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Modelos bíblicos de liderança
A Bíblia diz que com o rigor com que nós julgamos também seremos julgados. Quem quer que sua liderança seja avaliada de modo justo precisa notar como tem avaliado os seus líderes hoje.
Depois de nos dedicarmos inicialmente a compreender o que seja a liderança e como a Bíblia trata esse assunto a partir da pessoa do líder, podemos seguir para nosso segundo tópico no qual pretendemos olhar novamente para a Bíblia em busca de modelos de liderança.
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Para isso, vamos começar relembrando a definição de liderança que desenvolvemos no tópico anterior: liderar é inspirar pessoas, por meio do uso de competências pessoais, para que alvos de interesse comum sejam alcançados.
Nós já consideramos que a liderança pode ser exercida organizacionalmente (ocupando uma função) ou organicamente (exercendo um dom espiritual). Independentemente da circunstância, nossa definição anterior diz que esse líder inspira pessoas mediante o uso de suas competências pessoais. Mas quais são essas competências pessoais que um líder cristão deve possuir?
Haggai (1990) vai nos dizer que existem doze princípios norteadores de um líder: visão, estabelecimento de metas, amor, humildade, autocontrole, comunicação, desprendimento para o investimento, entendimento de que tudo pode se tornar uma oportunidade para algo positivo, energia, poder de persistência, autoridade e conscientização. Sem dúvida, um belo conjunto de competências a serem desenvolvidas por qualquer líder!
Maxwell (1999) listou 21 leis de liderança que estão alicerçadas em princípios sólidos que também precisam ser conhecidos e desenvolvidos por líderes cristãos. Lee (2004), por sua vez, nos desafia à excelência em seis áreas para uma liderança mais efetiva: atitudes, fé, habilidades, mordomia, motivação e relacionamentos.
Além desses três autores citados, existem outros com listas extremamente relevantes que nos fazem pensar sobre o desafio de estarmos em constante revisão e aprimoramento de nossas habilidades, conhecimentos e motivações.
Para nossa consideração, neste tópico vamos propor três competências a serem desenvolvidas ou três áreas de concentração nas quais devemos focar nosso desenvolvimento como líderes: carisma, caráter e capacitação.
O CARISMA DO LÍDER
Por carisma, neste nosso estudo, não estamos usando a denotação do termo a partir de seu original no grego – charismata – que é traduzido por dom, aquela capacidade sobrenatural concedida pelo Espírito Santo como já foi tratado anteriormente.
O termo aqui designa uma competência relacional do líder, ou seja, um atributo que promove ou facilita suas relações interpessoais. Carisma, neste contexto, é a capacidade de gerar respeito e admiração por meio da simpatia pessoal.
Nosso conceito de liderança define sua função primaz como sendo a capacidade de inspirar outros. Logo, fica evidente que o líder precisa ter habilidade para se relacionar com as pessoas, criar vínculos e gerar confiança.
Uma pessoa pode ser extremamente competente na realização de tarefas, na execução de planos e no alcance de resultados, porém não ter nenhum tato para as relações interpessoais. Ele empreende sozinho e tem ótimos resultados. Mas isso não é liderança. A liderança é exercida em coletividade.
“Os bons líderes levam outros consigo para o topo” (John C. Maxwell)
E não há mágica nesta área: a disposição para gerar relacionamentos profundos e produtivos passa pela disposição em servir às pessoas. Esse é o grande modelo de liderança bíblica, que tem se tornado referência até para o mundo corporativo, como pode ser visto no sucesso de obras como O monge e o executivo, de James Hunter (2004), que fala sobre o modelo de líder-servo a partir do paradigma de Jesus.
Temos em Cristo um modelo de alguém que estabelece relacionamentos intencionais com uma postura totalmente altruísta a fim de levar seus amigos a realizações de alto impacto e relevância com efeitos permanentes. Qual líder não gostaria de alcançar tais resultados? Isso começa no estabelecimento de relacionamentos, começa com o desenvolvimento de seu carisma.
Para mais aprofundamento sobre Jesus como o grande modelo de líder-servo, recomendamos a leitura da obra Lidere como Jesus, escrita por Ken Blanchard e Phil Hodges. Fonte: o autor.
O CARÁTER DO LÍDER
Normalmente, não consideramos a integridade como uma competência de desempenho, mas muito mais como um legitimador do líder, dando-lhe respaldo no cumprimento de suas funções. Porém, um pequeno esforço de memória vai nos fazer lembrar de situações em que a falta de caráter de líderes, seja no mundo corporativo, seja no político, seja até mesmo no ministerial, comprometeram grandemente o desempenho de líderes e causaram grande prejuízo às organizações.
Cloud (2011, p. 17) nos diz que “em geral, quando pensamos na palavra integridade ou caráter, imaginamos algo relacionado a moral ou ética, e não a desempenho”.
Porém, segundo o mesmo autor, “quem a pessoa é, em última instância, determina se sua inteligência, seus talentos, suas competências, sua energia, seu esforço, sua capacidade de negociação e suas oportunidades serão bem-sucedidas”.
Nós podemos encontrar esse reflexo em personagens bíblicos que tiveram suas vidas e carreiras frustradas por questões ligadas ao seu caráter. Sansão foi alguém cuja instabilidade moral lhe rendeu um fim trágico. Da mesma forma, Davi teve seu reinado transtornado a partir de seu deslize moral com Bate-Seba, trazendo sobre si grande prejuízo.
A integridade, porém, não é sinônimo de uma vida sem erros ou pecados. Ela é, antes de tudo, uma marca de compromisso com os valores de Deus, que leva as pessoas a zelarem por uma vida em conformidade com esses valores e as ajuda a retornar a eles quando vêm a se desviar. É exatamente essa postura que permitiu que Davi ficasse registrado postumamente como um homem “segundo o coração de Deus”.
Quando Salomão, filho de Davi, após concluir as obras de construção do templo de Jerusalém, pediu a Deus que o abençoasse para ser bem-sucedido na tarefa de substituir seu pai no trono de Israel, recebeu a seguinte resposta registrada em 1Reis 9,3-5 (grifo nosso): o Senhor lhe disse: Ouvi a oração e a súplica que você fez diante de mim; consagrarei este templo que você construiu, para que nele habite o meu nome para sempre. Os meus olhos e o meu coração estarão sempre nele. E se você andar segundo a minha vontade, com integridade de coração e com retidão, como fez o teu pai Davi, se fizer tudo o que eu lhe ordeno, obedecendo aos meus decretos e às minhas ordenanças, firmarei para sempre sobre Israel o teu trono, conforme prometi a Davi, seu pai, quando lhe disse: Nunca lhe faltará descendente para governar Israel (BÍBLIA ONLINE, [s.d.]).
Veja como Deus colocou Davi como referência para Salomão, sabendo que Salomão conhecia muito bem a história do pai e as consequências dentro de sua casa quando o pai vacilou na condução de sua vida moral.
No Novo Testamento, vemos o apóstolo Paulo exortando Timóteo a atentar a esse cuidado especial com seu caráter, pois isso o legitimaria em seu ministério mesmo sendo ainda muito jovem diante de sua comunidade. O apelo de Paulo foi para que ele buscasse ser um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Timóteo 4,12).
Assim, concluímos que o caráter do líder é que autentica sua capacidade de inspirar seus liderados. O seu carisma cria pontes de aproximação e abre portas para relacionamentos que se firmarão a partir da manifestação de um compromisso com a integridade.
A CAPACIDADE DO LÍDER
Nem só de boas intenções vive um líder! Ele precisa demonstrar que possui capacidades inerentes à função que ocupa. Não se trata de anular a capacitação que o Espírito Santo lhe dá por meio dos dons e talentos, mas de valorizar o desenvolvimento dessas habilidades.
Voltando à experiência de Moisés com Jetro, seu sogro, destacamos que, entre os elementos a serem considerados nos líderes que Moisés deveria estabelecer, está a declaração de que deveriam ser “homens capazes” (Êxodo 18,21).
Da mesma forma, em Atos 6, quando a igreja deliberou a instituição de diáconos para liderarem o serviço de assistência às viúvas, cuidou de estabelecer critérios que deveriam ser preenchidos por aqueles que ocupariam tais funções, destacando a sabedoria como uma dessas competências (v. 3).
Ainda lembramos da orientação de Paulo, em Romanos 12,8, sobre a necessidade daqueles que possuem o dom de liderança de exercê-lo com zelo ou dedicação. O apóstolo diz que devemos ser fiéis administradores dos dons que recebemos para servir aos outros (1Pedro 4,10).
Assim, soma-se à capacitação do Espírito todo o conhecimento e aprimoramento que pudermos adquirir para melhor servir. Conhecimentos de gestão, desenvolvimento da comunicação, técnicas para a construção de projetos e todas as demais habilidades producionais que possam agregar para o bom desempenho da liderança devem ser considerados. Seminários, congressos, clínicas e oficinas de desenvolvimento, assim como leituras constantes, devem fazer parte da prática do líder.
Concluímos este segundo tópico ampliando nosso entendimento sobre as competências pessoais do líder que são suas ferramentas para o trabalho de inspirar pessoas para o alcance dos alvos de seu ministério ou organização.
Tais competências se distribuem nas áreas do carisma: competências relacionais; do caráter: competências pessoais; e da capacidade: competências producionais; e são amparadas biblicamente pelo estímulo ao desenvolvimento delas. Isso tudo a partir do modelo de Jesus Cristo, que nos deixa o legado inspiracional de que essas competências devem estar sustentadas por uma motivação de servir, submetendo-se voluntariamente por amor àqueles que Deus coloca debaixo de nossa orientação.
O quadro a seguir resume esses conceitos.
Quadro 1 - Modelo bíblico de liderança
Modelo Bíblico de Liderança
CARISMA Competências RelacionaisCARÁTER Competências Pessoais CAPACIDADE Competências Producionais
Líder-Servo
Modelo de Jesus
Fonte: o autor.
Os modelos bíblicos de liderança estudados neste tópico devem ser considerados com atenção para distinguirmos as melhores práticas na tarefa ministerial.