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Modelos e características de sistemas de governo eclesiástico

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Introdução

Introdução

Se você observar com atenção uma análise mais aprofundada, vai perceber que o governo eclesiástico é uma forma de a própria igreja entender o que é ser igreja, ou seja, uma compreensão de como dar efetividade à própria existência a partir da sua “experiência cultural e religiosa” (STURZ, 2012, p. 536). Neste sentido, o governo eclesiástico é a maneira como ela administra as questões de relacionamentos, doutrinárias e legais no cotidiano de sua existência.

Você encontrará na Bíblia indicações da organização existente na Igreja desde os seus primórdios. A melhor caracterização de modelos de governo dela está nas informações no livro de Atos e nas demais cartas do Novo Testamento.

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Esse conteúdo é importante porque retrata um contexto (período e locais) em que já não havia a presença física de Jesus e eventualmente também de seus apóstolos como no caso da igreja de Antioquia (At 11.19-21). Ao que parece, a Igreja de Antioquia possuía uma pluralidade de líderes desde o início. Os líderes originais, de acordo com o nome (Simeão, Lúcio e Manaém [At 13,1]), eram gregos. Tanto Barnabé como Saulo foram judeus acrescentados posteriormente à equipe de líderes. Barnabé chegou da igreja de Jerusalém como seu representante (At 1,.22-24) (STURZ, 2012, p. 606).

Podemos afirmar que a ausência das vozes autoritativas dos apóstolos originais foi fator preponderante para que os membros das igrejas assumissem a liderança nas decisões e, para tanto, precisassem e recebessem as informações necessárias para cumprir essa tarefa (STURZ, 2012). Além disso, está registrado que Jesus Cristo utilizou a palavra igreja (do grego ekklēsia) apenas duas vezes nos evangelhos (Mt 16,18; 18,17), sem preocupação com uma estruturação sofisticada do governo dela, como podemos perceber ao longo da história.

ORGANIZAÇÃO DA IGREJA NO NOVO TESTAMENTO

Existem características de organização da Igreja sugeridas no Novo Testamento. Nesse sentido, Culver (2012, p. 1213) assim as elenca: ■ reuniões fixas ou periódicas (At 20,7; Hb 10,25);

■ escolha de obreiros (At 6,5; 6,3);

■ presença de bispos e diáconos como obreiros junto aos santos comuns (Fp 1,1);

■ líderes cuja autoridade deveria ser obedecida (1Ts 5,12; Hb 13,17);

■ presença de pastores-presbíteros (1Pe 5,2);

■ instrução para a disciplina corporativa de membros (1Co 5,4-13);

■ instrução sobre coleta sistemática de doações (1Co 16,1-2; Rm 15,26);

■ cartas de recomendação (At 18,27; 2Co 2,3-9);

■ ritos e ordenanças uniformes (1Co 11);

■ qualificações uniformes para as funções (1Tm 3; Tt 2).

FUNÇÕES NA IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

Também os termos bispo, presbítero, pastor e diácono, que são utilizados no Novo Testamento, serviram para dar consistência a esses sistemas de governo eclesiástico. Apresentaremos, de modo breve, cada um deles, considerando a perspectiva de Grudem (1999).

Presbítero

É também conhecido como ancião; conforme a tradução portuguesa, vem do grego presbitēroi e é um termo emprestado do cotidiano no qual indicava uma pessoa idosa e até um funcionário do governo em uma comunidade. Os presbíteros foram figuras importantes civil e religiosamente da época do Antigo

Testamento até os dias de Jesus. O termo enfatiza a experiência e reputação que a pessoa deveria ter como apta a orientar a comunidade. Podemos afirmar que sua principal característica é a experiência.

Bispo

É originário do grego episkopos, significa supervisor e indica liderança. O termo enfatiza a capacidade e responsabilidade que a pessoa deveria apresentar como apta a liderar a comunidade nos propósitos e tarefas a serem cumpridos. Podemos afirmar que sua principal característica é a capacidade.

Pastor

O termo pastor vem do grego poimén, significa literalmente aquele que cuida das ovelhas. Enfatizava a tarefa que a pessoa deveria desempenhar com dedicação proveniente de sua vocação. Podemos afirmar que sua principal característica é a vocação. Podemos afirmar, portanto, que: presbítero – que orienta pela experiência e reputação – designa um cargo ou uma posição em uma igreja local; bispo – que supervisiona – diz respeito a uma função, aquilo que um presbítero deve fazer; e pastor – que cuida com dedicação vocacional – remete ao modo pelo qual a função deve ser realizada.

Diácono

Do grego diakonos, significa servo quando usado em contextos não eclesiásticos. Há clara orientação sobre seu caráter ou comportamento (1Tm 3.8-13), mas sobre suas funções só é possível fazer inferências. Por exemplo: na área financeira, por isso não podiam ser cobiçosos (v. 8); na área administrativa, por isso precisavam ser bons governantes de suas famílias (v. 12) ou ainda a delegação, por parte dos apóstolos, da tarefa de “servir às mesas” (do grego diakonēo em At 6,1-6).

É importante ressaltar que, embora tivessem alguma responsabilidade e respeito da comunidade, os diáconos estavam sob a autoridade dos que dirigiam a Igreja, primeiro dos apóstolos e depois dos presbíteros, ambos os grupos responsáveis pelo ensino da doutrina, característica que não era exigida dos diáconos (GRUDEM, 1999).

LIDERANÇA NAS IGREJAS DO NOVO TESTAMENTO

As Iigrejas do Novo Testamento deixam algumas pistas importantes sobre seu modelo de governo eclesiástico. A seguir, vamos destacar três. ■ Pluralidade de presbíteros – havia pluralidade de presbíteros em cada igreja e em cada cidade (At 14,23; 20,17; Tt 1,5; Tg 5,14; 1Pe 5,1-2), ou seja, as igrejas locais eram lideradas por um “presbitério”.

■ Bispo local – Justino Mártir (100-165 d.C.) regista o desenvolvimento natural de um líder entre os presbíteros que se tornou o “presbítero-presidente local”, responsável por instruir verbalmente as reuniões mensais além de oferecer orações e ações de graças na distribuição dos elementos da comunhão (eucaristia). É a prefiguração do bispo local.

■ Pastor-mestre – a principal função de um presbítero é indicada como pastor-mestre (Ef 4,11), ou seja, instruir a Igreja e supervisionar para que heresias não penetrassem nela. Por isso, os presbíteros que se dedicassem à pregação e ao ensino deveriam receber apoio financeiro (1Tm 5.18). Mais uma forma de destacar um bispo entre os presbíteros locais (GRUDEM, 1999, p. 764).

A partir da análise e interpretação dos textos bíblicos, cada Igreja desenvolveu o seu sistema de governo eclesiástico.

As igrejas possuem nomes diferentes porque são diferentes! Você conhece a história da formação ou do surgimento daquela da qual faz parte? Por que esse conhecimento é tão importante?

O desenvolvimento dos sistemas pode ser observado na linha histórica da Igreja Cristã desde os seus primórdios e nos permite fazer comparações e definir os iguais e os desiguais.

MODELOS DE GOVERNO ECLESIÁSTICOS BÁSICOS

Vamos conhecer os modelos de governo eclesiástico básicos. A partir deles, é possível fazer esses agrupamentos de igrejas e perceber nuances e adaptações que vão surgindo ao longo da história. Os modelos de governo eclesiástico são episcopal, presbiteral, congregacional, representativo e autocrático.

O governo episcopal

É o sistema mais antigo. Já no século II d.C., Inácio, bispo de Antioquia entre 68-107 d.C, fazia veemente defesa do episcopado, o que demonstra não só a sua existência, mas também a resistência a esse modelo.

Foi o sistema que predominou na parte oriental da Igreja que se associou ao governo do Império Romano e por isso foi chamada de Cesaropapismo. Hoje, é identificada com a Igreja Católica Ortodoxa, enquanto a parte da Igreja no ocidente (latina, romana) ficou sujeita ao bispo da diocese de Roma e é identificada com a Igreja Católica Apostólica Romana. Essa divisão se desenvolveu ao longo de séculos. Essa Igreja ocidental é designada pelos protestantes de papal ou papista, pois está subordinada à autoridade suprema do Papa (pai), que é o bispo universal de Roma.

Ao longo da história, a Igreja papal inglesa se separa de Roma (1534 d.C.) e se torna uma Igreja nacional episcopalmente governada e designada como Igreja da Inglaterra (Church of England), ou Igreja Anglicana, ou, ainda, Igreja Episcopal – desenvolvendo três teorias: ■ Erastianismo > defende que o rei da Inglaterra governa a Igreja assim como o papa governa a Igreja romana;

■ Alta Igreja > defende o direito divino do episcopado, sendo este da essência da própria igreja. Essa teoria tem perdido terreno desde o século XIX;

■ Baixa Igreja > entende que o episcopado é uma questão pragmática surgida no desenvolvimento histórico, mas que não é da essência da Igreja (CULVER, 2012, p. 1224).

O sistema episcopal apresenta uma representação piramidal e hierárquica na qual as esferas superiores têm autoridade e ingerência sobre as esferas inferiores e, para estar numa camada superior da pirâmide, é preciso passar pela camada imediatamente inferior. Nesses dois exemplos do sistema episcopal, as pessoas são ordenadas para o exercício de suas funções que passam a ser permanentes e definitivas.

No sistema episcopal, o arcebispo tem autoridade sobre muitos bispos. O bispo, por sua vez, tem autoridade sobre uma diocese (várias igrejas locais sob a jurisdição de um bispo). Na paróquia (igreja local), o oficial encarregado é o “reitor” (às vezes, um vigário que é um assistente e, em outras ocasiões, alguém especialmente designado para substituir o reitor).

No sistema episcopal, arcebispo, bispo e reitor são sacerdotes, pois todos foram ordenados para o sacerdócio episcopal, embora comumente o reitor seja identificado como sacerdote.

Há, no episcopado metodista, uma nuance deste modelo no sentido prático, pois nele o episcopado não é nem diocesano nem hierárquico, mas itinerante e presbiteriano, visto que os bispos e os superintendentes distritais são presbíteros-pastores escolhidos por período fixo para supervisionar as igrejas de determinada área (diocese).

No meio pentecostal, é possível identificar este modelo de governo eclesiástico com nuances na Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil (IEQ) que, conforme seu estatuto, define-se no art. 15, inciso 3, como tendo “forma de governo episcopal e sistema representativo” (CVQ, [s.d.]). Também nas Assembleias de Deus no Brasil (AD), fortemente marcadas pela hierarquização das funções de pastor, evangelista, presbítero, diácono e auxiliar de trabalho, em que a função de auxiliar submete-se à de diácono; esta à de presbítero; esta à de evangelista; e esta à de pastor; mas todas, por sua vez, à do pastor-presidente, que é como um bispo responsável por uma diocese.

Ainda que em seus primórdios, por conta da forte influência batista de suas origens, e em algumas instâncias ainda tenha o modelo congregacional, a tendência atual desta Igreja é a um forte apelo na direção do sistema episcopal de governo.

É razoável, portanto, afirmar que, na atualidade, ao tratarmos da teoria que chamamos de sistema de governo episcopal, estejamos falando não em uma única teoria e prática, mas em várias, ou seja, falamos de episcopados (CULVER, 2012; GRUDEM, 1999).

Governo presbiteriano

O governo presbiteriano é uma forma de organização da Igreja que se caracteriza pelo governo de uma assembleia de presbíteros ou anciãos.

Ele surgiu como uma tentativa de resgatar o modelo bíblico e em oposição ao episcopado individual papal e anglicano, especialmente na Escócia (calvinista), nas Ilhas Britânicas, Países Baixos, França, Suíça e distritos europeus menores na época da Reforma Protestante no século XVI.

O sistema de governo presbiteriano busca aliar o modelo bíblico com ênfase na teoria do “conexialismo”, que afirma o princípio da prestação de contas e dependência e submissão mútuas entre as igrejas locais. Essa teoria também é adotada pelas Igrejas Metodistas, porém entre os presbiterianos a conexialidade é mais branda do que entre os metodistas.

O sistema de governo presbiteriano é uma ordem crescente de conselhos. O menor conselho de todos é o que está no âmbito da igreja local, porém é considerado o mais importante, pois dele se derivam todos os demais.

No sistema de governo presbiteriano, os membros da igreja local elegem um colégio de presbíteros local (sessão ou consistório nos EUA). Nos EUA, é esse colégio de presbíteros local que elege o pastor da igreja local, também identificado como “ministro docente” ou “presbítero docente”. No Brasil, são as igrejas locais que elegem seus pastores que são apenas reconhecidos pelo presbitério regional, isto é, o concílio imediatamente superior. No entanto, para a igreja local que não têm condições financeiras de eleger seu pastor, o presbitério regional comissiona um pastor que é pelo menos parcialmente sustentado por este presbitério regional.

Essa eleição do pastor deve ser confirmada por um presbitério regional (chamado de distrito ou classis nos EUA), pois o pastor não é membro da igreja local, mas do presbitério regional. O presbitério regional também tem autoridade para examinar os atos do colégio de presbíteros local.

Uma vez eleito, esse pastor fará parte do colégio de presbíteros local e será o seu “presbítero mestre” ou “presbítero docente”.

O presbitério regional é formado por um presbítero leigo de cada igreja e todos os demais presbíteros-pastores desse distrito.

Acima do presbitério regional, está o sínodo, que é composto de igual número de presbíteros-pastores e presbíteros-leigos escolhidos por cada presbitério regional.

Também é o presbitério regional (distrito) que envia o mesmo número de presbíteros-pastores e presbíteros-leigos para a assembleia geral ou supremo concílio, que está acima do sínodo, mas que não é considerada parte da essência dessa forma de governo eclesiástico devendo-se considerar esta uma adaptação ou nuance desse modelo como surgiu em seus primórdios.

Essa forma de esferas de poder em crescentes conselhos serviu de inspiração para vários regimes democráticos pelo mundo (CULVER, 2012; GRUDEM, 1999).

Congregacionalismo

As igrejas batistas e congregacionais são aquelas que adotam esse sistema.

O sistema de governo congregacional também surgiu na intenção de resgatar um modelo bíblico de governo da Igreja em oposição não somente ao episcopado papal e anglicano, mas também a qualquer forma de ingerência externa na comunidade local, quer essa ingerência fosse eclesiástica, quer fosse política. Seu desenvolvimento se dá especialmente a partir da Reforma Radical no século XVII entre os separatistas ingleses a partir da Holanda e Inglaterra. Seus pressupostos filosóficos estão baseados nos escritos de John Locke.

O sistema de governo congregacional tem dois pilares. Primeiro, defende a autonomia da igreja local em relação a qualquer poder externo por parte de um bispo ou diocese. Em segundo lugar, defende a democracia plena em que cada membro da igreja local tem voz e voto e exerce, assim, o governo da Igreja.

O sistema de governo congregacional concentra em uma só pessoa as funções de presbítero, bispo e pastor conforme descritas no Novo Testamento. Isto é, haverá em cada igreja local apenas um pastor que lidera a congregação sendo auxiliado pelos diáconos que estão debaixo de sua autoridade. O sistema de governo congregacional entende que as exortações à preservação da unidade no comportamento e nas ações, e a exortação de manter puras a doutrina e a prática são dirigidas a comunidades locais, como é o caso das palavras de Cristo por meio de João aos “anjos” das “sete igrejas da província da Ásia” (Ap 2-3). Também as cartas dos apóstolos são dirigidas a comunidades locais ainda que devessem circular pelas diversas igrejas locais da região.

O sistema de governo congregacional entende que são as igrejas locais que devem instituir seus próprios dirigentes (At 6.1-6). Neste contexto, em especial, dá-se o entendimento de que o sistema de governo congregacional é uma monarquia de Cristo, exercida pelos membros da igreja local, dirigida pelas Escrituras, mediante a iluminação do Espírito Santo que orienta a conclusões certas e à unidade inteligente e voluntária com a combinação dos conselhos de todos e de uns para com os outros.

De que o sistema de governo congregacional funciona devidamente quando o membro é não somente habitado pelo Espírito Santo, mas também preenchido por Ele, fazendo deste governo da igreja local uma função espiritual, sendo este o cumprimento da intenção do Espírito Santo (Rm 8,27; 11,34) de conduzir toda a Igreja a um só pensamento e num só parecer (1Co 1,10; 2Co 13,11), por meio da mente de Cristo (1Co 2,6) em cada membro.

De que, desde o começo, todos foram cheios do Espírito Santo (At 2,14; 4,23,31) e, mesmo depois de meia geração, o Espírito continuou a falar a toda congregação sobre a separação de Barnabé e Paulo para a obra missionária (At 13,2-3).

De que a atuação de uma igreja local é a expressão do poder do Espírito Santo operando pela combinação dos dons que concede a cada um de seus membros (1Co 12).

De que são as igrejas locais que têm o dever de observar e guardar o rito da ceia do Senhor (1Co 11,17-34), além do dever de resolver os próprios desentendimentos entre seus membros (1Co 6).

Finalmente, o sistema de governo congregacional entende que o único caso que envolveu uma congregação e outras foi no Concílio de Jerusalém (At 15,135), que parece implicar uma consulta e cooperação voluntária, e não alguma conexão organizada, preestabelecida exatamente porque houve a tentativa de ingerência de “alguns homens.. .da Judeia” que passaram a ensinar os irmãos de Antioquia (v. 1) uma doutrina que a Igreja não aceitava (Gl 1-2); episódio que ocorreu com a participação e decisão sendo tomadas pelos “apóstolos, os presbíteros e toda a igreja” (At 15,22).

No sistema de governo congregacional, a igreja é uma comunidade local, democrática e autônoma, formada de crentes unidos para a adoração e obediência a Deus, no testemunho público e privado do Evangelho, cujo poder soberano para tratar de quaisquer questões surgidas em seu cotidiano e tomar decisões relacionadas ao desenvolvimento de seus trabalhos é sua própria assembleia. Essa igreja local é representação e sinal visível e localizado da realidade espiritual da Igreja de Cristo em toda a terra (CULVER, 2012; GRUDEM, 1999).

O sistema de governo congregacional tem suas nuances também. É possível observar que há igrejas em que: ■ há um único presbítero ou pastor e o corpo diaconal subordinado à sua autoridade que são encarregados de dirigirem a Igreja e dar efetividade às decisões da assembleia;

■ há um governo de pluralidade de presbíteros no qual os diáconos dividem com o pastor a real autoridade do governo e todos se consideram obrigados a prestar contas a esse corpo diaconal que, novamente, é o colegiado responsável por efetivar as decisões da assembleia;

■ há outro tipo de governo de pluralidade de presbíteros no qual o pastor se dedica exclusivamente à pregação e ao ensino, e a responsabilidade de dirigir a Igreja e efetivar as decisões da assembleia é dos presbíteros;

■ há um governo exercido por uma junta que recebe a delegação da assembleia de contratar um pastor para dirigir a Igreja conforme suas convicções. Não é comum, mas assemelha-se a uma empresa na contratação de um executivo. É o modelo “você trabalha para mim” (GRUDEM, 1999, p. 782-786).

Governo representativo

O sistema de governo representativo é caracterizado pela eleição de delegados, para voto em assembleias, para escolha dos dirigentes por um determinado período de tempo. Essa é a forma de governo adotada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), uma igreja restauracionista (CULVER, 2012), que tem uma postura histórico-teológica que crê que o cristianismo histórico apostatou, sendo necessário restaurar o cristianismo primitivo da era apostólica. Surge formalmente em 1863, com a intenção também de resgatar um modelo bíblico de governança. Em seu Manual, a Igreja afirma ser este “a forma... que reconhece que a autoridade na igreja repousa nos seus membros, com a responsabilidade executiva delegada a entidades e oficiais representativos para dirigir a igreja” (IASD, 2016, p. 24).

O sistema de governo representativo da IASD mesclou o sistema episcopal dos metodistas com o modelo presbiteriano. O resultado foi uma estrutura representativa, com uma hierarquia flexível, mas com as decisões sendo tomadas pelas comissões de delegados. Essa combinação visa evitar o absolutismo dos líderes que ocorre no sistema episcopal papista bem como a excessiva liberdade da igreja local do modelo congregacional.

No sistema de governo representativo, a igreja local elege líderes que formarão a associação, também chamada de missão ou campo local.

É a associação que dirige a igreja local, embora uma série de tarefas e funções cotidianas como o ensino, a administração e a tesouraria local, seja realizada por seus membros. Também é a associação que ordena e comissiona os pastores que servirão na igreja local por período predeterminado.

A associação é formada por todas as igrejas de uma região geográfica. Enquanto a união congrega várias associações, várias uniões formam uma divisão.

A IASD tem treze divisões espalhadas pelo mundo: Divisão Sul-Americana; Divisão Interamericana; Divisão Norte-Americana; Divisão Transeuropeia; Divisão África Meridional Oceano Índico; Divisão Euroafricana; Divisão Euroasiática; Divisão Centro-Leste Africana; Divisão Centro-Oeste Africana; Divisão Pacífico Norte Asiático, Divisão Pacífico Sul Asiática; Divisão Sul do Pacífico e Divisão Sul Asiática.

O nível mais alto de administração da estrutura eclesiástica na IASD é a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, que consiste dessas 13 divisões. A cada cinco anos, a associação geral se reúne para ouvir relatórios e delinear prioridades e metas, tomar decisões sobre a administração de projetos missionários e de suas instituições. A associação geral é chefiada por um presidente e por sete vice-presidentes. As instâncias inferiores tomam decisões conforme sua esfera de atuação e campo de influência.

Governo autocrático

A partir da década de 1970, especialmente no Brasil, o ambiente neopentecostal propicia o surgimento de uma forma de governo que mais se assemelha a um modelo empresarial, no qual existe um líder com poder absoluto sobre a Igreja.

Diferentemente do modelo de governo episcopal tradicional, no qual a estrutura define o líder máximo ou absoluto e como ele poderá galgar esta posição, no modelo autocrático só uma pessoa pode exercer esta função absolutista por direito de posse: é o dono da Igreja como se a Igreja fosse sua empresa.

O sistema de governo autocrático é marcado por uma forte ênfase na dimensão organizacional com concentração do poder eclesiástico e gestão empresarial com a busca da profissionalização de seus quadros eclesiásticos e administrativos.

No sistema de governo autocrático, a Igreja é gerida segundo a lógica do mercado, transformando-se em empresa produtora de bens de salvação.

O sistema de governo autocrático promove a concentração do poder por intermédio da adoção de gestão centralizada e do estabelecimento de governos eclesiásticos episcopais, comandados verticalmente por bispos, missionários, apóstolos e profetas, tendo como subalternos pastores, presbíteros, diáconos e obreiros. A multiplicação de “cargos” é importante para manter motivados aqueles que desejam ser promovidos.

No sistema de governo autocrático, a verticalização facilita os processos decisórios diferentemente dos outros sistemas de governos, que apresentam várias instâncias de decisão e de recurso. Além disso, centraliza também a arrecadação e a aplicação dos recursos financeiros.

No sistema de governo autocrático, pastores trabalham em regime de dedicação exclusiva, o que lhes permite realizar diversos cultos durante um dia enquanto em igrejas governadas por outros sistemas ocorrem no máximo seis encontros semanais.

É possível discutir se as igrejas envolvidas por esse sistema de governo são igrejas bíblicas tanto na sua forma quanto na sua essência. Muitas delas são vistas como reconhecidamente eficazes para atrair e recrutar adeptos, mas ao mesmo tempo são rejeitadas como antiéticas e antibíblicas.

É possível observar, portanto, que há, na história das controvérsias cristãs, uma tentação de definir qual o único modelo de governo eclesiástico bíblico. No entanto, você percebeu nesta unidade que os modelos de governos eclesiásticos – episcopal, presbiteriano e congregacional – têm suas razões em suas interpretações baseadas no Novo Testamento. Suas variações e combinações são a maior prova de que eles são apenas meios, e não fins em si mesmos.

Podemos correr o risco do reducionismo, mas você pode explicar em poucas palavras que o modelo de governo episcopal concede o poder para o seu pastor ou bispo, o modelo de governo presbiteriano concede poder ao presbitério da Igreja e o modelo de governo congregacional concede poder aos seus membros ou a um conselho de irmãos reunidos. O modelo autocrático não concede poder; ao contrário, concentra o poder em um líder.

Em qualquer modelo de governo eclesiástico, existem bônus e ônus. Aristóteles chamaria esses ônus de “vícios” ou aquilo que nos desvia da virtude ou equilíbrio e degenera todo o sistema de governo. Os cristãos chamarão este perigo de tentações. O sistema de governo episcopal pode concentrar poder demais na mão de um único líder, tornando-o autoritário e incapaz de prestar contas à Igreja. O sistema de governo presbiteriano pode criar uma elite oligárquica dentro da congregação que decide sobre os demais. O sistema de governo congregacional pode minar a autoridade legalmente determinada ao líder local.

Portanto, não temos como definir um modelo eclesiástico mais bíblico, pois todos têm pontos fortes e fracos.

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