centros muito menores. Sendo assim, impossibilita as famílias dos refugiados permanecerem juntas.
Figura 9 – Abrigo Dom Bosco Fonte: Prefeitura de São Paulo
Figura 10 – Abrigo Dom Bosco Fonte: Prefeitura de São Paulo
23
2.3. Diáspora, Multiculturalismo e Identidade
Apesar de este deslocamento acontecer de forma
imposta, grande parte dos refugiados carrega consigo a
Segundo o dicionário Aurélio, 2017: “Diáspora:
esperança de um dia voltar à sua terra natal, seus costumes
Separação de um povo ou de muitas pessoas, por diversos
e família. Deste modo, como estes refugiados sentem-
lugares, geralmente causada por perseguição política,
se confortáveis estando em outro país, sem a opção de
religiosa, ética ou por preconceito”. O conceito de diáspora
voltar para casa por questões humanitárias, e ao mesmo
é decorrente nos dias de hoje no processo de êxodo dos
tempo não perderem seus costumes e tradições? Onde a
refugiados da sua terra natal. Um refugiado ao sair de
arquitetura pode influenciar e criar espaços para que eles
seu país, seja por questões religiosas ou políticas, carrega
possam ser acolhidos e preservar suas identidades?
consigo a identidade cultural nele presente. Desta forma,
a partir deste deslocamento, o Brasil ao recebê-los abre
identidade cultural acontece a partir do nascimento do
um grande espaço para a interação e compartilhamento
indivíduo e que seja algo não transitório, mas imutável no
de diversas identidades. Desse ponto, portanto, pode-se
sentido de se expandir ao longo de sua vida. Ela acontece
considerar que a chegada de imigrantes no Brasil amplia
a partir do parentesco e seu eu interior. Mas a partir da
o conceito de identidade nacional.
diáspora a identidade cultural se torna um conceito amplo,
O que a experiência da diáspora causa a
nossos modelos de identidade cultural? Como podemos conceber ou imaginar a identidade, a diferença e o pertencimento, após a diáspora? Já que “a identidade cultural” carrega consigo tantos tragos de unidade essencial, unicidade primordial, indivisibilidade
e
mesmice,
como
devemos
“pensar” as identidades inscritas nas relações de poder, construídas pela diferença, e disjuntará?
Em
um
primeiro
momento,
entende-se
que
permeável e mundano. A diáspora amplia a possibilidade da identidade cultural enraizada por uma população se tornar algo moldável. A partir do momento que etnias e culturas se encontram múltiplos são os resultados que podem ser gerados.
O Brasil é um país conhecido mundialmente por seu
multiculturalismo e se expande de forma heterogênea. Apesar de inúmeras vertentes que o multiculturalismo pode abranger, Hall sustenta a seguinte definição:
(HALL, 2003, 28)
24
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Em contrapartida, o termo “multiculturalismo”
e substantivo. Refere-se as estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais. E usualmente utilizado no singular, significando a Filosofia especifica ou a doutrina que sustenta as estratégias multiculturais. “Multicultural”, entretanto, é, por definição, plural. (HALL, 2003, 29)
As sociedades com múltiplas culturas são inúmeras
espalhadas pelo mundo e possuem distintas formas de apropriação do espaço que estão inseridas mas todas elas carregam um aspecto em comum: são culturalmente heterogêneas. Sendo assim, o multiculturalismo e o multicultural são termos interdependentes, se tornando difícil de serem usados de forma separadas. A imigração portanto é a peça chave das sociedades multiculturais.
25
26
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
CAPÍTULO 3
O CENTRO
3. O CENTRO
de intervenção na esfera urbana, atingindo o centro, como aponta Frúgoli Jr. Foi também na década de 60,
3.1. O Processo de Abandono do Centro
a partir do golpe militar, que o governo federal passou a desenvolver certos princípios de intervenção na esfera
Em um panorama mais amplo, o centro dos anos
urbana, sobretudo a partir do Plano Urbanístico Básico do
30 sofre grandes influências do então presidente Francisco
Município de São Paulo (1968), ponto crucial na trajetória
Prestes Maia (1938-1945) que implementou o “Plano de
entre o Estado e o urbano na cidade. No caso do Centro,
Avenidas” e tinha uma concepção inovadora de cidade
pode-se constatar que um dos resultados da intervenção
moderna, focando no sistema viário, transformação na
num contexto autoritário acarretou, em São Paulo, obras
paisagem urbana e ampliação da área, como explica
descabidas e predatórias. (FRÚGOLI JR, 2000)
Frúgoli Jr. Nessa perspectiva, foi feita a remodelação
do Parque do Anhangabaú, visando torná-lo a “sala de
que a segregação espacial foi ocorrendo, decorrente do
visitas” da cidade; a instalação da Assembleia Legislativa
deslocamento das classes dominantes para outros locais
na Praça da República; a transformação do Largo da Sé,
da cidade. Esse processo começa a acontecer após
até então uma garagem pública, numa praça “digna
a metade do século XIX, anteriormente a isso as classes
e bela”; a uniformização das fachadas dos prédios, à
dominantes fixavam-se no triângulo entre as ruas 15 de
semelhança da Paris de Haussmann. (FRÚGOLI JR, 2000)
Novembro, São Bento e Direita. Após esse processo de
A partir dos anos 50, o centro amplificou sua
saída do Centro, as elites transferiram-se para bairros como
importância como espaço cultural e intelectual da cidade,
Campos Elíseos, Vila Buarque, Santa Cecília e proximidades
juntamente com uma ideia de transformar São Paulo em
da Avenida Paulista. Consequentemente, na região da Sé,
uma metrópole cosmopolita. Getúlio Vargas (1951-1954),
já se notava uma ocupação de baixa renda.
A transformação do centro acontece à medida
presidente na época, priorizava o capital nacional e a concentração na produção de bens de capital, como a siderurgia. Na chegada da década de 60, a partir do golpe militar, o governo desenvolveu certos princípios
28
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Esse processo auxiliou na criação de um Centro
nos prédios que antes se encontravam abandonados.
expandido. O processo de crescimento acarretou na
O centro então assume uma natureza heterogênea,
gradativa saída das elites do centro tradicional, que
propiciando a interação de todas as classes. Desse modo,
buscavam áreas mais afastadas do centro para residir,
para a elite paulistana, o Centro agora é um local de
ocasionando o surgimento do centro expandido,
minorias, pobre e sujo.
atraindo para as suas proximidades os investimentos
e instalações dos setores público e privado. (VILLAÇA,
“decadência” do Centro é tão somente sua tomada
2001).
pelas camadas populares, justamente sua tomada pela maioria da população. Nessas condições, sendo
A área central prosseguiu sendo alvo de alguns
investimentos
Aquilo que se chama ideologicamente de
públicos
que
demandavam
o centro realmente da maioria, ele é o Centro da
razoável
Cidade. (VILLAÇA, 998, 283)
infraestrutura, mas não foram capazes de impedir o processo de deterioração. A lógica do desenvolvimento urbano de
São Paulo continuou a seguir pelo quadrante sudoeste,
sendo o principal fator de deterioração do centro. Em
camadas populares e muitos dos seus prédios até então
1950 a Avenida Paulista tornou-se o novo polo econômico
vazios são ocupados por quem precisa de moradia. Os
da cidade. Formam-se então concomitantemente os
movimentos populares da periferia começam a agir
subcentros como Lapa, Brás, Pinheiros, Consolação, Vila
mais efetivamente na região central. Assim, suas ações
Buarque, Paraíso, Jardim Paulista, ocupando o antigo
acontecem com o discurso com base na reforma urbana
espaço do Centro tradicional de São Paulo.
que legitima a ocupação dos imóveis em função dos
direitos humanos.
Em consequência desse processo de esvaziamento
Sendo assim o Centro possui como sua maioria as
da elite do centro, os investimentos para a manutenção da área foram diminuindo na mesma frequência, resultando no abandono de muitos prédios e locais públicos. A degradação aconteceu sem impedimentos e possibilitou a vinda da população de menor renda que passou a residir 29
3.2. A Reestruturação do Centro
motivada, segundo um relatório interno, pelo interesse em participar no processo de recuperação do Centro
A partir da década de 70, o Centro já se caracterizava
iniciado durante a gestão Erundina, foi fundamental para
como um local essencialmente popular e de consumo.
a disseminação da ideia de revitalização na opinião
Nesse mesmo período, começaram a aparecer iniciativas
pública. (KARA, 2010). Assim, consolidava-se a ideia de
municipais voltadas para a revitalização dessa área. Grande
um polo cultural na região central, especialmente na Luz,
parte dessas ações tinham a premissa de melhoramento
associando-se a recuperação do patrimônio histórico e
da paisagem urbana e preservação do patrimônio
novos equipamentos culturais que auxiliaram de forma
histórico e contavam com intervenções e restauração de
efetiva no processo de reestruturação do centro. Como
antigos prédios da área central. Algumas dessas ações
nas outras operações, a ação na Luz não possibilitou a
tinham a pretensão de atrair o setor privado, a exemplo
vinda do mercado imobiliário para a região.
da Operação Urbana para o Vale do Anhangabaú (1991)
e a Operação Urbana Centro (1993). Ambos os casos não
nesse processo são as iniciativas de recuperação do
geraram o resultado esperado, afirmando a tendência de
patrimônio histórico, como por exemplo o antigo edifício
deslocamento da massa dominante para o quadrante
dos Correios, implantação do Centro Cultural Banco do
sudoeste.
Brasil, entre outros. A partir disso, percebe-se uma intenção
alguns
de repovoamento no centro de São Paulo. Paralelamente
questionamentos sobre as intervenções no centro. A ideia
aos acontecimentos descritos, a ideia de repovoamento
de repovoamento sempre foi constante. Apesar de ser
do Centro começava a entrar com força na pauta sobre
um local extremamente movimentado ao dia, à noite
os rumos da região, sobretudo a produção de habitação
as ruas se tornavam desertas e consequentemente esse
popular. (KARA, 2010) A gestão de Marta Suplicy (2001-
vazio acarretava em um pensamento de que as ruas
2004) reafirmou desde o início a preocupação com o
estando vazias abriam espaço para moradores de ruas.
Centro. Aliados a essa gestão, aconteceram os programas
Uma iniciativa privada de extrema importância para o
Morar no Centro e Reconstruir o Centro. Esses programas
processo de revitalização foi o Viva o Centro, em 1991.
localizavam locais com imóveis vazios e os transformavam
O papel do Viva o Centro, cuja formação teria sido
em habitação.
30
Por
volta
de
1990
aconteceram
Outro acontecimento que impacta diretamente
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
A degradação do Centro sempre esteve vinculada
com o processo de saída da elite e a chegada de uma classe de pessoas com a renda baixa. No início do processo de revitalização, o foco foi o retorno das classes dominantes e da especulação imobiliária para a área, afastando assim moradores de rua, por exemplo. Em contrapartida, diversas ações apoiaram o caráter popular no Centro, ocupando diversos imóveis vazios e que trazem o povoamento para o local que sofreu muito com o processo de abandono.
31
32
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
CAPÍTULO 4
ESTUDOS DE CASO
4. ESTUDOS DE CASO
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, no
4.1. Residêncial Vila dos Idosos
é de pessoas com mais de 60 anos, o que resulta em mais
ano de 2000, cerca de 9,3% da população de São Paulo de 973 mil habitantes.
O projeto foi decorrente de uma iniciativa da
Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB), a partir do programa Morar no Centro. O projeto desenvolve-se na premissa de criar um alojamento para idosos no centro de São Paulo, mais especificamente no bairro do Pari. O projeto altera o modelo já fundamentado em São Paulo para habitações públicas que são geralmente longe das centralidades urbanas. O alojamento diferenciase ao facilitar o acesso tanto à moradia como a vivência Figura 11 – Vila dos Idosos Fonte: Azul Serra
da cidade, pois se encontra em uma zona de centralidade.
O Pari é um bairro central, estruturado, mas que
com o tempo foi perdendo sua população e como consequência muitos imóveis ficaram sem uso. A medida
Ficha Técnica:
desta ocorrência, o bairro começou a se degradar em
Arquiteto: VIGLIECCA&ASSOC
alguns âmbitos e teve sua dinâmica enfraquecida.
Localização: São Paulo, SP
Área de intervenção: 7.270 m²
é a maneira como os edifícios foram implantados:
Ano: 2003-2007
perifericamente. Ao tomar essa decisão, o projeto integra-
Outro contraponto como modelo já pré-existente
se de maneira eficaz com o restante do bairro, como
A Vila dos Idosos nasceu de uma necessidade que
mostra o desenho da implantação abaixo:
cresce cada dia mais: moradia para idosos. O Instituto
34
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 12 – Implantação Fonte: Vigliecca
O programa é dividido em quatro pavimentos,
Figura 13 – Desenho das Unidades Fonte: Vigliecca
A organização em um modelo de circulação
contendo duas circulações verticais com escadas e
horizontal comum auxilia na orientação e insolação
elevadores, consistindo em:
das unidades. Essa organização se torna facilitadora na interação de pessoas pois ao longo das circulações são
- 145 unidades, sendo 57 apartamentos de um dormitório
formados grandes espaços coletivos. Os grandes pátios
de 42m² e 88 monoambientes de 30m². 25% das unidades
verdes são auxiliadores nesse processo de interação entre
são adaptadas para deficientes físicos.
os moradores e também com o bairro do Pari.
- 3 salas para jogos e tv.
- 4 salas multiuso. - 1 salão comunitário com cozinha e sanitários. - 1 quadra de bocha. - 1 horta comunitária
35
O projeto é interessante como estudo de caso
a medida que trata da problemática de abrigos, alojamentos e sua localização. A Vila dos Idosos retoma algo fundamental para São Paulo que é a moradia na região central e as possibilidades que essa apropriação do espaço traz para a cidade. A medida que o projeto foi implementado, o bairro ganhou novas dinâmicas e fluxos, o que comprova o quanto a arquitetura impacta diretamente no cotidiano de um bairro e das pessoas que Figura 14 – Vila dos Idosos e ao lado esquerdo Biblioteca Pública Adelpha Figueiredo Fonte: Azul Serra
moram em seus arredores.
Outra questão importante é a atenção ao público
que o alojamento irá receber e o olhar humanitário nessa acolhida. Os quartos são pensados exclusivamente para os idosos que irão utilizá-lo e os espaços compartilhados reforçam a convivência dos mesmos. A arquitetura influencia diretamente no conforto e uso dos usuários.
Figura 15 – Vila dos Idosos Fonte: Azul Serra
36
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
4.2. Convento de Sant Francesc
Ficha técnica: Arquiteto: David Closes Localização: Santpedor, Espanha Área de intervenção: 950 m² Ano: 2011
O projeto de intervenção acontece em uma antiga
igreja do século XVIII, localizada na cidade de Santpedor, na Espanha. A igreja e o convento foram construídos entre 1721 e 1729 e exerceram seu uso até 1835. Mas em 2000, o convento (em ruínas) foi demolido pelo Estado, restando apenas a Igreja e parte do muro perimetral.
O projeto prevê três fases, na primeira e segunda
aconteceu a conversão dos espaços para um centro cultural com auditório e espaços multiusos. A terceira, ainda não executada, é pensada para que os pavimentos superiores da igreja, sejam arquivos históricos.
Em 2003, iniciou-se o projeto de intervenção que
tinha como premissa manter o tamanho e a qualidade espacial da nave da igreja e a luz natural. Outro aspecto importante e que vale ser ressaltado foi diferenciação de elementos construtivos novos e antigos, tendo em vista a preservação de todos os elementos que traduzem a Figura 16 – Convento de Sant Francesc Fonte: Jordi Surroca
história do local. A intervenção, portanto, não escondeu cicatrizes, rasgos e feridas ocasionadas com o tempo.
37
Novos usos e volumes eram necessários para o projeto
trazendo um enorme desafio para manter a unidade e dimensão da igreja. O projeto trouxe elementos que antes não existiam, como escadas, salas de equipamento e maior quantidade de banheiros. Para a unidade da igreja ser preservada, muitos desses programas foram levados para o lado de fora da edificação ou, quando dentro, com uma visão unificada do espaço.
A igreja, que se encontrava em ruínas, tinha seu
telhado afundado, não exista mais o coral e as abóbodas da
nave
e
capelas
haviam
caído
parcialmente.
Paralelamente a isso, uma luz inesperada invadiu a entrada realçando o interior da igreja com luzes que antes não transpassavam o local. Assim, claraboias foram criadas para que essa luz fosse mantida.
A construção da prumada de escadas e rampas
também garantem um aspecto singular na experiência de conhecer Sant Francesc, pois elas definem um trajeto que faz com que todo o museu seja visto e revisto como um todo de diferentes pontos de vista.
Figura 17– Convento de Sant Francesc Fonte: Jordi Surroca
38
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Os
métodos
de
construção
contemporâneos
reforçam a história e os sinais do convento. A intervenção atinge seu objetivo principal: preservar o legado histórico do prédio, acrescentando novos usos e valores.
O projeto se aproxima da proposta de intervenção
ao enfatizar o valor histórico que o antigo edifício contém. O projeto ressalta com a arquitetura esse legado ao diferenciar as marcas ocasionadas com o tempo e as novas intervenções necessárias. Algo que também se assemelha a proposta é a necessidade de uma infraestrutura mais qualificada e com maior dimensão que atenda ao novo programa proposto. O projeto traz vida ao edifício que estava em ruinas e sem uso.
Figura 18 – Convento de Sant Francesc Fonte: Jordi Surroca
39
4.3. RedBull Station de São Paulo
energia Light, hoje Eletropaulo. O projeto abriga espaços dedicados às artes, música e representações artísticas. A sua localização convida a população a abrigar áreas do Centro que antes estavam abandonadas.
Além de respeitar as leis de tombamento, que se
restringia apenas a preservação da fachada, o projeto foi concebido para ressaltar a beleza do edifício antigo e amplia o foco para as estruturas já existentes, como as grandes vigas curvas e os enormes vãos. Ainda pensando nas estruturas originais, a camada de pintura dos pilares aparentes
foi
descascada
com
hidrojateamentos
contínuos que revelaram as primeiras cores utilizadas.
A ideia entre o antigo e o novo se torna aparente na
criação de uma grande escada e marquises metálicas que Figura 19 – RedBull Station Fonte: Pedro Kok
dão acesso à cobertura do edifício. As lajes de cobertura se mantiveram aparentes sem serem mexidas, com as marcas do uso original.
Ficha Técnica Arquiteto: Tryptyque Localização: São Paulo, Brasil Área de intervenção: 748m² Ano: 2013
O RedBull Station foi fruto do restauro de um prédio
tombado da década de 20. O edifício abrigava as estações de transformação elétrica da companhia de 40
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
As áreas com tijolos foram preservadas em alguns
locais buscando ressaltar a memória da arquitetura dos anos 20. Nova cobertura em estrutura metálica apoiada sobre pilar metálico no terreno e outro pilar metálico foi criada sobre o edifício existente. Segundo a própria equipe de projeto, a essência do prédio foi mantida e a beleza dos seus elementos potencializadas.
Figura 21 – Cobertura Fonte: Pedro Kok
Figura 20 – Escada de Estrutura Metálica Fonte: Pedro Kok
Os sistemas de instalações, energia e conforto
ambiental também foram requalificados, com a criação de áreas técnicas em cisterna subterrânea existente para atender o novo programa. A nova cobertura metálica 41
também auxilia na captação de água pluvial e futuramente serão instalados painéis fotovoltaicos. A antiga torre de resfriamento de água foi reativada tornando-se uma fonte na cobertura, auxiliando a qualidade do ar e conforto ambiental.
A tipologia do prédio se divide em subsolo, que
anteriormente era inundado e hoje passa a ser utilizado, térreo,
mezanino,
primeiro
pavimento
e
cobertura.
Elementos não estruturais foram tirados dando espaço a uma planta livre para melhor circulação e espaço para
Figura 22 – Corte Longitudinal Fonte: Tryptique
áreas de exposições.
O programa é composto no térreo com áreas de
Os pontos que se aproximam do projeto são que os
exposições multiusos, grande galeria e um estúdio de
dois nasceram de partidos semelhantes: preservação da
gravação. O subsolo foi modificado em um espaço
fachada existente e novo uso ao edifício sem utilização.
expositivo, com sala de ensaios e camarins. No mezanino
O projeto ressalta todos os valores históricos que o prédio
encontra-se a parte administrativa. Já o pavimento
simboliza para a cidade e cria um ambiente de cultura
superior abriga ateliês para artistas, uma galeria transitória
com espaços para diversas atividades. A escolha dos
para os trabalhos em processo de acabamento e espaço
materiais ressalta a estrutura previamente existe e a busca
de uso coletivo para palestras e workshops. Na cobertura,
pelas cores originais do edifício retomam a identidade do
o visitante é convidado a contemplar a cidade de São
mesmo.
Paulo, seu resgate e história.
42
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
43
44
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
CAPÍTULO 5
PROJETO DE INTERVENÇÃO
5. PROJETO DE INTERVENÇÃO 5.1. Levantamento do Entorno
Figura 23 – Uso e Ocupação do Solo Fonte: GeoSampa Residencial Vertical Sem Informação
Residência, Comércio e Serviço Comércio e Serviço Equipamento Público
Por se encontrar na região central, o bairro da
República é reconhecido pela pluralidade de comércios e serviços. A partir do mapa de uso e ocupação das proximidades do terreno, nota-se o quanto esse caráter é predominante. Outro aspecto muito decorrente no galerias em toda a sua imediação, entre elas a famosa
Figura 24 – Foto tirada da Galeria do Rock com visão para o prédio escolhido Fonte: Autoral
Galeria do Rock.
entorno do prédio escolhido para a intervenção são as
46
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
A Avenida São João abriga também muitos
comércios de rua em toda sua extensão. Através das visitas de campo é possível notar o quanto esses comércios movimentam a região tanto nos dias úteis como também aos fins de semana. O espaço formal posiciona-se predominantemente nos edifícios em espaços privativos, que muitas vezes estão posicionados nas próprias galerias. Essa situação se repete em toda região central de São Paulo, contrastando-se com o grande número de camelôs e vendedores ambulantes, onde eles possuem pouco espaço autorizado para permanecer, como aponta o mapa abaixo que mostra toda a região central de São Paulo.
Figura 25 – Distribuição dos Camelôs Autorizados Fonte: Viva o Centro
47
Figura 26 – Comércio Informal na Avenida São João Fonte: Autoral
Como já comentado anteriormente, em todo o
Centro nota-se a presença de muitos imóveis sem uso ou subutilizados promovendo vazios urbanos. Um grande número é composto por estacionamentos, mas também existem muitos edifícios somente com seu térreo em funcionamento ou totalmente desocupado. No bairro da República é notável o número de edifícios vazios que sofreram desvalorização pelo mercado imobiliário mas que podem abrigar pessoas que hoje se encontram sem
Figura 27 – Condição dos edifícios no Centro Fonte: Cotelo, 2010
moradia e os que chegam na cidade, como no caso dos refugiados.
48
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Reafirmando o que os mapas de uso ocupação do
A infraestrutura de transporte central é bem
solo e condição dos edifícios mostram, encontra-se o mapa
servida. O centro é o local da cidade onde existe a maior
de densidade demográfica do bairro da República. Nele,
concentração de transporte sobre trilho e também uma
observa-se grandes locais com a densidade em seu nível
extensa gama de linhas de ônibus, como mostra a figura
mais baixo, o que se torna um contraponto interessante
25 abaixo. O bairro é cortado pela linha 3 – vermelha
pela sua localização. A área se divide em locais com alta,
do metrô, que também possui diversas estações por
média e baixa densidade populacional, especificamente
toda região central, como: São Bento, Luz, República,
próximo ao terreno de intervenção a área possui uma
Anhangabaú, Santa Cecília, entre outras; e pela linha 4 –
densidade demográfica baixa.
amarela, ambas fazem conexão com a linha azul. A linha azul acontece no eixo norte e sul de São Paulo, enquanto a amarela permite o acesso à zona sudoeste da cidade. Dessa forma, é possível o acesso à todas as regiões da cidade.
O transporte viário público também é expressivo,
passando pelas principais ruas e interior das quadras, com diversas paradas, com exceção dos locais onde existem calçadões, como é o caso da própria Avenida São João. Este fato decorre pela própria apropriação comercial do espaço, onde o número de pedestres torna-se cada vez maior. Figura 28 – Densidade Demográfica Fonte: GeoSampa Até 92 habitantes De 92-146 habitantes De 146-207 habitantes De 207-351 habitantes De 351-30346 habitantes
49
Figura 29 – Rede de Transporte Público Fonte: GeoSampa
50
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
5.2. Análise Patrimonial
Ao desconsiderar o centro histórico como
um todo, representatividade de um sistema de
O
processo
de
patrimonialização
advém
de
objetos pretéritos estabelecidos no espaço enquanto
elementos da paisagem que são considerados sagrados,
totalidade dinâmica, e valorizar objetos isolados, o
intocáveis, donos de um valor único, simbólico, e,
edifício consagrado, fica claro que essa Carta tinha um
sobretudo, independentes do contexto que estão inseridos.
caráter um tanto restritivo em termos de preservação
Como constata Meneses: “O monumento é sempre algo
e valorização da sociedade e da própria formação
que seu entorno não é”. (MENESES,1996). Sendo assim, o
territorial. (COSTA, 2012)
monumento pode assumir diversos significados no território em que se encontra.
Com o passar do tempo, a ideia de Monumento
Carta de Atenas é o início das primeiras diretrizes legislativas
Histórico passou a dar lugar ao Patrimônio Histórico e por
de preservação, o que ocorre primeiro na França e depois
fim, Patrimônio Cultural. O Patrimônio Cultural envolve não
são disseminadas para outros países.
somente o monumento, mas também objetos, costumes,
ritos e seus significados, sendo que pouco a pouco
de águas na questão patrimonial do mundo. Na carta, o
abandona a ideia de valorização de algo independente
patrimônio é tratado como algo que possui função útil para
e isolado e passa ser algo conjunto.
a sociedade. Também ressalta que os conjuntos urbanos
Na Carta de Atenas (1931), elaborada em contexto
históricos podem sofrer adaptação às necessidades atuais.
de pós guerra, o conceito de monumento ainda é muito
Sendo assim, a revitalização do monumento permite outros
decorrente. Nela, os centros históricos como um todo não
programas diferentes ao original.
são valorizados e se mantém o raciocínio de preservar
apenas edifícios isolados.
é de que nela o patrimônio concebe dimensões temporal
Outro aspecto importante para ressaltar é de que a
Já a Carta de Veneza (1964), torna-se um divisor
Algo extremamente importante na Carta de Veneza
e espacial, afirmando que o monumento é inseparável de sua história e do local em que está inserido. Nela também afirma que as restaurações devem ser acompanhadas por estudos históricos e arqueológicos e a preservação 51
dos centros históricos deve ser assegurada mantendo sua valorização e manutenção, como mostra no Art. 1º: “A conservação e a restauração dos monumentos visam a salvaguardar tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico”.
Já
na
Convenção
Relativa
à
Proteção
do
Patrimônio Mundial Cultural e Natural (1972), através de uma conferência Geral da UNESCO, consolidou-se a ideia de Patrimônio Cultural. Nela, criou-se uma Lista do Patrimônio Mundial para proteger lugares de interesses culturais e naturais. Outra medida foi difundir pelo mundo a existência deste patrimônio e despertar na opinião pública a consciência de sua importância e preservação.
Para Choay (2001), o patrimônio se enriquece, então,
continuamente, como novos tesouros que não param de ser valorizados e explorados. O Patrimônio, então, possui uma visibilidade e importância inigualável na história, sendo extremamente rico de significado e cultura.
52
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
5.3. O Antigo Hotel Municipal
A região central é reconhecida pelo seu grande
número de imóveis tombados e com valor histórico. Essa concentração acontece à medida que São Paulo cresce e o centro é o grande local que abriga as principais atividades econômicas da cidade. Sendo assim, os prédios acompanham esse período. Hoje, mesmo com a mudança do centro econômico da cidade para o quadrante sudoeste, o antigos prédios mantém seu valor histórico da cidade e carregam consigo as marcas do tempo.
Com o auxílio da figura 26 fica evidente o quanto
esses prédios caracterizam o bairro da República. Pode-se tomar como exemplo a quadra do prédio escolhido para a intervenção: todos os prédios voltados para a Avenida São João são tombados. O uso atual desses prédios varia entre comércio, serviços e alguns também se encontram vazios.
Figura 30 – Imóveis Tombados Fonte: Viva o Centro
Nesse contexto encontra-se o antigo Hotel Municipal,
localizado na esquina da Avenida São João com o Largo do Paissandú, e pela pesquisa de campo foi possível concluir que o prédio hoje está totalmente desocupado.
A
execução
do
edifício
ocorre
devido
o
alargamento da Avenida São João, em meados dos anos 60. Originalmente, o prédio com o projeto do arquiteto Giulio Micheli contaria com o térreo destinado para 53
estabelecimentos comerciais e mais três pavimentos destinados a residências. Já em pesquisas no Arquivo Histórico de São Paulo, a documentação mostra que o terreno era propriedade da Sociedade Previdências de Pensões e Pecúlios que solicitou a substituição das plantas já aprovadas.
Figura 32 – Planta do Pavimento Tipo Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo
Em 1916, o edifício já se encontrava em construção
e sofreu mais uma alteração. Nela, o prédio ganharia mais um pavimento, referente ao sótão e serviria para depósitos. Figura 31 – Planta do Pavimento Térreo Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo
Após o período de construção, o edifício passou a ser propriedade da Sociedade Anônima Cotonifício Paulista e passou a abrigar o Hotel Municipal.
54
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
É importante destacar que em 1992 uma parcela
significativa do centro foi tombada pelo órgão estadual, o CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). O perímetro do tombamento engloba toda a área do Vale do Anhangabaú e suas proximidades.
O
antigo
Municipal
Hotel
foi
tombado
pela
Resolução n. 37/92 no nível de proteção 3 (NP-3), que corresponde a bens de interesse histórico, arquitetônico, paisagístico ou ambiental, determinando a preservação de suas características externas. Figura 33 – Hotel Municipal Fonte: SP Antiga
Atualmente o edifício encontra-se em situação
degradada, os elementos arquitetônicos mantém-se presentes mas com a necessidade de revitalização.
Figura 34 – Av. São João e o Hotel Municipal à esquerda | 1960 Fonte: SP Antiga
55
Figura 35 – Edifício Atualmente Fonte: Autoral
56
Figura 36 – Edifício Atualmente Fonte: Autoral
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 37 – Edifício Atualmente Fonte: Autoral
Figura 38 – Edifício Atualmente Fonte: Autoral
57
Figura 39 – Edifício Atualmente Fonte: Autoral
58
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
5.4. Diretrizes da Intervenção Patrimonial
- Criação de um espaço de acolhimento no térreo para refugiados que estarão ou não abrigados no edifício.
Por se tratar de uma intervenção patrimonial, o
Este mesmo térreo contará com espaços públicos que
projeto seguiu as seguintes diretrizes:
auxiliarão às chegadas dos refugiados na cidade.
- Preservação e revitalização da fachada existente.
- Implementação de um novo programa no pavimento do sótão que criará espaços de convivência para os que
- Considerando a fachada, os portões de alumínio que
estão abrigados no espaço.
hoje existem serão modificados para fechamentos de vidros e algumas aberturas serão fechadas respeitando
- Caracterização de um espaço público para que todos
devidamente as linhas arquitetônicas do projeto original.
os refugiados se sintam acolhidos em São Paulo.
- As prumadas hidráulicas pré-existentes devem ser
- Possibilidade de expansão do número de abrigados caso
consideradas no novo programa, visando a redução de
exista a necessidade e demanda.
custos. - Requalificação do patrimônio histórico do edifício que se - O pré-dimensionamento de quartos existentes do antigo
encontra desocupado como um novo espaço de convívio
hotel devem ser respeitados ao máximo aproveitando da
para a cidade.
sua estrutura existente e valorizando o patrimônio histórico do edifício.
- As intervenções no edifício devem ser devidamente pontuais,
- As demolição das alvenarias devem ser devidamente
diferenciando
o
antigo
do
novo.
Essa
diferenciação será feita pela escolha dos materiais.
justificadas para a qualificação do novo programa que o edifício abrigará.
59
5.5. Projeto de Intervenção
A Adus é uma instituição de reintegração ao refugiado e oferece aulas de idiomas, cursos de qualificação
A proposta de intervenção patrimonial baseia-se
profissional, apoio psicológico, entre outros. Como a Adus
fundamentalmente na chegada dos refugiados em São
contém um único andar, o projeto serviria como auxílio
Paulo e a falta de local apropriado para este acolhimento.
também à instituição já existente.
A escolha feita pelo prédio do antigo Hotel Municipal
acontece à medida que o prédio encontra-se em um local
terreno seriam o Largo do Paissandú, que se encontra à
central, de fácil acesso para as pessoas que chegam na
frente; a Praça das Artes, que possui um acesso na própria
cidade. A premissa do projeto ocorre na valorização do
Avenida São João; o Theatro Municipal, a Praça Ramos de
patrimônio histórico central de São Paulo, dando um novo
Azevedo, a Galeria do Rock, entre outras várias galerias
uso para um local que hoje está vazio e possui extrema
próximas.
Alguns outros pontos importantes próximos ao
importância histórica na arquitetura local.
2
Na esquina da Avenida São João e do Largo do
1
Paissandú encontra-se o antigo Hotel Municipal. A escolha
2
do edifício aconteceu em consequência dos inúmeros imóveis subutilizados na região do Centro, além de ser um ponto de referência e grande relevância devido a
6
3
infraestrutura ao seu redor. Por se localizar no centro, os refugiados que chegam em São Paulo conseguem de forma muito mais fácil encontrar o local de acolhimento
5 4
sem passar por dificuldades durante a trajetória. O intuito do local foi facilitar essa chegada à medida que o percurso percorrido pelos refugiados já tenha sido duro o suficiente.
Sendo assim, nas proximidades do lote escolhido
encontram-se alguns marcos da região Central como a Adus que está em um andar no prédio ao lado do terreno. 60
Figura 40 – Mapa de Sítio Fonte: Autoral 1. ADUS 2. Praça das Artes 3. Largo do Paissandú 4. Galeria do Rock 5. Theatro Municipal 6. Praça Ramos Azevedo
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Outro aspecto que auxilia no novo programa
aos quartos e os outros ambientes do antigo hotel.
desejado é a antiga planta do edifício que já possui
divisões de quartos e locais de convívio. A proposta
andares com 11 quartos cada um, com áreas variadas
então assume o caráter de intervenção respeitando a
entre 10 e 30m². Além dos quartos, os andares continham
história e a estrutura existente. Em relação à memória, ela
cozinha, copa, sala de jantar, sala de visitas e banheiros
é reacendida, pois o novo programa trará pontos muito
compartilhados. Já no último pavimento, encontrava-
próximos do antigo, como quartos para hospedagem e
se o sótão que dava lugar para um grande depósito.
espaços de convivência. A antiga memória do hotel será
Atualmente todas as entradas do edifício se encontram
somada com as novas memórias e múltiplas culturas que
lacradas, impossibilitando saber sobre o verdadeiro
se encontrarão no novo espaço de acolhimento.
estado da estrutura e das paredes internas e se existem
modificações da planta que hoje está arquivada no
Vale ressaltar que apesar do edifício estar tombado
pelo órgão estadual, o atual estado dele é extremamente
Com circulação estreita, o hotel abrigava três
Arquivo Histórico de São Paulo.
alarmante, nem mesmo os comércios no térreo que existiam após a desocupação do prédio estão mais no local. Caso alguma medida não seja tomada, o edifício está sujeito a ruir e desaparecer. Sendo assim, a intervenção auxiliará na proteção de sua história.
2
Pensando no novo programa interno, uma análise das 1
plantas originais foi necessária. A planta do térreo original não apresenta quase nenhum tipo de divisão interna, pelas fotos e histórico é possível verificar que esta área foi direcionada para comércio e serviços. No entanto, na pesquisa de campo foi afirmado que hoje esse caráter não existe mais. A entrada para os quartos do hotel acontecia em uma entrada única e central, na Avenida São João. Ao entrar, uma prumada de escadas conduziria os hóspedes
0 1 Figura 41 – Planta Original do Térreo Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo
5
10
Antigo Programa 1. Comércios 2. W.C. 61
1 1
2
4 3
5
1
4
1
1
3
6 2
1
1
1
5 0 1 Figura 42 – Planta Original do Pavimento Tipo Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo
1
1
1
10
Antigo Programa 1. Quartos 2. W.C. 3. Cozinha 4. Copa 5. Sala de Visitas 6. Sala de Jantar
0
1
5
10
Figura 43 – Fachada Original do Prédio Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo
Uma das premissas do projeto foi enaltecer o valor histórico do edifício. Para isso, sua fachada tombada e sua estrutura existente foram preservadas e revitalizadas. Além disso, o antigo programa distribuído na época que o edifício era um hotel foi o fio condutor para a realocação do novo programa proposto. As prumadas hidráulicas foram respeitadas e o térreo abriga espaço para um programa público de atendimento a todos os refugiados, tanto os que estão hospedados como também os que não estão. 62
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
com os alojamentos que são do segundo ao quarto
andar. O acesso acontece pela escada existente e
também
por
um
novo
elevador
de
estrutura
metálica e vidro que auxilia a divisão entre o espaço público do jardim e dos hóspedes no hall social.
Neste
mesmo
hall
social
existe
o
acesso
à
brinquedoteca. Esta brinquedoteca destina-se às crianças que estão hospedadas no abrigo e ela contém dois grandes espaços: um aberto e um fechado, com área livre Público
para as crianças brincarem. Ao lado da brinquedoteca,
Privado
foi criado um acesso de serviço à área externa que pode
Figura 44 – Diagrama de Público e Privado Fonte: Autoral
O lote encontra-se em uma esquina privilegiada da
ser utilizado caso a brinquedoteca esteja fechada. O público que não for se hospedar possui o acesso livre para o restante de todo o pavimento térreo.
Avenida São João. Neste contexto, a entrada original do prédio foi mantida como acesso principal ao edifício e os fluxos são divididos entre público e privado internamente. Ao entrar, a grande escada existente é a primeira visão do visitante ou do hóspede, destacando o valor histórico do edifício. Nesta mesma escada, uma claraboia que engloba toda a sua extensão traz iluminação e a ressalta. Logo na entrada uma recepção dará o suporte necessário às pessoas que irão se hospedar no abrigo, elas serão conduzidas a um grande hall social que se encontra atrás de uma cortina de vidro posterior à recepção. Após serem conduzidas, os refugiados podem acessar os pavimentos
Privado Público Figura 45 – Diagrama de Fluxos Fonte: Autoral
63
O
programa do
em
grandes
para
os
suas
dificuldades
pavimento
espaços
divide
passar pelo corredor, um grande átrio central que
especialmente
abriga também locais para exposição juntamente com
térreo
voltados
se
às
espaço de espera. Esse espaço de espera destina-
sociedade.
se para as salas de apoio psicológico e de retirada
No térreo encontramos logo ao lado da recepção
de documentos. Ao lado desses espaços, na esquina
um grande espaço para eventos, palestras ou festas
do prédio, está a administração de todo o edifício.
que possam existir. Este espaço possui uma cozinha que
está dividida entre o salão com um balcão que dará
espaço no programa caracterizando um espaço de
suporte a mesma, ao lado encontra-se dois banheiros
descanso e tranquilidade. Do jardim é possível enxergar
que servem ao espaço. Este ambiente possui um grande
o elevador que dá acesso aos pavimentos dos quartos
vazio que engloba todos os pavimentos do edifício,
e também divide as duas áreas.
trazendo ventilação e iluminação para todos os andares.
banheiros que respeitam a antiga prumada hidráulica
Este vazio possui grandes fechamentos em vidro que
dão suporte ao pavimento. Ao lado também localiza-
podem ser abertos ou fechados a depender da situação.
se uma copa que auxilia os funcionários do local.
refugiados,
Percorrendo
e
o
como
forma
reintegração
pavimento
de na
térreo
auxílio
encontram-
Um pouco mais ao fundo, um jardim ganha
Ainda no térreo,
Nesta planta as alvenarias centrais que dividiam o
têm
edifício em dois grandes ambientes foram demolidas como
como intuito o aprendizado do idioma português e
também as que faziam o fechamento para a área aberta do
possuem uma divisão interna que pode ser aberta
lote. A construção das novas alvenarias foram necessárias
transformando-as em um único ambiente. As salas de
para atingir o programa novo desejado e faz toda a nova
aula também contém um grande fechamento em vidro
divisão interna e cria os novos lugares de interação social.
se
duas
grandes
salas
de
aula.
Estas
salas
e acesso a um jardim, trazendo claridade à ambas.
Percorrendo o corredor de entrada, localiza-se
grandes painéis para exposições. Estes mesmos painéis podem ser vistos também por quem passa pela rua e olha para o edifício, uma vez que o mesmo terá quase todos os seus fechamentos da fachada em vidro. Após 64
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Figura 46 – Planta A Demolir do Térreo Fonte: Autoral
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Figura 47 – Planta A Construir do Térreo Fonte: Autoral
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Figura 48 - Diagrama de Andar Correspondente à Planta
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Programa 1. Recepção 2. Espaço Para Eventos 3. Hall Social 4. Entrada de Serviço 5. Brinquedoteca 6. Sala de Aula 7. Jardim 8. Exposições/ Espera 9. Copa 10. Retirada de Documentos 11. Apoio Psicologico 12. Administração 13. W.C 14. Cozinha
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 49 – Planta Pavimento Térreo
Figura 50 – Imagem Ilustrativa da Recepção Fonte: Autoral
Figura 51 – Imagem Ilustrativa da à rea de Espera Fonte: Autoral
Figura 52 – Imagem Ilustrativa da Sala de Aula Fonte: Autoral
Figura 53 – Imagem Ilustrativa do Jardim Fonte: Autoral
Figura 54 – Imagem Ilustrativa da à rea de Eventos Fonte: Autoral
Figura 55 – Imagem Ilustrativa da Brinquedoteca Fonte: Autoral
O segundo, terceiro e quarto pavimento possuem
Todas as camas podem se transformar em beliches e as
a mesma divisão interna do programa. Logo ao sair do
camas de casal também podem dar lugar para novos
elevador, um grande hall social e espaço de espera é
beliches que serão armazenados no depósito do sótão. Os
criado. Neste espaço existe a visão de um grande vazio
quartos também possuem acesso integrado caso membros
com fechamento em vidro que se repete em todos os
da mesma família não consigam ficar juntos. Outra forma
pavimentos.
de garantir a privacidade dos refugiados são separações
Em todos os três pavimentos, existe um refeitório
móveis entre as camas que podem ser movimentadas
de cinco ilhas com equipamentos de cozinha para
caso necessário. Algum dos quartos também possuem
cada um. Dessa forma fica garantida a liberdade dos
uma varanda com visão para a Avenida São João e ao
refugiados cozinharem o que estão mais acostumados
Largo do Paissandú.
a comer e seguirem suas tradições. Grandes mesas
para refeição garantem a interação entre as pessoas
estão dispostos do lado oposto ao refeitório, onde
que estão hospedadas no abrigo. No refeitório também
originalmente também existiam banheiros, cozinha e
existe a visão para o grande vazio que existe entre todos
copa dando suporte para todos as pessoas que estão
os pavimentos e auxilia na iluminação e ventilação
abrigadas.
do ambiente de cocção. O ambiente também possui
espaço de estar foi criado como um mirante para a ampla
fechamento
visão da Avenida São João e do Largo do Paissandú.
em
vidro
que
garante
a
visibilidade
Grandes banheiros e vestiários compartilhados
Nestes
Na esquina de todas as plantas tipo um
para o espaço aberto que existe ao fundo do lote.
pavimentos
a
maioria
das
alvenarias
Ao percorrer toda a circulação interna encontram-
existentes foram respeitadas pois auxiliaram no processo
se os quartos para a hospedagem dos refugiados. Os
de divisão dos novos locais de acolhimento. As alvenarias
quartos que totalizam-se 11 por andar e foram pensados
que foram escolhidas para a demolição darão espaço
de modo que 27 pessoas no mínimo, por pavimento,
para a criação dos refeitórios como também os banheiros
possam se hospedar, totalizando 81 pessoas somando os
e vestiários.
três pavimentos. O layout proposto para os quartos possui abertura para ser transformado caso exista a necessidade de hospedar mais pessoas do que o mínimo estipulado. 74
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Figura 56 – Planta A Demolir do Pavimento Tipo Fonte: Autoral
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Figura 57 – Planta A Construir do Pavimento Tipo Fonte: Autoral
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Figura 58 - Diagrama de Andar Correspondente à Planta Programa 1. Refeitório 2. Hall Social 3. Vestiário 4. W.C. 5. Alojamentos Flexíveis 6. Mirante
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PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 59 – Planta Pavimento Tipo
Figura 60 – Imagem Ilustrativa dos Alojamentos Fonte: Autoral
Figura 61 – Corte AA
Figura 62 – Imagem Ilustrativa do Refeitório Fonte: Autoral
Figura 63 – Imagem Ilustrativa do Mirante Fonte: Autoral
O terceiro pavimento que diz respeito ao sótão foi
biblioteca abriga dois espaços, um para leitura e estudo
pensado exclusivamente para espaços de entretenimento
e o segundo com cabines individuais para acesso à
e convívio. Logo ao lado do hall social encontra-se uma
internet. Uma recepção central garante o auxílio das
grande lavanderia que serve todas as pessoas que estão
pessoas para os dois ambientes. Na biblioteca, os
no abrigo. Esta lavanderia contém máquinas de lavar e
espaços para leitura foram pensados com vista para as
secar do tipo industriais fixadas umas sobre as outras, em
paisagens externas. Todo o lado esquerdo desta planta
torre. Ao centro, uma extensa ilha foi projetada para que as
corresponde a ambientes mais calmos e silenciosos.
pessoas possam passar as suas roupas. Um grande armário
por toda extensão da parede oposta à entrada também
pavimento. Ao seu lado encontra-se o depósito para as
foi pensado para guardar produtos e equipamentos úteis.
camas e outros objetos que devem ser armazenados.
O local de espera acontece a frente da ilha de passar
roupa e dois dos fechamentos da lavanderia são em vidro,
construídas neste pavimento, nada precisou ser demolido.
garantindo luminosidade e ventilação para o espaço.
As novas alvenarias garantem a divisão dos espaços
propostos para o convívio.
Percorrendo um pouco mais à frente no hall
Dois grandes banheiros também servem à todo o
Como
anteriormente
não
existiam
alvenarias
social, duas salas multiuso foram divididas no lado direito da planta. Estas salas servem como suporte às aulas profissionalizantes, oficinas, artesanato, entre outras. As duas possuem grandes armários para armazenagem e pias de apoio.
À frente da escada, duas salas de televisão foram
projetadas. Esse espaço possui um layout mais livre, podendo-se mover as cadeiras, poltronas e pufes. As salas também possuem uma divisão interna, como nas salas de aula do térreo. Esta divisão pode ser recolhida transformando o ambiente em um único e amplo espaço. 82
Ao lado das salas de televisão, uma pequena PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
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Figura 64 – Planta A Construir do Pavimento Sótão Fonte: Autoral
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Figura 65 - Diagrama de Andar Correspondente à Planta Programa 1. Lavanderia 2. Salas Multiuso 3. Salas de TV 4. Biblioteca 5. Sala de Computadores 6. Depósito 7. W.C. 8. Hall Social
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PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 66 – Planta Pavimento Sótão
Figura 67 – Corte BB
Figura 68 – Corte CC
Figura 69 – Imagem Ilustrativa da Biblioteca Fonte: Autoral
Figura 70 – Planta Cobertura
Figura 71 – Imagem Ilustrativa da Biblioteca Fonte: Autoral
Figura 72 – Corte DD
Figura 73 – Imagem Ilustrativa da Lavanderia Fonte: Autoral
93
CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
de origem brasileira.
O projeto levanta questões sérias e conflitantes,
situação dos prédios abandonados e subutilizados em
como o drama dos refugiados ao redor do mundo,
toda região central. Região essa que possui uma enorme
sua acolhida e chegada em novas cidades e países.
infraestrutura para abrigar pessoas que necessitam
Quando se considera o panorama geral da problemática
de
dos refugiados, entende-se que este fenômeno possui
um caráter mundial e deve ser tratado com um olhar
de moradia e defende essa postura, uma vez que o
humanitário e sério. Apesar de não ser um conflito recente,
Centro da cidade é um local que deve ser ocupado,
politicas migratórias devem ser repensadas de modo
possui
a auxiliar o desconforto da chegada em um novo país.
subutilizados com valor histórico gigantesco. O Centro
O Brasil de modo geral sempre foi um país
é o local onde todas as culturas se encontram e um
com extrema abertura aos refugiados. São Paulo,
projeto onde enfatiza a reunião de diversas etnias e
especificamente,
culturas obtém sua localização devidamente justificada.
apesar
de
possuir
uma
nova
lei
Outro aspecto evidenciado no trabalho é a
moradia, O
seja
projeto
ela
passageira
qualifica
localização
o
ou
Centro
privilegiada
e
permanente.
como
diversos
espaço
espaços
migratória, ainda precisa evoluir em alguns aspectos
A arquitetura então acontece como peça chave
para sanar a questão da acolhida na cidade. Mesmo
nesse auxílio. A arquitetura existe pensando nas pessoas
com muitos programas da prefeitura e associações que
e nos seus usos. Uma vez que o abrigo é projetado para
possuem como objetivo auxiliar nesse abrigo, poucos
pessoas que não estão ali por opção, o projeto ganha
deles são voltados exclusivamente para os refugiados.
um olhar extremamente mais humano e cuidadoso. Todo
Considerando os abrigos de modo geral, os números
o programa do edifício foi pensado para que as pessoas
de locais ainda não possuem infraestrutura qualificada
que se encontram nele tenham seu espaço e privacidade
e a demanda supera muito a quantidade de espaços
mas também possam criar relações e auxiliarem umas às
existentes. Tratando de demanda, é claro que ela não se
outras nesse processo de mudança imposta. Assim, todos
limita somente aos refugiados que chegam a cidade mas
os locais de convívio também foram projetados para
também as pessoas que precisam de acolhimento e são
que os refugiados reintegrem o seu lugar na sociedade e possam viver em São Paulo da melhor forma possível.
96
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Além disso, o projeto encontra-se em um prédio com
um valor histórico em uma esquina importante do Centro. O local que já carrega em suas paredes muita história, refirma sua importância ao acolher tantas pessoas e suas culturas. Assim, o projeto prevê a valorização do patrimônio histórico do edifício, diferenciando a intervenção do existente com novos materiais e métodos construtivos. A estrutura existente foi preservada e novos locais de convívio criam grandes aberturas para contemplação do Centro. Nada do que existiu antes deve ser esquecido ou apagado mas sempre enaltecido.
97
CAPÍTULO 7
LISTA DE IMAGENS
7. LISTA DE IMAGENS Figura 1 – Tendência de Deslocamento Global e Proporção de Deslocados | 1997-2016. Fonte: ACNUR Figura 2 – População Forçada a se Deslocar | 2016. Fonte: ACNUR Figura 3 – Refugiados Reconhecidos no Brasil por Nacionalidade | 2007-2017. Fonte: ACNUR Figura 4 – Crescente no Número de Refugiados no Brasil| 2007-2017. Fonte: ACNUR Figura 5 – Reconhecimento da Condição de Refugiado no Brasil| 2011-2017. Fonte: ACNUR Figura 6 – Principais Nacionalidades das Solicitações em Trâmite| 2017. Fonte: ACNUR Figura 7 – Centro Temporário de Acolhimento (CAT). Fonte: Prefeitura de São Paulo Figura 8 – Abrigo Dom Bosco. Fonte: Prefeitura de São Paulo Figura 9 – Abrigo Dom Bosco. Fonte: Prefeitura de São Paulo Figura 10 – Abrigo Dom Bosco. Fonte: Prefeitura de São Paulo Figura 11 – Vila dos Idosos. Fonte: Azul Serra Figura 12 – Implantação. Fonte: Vigliecca Figura 13 – Desenho das Unidades. Fonte: Vigliecca Figura 14 – Vila dos Idosos e ao lado esquerdo Biblioteca Pública Adelpha Figueiredo. Fonte: Azul Serra Figura 15 – Vila dos Idosos. Fonte: Azul Serra Figura 16 – Convento de Sant Francesc. Fonte: Jordi Surroca Figura 17– Convento de Sant Francesc. Fonte: Jordi Surroca 100
Figura 18 – Convento de Sant Francesc. Fonte: Jordi Surroca Figura 19 – RedBull Station. Fonte: Pedro Kok Figura 20 – Escada de Estrutura Metálica. Fonte: Pedro Kok Figura 21 – Cobertura. Fonte: Pedro Kok Figura 22 – Corte Longitudinal. Fonte: Tryptique Figura 23 – Uso e Ocupação do Solo. Fonte: GeoSampa Figura 24 – Foto tirada da Galeria do Rock com visão para o prédio escolhido. Fonte: Autoral Figura 25 – Distribuição dos Camelôs Autorizados. Fonte: Viva o Centro Figura 26 – Comércio Informal na Avenida São João. Fonte: Autoral Figura 27 – Condição dos edifícios no Centro. Fonte: Cotelo, 2010 Figura 28 – Densidade Demográfica. Fonte: GeoSampa Figura 29 – Rede de Transporta Público. Fonte: GeoSampa Figura 30 – Imóveis Tombados. Fonte: Viva o Centro Figura 31 – Planta do Pavimento Térreo. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo Figura 32 – Planta do Pavimento Tipo. Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo Figura 33 – Hotel Municipal. Fonte: SP Antiga Figura 34 – Av. São João e o Hotel Municipal à esquerda | 1960. Fonte: SP Antiga Figura 35 – Edifício Atualmente. Fonte: Autoral Figura 36 – Edifício Atualmente. Fonte: Autoral Figura 37 – Edifício Atualmente. Fonte: Autoral Figura 38 – Edifício Atualmente. Fonte: Autoral
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento
Figura 39 – Edifício Atualmente. Fonte: Autoral Figura 40 – Mapa de Sítio. Fonte: Autoral Figura 41 – Figura 41 – Planta Original do Térreo. Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo Figura 42 – Planta Original do Pavimento Tipo. Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo Figura 43 – Fachada Original do Prédio. Fonte: Autoral, Arquivo Histórico de São Paulo Figura 44 – Diagrama de Público e Privado. Fonte: Autoral Figura 45 – Diagrama de Fluxos. Fonte: Autoral Figura 46 – Planta A Demolir do Térreo. Fonte: Autoral Figura 47 – Planta A Construir do Térreo. Fonte: Autoral Figura 48 - Diagrama de Andar Correspondente à Planta. Fonte Autoral Figura 49 – Planta Pavimento Térreo. Fonte Autoral Figura 50 – Imagem Ilustrativa da Recepção. Fonte: Autoral Figura 51 – Imagem Ilustrativa da Área de Espera. Fonte: Autoral Figura 52 – Imagem Ilustrativa da Sala de Aula. Fonte: Autoral Figura 53 – Imagem Ilustrativa do Jardim. Fonte: Autoral Figura 54 – Imagem Ilustrativa da Área de Eventos. Fonte: Autoral Figura 55 – Imagem Ilustrativa da Brinquedoteca. Fonte: Autoral Figura 56 – Planta A Demolir do Pavimento Tipo. Fonte: Autoral Figura 57 – Planta A Construir do Pavimento Tipo. Fonte:
Autoral Figura 58 – Diagrama de Andar Correspondente à Planta. Fonte: Autoral Figura 59 – Planta Pavimento Tipo. Fonte: Autoral Figura 60 – Imagem Ilustrativa dos Alojamentos. Fonte: Autoral Figura 61 – Corte AA. Fonte: Autoral Figura 62 – Imagem Ilustrativa do Refeitório. Fonte: Autoral Figura 63 – Imagem Ilustrativa do Mirante. Fonte: Autoral Figura 64 – Planta A Construir do Pavimento Sótão. Fonte: Autoral Figura 65 – Diagrama de Andar Correspondente à Planta. Fonte: Autoral Figura 66 – Planta Pavimento Sótão. Fonte Autoral Figura 67 – Corte BB. Fonte: Autoral Figura 68 – Corte CC. Fonte: Autoral Figura 69 – Imagem Ilustrativa da Biblioteca. Fonte: Autoral Figura 70 – Planta Cobertura. Fonte Autoral Figura 71 – Imagem Ilustrativa da Biblioteca. Fonte: Autoral Figura 72 – Corte DD. Fonte: Autoral Figura 73 – Imagem Ilustrativa da Lavanderia. Fonte: Autoral Todas as fotos de abertura dos capítulos são autorais
101
CAPÍTULO 8
REFERÊNCIAS
7. REFERÊNCIAS
KARA, JOSÉ Beatriz. A popularização do Centro de São
ABREU, M. de A. Sobre a memória das cidades. Território
20 anos. 2011.
Paulo: um estudo de transformações ocorridas nos últimos
/ LAGET, UFRJ ano 3, n.4, jan-jun, 1998. Rio de Janeiro: Garamond, 1998.
MENESES, Ulpiano T. B. de. A cidade como bem cultural – áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance
ACNUR. Manual de Procedimentos e Critérios para a
na preservação do patrimônio ambiental urbano. In:
Determinação da Condição de Refugiado: de acordo
MORI, Victor H. et al (org,). Patrimônio: atualizando o
com a Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos
debate. (IPHAN) 2. ed. ampl. São Paulo: Fundação Energia
ao estatuto dos refugiados. 2011.
e Saneamento, 2015.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo:
SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. “Preservar não é
Ed. Unesp/Estação Liberdade, 2001.
tombar, renovar não é por tudo abaixo”. Projeto, n. 86. São Paulo, abr. 1986, p. 60-61.
COSTA, Everaldo Batista da. Patrimônio e Território Urbano em Cartas Patrimoniais do Século XX. Finisterra, XLVII , 93,
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. Segunda
2012, pp. 5-285.
ed. São Paulo: Studio Nobel, 2001.
FRUGOLI, H. Centralidade em São Paulo, trajetórias, conflitos e negociações da metrópole. São Paulo, Cortez/ Edusp/Fapesp, 2000. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
104
PATRIMÔNIO E REFÚGIO: criação de um espaço de acolhimento