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Espaço
Cristovão Coutinho II procedimentos como artista/curador
O trabalho comentado nos Seminários 3 x 3 trata-se de um memorial em quase sua totalidade, de registros feitos por meio da fotografia sobre uma intensa programação expositiva exercida no período de 2003 a 2011, na Galeria do Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas, em Manaus.
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No espaço de 5 x 12m, passamos a priorizar aspectosda relação curadoria de arte e artistas como possibilidades de aferir o processo de criação dos artistas do lugar, tentando manter sugestionamentos que os aproximassem dos estímulos curatoriais do sistema de arte.
A partir de 2003, com o objetivo de se formar uma expressão didática artística, iniciamos exposições de estímulo de doações para um acervo/reserva da universidade, como também coletivas e individuais locais e de outros lugares.
Em seguida, em intervalos no tempo, elaboramos e colocamos em prática o projeto Espaço Contemporâneo Ufam/Unibanco, realizado durante quatro anos. Por meio de uma convocatória de intenções e projetos, selecionávamos os participantes.
A parceria possibilitou em termos modestos, porém, conduzidos e focados no processo criativo do artista, na realização do trabalho em diálogos com a curadoria, mantendo aspectos positivos na matéria da obra, no texto e na ocupação espacial. Durante o período, fizeram parte da programação 12 exposições coletivas, com 36 artistas/propostas selecionados, assim como outras de artistas convidados e intercâmbios culturais.
O registro das imagens do memorial construiu-se paulatinamente, sendo que, os envolvidos em captar as imagens foram e são portadores de sentimento estético e documental. Assim sendo, com os colaboradores, professores Renan, William e Sandro, ao longo dos nove anos registramos fotos.fatos, sem nos atermos a algum objetivo específico.
Com a ordenação e existência do memorial,1 identificamos as ferramentas usuais do fazer a fotografia, ou seja, documento, informação, estética, tempo e manipulação. Esse conjunto de ações pertence a esse trabalho, seja no registro expositivo, como também em muitas obras de artistas que, de maneiras diferentes, usaram a fotografia como meio para a concepção de seus trabalhos.
Nesse caminho, como agente artístico nas funções de curador e artista em uma década, além das atividades na galeria, em 2009 concluímos o projeto do livro/catálogo Extremos: relações de representações indicativos a uma curadoria (Edua), com 11 trabalhos de artistas da região norte (Grupo Urucum, Sergio Neiva, Lucia Gomes, Tadeu Lobato, Roberto Evangelista, Roosivelt Pinheiro, Silvia Feliciano, Bernadete Andrade, Naia Arruda, Turenko Beça e Armando Queiroz), em que “o hibridismo cultural de que nos fala o crítico Nestor Canclini, investido nas características do lugar, sugerindo potenciais de mudança e transformação das sensibilidades locais, às vezes amortecidas pelo hábito ou pelo tédio”, de acordo com o texto de apresentação da publicação escrito por Cristina Freire.
Exposi Es E Semin Rios
Em 2010, por edital da sec/am, realizei como artista o trabalho Põrõn: narrativas visuais, que consistia em des- locamento até o Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, com objetivo de uma vivência artística numa cidade cujo patrimônio maior é a presença indígena, territorialista, próxima de sua cultura material e linguística. Verificar na cidade o forte costume indígena de seus habitantes, como também o descaso em casa de passagem institucional, lembrando senzala e depósito de pessoas. O retorno realizado pelo rio, durante quatro dias, resultou em fotografias, desenhos, pinturas e objetos, particularizando-se como mapeamento e acervo de viagem. As séries de fotografias manipuladas Indipop e Ambar fazem parte desse itinerário.
Como artista, em 2013 a exposição Pedra–mutação: repouso e lembrança, com fotografias, vídeo e objeto/lixo, imagens de pedras na vazante do Rio Negro afirmando quietude, repouso, longevidade ou cobertas por plásticos na sua utilidade como registros ou como superfície de uso para utensílios, ou seja, a pedra transformada em uma natureza criada pela presença e ação humana.
Na função curatorial, em 2013 também organizamos o Amazonas Seminário de Artes Visuais, como pressuposto de aproximação com o sistema de arte contemporâneo. Durante os meses de setembro e novembro, palestrantes como curadores, críticos e professores fizeram parte de uma programação, tendo como foco a Amazônia Território como espaço expositivo, tradição, cultura, arte, antropologia, produção local global, desconstrução e reconstrução, arte e ambiente, circuito e formatos do sistema. Participaram Araci Amaral, Bitu Cassudé, Cristiana Tejo, Alexandre Sequeira e outros mestres e doutores em arte, no total de 32 palestrantes, em 4 etapas.
Nessa continuidade de aparelharmos os artistas e produtores de Manaus de conceitos e maneiras da arte contemporânea, em 2014 construímos o segundo Se- minário Transterritórios, com a presença de 9 palestrantes, entre eles Luísa Duarte, Marília Panitz, Marisa Florido, Orlando Maneschy, Oriana Duarte e Cristina Freire (mac/usp). No transcorrer do evento, além dos comunicados, tivemos a experiência da sala de comunicação, para que os artistas visuais da fotografia pudessem dialogar com os curadores convidados sobre processos criativos. compartilhar
A fotografia na Amazônia caracteriza-se na possibilidade de muitas amazônias e vários meios para seu fim, naturais, manipuladas ou construídas de outros territórios redescobertos de paisagens urbanas da metrópole e suas relações de indiferenças, do imaginário da natureza animal e vegetativa, fontes agora intermináveis de novas demarcações e territórios, por desmatamentos e rios alterados, com a síndrome do eldorado tardio e destrutivo na sua geografia e antepassados. No encontro pudemos reconhecer a produção diversa da região através do “meio” fotográfico. As alterações nos processos criativos são evidentes e importantes na dinâmica das artes visuais contemporâneas, pois permitem abordagens de maneiras analógicas ou digitais, conferindo outras possibilidades estéticas, temáticas e relações interlinguagens na construção de imagens.
1. O autor se refere ao dvd Exposições Galeria/Acervo Caua/ Ufam – Memorial de Artes Visuais 2003/2011, lançado em 2013 (nota dos organizadores).