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alerta que precisa ser lançado? Um grito não apenas em forma de som, mas também em forma de imagens, como um artista que enche uma Kombi de bananas10 e vai para uma feira de artes?
Figura 6: Mercado de bananas, mercado de arte (2012) – Performer Paulo Nazareth e sua instalação na feira “Art Basel Miami”, em Miami. Fonte: Disponível em: <https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/18647-vida-e-obra-de-paulo-nazareth#foto311280> Acesso, setembro de 2020.
Para falar de corpo na presente pesquisa, talvez possa ser esclarecedor discorrer sobre o corpo da criança, e como ele foi e é visto ao longo da história, mas especificamente o corpo da criança no contexto escolar, o qual integro. Discutir o corpo da criança nesse contexto se torna relevante uma vez que a presente pesquisa parte do princípio de que a Performance Arte utiliza o corpo enquanto “objeto” de ação e, aqui, a criança é a performer em ação. A ideia não é aprofundar no assunto, mas apresentar um ponto de vista em relação à maneira como o corpo da criança é pensando na nossa sociedade. Nesse contexto, Priore (2009), embora não esteja falando do lugar do corpo da criança na arte, apresenta um retrato amplo da história do corpo da criança que nos interessa: Para começar, a história sobre a criança, feita no Brasil assim como no resto do mundo, vem mostrando que existe uma enorme distância entre o mundo infantil descrito pelas organizações internacionais, pelas não governamentais e pelas autoridades, daquele no qual a criança encontra-se quotidianamente imersa. O mundo que a “criança deveria ser” ou “ter” é diferente daquele onde ela vive, ou, na maioria das vezes, sobrevive. O primeiro é feito de expressões como “a criança precisa”, “ela deve”, “seria oportuno que”, “vamos nos engajar em que”, até o irônico “vamos torcer para”. No segundo, as crianças são enfaticamente orientadas para o trabalho, para o ensino, para o adestramento físico e moral, sobrando-lhe pouco tempo para a imagem que normalmente a ela está associada: do riso e da brincadeira. (PRIORE, 2009, p. 8)
O que normalmente se percebe em relação ao corpo da criança, na escola ou na sociedade em geral, é um corpo infantil “esquecido”, um corpo que foi e é calado, visto como
10 Mercado de Artes/Mercado de Bananas (2012) - performer Paulo Nazareth: trata-se de uma instalação, entendida como sendo uma obra performática, em que o artista expõe uma Kombi 1978 de cor verde, dentro da qual há bananas sendo vendidas pelo artista a US$10. Durante a exposição, as bananas “atraíam mosquitos e gente”, segundo o artista. Devido ao seu processo de amadurecimento, “era a única obra que tinha cheiro lá”, afirma Paulo.