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O MOVIMENTO DE VANGUARDA JAPONESA NA DÉCADA DE 80
João Sérgio Viana Côrtes Design de Produto/UFCA joao.cortes@live.com Cristina Rejane Feitosa Silva Professor /UFCA cristinasilva@ufca.edu.br
1 Introdução
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O vanguardismo japonês iniciou na moda em 1981na semana de moda de paris nas coleções de Rei Kawakubo pra Comme des Garçons e a coleção de Yohji Yamamoto, que desafiava a tradição trazendo roupas sem relação com a forma do corpo, este artigo trata do movimento em suas origens e é breve em algumas influencias atuais. Os objetivos deste artigo é o de entendimento do movimento, e clareza na assimilação dos termos. O artigo foi desenvolvido pelo interesse do pesquisador no movimanto de vanguarda japones, no inicio dos anos 80 com as coleções dos estilistas rei kawakubo, yohji yamamoto e Issey Miyake que mudaram padroes de estetica até então vistos, o que influencia a moda até os dias atuais, é um tema ainda recorrente e pelo o que ele causou é um objeto de estudo como um movimento de moda, urbano e de quebra.
2 Fundamentação teórica
Antes de entrar no movimento de vanguarda japonesa é importante entender os antecedentes que permeiama moda japonesa, para que, então, haja o entendimento da quebra de padrões que o vanguardismo trouxe e as suas influencias atualmente.
2.1 O japonismo
Segundo Iwamoto et al (2014) ’’O termo japonismo, cunhado na segunda metade do século XIX, designa o intenso intercâmbio cultural e econômico entre o continente europeu. Esse fenômeno atingiu de maneira multiforme e de forma decisiva na estética de todo século e foi determinante para o direcionamento do design moderno.” Traz o entendimento de que o japonismo é um movimento de influencias que a estética oriental imprimiu na europa na metade do século XIX. Trazendo tendencias que influenciaram a estética de todo o século, devido ao cansaço do público das mercadorias produzidas em massa graças a revolução industrial (WICHMANN, 2007). Antecedendo isso não só a estética japonesa, o oriente inteiro influenciou a cultura européia ao longo do século XVII, esta influencia apelidada de exotismo se caracteriza pela chegada da estética e por peças vindas do oriente a europa, graças ao fascínio e estranheza que estas causavam, estas influencias foram enfraquecidas em meados de 1780 graças a avanços politicos, sociais e culturais onde o exagero era associado a desigualdade da estrutura de classes vigentes, com isso o vestuário foi simplificado, fazendo com que influencias orientais significantes sejam vistas apenas no século XIX com o orientalismo (MACKENZIE, 2011). O Japão começa a ter mais destaque quando, segundo Milhaupt (2005) o gosto pelas coisas que vinham do Japão podiam ser vistos através de pinturas de artistas europeus como Tissot, Monet, que traziam suas modelos venstindo quimonos. A moda também foi influenciada não só em estamparia mas também na modelagem vista nos trabalhos de Vionnet e Poiret em que modelagens mais soltas ao corpo eram vistas (SINZATO, 2011).
Imagem 1- Vestido de Madeleine Vionnet do século XX e"retrato de Père Tanguy", 1887 de Vincent Van Gogh.
Fonte: Google imagens Segundo Fukai (1994) Paul Poiret, estilista francês conhecido como o “Rei da Moda” trouxe o orientalismo em suas criações principalmente no início de sua carreira em 1903, apresentou o casaco estilo quimono. Essa criação trazia um novo conceito em estrutura, pois a silhueta não mais enfatizava a linha da cintura, mas sim os ombros, que sustentavam a roupa. Poiret também difundiu o que seria chamado de design moderno através de sua estética ao libertar a mulher do espartilho pela primeira vez desde o renascimento.Poiret foi o ultimo grande orientalista da moda (KODA; BOLTON, 2014).
Fonte: Google imagens
2.2 Século xx
As coleçoes de 1982 lançadas em paris em 1981 de Rei Kawakubo para a Comme des Garçons e de Yohji Yamamoto provocaram choque no mundo da moda ao provocar as tradiçoes até então assimiladas “[...] As modelos foram para a passarela com trapos adornando os seus cabelos, sem maquiagem e com o lábio inferior aparentemente arroxeado como um hematoma. As roupas esfarrapadas não tinham relação com a forma do corpo e desafiavam a compreeesão das platéias.[...]” (MACKENZIE, 2011). Mendes& De La Haye (2003) dizem que Rei Kawakubo em março de 1983 apresentou uma coleção que incluia vestidos-casaco de silhueta oversized e geométrica sem uma silheta assimilável. Com cortes assimétricos; lapelas botões e mangas nos lugares errados, tecidos que não combinavam, amarrotados com nós, rasgões, pregueados e os calçados eram chinelos e sapatos de biqueira quadrada.
Imagem 4- peças de Rei Kawakubo pra Comme Des Garçons ,1982.
Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/-Y-
Ac5UOmLKw/UZnltTk85I/AAAAAAAABd0/ICv0EWyTGo/s1600/2575.jpg Sobre Yohji Yamamoto Mendes& De La Haye (2003) relatam sobre o esmaecimento das questões do sexo, com suas peças grandes, em camadas, bolsos assimétricos, sempre utilizando o negro em suas criações e sua inovação na escolha de tecidos.. É neste cenário que este artigo se concentra, o de um movimento de quebra, de vanguarda, segundo a revista GQ em 1984 a estética foi defnida como algo que não está em conformidade com nenhum padrão de moda, que buscam a abolição da forma, caem no corpo em silhuetas incomuns e de tamanhos grandes em paletas monocromáticas. Segundo Mackenzie (2011) os criticos se esforçavam pra classificar a estética, alguns interpretavam como uma declaração politica, denominando o movimento “hiroshima chic”, enquanto outros chamavam de “visual mendigo”. O impacto sobr a moda foi inquestionavel o jornal francês Libération dizer que “a moda francesa encontrou seus mestres: os japoneses.O conceito ocidental sobre o que era a moda oriental foi questionado pelas caracteristicas não culturais das coleções de Yohji e Rei. Apesar do grande frenesi as coleções não estavam fora de contexto já que haviam precendentes desde o fim da década de 60, como Kenzo Takada, Issey Miyake e Hanae Mori, além disso Yohji e Rei já possuiam suas empresas bem estabelecidas em tóquio. Boucher (2010) relata sobre o movimento como sendo uma moda baseada na amplitude, no preto, no comprimento, na assimetria e na desconstrução, feitas numa visão apocalíptica, suas roupas fazem uma apologia a feiura e a miséria.
Imagem 5: Fotografia de Nick Knight de peças Outono/Inverno 1986-87 de Yohji Yamamoto.
Fonte: http://media-cacheak0.pinimg.com/736x/df/d2/b7/dfd2b73da684b2039 cb2cd8695954acf.jpg No documentário “Notebook On City And Clothes” de Wim Wenders (1989), Yohji Yamamoto explica o uso do preto no seu objetivo de trazer apenas silhueta e forma, onde a interferencia da cor não é necessária, além disso o preto segundo Yohji é a “conclusão da cor” por ser a mistura de todas as cores. Afirma também não criar moda japonesa, que não há traços de nacionalidade nos desenhos dele, e entende que mesmo assim representa a moda japonesa por sua nacionalidade. No discurso de Mendes & De La Haye(2003) o já estabelecido estilista Issey Miyake, radical e visionário, durante os anos 80 adota uma visão modernista experimentando formas e materiais, no outono/inverno de 1981-82 usou bustiês de silício com zíper e calças de jérsei cobertas de poliuretano, e na primavera de 1983 túnicas e estolas inpiradas numa alga marinha (wakame) executadas a partir da combinação de um tecido sintético plissado combinado com outro tecido
Caderno de Experiências metálico, em 84 calças de tecido acolchoado, em 88 criou chapéus em colaboração com Maria Blaisse de espuma de poliuretano moldada. Conhecido pelos seus trajes fluidos com formas (e materiais) organicos priorizando praticidade e conforto, o estilista afirma não criar uma estética de moda e sim um estilo com base na vida.
Imagem 6- Publicação em revista de moda de peças do desfile de Issey Miyake de 1983.
Fonte: http://culturalite.com/article/view/id/1856401 É neste período onde modismos subculturais e revolucionários emergem que a moda reafirma seu status artístico, até então quase sempre relacionado à alta costura.
4 Resultados e discussão
Sinzato apudINCE, NII(2011) afirma que os passos dos estilistas vanguardistas citados anteriormente abriram caminho para uma nova geração de estilistas no Japão, como JunyaWatanabe, JunTakahashi, TaoKurihara, Matohu, AkiraNaka, Mintdesigns.
Muitos desses novos designers foram não só inspirados pelos estilistas veteranos da vanguarda japonesa; eles de fato começaram suas carreiras trabalhando para eles. Junya Watanabe e Jun Takahashi foram protégés de Kawakubo e tiveram coleções próprias lançadas sob a Comme des Garçons, enquanto Kosuke tsumura e Hiroaki Ohya foram desenvolvendo suas marcas dentro das empresas do grupo Miake. (SINZATO, 2011p. 63). Sinzanato(2011) também fala sobre as influencias que o movimento trouxe para alguns estilistas belgas que surgiram aproximadamente uma década depois, explorando a desconstrução e vistos como reflexo da moda oriental no ocidente, grandes nomes deste grupo é Martin Margiela, Ann Demeulemeester e Dries Van Noten. O desconstrucionismo segundo Mackenzie (2011) é um “ismo” que busca reavaliar o significado das roupas e a forma como são usadas onde a desconstrução é a parte chave da construção.
3 Procedimentos metodológicos
Para entender o movimento de vanguarda japonesa nos anos oitenta, pretendo como forma de elaboração desta pesquisa abordar o método qualitativo, o qual se dará através de meios bibliograficos. Rodrigues (2006) ressalta que esse tipo de pesquisa é realizado partindo de fontes já publicadas sobre o tema abordado. Através de pesquisas em artigos acadêmicos e livros, bem como outros meios de informação como periódicos, revistas, documentários além de outras pesquisas que podem ser encontrados em sites na internet objetivando sempre apresentar um quadro atual e de forma expressiva da realidade abordada.
Imagem 7- Desfile de Outono/Inverno 2013 de Martin Margiela.
Fonte: http://trendland.com/wpcontent/uploads/2013/02/Maison-MartinMargiela.jpg Na moda, que é um nicho cíclico é necessário um entendimento de onde começam as revoluções estéticas para que assim entendamos o que desencadeou e o que ocorreu após tal quebra na sociedade, a capacidade de reinvenção é uma das coisas necessárias para manter um mercado estável. Até mesmo marcas que não se relacionavam com movimento de vanguarda, ou mais recentes mostram que bebem desta fonte. O movimento de vanguarda é visto ainda hoje não só na moda, mas também na arte, e suas influencias podem ser vistas espalhadas por todo o globo.
Imagem 8: Desfile do estilista Rick Owens mostra influencias do movimento de vanguarda japonesa, 2009.
Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/_teww_WLX6jM/SmhVEh Q7TXI/AAAAAAAABkM/1oKnx2W5SAE/s800/rick+o wens+runway+women.jpg
5 Considerações finais
A vanguarda japonesa foi um movimento de quebra na moda que ocorreu no início dos anos 80 que se iniciou com os desfiles de Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo e Issey Miyaki, este movimento trazia algo diferente de tudo até então visto, desconstrução da silhueta, inovação com materiais e um “desleixo” finamente elaborado, e, às vezes também mostrava não possuir nacionalidade em busca de uma “neutralidade” estética, movendo o mundo da moda por trazer algo, na época, considerado feio e complexo e em alguns casos era visto também como uma crítica social. Suas referencias vistas até hoje na moda, na arte e nos mais diversos campos são inspiração para muitos, mostrando ser um movimento que se reinventa por ser livre na forma e no pensar.
Referências
BOUCHER, François. História do Vestuário no Ocidente. São Paulo. Cosacnaify, 2010. FUKAI (ed.). MODA Una historia desde El siglo XVIII al siglo XX.Tomo II: Siglo XX.
Köln: Taschen, 2006. GRAND, France.Comme des Garçons.São
Paulo; Cosac & Naify, 2000.
INCE, Catherine (ed.) e NII, Rie (ed.). Future Beauty: 30 years of Japanese Fashion.
Londres: Merrell Publishers Limited, 2010. WENDERS, Wim. Notebook on City and Clothes, França, 1989. KODA, Harold; BOLTON, Andrew.Paul Poiret. < http://www.metmuseum.org/toah/hd/poir/hd _poir.htm >. MACKENZIE, Mairi. Ismos: para entender a moda. Tradução: Christiano Sensi – Sãp Paulo;
Editora Globo, 2010. MENDES, Valerie (ed.) e DE LA HAYE, Amy. A Moda Do Século XX. São Paulo, editora
Martinsfontes, 2009. MILHAUPT, Terry Satsuki. Second Hand Silk
Kimono MigraYngAcross Borders. Em
PALMER e CLARK (ed.). Old Clothes, new looks:second hand fashion. Oxford: Berg, 2005. RODRIGUES, Auro de Jesus. Metodologia científica. São Paulo; Editora Avercamp, 2006. SINZINATO, Alice Yumi. Relações entre moda e arte: novas possibilidades a aprtir da moda de vanguarda japonesa. 2011. WICHMANN, Siegfried. Japonisme: The
Japanese Influence on Western Art since 1858.
London: Thames & Hudson, 2007