Samuel Demerson Alves de Carvalho - PERFORMANCE: Um caminho para arte-educação

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passivo. Na escola, por exemplo, o corpo da criança é aquele que, muitas vezes, é levado a copiar tudo o que está sendo trabalhado em sala de aula, nos pátios e nas quadras. Entender historicamente o corpo da criança na visão das instituições públicas ou privadas e na sociedade é possibilitar a interpretação desse corpo que entra em ação durante as práticas performáticas sugeridas na escola. Para pontuar um pouco mais sobre a forma como a criança é vista na nossa sociedade, trago o pensamento de Priore (2009) onde a autora fala da maneira como a criança é vista, não só no Brasil, mas no mundo, e como elas são colocadas em risco até hoje, mesmo com leis que falam dos seus direitos e deveres. A autora pontua a criança na visão institucional e na visão social do espaço que habita: No primeiro, habita a imagem ideal da criança feliz, carregando todos os artefatos possíveis de identificá-la numa sociedade de consumo: brinquedos eletrônicos e passagens para Disneylândia. No segundo, o real, vemos acumularem-se informações sobre a barbárie constantemente perpetrada contra a criança, barbárie esta materializada nos números sobre o trabalho infantil, sobre a exploração sexual da criança de ambos os sexos, no uso incomum que o tráfico de drogas faz dos menores carentes, entre outros. Privilégio do Brasil? Não! Na Colômbia, os pequenos trabalham em Minas de carvão; na Índia, são vendidos aos 5 ou 6 anos para indústria de tecelagem. Na Tailândia, cerca de duzentas mil são roubadas anualmente das suas famílias e servem à clientela doentia dos pedófilos. Na Inglaterra, os miseráveis subúrbios de Liverpool produzem os “baby killers”, crianças que matam crianças. Na África, 40% das crianças, entre sete e quatorze anos, trabalham. Esses mundos opostos se contrapõem em imagens radicais de saciedade versus exploração. Como se não bastasse, as mudanças pelas quais passa o mundo real fazem delas também suas tenras vítimas: a crescente fragilização dos laços conjugais, a exploração urbana com todos os problemas decorrentes de viver em grandes cidades, a globalização cultural, a crise do ensino ante os avanços cibernéticos, tudo isso tem modificado, de forma radical, as relações entre pais e filhos e entre crianças e adultos. (PRIORE, 2009, p. 8-9)

Nesse contexto, o corpo infantil que performa pode ser, portanto, aquele que vai dizer sobre como é ser afetado por um bombardeio tecnológico e por imagens que ditam como cada corpo deve agir; sobre ser um corpo que é afastado do seu lugar de brincante, de criança; sobre ser um corpo exposto a normas sociais que menosprezam e diminuem a infância. Para exemplificar, não é preciso ir longe, basta relembrar alguns argumentos comuns que ouvimos, cotidianamente, de adultos sobre crianças de 9 e 10 anos: é preciso se preparar para o futuro, não há mais tempo de brincar ou jogar, é preciso adquirir responsabilidade, afinal já são “rapazinhos e mocinhas” e não podem mais agir como crianças. O corpo infantil em performance também pode ser aquele que sofre ou sofreu bullying diariamente em seu percurso educacional. Alguns sofrem mais, outros menos, a depender do tom de sua pele, da textura do seu cabelo, se tem dinheiro para comprar um sapato da moda, se nasceu com um órgão genital com o qual não se identifica, se lancha na cantina da escola ou leva de casa.

1.2 Performance Arte A Performance Arte, além de ser a arte que evidencia o corpo, que o leva para a ação, é também uma proposta híbrida, uma vez que utiliza de várias linguagens artísticas para


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