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Empreendedorismo social

Neste tópico, trataremos sobre o empreendedorismo social. Nesse sentido, nossa primeira tarefa será compreender o que é empreendedorismo. Segundo o Novo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2009), empreendedorismo “é a capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços ou negócios”, o que envolve a capacidade de implementar tanto novos negócios quanto mudanças em empresas que “envolvam inovação”.

O empreendedorismo tem a ver com capacidade para realização. Não é apenas potência, mas significativamente efetividade. Logo, o agente desta realização tem papel preponderante.

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Já houve tempo em que se defendia a tese de que a capacidade empreendedora era algo inato ou hereditário, mas essa tese não tem mais seguidores nos meios científicos (CHAGAS, 1999). Conforme Kuratko e Hoggetts (apud BARINI FILHO, 2003, p. 66): inúmeras pesquisas têm sido publicadas, principalmente nos EUA, buscando superar as limitações do senso comum sobre o tema, repleto de mitos, generalizações e preconceitos (Kuratko e Hodgetts, 2001). Nelas, predomina a idéia de que muitas das características do empreendedorismo podem ser ensinadas, enquanto outras sequer podem ser compreendidas. Isso leva à especulação de que a capacidade empreendedora é rara e de que os empreendedores, seres especiais de difícil reprodução, “nascem prontos”.

Adriane Pombo é categórica em afirmar que na verdade ninguém nasce empreendedor. O contato com a família, escola, amigos, trabalho, sociedade vai favorecendo o desenvolvimento de alguns talentos e características de personalidade e bloqueando ou enfraquecendo outros. Isso acontece ao longo da vida, muitas vezes ao acaso, pelas diversas circunstâncias enfrentadas (POMBO, [s.d.]).

Entre as diversas tentativas de definir um empreendedor, podemos destacar a feita por Maria Inês Felipe (apud POMBO, 1996, [on-line]) que diz que empreendedor é aquela pessoa capaz de deixar os integrantes da empresa surpreendidos, sempre pronto a trazer e gerir novas ideias, produtos, ou mudar tudo que já existe. É um otimista que vive no futuro, transformando crises em oportunidades e exercendo influência nas pessoas para guiá-las em direção às suas ideias. É aquele que cria algo novo ou inova o que já existe e está sempre pesquisando. É o que busca novos negócios e oportunidades com a preocupação na melhoria dos produtos e serviços. Suas ações baseiam-se nas necessidades do mercado.

Segundo Filion, “um empreendedor então é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões” (CHAGAS, 1999, p. 28).

Você já percebeu que a expressão empreendedorismo está fortemente ligada ao ambiente coorporativo. Isso ocorre porque seu surgimento estaria associado ao desenvolvimento econômico, especialmente como característica inerente ao capitalismo.

Segundo Schumpeter, podemos associar o empreendedorismo ao que ele chamou de

processo de destruição criativa, fundamentando-se no princípio que reside no desenvolvimento de novos produtos, novos métodos de produção e novos mercados; em síntese, trata-se de destruir o velho para se criar o novo (DEGEN, 1989, p. 9).

O empreendedorismo é uma busca pela transformação do status quo visando à maximização dos lucros da empresa por meio da melhoria do próprio produto e ou das estratégias de venda que essa empresa oferta como bem de consumo.

Ao voltar seu olhar para a área social, você poderá notar similitudes e dessemelhanças entre o empreendedorismo corporativo e o empreendedorismo social que traz à nossa discussão a expressão “Terceiro Setor”. O Terceiro Setor é a expressão concreta do empreendedorismo social.

TERCEIRO SETOR

Segundo Ruth Cardoso (citada por MACHADO FILHO, 2013), a expressão “Terceiro Setor” foi cunhada por John D. Rockefeller, em 1975, quando analisou a importância das iniciativas empresariais com sentido público na sociedade americana.

O Terceiro Setor pode ser definido como o conjunto de atividades privadas com fins públicos e sem fins lucrativos, composto por instituições civis de qualquer origem – religiosa, comunitária, de trabalhadores, institutos e fundações empresariais, organizações não-governamentais, entidades religiosas, entidades de assistência social e benemerência e outras – diferenciando-se da lógica do Estado (público com fins públicos) e de mercado (privado com fins privados) (MACHADO FILHO, 2013, p. 102).

Existe um espectro bastante amplo de organizações que representam o Terceiro Setor. Isso demonstra que sua composição não é homogênea e, para uma melhor compreensão, é possível adotar a seguinte divisão: as beneficentes, filantrópicas e assistenciais; b) as organizações não governamentais (ONG’s), que possuem ideários de promoção de cidadania e democracia; c) as fundações empresariais dedicadas aos investimentos sociais, na perspectiva do desenvolvimento sustentável (RICO, 2006, p. 84).

A expressão Terceiro Setor, apesar de recente, consolida-se porque a economia de uma sociedade é dividida nesses três setores. O Terceiro Setor “coexiste com um Primeiro Setor (Estado) e com um Segundo Setor (Empresas)”. Ainda é possível afirmar que “a Igreja e o Estado foram as instituições pilares na origem e na [sua] configuração”, ou seja, “organizações da sociedade civil, sem fins lucrativos, voltadas para questões de interesse público” (RICO, 2006, p. 84, grifo nosso).

O Terceiro Setor tem assumido um papel de protagonista e mobilizado recursos abundantes, quer humanos quer financeiros, para o desenvolvimento social. Sua presença cada vez mais significativa na economia de uma sociedade pode ser indicada por um esgotamento de recursos públicos. Isso faz com que o Estado não aplique os recursos necessários nas questões públicas deixando

carentes áreas de atendimento social da sociedade. Mas também por uma consciência cada vez maior que atende duas vertentes: a própria sociedade percebe a falta do Estado e reconhece a contribuição que pode ser dada pelo indivíduo e pelas empresas que enxerguem para além de seus interesses privados. Segundo Rochefeller (citado por MACHADO FILHO, 2013, p. 103): [É] um setor menos visível do que o normalmente dominante no mundo dos negócios e do governo. Enquanto esses dois reinos foram e continuam a ser microscopicamente examinados e analisados, e suas fronteiras em geral já foram, identificadas por especialistas e leigos de plantão, o terceiro setor – constituído por organizações e associações não-governamentais e sem fins lucrativos – continua a ser como uma terra incógnita, quase inexplorada no que diz respeito a sua dinâmica interna, suas motivações e suas relações sociais, econômicas e políticas com o resto do mundo. [...] Na verdade, é no seio desta esfera institucional que quase toda a contribuição filantrópica – doações e voluntariado – se transforma em ação de ajuda, ou seja, bens e serviços para os beneficiários finais.

CRISTOLÂNDIA

Um exemplo recente de empreendedorismo social é a ação das igrejas nas áreas chamadas de “Cracolândias”. Tomemos como exemplo a cidade de São Paulo onde se afirma que a omissão do poder público em combater o tráfico de drogas, especialmente o crack, fez com que usuários e traficantes locassem ruas e regiões para seu comércio e consumo a céu aberto em plena luz do dia.

Diante deste quadro, as igrejas se organizaram e começaram a atuar na região chamada Cracolândia. Locaram um prédio e ali passaram a oferecer banho, alimentação e roupas limpas a todos os usuários, além de tratamento e orientação para os dependentes que assim o quisessem.

Todo esse esforço e realização é fruto do empreendedorismo social dessas igrejas que conta essencialmente com a mão de obra do voluntariado de seus membros e com a oferta de recursos financeiros, patrimônio, alimentos e roupas alçadas essencialmente entre suas igrejas. Este fato torna a Igreja um lugar especial para a expressão do voluntariado.

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