z SABE O(A) DOCUMENTARISTA FILMAR? Por Marcelo Pedroso Holanda de Jesus Em sua trajetória de ao menos 26 documentários, entre longas, médias e curtas-metragens, Eduardo Coutinho se debruçou uma única vez sobre uma alteridade localizada num campo político antagônico ao seu. Em Theodorico, imperador do Sertão, o realizador tece um retrato audiovisual do personagem que dá nome ao filme, Theodorico Bezerra, um latifundiário envolvido com política no Rio Grande do Norte. Típico “coronel” nordestino, Theodorico possuía fazendas de algodão e criação de gado, empregando centenas de pessoas que viviam sob um regime de servidão ancorado na precariedade das relações de trabalho e subserviência política aos interesses do patrão. Podemos identificar no modo de Coutinho filmar Theodorico ecos do que Jean-Louis Comolli observa na relação entre a “ideia política e o corpo político”. A partir do momento em que se encarna e se representa, um poder se torna sua própria caricatura. Nem é preciso forçar o traço, ele se força por si próprio. A sombra se desloca ao mesmo tempo que a luz. É o que eu sempre pensei sobre o poder filmado. Uma luva pelo avesso. Podemos ver as costuras, as carcaças. (COMOLLI, 2008, p. 127).
Assim, Coutinho empreende uma relação de empatia e cordialidade