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Responsabilidade social e sustentabilidade
Montagem do cronograma
Na montagem do cronograma, deverão ser observados os seguintes processos com seus objetivos específicos: 1) definições, 2) sequenciamento, 3) estimativa de recursos humanos e financeiros, 4) estimativa do tempo de execução e 5) processo de controle do cronograma. Cada etapa da montagem do cronograma deve ser cumprida por completo e na sequência para garantir que ele seja uma ferramenta de gestão que funcione e trabalhe a favor do líder. ■ Definir - identificar as atividades específicas do cronograma.
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■ Sequenciar - organizar em ordem lógica as atividades do cronograma.
■ Estimar recursos - prever recursos humanos e financeiros requeridos para executar cada atividade.
■ Estimar tempos - prever o período necessário para conclusão de cada atividade.
■ Desenvolver - análise das sequências das atividades, suas dependências, durações e recursos requeridos para criar o cronograma.
■ Controlar - controlar o cumprimento e as alterações efetuadas no cronograma;
Existe um sentido no qual o empreendedorismo social, organização e gestão, e a própria pessoa do líder dialogam ou se inter-relacionam no âmbito da Igreja Cristã. Por meio dessas áreas, a Igreja encontra um caminho pelo qual pode encarnar o ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16), como um sinal histórico do Reino de Deus, fazendo da busca pela justiça social mais uma expressão da sua missão; não para além ou aquém da pregação do Evangelho, mas como
sua consequência, uma vez que a essência do Evangelho é expressa no preceito da Lei endossado por Cristo e seus discípulos afirmando que “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). O empreendedorismo social é a Lei Áurea da experiência cristã efetivada.
Os profetas do século VIII a.C. tiveram uma mensagem contundente contra as injustiças sociais e denunciaram todos os abusos realizados em sua sociedade, fazendo da justiça social o ponto forte de sua mensagem. Podemos citar especialmente o profeta Amós, que fez da sua mensagem uma denúncia explícita aos abusos sociais da sua época lembrando que a aliança de Yaveh com seu povo exigia o arrependimento e consequente abandono das injustiças sociais e a aplicação pelo estabelecimento dos valores intrínsecos ao caráter de Yaveh (MOTYER, 1984). “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão, como o ribeiro perene” (Am 5:24).
INCULTURAÇÃO
A responsabilidade social é um chamado à Igreja Cristã de assumir seu papel como agente histórico e manifestar em sua trajetória os valores essenciais à sua própria condição de povo do Deus que é essencialmente amor. Este processo de inserção dos valores do Evangelho na sociedade é chamado de inculturação. Segundo Donegana; Beraldo (apud GIANASTACIO, 2006, p. 108): inculturação significa introduzir a cultura no Evangelho e o Evangelho na cultura (inculturar), isto é, operar o casamento entre a mensagem interna de Jesus e a expressão cultural de um povo (ritos, filosofia, relações humanas, vida comunitária, organização social...). É a expressão do pluralismo na Igreja, da sua catolicidade, porque o único Evangelho assume cores diferentes. Mas isso não deve levar à divisão: pluralidade na unidade... Outra definição vem de José Gilberto Beraldo: inculturação é inserir os valores do Evangelho na cultura (nos sistemas, nas estruturas e nos ambientes nos quais os povos se movem, vivem e se relacionam) de um povo, sem, entretanto, destruí-la ou tentar substituí-la.
ENCARNAÇÃO
Helcio da Silva Lessa (1964) desenvolve três conceitos a partir do exemplo da escravidão no Brasil, isto é, uma situação social concreta. Ele fala sobre três possibilidades pelas quais a Igreja pode exercer a sua responsabilidade social como expressão da encarnação do Evangelho que prega: assistência social, o serviço social e a ação social.
Hoje, a escravidão causa repulsa no mundo civilizado e é considerada incompatível com os princípios cristãos. No entanto, imaginemos o Brasil no tempo da escravidão. Naquele tempo, a escravidão era justificada pela sociedade; amparada pelo Estado, que lhe assegurava sua legalidade; e teologicamente justificada pela Igreja, que abençoava os navios negreiros desejando-lhes uma “boa caçada”.
Várias atitudes poderiam ser tomadas pelos cristãos em relação aos escravos.
Assistência social
A primeira atitude seria estimular os indivíduos a levar água e pão e cuidar das feridas dos negros açoitados e pendurados no pelourinho. Seria um gesto nobre, meritório e oportuno, sem dúvida, mas não satisfatório. Tal atitude tipifica a assistência social (ou assistencialismo), uma vez que só aliviava os sofrimentos dos escravos. Manter o nível assistencial seria impor-se a uma tarefa sem fim, uma vez que todos os dias haveria novos escravos no pelourinho para cuidar. Seria tal gesto um paliativo apenas. Para levar o amor cristão às últimas consequências, seria necessário ir mais longe.
Serviço social
A segunda atitude seria reunir as pessoas mais sensíveis e de visão mais ampla, sem deixar de fazer aquela caridade, e organizar coletas de recursos entre os livres a fim de comprar a liberdade dos escravos, assegurando-lhes um emprego, iniciando-os na vida, para que nunca mais precisassem ser açoitados no pelourinho. Isso seria a solução total do problema pessoal. Entretanto, para alguns poucos agraciados, isso equivaleria a um programa de serviço social. Todavia, mesmo ofertas para comprar a liberdade de um número cada vez maior de escravos seria, irônica e paradoxalmente, estimular o comércio de escravos.
Ação social
Essas atitudes, entretanto, por mais justas e razoáveis que nos pareçam hoje, foram fonte de profundas amarguras e provações. Era necessário lançar-se contra a própria instituição da escravatura. Aboli-la, para que não houvesse mais escravos para curar nem para comprar, pois não se estanca uma hemorragia com um algodão, nem se pode manter um torniquete indefinidamente. Impõe-se fazer as suturas definitivas ou eliminar as suas causas orgânicas. Este é o espírito e o sentido da ação social.
Impulsionados pela consciência e o amor cristãos, os que lutaram contra a escravidão foram considerados “subversivos”, uma vez que a escravatura era legal. As “forças vivas” da sociedade os tacharam de “hereges” e “heterodoxos”, pois a religião organizada fornecia cobertura doutrinária às razões dos escravagistas. Os que se esforçaram para fazer conformar a estrutura social com os “claros princípios do Evangelho, para assegurar aos indivíduos o direito à liberdade e à dignidade”, foram identificados como “agentes” pagos pelas potências estrangeiras, preocupados apenas com a divulgação, no país, de doutrinas políticas e filosofias sociais consideradas esdrúxulas e até anticristãs, como os princípios de “igualdade, liberdade e fraternidade”, da Revolução Francesa, e da “democracia representativa” dos Estados Unidos, que começavam a empolgar o mundo ocidental civilizado!
IGREJA: ATOR SOCIAL
Como você percebeu, a Igreja, enquanto “organismo” – na individualidade de seus membros – e como “organização” – no esforço coletivo e legalmente instituído – tem o desafio de atuar na sociedade na propagação dos valores éticos que aprimorem essa sociedade, isto é, a tornem mais justa e igualitária. É exatamente no segundo sentido que se forma a possibilidade da responsabilidade social da Igreja. Enquanto ator social, possuidor de um CNPJ, a Igreja pode ter atuação relevante no aprimoramento da justiça na sociedade civil. De acordo com o Business for Social Responsability (BSR), embora não exista uma definição unanimemente aceita para o termo responsabilidade social corporativa, a expressão se refere, de forma ampla, a decisões de negócios tomadas com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente (MACHADO FILHO, 2013, p. 24)
O Business for Social Responsability (BSR) é a principal entidade mundial na área de responsabilidade social. Ela reúne cerca de 1.600 empresas que representam um faturamento total de mais de 1,5 trilhão de dólares. Fonte: Machado Filho (2014, p. 24).
A metáfora dos discípulos de Jesus como sal e luz (Mt 5,13-16), tem duas lições afirmativas. A primeira é que o sal era um elemento invisível que tinha a função de preservar a carne ou retardar seu apodrecimento. A segunda é que a luz da candeia que ilumina a casa tinha a função de servir como referencial para a locomoção das pessoas dentro da casa.
Logo, a Igreja – a coletividade dos discípulos de Jesus – precisa ser para a sociedade o elemento que a preserva ou retarda o seu apodrecimento, servindo como referencial para esta mesma sociedade (STOTT, 2001, p.48-61).
Sendo assim, deve haver o diálogo entre o mundo corporativo – que precisa tomar decisões com base em valores éticos – e a Igreja Cristã – que pretende apresentar a ética judaico-cristã como referência para esta sociedade –, de tal maneira que as ações práticas das empresas ultrapassem as metas do lucro monetário como único propósito. Isto é, O BSR Institute sustenta que o conceito de empresa socialmente responsável se aplicará àquela que atue no ambiente de negócios de forma que atinja ou exceda às expectativas éticas, legais e comerciais do ambiente social na qual a empresa se insere (MACHADO FILHO, 2013, p. 25).
Ser responsável socialmente não significa que a empresa teria de abrir mão dos lucros. A ética judaico-cristã, especialmente na vertente protestante, admite o lucro não abusivo e o enriquecimento como corretos desde que fruto do trabalho honesto (WEBER, 2003). Além disso, uma empresa que não lucra dará prejuízo. A responsabilidade social tem a ver com o cumprimento honesto de obrigações ou compromissos sociais, bem como com a contribuição para a manutenção da ordem e justiça na sociedade em que está inserida.
Archie Carrol (1979 apud MACHADO FILHO, 2013, p. 25-26) subdivide a responsabilidade social de uma empresa de uma maneira bastante didática. Ele afirma que há vários aspectos a serem considerados: ■ Responsabilidade econômica: é obrigação da empresa ser produtiva e rentável. A sua falência quebra uma cadeia de produção de riqueza na sociedade que envolve empregos diretos, impostos, distribuição de lucros, acúmulo de dívidas, etc. A responsabilidade social da atividade de negócios é econômica por natureza, pois a instituição de negócios é a unidade econômica básica de nossa sociedade.
■ Responsabilidade legal: é a expectativa da sociedade de que as empresas cumpram suas obrigações de acordo com o arcabouço legal existente, ou seja, não soneguem impostos, e sim gerem empregos, impostos e riqueza.
■ Responsabilidade ética: é a exigência de que a empresa mantenha um comportamento apropriado técnica e moralmente de acordo com as expectativas existentes entre os agentes da sociedade, ou seja, que honre seus contratos de compra e venda e cumpra seus propósitos.
■ Responsabilidade discricionária (filantrópica): é o desejo comum de que as empresas estejam ativamente envolvidas na melhoria do ambiente social.
Esta última dimensão da responsabilidade social vai, portanto, além das funções básicas tradicionalmente esperadas da atividade empresarial, e pode ser considerada como extensão da dimensão ética (CARROL, 1979 apud MACHADO FILHO, 2013, p.26).
Cabe à Igreja apontar para a necessidade da responsabilidade social em todos os setores da economia, isto é, no Estado, no Mercado/Empresas e no Terceiro Setor do qual ela mesma faz parte e, portanto, deve agir com a mesma responsabilidade social que exige. Não apenas porque exige dos demais setores da economia, mas essencialmente porque isso é correto ou ético, pois a responsabilidade social está baseada em argumentos éticos e instrumentos racionais que atendem a não religiosos e religiosos. Nesse caso, tanto aqueles que defendem uma Igreja atuante na sociedade quanto aqueles que defendem a não intromissão da Igreja no Estado terão de ceder aos argumentos da responsabilidade social. Conforme Claudio Machado Filho diz: argumentos éticos são derivados de princípios religiosos, referencial filosófico ou normas sociais prevalecentes... a firma deve se comportar de uma maneira socialmente responsável porque é moralmente correto agir assim. Possuem um forte componente normativo... Argumento instrumental... é baseado em algum tipo de cálculo racional, segundo o qual o comportamento socialmente responsável beneficiará a empresa como um todo… [ao] minimizar riscos de perda de reputação e explorar oportunidade de criação de diferenciação em relação aos competidores menos “socialmente responsáveis” (MACHADO FILHO, 2013, p. 27).
Você deve ter percebido que a responsabilidade social traz um ganho de capital institucional ou de reputação. Enquanto os argumentos éticos buscam o que é anterior aos empreendimentos de uma empresa, ou seja, a essência do certo e errado independentemente dos negócios, os valores instrumentais levam em consideração a essência da empresa (privado com fins privados), pois é capaz de contabilizar “perda de reputação” e ganhos frente aos “competidores menos socialmente responsáveis”, preservando, assim, a essência de empresa ou a capitalização do seu negócio.
SUSTENTABILIDADE
O equilíbrio entre estes dois argumentos é chamado de sustentabilidade. Savitz conceitua sustentabilidade da seguinte maneira: sustentabilidade não tem nada a ver com filantropia... a empresa sustentável conduz seus negócios, de modo a gerar naturalmente um fluxo de benefícios para todos os seus stakeholders, inclusive empregados, para os clientes, para os parceiros de negócios, para as comunidades em que opera e, obviamente, para os acionistas... suas operações diárias enriquecem a comunidade, em vez de exaurir os seus recursos... encontram áreas de interesse mútuo e desenvolvem maneiras de equiparar as expressões “fazer o bem” e “fazer bem-feito”, evitando, assim, o conflito implícito entre comunidade e acionistas (SAVITZ, 2007, p. 28-29).
Stockholders são formados por sócios e acionistas, majoritários e minoritários, detentores dos direitos sobre os lucros do empreendimento. Stakeholders são constituídos, além dos stockholders, por funcionários, fornecedores, clientes, consumidores, investidores, comunidades, governos, entre outros agentes que – direta ou indiretamente – afetam a empresa ou são por ela afetados. Fonte: Machado Filho (2013, p. 3).
Sustentabilidade é um conceito holístico no qual se “busca um entendimento integral dos fenômenos”, isto é, o equilíbrio entre as forças que devem dirigir uma empresa sustentável. Segundo Savitz, é possível que se considere que toda a função e propósito de uma empresa é devolver a seus acionistas (stockholders) os seus investimentos acrescidos de seus lucros. Esta seria uma maneira capitalista radical e utilitarista de compreender a função de uma empresa. Para Savitz, uma empresa sustentável é aquela que considera que todos os envolvidos em sua operação devem auferir “benefícios” de sua existência.
TRANSFORMAÇÃO HOLÍSTICA
Já citamos o caso do serviço social que as Igrejas vêm operacionalizando nos locais de Cracolândia.
Vale também citar o exemplo de uma Igreja numa cidade do interior de São Paulo que, diante do seu crescimento numérico, decidiu mudar de endereço para um espaço maior. Descobriu, então, que o prédio que atenderia suas necessidades era utilizado como uma boate e localizava-se numa área de prostituição alimentada pela existência da própria boate.
Após um primeiro momento em que alguns membros não queriam concordar que suas famílias frequentassem a perigosa região onde estava a área de prostituição, as negociações culminaram com a compra do prédio, a desapropriação do antigo inquilino, a reforma, a inauguração e a frequência de seus membros.
Constatou-se, assim, duas realidades: a primeira foi a alegria dos moradores do bairro, que viram o entorno da nova igreja revitalizar-se com o fim da área de prostituição e a consequente valorização de seus imóveis. A segunda foi que a área de prostituição não se extinguiu, apenas deslocou-se para outro lugar.
Diante dessa realidade, surgiu a oportunidade da Igreja exercer sua responsabilidade social por meio de um projeto de “ação social” que acolhesse aquelas mulheres que sobreviviam da prostituição e as ajudasse a desenvolver competências pessoais e por intermédio de um programa de profissionalização que lhes permitisse sustentarem a si e suas famílias de um modo digno.
O conceito de sustentabilidade aponta na direção em que todos os envolvidos pela existência da empresa são beneficiados. Só que a ação baseada neste conceito se constitui num ganho de capital institucional ou de reputação.