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Apresentação
daniela maura ribeiro
Qual o lugar da fotografia contemporânea? Essa é uma questão que cabe para apresentar o Projeto Mezanino de Fotografia e o Portfólio, do Itaú Cultural, que abordaram a inserção da fotografia contemporânea no campo das artes visuais.
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O Projeto Mezanino “nasce da vontade de se tornar um espaço de diálogo, um espaço de artes visuais”,1 promovendo, primeiramente, a difusão do trabalho de artistas e fotógrafos em início de carreira e, depois, a partir do segundo ano – quando deixa de ser denominado projeto para adotar o nome Mezanino de Fotografia e, na sequência, Portfólio –, um diálogo com a literatura produzida pela nova geração de escritores. Mas que o leitor não espere um texto que traduza a imagem ou que seja crítico com relação ao trabalho fotográfico. Espere, sim, um texto ficcional literário livre motivado pelas imagens.
Possibilidades da Fotografia Contemporânea: Mezanino e Portfólio revela no título o seu intuito: no escopo do Mezanino e do Portfólio, trazer à tona as diversas possibilidades da fotografia contemporânea produzida por artistas atuantes no século XXI – sendo uma delas o diálogo com a literatura –, o que, consequentemente, areja e renova as formas de pensá-la.
Para que o leitor entre em contato com esse universo, levantamos a documentação existente relativa ao Mezanino e ao Portfólio, de modo a contar a história da evolução de um projeto (Mezanino) para o outro (Portfólio). Esse esforço resulta em uma publicação extensa que reúne: 136 fotografias (seleção de oito fotografias para cada um dos 17 artistas), seleção de imagens dos espaços expositivos, 41 textos (entre textos de curadores de fotografia e literatura, ficcionais, de autora convidada e posfácio), três depoimentos sobre a concepção e a evolução do Mezanino para o Portfólio – inclusive de como eram pensados os espaços expositivos para cada artista – e sete entrevistas (com cada um dos curadores de fotografia e de literatura que integraram os projetos). Todo esse conteúdo é abordado no livro ao longo de cinco capítulos. O primeiro capítulo, “Idealização Projetos Mezanino e Portfólio”, reúne os depoimentos de Marcelo Monzani (gerente do Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural de 2003 a 2005), Yara Kerstin Richter (gerente do Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural desde 2006) e Henrique Idoeta Soares (gerente do Núcleo de Produção do Itaú Cultural), além de uma seleção de imagens dos espaços expositivos de cada artista que participou do Mezanino e do Portfólio. O depoimento de Marcelo Monzani traz informações sobre a concepção do Projeto Mezanino de Fotografia, desde o projeto piloto, em 2003, que apresentou uma exposição do fotógrafo Evgen Bavcar, até a última edição, em 2005, antes de o Mezanino se tornar Portfólio. Já Yara Richter, em seu depoimento, conta sobre a constituição do Portfólio e do programa de itinerância a ele relacionado – o Portfólio Itinerante –, oferecendo um panorama sobre o projeto desde sua primeira edição, em 2006, até a última, em 2008. E o depoimento de Henrique Soares traz detalhes sobre todo o processo de concepção dos espaços expositivos de cada artista do Mezanino ao Portfólio.
O segundo capítulo, “Mezanino”, é dedicado ao Projeto Mezanino de Fotografia. É composto de subcapítulos sobre os artistas Edu Marin Kessedjian, Alline Nakamura, Celina Yamauchi, Albert Nane, Fernanda Preto, Michelle Serena, que participaram do Projeto Mezanino de Fotografia em 2004; e Fátima Roque, Patrícia Yamamoto e Guilherme Maranhão, participantes do Mezanino de Fotografia em 2005. Cada subcapítulo contém uma seleção de oito fotografias, além de textos: do curador de fotografia Tadeu Chiarelli (sobre cada um dos artistas da edição de 2004); da curadora de fotografia Helouise Costa (sobre cada um dos artistas da edição de 2005); ficcionais dos jovens escritores Adrienne Myrtes (inspirado no trabalho de Fátima Roque), Estevão Azevedo (Patrícia Yamamoto) e Rogério Augusto (Guilherme Maranhão); e do curador de literatura Nelson de Oliveira (sobre os escritores Adrienne Myrtes, Estevão Azevedo e Rogério Augusto).
1 Nota da organizadora: ver depoimento de Marcelo Monzani no primeiro capítulo desta publicação.
Já o terceiro capítulo, “Portfólio”, é dedicado ao Portfólio, o que inclui o Portfólio Itinerante – no qual artistas participantes do Portfólio, no Itaú Cultural, em São Paulo, tiveram sua exposição apresentada em outras cidades do Brasil. É composto de subcapítulos sobre os artistas Helga Stein, Rodrigo Braga (Portfólio 2006 e Portfólio Itinerante 2007), Cia de Foto, Daniel Santiago (Portfólio 2007 e Portfólio Itinerante 2008), Alexandre Sequeira, José Frota (Portfólio 2007), Jonathas de Andrade e Patrick Pardini (Portfólio 2008), com seleção de oito fotografias por artista e textos de Eder Chiodetto (sobre Helga Stein, Rodrigo Braga, Alexandre Sequeira e José Frota); de Eduardo Brandão (sobre Cia de Foto, Daniel Santiago, Jonathas de Andrade e Patrick Pardini); ficcionais dos jovens escritores Tiago Novaes (em diálogo com o trabalho de Helga Stein), Gabriela Kimura (Rodrigo Braga), Olivia Maia (Cia de Foto), Edward Pimenta (Daniel Santiago), Bruna Beber (Alexandre Sequeira), Ivan Hegenberg (José Frota), Thiago Corrêa (Jonathas de Andrade), Ailson Braga (Patrick Pardini); e dos curadores de literatura Nelson de Oliveira (sobre os escritores Tiago Novaes, Gabriela Kimura, Olivia Maia, Edward Pimenta, Bruna Beber e Ivan Hegenberg), Raimundo Carrero (sobre o escritor Thiago Corrêa) e Rose Silveira (sobre o escritor Ailson Braga).
“Entrevistas e perguntas” é o quarto capítulo. As entrevistas apresentam dez questões similares aos curadores de fotografia e aos de literatura – Tadeu Chiarelli, Helouise Costa, Eder Chiodetto e Eduardo Brandão (fotografia); Nelson de Oliveira, Raimundo Carrero e Rose Silveira (literatura). “Apostar é arriscar?” é uma pergunta feita aos curadores sobre o quanto “apostar” em um jovem talento é um risco. “Qual a importância do Mezanino ou do Portfólio em sua trajetória artística?” é a pergunta feita aos artistas e aos escritores.
Para condensar o pensamento a respeito da relação entre a fotografia e a literatura, o quinto capítulo apresenta o texto “A verdade mais absoluta ou a beleza mais milagrosa: literatura e fotografia. Três encontros”, de Natalia Brizuela (Universidade da Califórnia em Berkeley), traduzido do original em castelhano, concebido especialmente para esta publicação. A pesquisadora reflete sobre a fotografia como “palavras de luz”, conforme a visão de Willian Henry Fox Talbot, e assim liga o universo da fotografia (luz) ao da literatura (palavras), insere nesse escopo a fotografia digital e reflete sobre a questão da ficção na fotografia e na literatura.
No primeiro e no quarto capítulos, relativos a depoimentos e entrevistas, o leitor encontrará em notas de rodapé informações indicadas como “nota da organizadora”, contendo a data das entrevistas ou de atualizações nelas feitas, se foram gravadas ou concedidas por e-mail e em que local. Deixamos os entrevistados livres para responder às questões tomando o espaço que considerassem necessário, de modo que não foi estabelecido um número de linhas para as respostas. As entrevistas gravadas podem conter, ainda, algumas repetições, próprias da linguagem falada, apesar da discreta edição para eliminá-las. No mais, as entrevistas não sofreram edição.
No segundo e no terceiro capítulos, o leitor encontrará, nas notas da organizadora, informações sobre as atualizações ou não dos textos efetuadas pelos autores que desejaram fazê-lo, mas sem alterar seu conteúdo estrutural (tanto os textos mantidos conforme o original quanto aqueles atualizados foram revisados segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa); indicação de se o artista participou do Portfólio e do Portfólio Itinerante, em que período, ou se a exposição é resultado de leitura de portfólio nas cidades para as quais as mostras apresentadas no Itaú Cultural, em São Paulo, itineraram.
Nesse conjunto, o leitor perceberá que a fotografia é vista como um fazer do artista, nem sempre do fotógrafo propriamente dito. Por essa razão, encontrará as duas terminologias ao longo do livro – artista e fotógrafo.
No posfácio, intitulado “Possibilidades da fotografia contemporânea: Mezanino e Portfólio”, apresento uma reflexão sobre todo o material reunido nesta publicação e as possibilidades da fotografia contemporânea que o Mezanino e o Portfólio revelaram, de forma a rediscutir pontos cruciais da história da fotografia: a fotografia documental, a fotografia construída, o retrato, a autoria, o arquivo e a coleção fotográfica, a fronteira entre campos da fotografia – como a publicidade e a fotografia de arte.
Há ainda uma cronologia sobre a realização de cada exposição do Mezanino e do Portfólio.
A ideia desta publicação é reunir significativas informações sobre a concepção, a constituição e a realização do Mezanino e do Portfólio, de modo que cada parte do livro se inter-relacione e, em conjunto, possa produzir uma visão do quadro de exposições e de textos. E que, assim, gere uma reflexão acerca da fotografia contemporânea brasileira, tendo como possibilidade o diálogo com a nova literatura nacional.
Esperamos ter atingido nosso objetivo!