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DANDISMO, DEDICAÇÃO AO DIREITO DE SE VESTIR
Caderno de Experiências DANDISMO, DEDICAÇÃO AO DIREITO DE SE VESTIR
Alan Araújo Lima Design de Produto /UFCA alan.aal28@gmail.com Aglaíze da Silva Damasceno Levy Professor /UFCA aglaize72@gmail.com
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1 Introdução
Este projeto tem como objetivo entender o que foi o dandismo, um estilo que segundo Silva (2009, p. 59) “foi mais do que uma moda, avançando para um modo de ser, um estilo de vida”. Entender como era sua indumentária, o que defendiam e quais suas influências na história da moda. Realizando assim, uma pesquisa de cunho qualitativo, através da revisão de literatura de autores como Hopkins, Laver, Mackenzie, Monneyron, Sabino e Silva, que citam esta época da história da moda masculina ocorrida no século XVIII. O dandismo surgiu em um momento onde ocorreram diversas mudanças tanto na indumentária como no modo de agir do homem no início do século XVIII, onde esses demonstravam grande preocupação com sua imagem, característica normalmente atribuída ao sexo feminino. O tema desperta interesse no pesquisador por ser um movimento de grande impacto no vestuário masculino, que na atualidade ganha cada vez mais espaço, liberdade e opções novas no mundo da moda, em especial no seguimento da alfaiataria, que segundo Sabino (2007) é uma das atividades de maior prestígio no universo da moda. Segmento que teve destaque e desenvolvimento maior contemporâneo aos dândis.
2 Fundamentação teórica
Monneyron (2010) diz que o dandismo antes de tudo era uma forma de contestação do sistema indumentário presente naquele tempo, iam contra o traje masculino que a burguesia havia imposto a sociedade. O dândi condenava os excessos presentes na moda, adotavam um estilo mais discreto como diz Hopkins (2013, p. 64). Podendo assim ser caracterizado como um movimento de contracultura, pois "reage contra a cultura dominante da época, provocando mudanças sociais [...] é diferente em sua política, normas, convicções sociais, estruturas sociais e, mais importante neste contexto, no modo de vestir." (HOPKINS, 2013). Surgiram em meados do século XVII durante o período de restauração da Inglaterra, sendo que o termo dândi só se firmou durante o século XVIII. Influenciando drasticamente a moda masculina da época, como Hopkins (2013, p. 64) aborda que: “em pouco tempo a aristocracia inglesa adotou estilos mais discretos. Cores brilhantes, emblemas decorativos e salto alto para homens logo saíram de moda”. Na moda feminina os trajes franceses ganhavam destaque e influenciavam a moda, no masculino era a Inglaterra quem ditava moda. Segundo Laver (1989, p. 158): “isso se deveu em grande parte à habilidade superior dos alfaiates de Londres, treinados a trabalhar com casimira [...] pode ser esticado e bem moldado. [...] Essa roupa ajustada era a essência do dandismo”. Segundo Hopkins (2013, p. 63), os dândis mais significantes foram George “Beau” Brummell, Oscar Wilde e Robert de Montesquiou. Ganhando destaque Brummell, “conhecido por sua elegância e preferência por roupas sem excessos ornamentais” (SABINO, 2011), o grande precursor deste movimento, segundo Mackenzie (2010, p. 34), ele “rejeitava os modismos aristocráticos como pós, perucas, saltos altos, sedas, veludos e joias”, e Hopkins, (2013 p 64) diz que: “seu maior talento estava em retrabalhar estilos e combinações existentes, em vez de introduzir modelos completamente novos”. Brummell não pertencia à classe alta, entrou no circulo aristocrático à custa da própria capacidade (MACKENZIE, 2010). Segundo Sabino, (2011, p. 119):
era amigo íntimo do príncipe regente, depois rei, George IV, e influenciou os homens de usa época a usarem roupas de corte mais simples, incrementadas com golas, laços de gravata elaborados e botas de montaria. Lançou também a moda das calças compridas, substituindo os culotes (breeches em inglês), que eram as calças mais curtas, fechadas na altura dos joelhos ou um pouco abaixo deles. Laver retrata a vestimenta do dândi partindo da maneira de se vestir de Beau Brummell (1989, p. 160):
era, invariavelmente, azul-escuro, mas era comum usar-se colete e calções de cores diferentes: por exemplo, um colete vermelho e calções amarelos podiam ser usados com um casaco azul, ou um colete branco e calções verde-musgo com um casaco preto. A gola, bem alta na nuca, costumava ser de veludo. Os coletes eram em geral curtos e de corte quadrado, com aproximadamente cinco
centímetros aparecendo por baixo da parte da frente do casaco. Os botões superiores ficavam abertos para mostrar o babado da camisa. Na corte o colete era de cetim branco bordado em fio de ouro. Figura 1: George Beau Brummell.
Fonte: Google imagens Silva (2009, p. 59) ressalta que “os homens ainda contavam com um acessório que ficou marcado como ícone de elegância, status e poder social, a cartola, que foi usada durante todo o século XIX”. Laver (1989, p. 160) complementa que podemos perceber que os dândis costumavam usar os cabelos um pouco curtos e levemente despenteados. Os civis sem barba, enquanto os militares com costeletas e eventualmente com bigodes. Calças justas, mas sem mostrar o contorno das pernas, além de dar destaque às bengalas, indispensáveis a um homem bem vestido e aos plastons ou stock, que eram lenços de gaze, musselina ou seda em forma de quadrado que eram dobrados e enrolados com todo esmero em volta do pescoço e amarrados com um laço ou nó na frente.
Fonte: Google imagens É importante ressaltar as mudanças ocorridas nas vestimentas dos dândis após a influência de Brummell, que “com grandes dívidas contraídas no jogo [...] mudou-se para a França, onde viveu 14 anos na pobreza, morrendo com problemas mentais num hospital na cidade de Caen” (SABINO 2011, p. 119). Laver relata que após sua partida, os que diziam dândis começaram a ir contra a sobriedade de Brummell(1989, p.161), trazendo todo tipo de extravagância em suas roupas, como:
a cartola inchou até a copa ficar mais larga do que a aba, as extremidades visíveis do colarinho da camisa quase chegavam até os olhos, o stock ou o plastrom ficaram mais apertados e mais altos, os casacos possuíam ompreiras e a cintura era afinada com o auxílio de um espartilho.
Fonte: Google imagens Atualmente os indivíduos continuam a buscar na moda, uma forma de distinção, querendo destacarse no meio em que vivem, transparecendo na forma como se vestem a sua personalidade ou a que grupo pertence. Procura equiparada a dos dândis, que como defende Monneyron (2007) como burgueses que eram, buscavam a “distinção”, mas que ao mesmo tempo acabaram formando o que ele chama de “uniforme de elegância”. No decorrer da história, a moda continua realizando o mesmo papel, ditando um padrão a ser seguido, mas mesmo assim servindo como uma maneira de diferenciação de grupos e indivíduos. Monneyron (2007) defende que os dândis reivindicavam o direito de “rivalizar em fausto e em elegância” assim como as mulheres. Negavam uma indumentária masculina que não os permitisse exercer sua vaidade. Mackenzie (2007) diz que o dandismo era e continua sendo distinguido pela sua excelência a indumentária. Ocasionado por essa característica sempre ligada ao sexo feminino, Monneyron (2007) ainda defende que o dândi se identifica com a mulher não por sua roupa, mas sim, na relação com a própria roupa. Por isso “mais do que contra o igualitarismo é contra o dimorfismo sexual que eles protestam [...] simplesmente por uma equiparação com as maneiras femininas no que concerne ao cuidado com o adorno ”(MONNEYRON 2007, p. 30).
3 Procedimentos metodológicos
Para realização desse projeto foi realizada uma pesquisa bibliográfica, para Rodrigues, (2006, p. 89), esse tipo de pesquisa realiza-se partindo de fontes secundárias, que são materiais já publicados sobre o assunto, Macedo, (1996, p. 13) complementa abordando que a mesma utiliza-se de fichamentos de referências a fim de revisar a literatura e não redundar o tema de estudo. A pesquisa também é de abordagem qualitativa, Flick, (2009, p. 8), mostra que a pesquisa qualitativa visa “abordar o mundo ‘lá fora’, perceber, delinear e as vezes explanar os fenômenos sociais ‘de dentro’ de várias maneiras”, ainda, na visão de Rodrigues, (2006, p. 90), nesse tipo de trabalho podemos destacar vários aspectos, dentre eles comportamentos e atitudes de indivíduos ou grupos. O pesquisador revisou autores diferentes sobre o tema proposto, a fim de identificar a importância do movimento dândi que teve inicio no século XVIII e suas influências na moda masculina desde então até a contemporaneidade.
4 Resultados e discussão
Como relata Mackenzie (2010, p. 35): “como filosofia, o dandismo persistiu no tempo. Cada período e local assistiu à ascensão de seu próprio grupo de dândis.” Ao longo dos anos os dândis acabaram influenciando diversos grupos, não apenas na indumentária, como também no modo de agir. Hopkins (2013) no livro “Moda e Masculina” em algumas passagens relata a influência dos dândis em alguns momentos da história:
final da década de 1950 e início da década de1960, o Teddy boy britânico [...] inspirada no estilo da alfaiataria dos dândis eduardinos [...] usavam casacos drapeados mais longos com punhos, colete e calças muito justas.” (p. 42). “Na década de 1960 [...] os mods [...] favoreciam os ternos italianos de bom caimento e projetavam um estilo dândi discreto e elegante.” (p. 43) “Os sapeus são um fenômeno contemporâneo na melhor tradição dândi [...] originários da República do Congo [...] surgiram nas décadas de 1920 e 1930 [...] favorecendo as cores marcantes e os recortes arrojados.” (p. 63). Prates (2010, p 9) cita que: “Pierre Cardin propôs um novo dandismo, rejeitando a rigidez do vestuário do establishment em favor de conforto combinado com elegância.” “De tempos em tempos, também é possível notar em editoriais, desfiles e até mesmo no streetstyle a inspiração nos dândis” (GABAI, 2013). Segundo o site The Chic Buzz (2012) também encontramos influências diretas dessa indumentária servindo como inspiração em roupas femininas. Gabai (2013) também cita personalidades como David Bowie por seus cuidadosos figurinos sedutores e andróginos, Karl Lagerfeld por seus cabelos sempre penteados,
vestindo preto, óculos escuros e luvas, Chuck Bass, personagem da série Gossip Girl, por seu estilo de vida, metrosexualidade, com visual sempre impecável, como referências do dandismo na atualidade.
Figura 4: David Bowie, Chuck Bass, Karl Lagerfeld.
Fonte:
http://costanzawho.com.br/2013/09/03/dandismopassado-e-presente/
5 Considerações finais
Esta pesquisa inicia-se com o objetivo de entender o que foi o dandismo, e sua relevância na historia da moda masculina, assim como as influências ainda presentes na atualidade. Podendo servir como referência de estudos para outros trabalhos com o mesmo tema e sobre moda masculina, assim como para um melhor entendimento das diversas contribuições que o estilo dândi deixou ao longo do tempo, e suas características ainda presentes em alguns grupos encontrados na atualidade.
Referências
FLICK, U. Qualidade na pesquisa qualitativa. 1 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. GABAI, Marina. Dandismo: passado e presente. 2013. Disponível em: <http://costanzawho.com.br/2013/09/03/dand ismo-passado-e-presente/ > Acesso em 10 de maio de 2014 HOPIKNS, John. Fundamentos de design de moda: Moda Masculina. Tradução: Equipe
Scientific Linguagem ; revisão técnica: Camila
Bisol Brum Scherer. Porto Alegre; Editora
Bookman, 2013. LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. capítulo final [por] Christina Probert; tradução Glória Maria de Mello Carvalho. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989. MACEDO, Neusa Dias de. Iniciação à pesquisa bibliográfica: guia do estudantepara fundamentação do trabalho de pesquisa. 2 ed.
São Paulo; Edição Loyola, 1996. MACKENZIE, Mairi. Ismos: para entender a moda. Tradução: Christiano Sensi. São Paulo;
Editora Globo, 2010. MONNEYRON, Fréderic. A moda e seus desafios: 50 questões fundamentais. Tradução:
Constância Morel. São Paulo; Editora Senac São
Paulo, 2007. O NASCIMENTO DA MULHER DÂNDI. The Chic
Buzz, 2012. Disponível em: <http://www.thechicbuzzblog.com.br/tag/dandi smo/> Acesso em 7 de maio de 2014 PRATES, Carlos Eduardo. Moda Masculina nas páginas da revista Quatro Rodas: em Moda,
Cultura e Arte – Centro Universitário Senac/SP, 2010. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/ 6-Coloquio-de-
Moda_2010/72117_Moda_Masculina_nas_pagi nas_da_revista_Quatro_Rodas.pdf RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica. São Paulo; Editora Avercamp, 2006. SABINO, Marco. Dicionário da Moda. Rio de
Janeiro; Editora Elsiver, 2007 . SABINO, Marco. História da moda. Rio de
Janeiro; Editora Havana, 2011. SILVA, Ursula de Carvalho. História da Indumentária. Ministério da Educação
Secretaria de Educação Média e Tecnologia
Instituto Federal de Educação, Ciência de Santa
Catarina Campus Aranguá; Apostila de Projeto de Coleção. 2ª Edição, 2009. Disponível em: < http://pt.slideshare.net/RaquelDeLuca/historia -da-indumentaria> Acesso em 12 de maio de 2014.