3. Relatos do início do processo
O processo que iniciamos com a turma do sétimo ano da Escola Municipal Aurélio Pires teve como base os alunos e suas histórias e escolhemos princípios do teatro pósdramático como o modo criador para reverberar na construção do trabalho cênico. Então, partimos da experimentação vinculada ao processo, com enfoque nas histórias dos alunos para, então, dar início às experimentações e discussões dentro da sala de aula. Nas primeiras aulas começamos uma discussão sobre identidade, algo que representasse os alunos em palavras ou em algum desenho, para que começássemos a traçar algumas características deles e achar algum fio condutor para o início dos trabalhos. Em seguida propusemos aos estudantes que reunissem objetos pessoais e significativos em uma caixa, juntamente com uma carta escrita para si mesmo para ler daqui a 10 anos, relatando o que estava acontecendo nesse momento em sua vida. Nesse exercício, os alunos tiveram que apresentar para o grupo sua caixa e sua carta a fim de todos se conhecerem melhor e para que os alunos pudessem, com a carta e objetos (fotos, livros e outras particularidades), se mostrar e revelar histórias que muitos não conheciam. Assim como Célida Mendonça (2009, p. 59) questiona em sua tese, também tentamos identificar qual “corpo queremos formar, ou qual é o tipo de pessoa que queremos formar na escola pública?” ou até “Como trabalhar com a hospitalidade na escola ao invés da hostilidade? Como formular questões de ética, respeito e responsabilidade para com o outro, pensando o outro como diferente, mas não como diferença?” (idem, p.93). Buscar por essa identidade de cada aluno nos possibilitaria entender quais eram suas questões e qual caráter o trabalho iria tomar a partir daquele momento.
Entretanto, a busca pela identidade de cada aluno não foi um trabalho simples, porque além da vergonha da exposição, processo pelo qual já estávamos trabalhando ao longo de 2015, os alunos, nesse trabalho, também deveriam se entregar ao processo. Se mostrar, se colocar enquanto indivíduos que participam do coletivo foi o grande desafio, porque além de mostrar aos alunos que eles poderiam falar e expor suas ideias, também trabalhamos bastante o respeito, pois fazer piadinhas ou comentários que pudessem fragilizar a abertura dos colegas que ocorreria nas apresentações seria danoso ao 15