3 minute read

Alline Nakamura

Next Article
Quem é quem?

Quem é quem?

Sem título (Entardecer) I 2004 I imagem digitalizada a partir de negativo 135 mm, 40x60 cm I Foto: Alline Nakamura

As imagens de Alline Nakamura e o verdadeiro delito da fotografia1

Advertisement

tadeu chiarelli curador

1 Nota da organizadora: texto atualizado pelo curador em 15 de junho de 2009 a partir do original publicado no fôlder da exposição de Alline Nakamura no Projeto Mezanino de Fotografia do ano de 2004, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP (de 18 de agosto a 12 de setembro de 2004), e no catálogo da exposição conjunta de todos os artistas selecionados para esse projeto (Alline Nakamura, Celina Yamauchi e Edu Marin Kessedjian, artistas selecionados em São Paulo/SP; Albert Nane, Fernanda Preto e Michelle Serena, artistas selecionados em Curitiba/PR), realizada de 12 de novembro a 21 de dezembro de 2004, na Casa Andrade Muricy, em Curitiba/PR. A revisão do texto atualizado segue as normas do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Como as fotografias de Eugène Atget, as fotos de Alline Nakamura sugerem cenas de um crime. Mas, ao contrário das imagens do fotógrafo francês, que parecem captar sempre a posteriori o ambiente onde algo sucedeu, as de Alline estão carregadas de outro mistério: não se configuram propriamente como cenários de uma ação já decorrida, mas como espaços para ações que ainda ocorrerão.

O olhar que as capta parece ser o da testemunha da ação ou daquele que sabe que algo ali ocorrerá: é o olhar do agente do crime, o olhar do fotógrafo.

A metáfora do fotógrafo como criminoso está arraigada em nossa cultura. O fotógrafo como caçador, como aquele que “capta” a imagem, como quem “tira” a foto (como se a foto, de fato, tirasse algo de um lugar para colocar em outro), é uma noção repleta de sentidos ligados à delinquência.

Algumas fotos de Nakamura revelam alguém à espreita, observando através de uma câmera escura (seu quarto ou um ônibus em movimento) o cotidiano, percebendo nele potencialidades a ser exploradas. O caráter atento desse olhar que vê o mundo sem ser visto ganha intensidade em fotos noturnas ou crepusculares. Nelas, o comum reveste-se de segredos que se tornam ainda mais atraentes pelo uso que Alline faz das potencialidades que o trabalho de laboratório acrescenta ao resultado fotográfico final.

Artista com intimidade com o desenho e a gravura em metal, Nakamura salienta os aspectos misteriosos do cotidiano saturando de negro certas sombras, enfatizando sutis gradações de cinza, tornando espetaculares pequenas manchas de luz. Sedutora, ela atrai o olhar do observador para a representação do local que primeiro flagrou e depois, no laboratório, construiu. E aqui está seu verdadeiro delito: trazer à tona, para o olhar do outro, imagens que nunca seriam observadas com atenção caso não fossem mediadas/controladas por sua sensibilidade e perícia.

Sem título (Av. Paulista) I 2004 I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 30x40 cm I Foto: Alline Nakamura

Sem título (Canto da Augusta) I 2004 I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 30x40 cm I Foto: Alline Nakamura

Sem título (Árvore nublada) I 2004 I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 30x40 cm I Foto: Alline Nakamura

Foto: Alline Nakamura I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 40 x 30 cm I 2004 I Sem título (Tarde)

I Foto: Alline Nakamura ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 40 x 30 cm I 2004 I Sem título (Largo da Batata)

Sem título (Estrada) I 2004 I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 30x40 cm I Foto: Alline Nakamura

Foto: Alline Nakamura I ampliação manual em papel fotográfico preto e branco, 30x40 cm I 2004 I Sem título (Fim de túnel)

This article is from: