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1 DO QUE FALAR NO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

1 DO QUE FALAR NO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Esse trabalho, apresentado como meu trabalho de conclusão de curso (TCC), é fruto de minha trajetória de vida e como o teatro entrou para compor o rol de habilidades que desenvolvi ao longo deste tempo. Para chegar ao que eu gostaria de falar no TCC tive várias dúvidas. Via colegas que encontravam seus temas como se não precisassem fazer nenhum esforço. Outros, que após alguma experiência bem sucedida durante a graduação, decidiam por falar daquela experiência. Outros ainda elegeram uma etapa dos estágios supervisionados para um aprofundamento e fechamento do ciclo na graduação. Era angustiante pensar e não saber do que falar. Existia em mim uma pressão feita por mim mesma e todas as expectativas que veem juntos (da família, dos colegas), chegando a julgar o meu lugar, o meu comportamento enquanto aluna durante todos esses anos de graduação (eu entrei no segundo semestre de 2012 e este trabalho será defendido no primeiro semestre de 2018). Afinal, após uma graduação supõe-se que vamos para o mercado de trabalho. E me perguntava: “Será que eu não estudei ou fui boa o suficiente? Será que até agora não fiz nada de relevante na minha vida e na minha carreira acadêmica? Será que meu trabalho de conclusão de curso vai ter alguma relevância?”... Sempre morri de medo de fazer qualquer coisa, no sentido de fazer algo só porque eu tinha que fazer, definitivamente eu não queria isso. Sempre escutei que durante a trajetória acadêmica deveríamos nos aproximar daqueles que nos inspiram, e com esse pensamento na cabeça, sempre tive o professor Ricardo Figueiredo como uma referência. Para a minha sorte ele sempre esteve presente em meu percurso desde que eu decidi pela Licenciatura, lá no meu terceiro período. Com ele eu sempre pude ser muito sincera, sincera ao ponto de dizer que eu não sabia o que escrever no meu trabalho final e com isso ele já se tornava ali o meu querido orientador.

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Em 2016 fiz a disciplina Pesquisa em Artes Cênicas, que tem como objetivo principal a elaboração do projeto do trabalho de conclusão de curso, o TCC. No ano anterior, Gabriel, meu irmão mais novo, estava finalizando o ensino médio no ensino público estadual e me mostrou que havia recebido um livro didático de Arte. Naquele dia, ao ver a existência de um livro didático de Arte, que eu não sabia que existia, me deixou muito feliz e curiosa. Feliz, porque sentia que de certa forma aquele livro representava alguma importância para o ensino das artes nas escolas (considerando que o meu irmão estudava na mesma escola que eu me formei e que eu não tive aula de Arte e agora, além de ter, tinha também um livro que poderia

acrescentar à prática docente) e curiosa, porque eu tinha o interesse de saber como o professor de Arte não mais polivalente e generalista, atuando na sua formação específica, trabalharia com um livro com as diversas linguagens artísticas (artes visuais, dança, música e teatro). Com isso, finalizei o meu projeto de tcc que tinha como título: “Livro didático de Arte: utilizar ou não? Eis a questão”. Finalizando a disciplina continuei uma pesquisa procurando saber se os professores de teatro de algumas escolas utilizavam o livro e a grande maioria respondeu que não, fui procurando outras escolas com professores de outras áreas artísticas e encontrei poucos, quase nenhum dizia utilizar o livro. Com isso fui desmotivando e também percebia que não era algo que me faria escrever com vontade, seria apenas uma aceitação da primeira ideia que veio a minha cabeça. Contrariando assim, o meu instinto natural de improvisadora teatral que aprendi com o Sistema Impro de Keith Johnstone na aceitação da minha primeira ideia. Ricardo, a princípio, me perguntou se eu gostaria de falar da minha experiência enquanto aluna durante a permanência no programa Valores de Minas (VDM). Pensei e disse que talvez sim. Um tempo depois me sugeriu ignorar essa ideia e começou a me instigar perguntando o que eu teria o desejo de contar e refletir, algo que eu escreveria com vontade. Perguntou se era o intercâmbio acadêmico que eu havia realizado em 2016, em Santiago do Chile; se era a minha pesquisa prática e teórica com a Improvisação Teatral e como ele me conhece, conseguia mencionar coisas que eu fiz e/ou eram do meu interesse. Com isso, disse que me interessava em falar da minha trajetória até a graduação como um todo. Cheguei a fazer um Sumário, como um primeiro exercício de orientação, nomeando todas as fases que vivi, por etapas:

Fonte: Elaborada pela autora.

Depois, foi pedido que eu começasse a aprofundar uma dessas etapas, mas que partisse da que eu mais gostaria de falar. E por acreditar que eu já sabia tudo que eu iria escrever, iniciei com o Valores de Minas.

Nesse momento, meu orientador chegou a dizer que nada era por acaso e no decorrer da escrita foi percebido que deveríamos estar atentos às demandas que estavam surgindo, porque estávamos indo para vários lugares que não havia o porquê de não serem explorados. E não, definitivamente, eu não sabia de tudo. Viver a história e pensar sobre ela não é uma tarefa simples. Quando lá atrás, eu disse talvez para o VDM como tema era porque eu pensava que falaria apenas de uma experiência anterior à UFMG, nada a mais ou a menos, e ao mesmo tempo talvez eu tinha um pouco de preguiça de falar disso. Porém, depois fui analisando, pensando e relembrei que minha experiência no VDM foi responsável por eu ter entrado na UFMG, pois me possibilitou a ter um repertório prático suficiente para ser aprovada na etapa de aptidão específica do vestibular. Além disso, o VDM me proporcionou, devido à proposta

curricular do curso, a minha primeira experiência mais próxima à docência e que me levou a lugares que só vim questionar nesse momento de escrita do TCC. Decidi falar do Valores de Minas e, para isso, utilizei para ter referências concretas o meu blog feito na época, meu diário de bordo e contei com a ajuda de companheiros que estudaram comigo e que foram muito solícitos às minhas perguntas feitas pelo Facebook e WhatsApp. Por se tratar de uma experiência que aconteceu em 2010 e 2011, existem muitos fatos que eu não lembro, ou que não sei se estou inventando agora ou se de fato aconteceram. E, amparada no pensamento de Cecília Salles entendo que: “Lembrar não é reviver mas refazer, reconstruir, repensar com imagens de hoje as experiências do passado. A memória é ação.” (SALLES, 1998, p. 100) Falar da minha trajetória anterior à graduação é importante porque me coloca em uma situação de escrever, pensar, criticar e fazer uma análise de recortes no percurso artístico e formativo que vivi até agora. A minha trajetória anterior à Universidade Federal de Minas Gerais contribuiu para as minhas escolhas durante a minha trajetória acadêmica, pois as minhas experiências anteriores auxiliaram as minhas escolhas e interferiram de alguma maneira, como apontarei nesse trabalho. Ricardo Figueiredo (2016) apresenta que a trajetória do professor pode interferir na prática docente, ou seja, a minha formação anterior e durante a UFMG fará e faz parte do meu processo de aprendizagem e formação docente.

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