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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não diria que se eu pudesse voltar atrás eu jamais entraria na EI. Querendo ou não, foi uma experiência enriquecedora na minha vida. Serviu para não desistir da profissão (porque eu realmente vi que eu queria ser professora) e ao mesmo tempo serviu para que eu prometesse a mim mesma que eu nunca mais trabalharia outra vez no projeto EI – ao menos naquelas condições. Serviu para que eu não tivesse medo de encarar os estágios obrigatórios, medo que é muito comum aos alunos da licenciatura. Principalmente pelo fato de ser necessária a realização de uma prática docente nesse período. Após o período na Escola Integrada, fiz o meu primeiro estágio – que era o de observação. Ali eu vi um tipo de docência que eu não gostaria de seguir. Continuei com a necessidade de ver “outros exemplos” que agregassem bons exemplos e experiências significativas em teatro. Depois de algum tempo longe da prática docente, em 2017 eu realizei, no segundo semestre, a disciplina de prática de estágio III e IV, concomitantemente. Eu observava em dias diferentes um professor de escola pública que dava aulas no ensino médio e um professor de escola particular que dava aulas no ensino fundamental. Tampouco vi claramente um perfil completo de um professor que eu diria “assim quero ser”, um pensamento comum para mim durante a graduação enquanto aluna. Naquele momento eu não tinha tanto medo, mas também não tinha muita noção do que queria ou poderia propor nas aulas práticas. Conheci a partir daí Ana Mae Barbosa e a abordagem triangular sistematizada por ela:

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Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte estaria se organizando de maneira que a criança, suas necessidades, seus interesses e seu desenvolvimento estariam sendo respeitados e, ao mesmo tempo, estaria sendo respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua estrutura e sua contribuição especifica para a cultura. Teremos assim equilíbrio entre as duas teorias curriculares dominantes: a que centra na criança os conteúdos e a que considera as disciplinas autônomas com uma integridade intelectual a ser preservada. (BARBOSA, 2002, p. 350)

A princípio, a partir de uma única leitura o entendimento sobre essa abordagem era ainda superficial. Porém, ao chegarmos durante as disciplinas de estágio, no ponto que deveríamos fazer os nossos planejamentos de curso e de aula para o período da prática do estágio fui percebendo que ali eu precisava pensar no meu conteúdo utilizando das instâncias da abordagem triangular (contextualizar, fazer-exprimir-conhecer, ler-apreciar.).

Nesse momento eu me sentia em constante comparação, conseguia relembrar a minha experiência na escola integrada e pensar primeiramente que na escola básica eu não estou formando atores e que eu tenho que buscar criar e ter experiências estéticas com os meus alunos, buscar construir narrativas através da consciência de um modo de se fazer, partindo de um lugar de reflexão. Percebi que nas minhas experiências anteriores houve pouco ou nenhum tipo de reflexão, nem minha e nem de mim para com os alunos. Com isso, comecei o meu desafio nas disciplinas de estágios, buscar através da observação um tema de interesse aos alunos daquelas duas instituições, que fosse suficiente para a criação dos meus planos. Ali eu vi um viés que me agradava e, naquele momento, eu me senti aprendendo o ofício de professora de teatro que deve ser de alguém de instiga os alunos a partir de temas e interesses que partem deles e que vão além do que conhecem. Dizer o que eu espero ser e seguir como professora no futuro próximo, seria algo muito utópico e perigoso, talvez eu voltaria a fazer como antigamente, quase que em busca de um molde a ser seguido (é só lembrar de quando eu pedi sem propósito nenhum, para os meus alunos caminharem pelo espaço, pelo simples fato de ter feito muito isso durante o VDM). Também é complicado porque acredito que somente na prática, no dia-a-dia, no “vamos ver” que a gente sabe e vai vendo como realmente é. Deve ser por isso que é comum escutar de professores recém-graduados que “foi na escola mesmo que eu aprendi como é, e não na faculdade.” Percebi que eu não iria encontrar puramente um modelo de professor a ser seguido, onde eu iria gostar de tudo que eles fizessem, porque cada um teve a sua formação, as suas escolhas, as suas preferências estéticas, o seus medos e desejos, assim como eu. Fui vendo que esses desejos que eu tentava buscar nos professores que eu acompanhava era algo que eu tenho que buscar para mim, analisando todo esse meu processo de formação. Ainda não sei tudo que eu desejo ser como professora, mas tenho alguns palpites. Eu desejo o diálogo, desejo escutar o que se apresenta vindo dos alunos, de forma explícita e implícita, desejo não perder o interesse em seguir estudando e me aperfeiçoando. Desejo seguir observando o que dá certo ou não e poder ter a chance de mudar de ideia. Quero seguir aprendendo a lidar com o erro e, principalmente, eu desejo não desistir da profissão. Afinal, o caminho se faz ao caminhar com incorporações e descartes de atitudes, gestos e valores.

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