10 minute read

Coaching, mentoria e discipulado

Next Article
Referências

Referências

Uma frase atribuída ao general Napoleão Bonaparte – “Nada é mais difícil, portanto mais precioso, do que a habilidade de decidir” – nos convida a este importante investimento em nossa carreira. Ao final desta aula, a sugestão é que você aumente sempre seu repertório, se cerque de dados, esteja sensível a pessoas e situações para escolher as ações que melhor contribuam com os resultados e, dentro da missão maior, glorifique mais a Deus e abençoe o maior número de pessoas.

Tenho absoluta certeza de que numa postura diligente, ampliando seus conhecimentos, você terá êxito nesta missão.

Advertisement

Chegamos à última seção desta Unidade. Quanto conhecimento! Quantos desafios postos até aqui!

As ideias sistematizadas e ferramentas apresentadas, quando empregadas de maneira intencional, produzirão resultados incríveis e o fortalecimento de sua equipe. No entanto, e quanto a você?

O cantor Djavan apresentou uma frase angustiante na canção “Esquinas”, em que desabafou: “Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar?” O líder está continuamente oferecendo, ensinando, motivando, incentivando, criando climas favoráveis, mesmo em meio ao caos, sob forte risco de, neste processo, se exaurir. Uma das doenças contemporâneas citada com frequência e atrelada ao contexto de liderança é a “Síndrome de Burnout”, ilustrada como um palito de fósforo queimado. Aquele que serve ofereceu tanto que caminhou rumo à exaustão. Pensando nesta nova realidade e nos caminhos para fortalecer você como líder,

apresentamos neste capítulo três importantes recursos com vistas a seguir ao seu lado, ao longo da caminhada, propondo trocas, alívio e ferramentas que farão de você alguém mais efetivo no exercício da liderança.

Neste capítulo, também tenho por objetivo colocar esses facilitadores não só como alternativa para equipar você, mas também como modelo, como alvo para um momento de sua carreira, quando você poderá servir de outra forma, impactando de maneira mais pessoal a vida de líderes que trilharão os caminhos já palmilhados por você. Por isso, aproveite esta última seção, pois certamente ela será instrutiva e inspiradora.

UMA NOVA MODA?

Certamente não. Pelo contrário, estamos falando sobre a volta de antigos valores. Em dias de individualismo exacerbado, egos inflados e “carreiras solo” de toda espécie, em que jovens seminaristas almejam grandes igrejas e estagiários esperam CEO em dois anos, as imagens de mentoria, direcionamento e modelo trazem bom senso e pé no chão.

A figura dos seguidores, dando continuidade às ideias, estava presente na Grécia antiga, ilustrada por Platão registrando o que aprendeu com Sócrates; na China de Confúcio e na Palestina de Jesus e seus doze. Estamos falando, portanto, do conceito milenar de se aprender com a vivência, de ter alguém que tira o melhor de nós e exemplifica a partir da prática conjunta ou dos relatos das experiências que viveu. Tais personagens podem se apresentar na forma de coach, mentor ou discipulador, cujas diferenças veremos a seguir.

COACH

Propomos a você, neste tópico, conversar a respeito de uma figura importante no contexto da liderança. Estamos falando do coach, cuja relevância é cada vez mais confirmada, especialmente – mas não só – no contexto das corporações. Vamos conhecer a definição e o histórico dessa profissão e sua atuação.

Histórico e definição

Conforme aponta Macedo (2016, p. 16), as histórias mais remotas sobre o termo coach atribuem o termo ao início do século XVI, quando surgiu na Inglaterra a profissão de “coach” no contexto facilmente associável para nós à figura do cocheiro, o profissional que tem por função conduzir a carruagem levando seus ocupantes em segurança. O “coach” não escolhe o destino, ele apenas conduz aqueles que desejam chegar ao lugar que anunciam previamente.

Ainda na Inglaterra, três séculos e meio depois este título é utilizado no ambiente acadêmico. Em 1850, a palavra designava aquele professor especial que ajudava a preparar os alunos para os exames (MACEDO, 2016).

A associação mais direta está no mundo dos esportes: o coach do time de futebol é o que chamamos de técnico.

Em 1980, alguns programas de liderança incluíram o conceito de coaching executive, conquistando cada vez maior respeito e penetração nas mais diversas áreas.

Temos, então, os termos: ■ Coach – profissional que orienta.

■ Coaching – o processo de orientação.

■ Coachee – a pessoa que compartilha sua meta e recebe orientação para alcançá-la. Um marco fundante do processo de coaching é o livro de Timothy Gallwey, The Inner Game of Tennis (1974), em que o bem-sucedido técnico ensina lições da relação entre treinadores e atletas para o mundo corporativo. Segundo a definição do próprio Timothy, podemos identificar coaching como: “a relação de parceria que revela e liberta o potencial das pessoas de forma a maximizar seu desempenho e ajudá-las a aprender, ao contrário de as ensinar...” (MARQUES, 2017, p. 15).

Stanley (2008) lembra da entrevista com o incrível tenista André Agassi, em que este brilhante e incomparável atleta faz muito mais do que uma menção, mas uma verdadeira homenagem a seu treinador Gil Reyes, destacando que sua importância crescia à medida que André envelhecia e melhorava. Stanley ficou

um pouco perplexo com esta questão. Por que o melhor tenista do mundo de então precisava de alguém que joga pior do que ele? A resposta era que um olhar externo, sensibilidade e verdade o ajudavam a corrigir falhas sutis que escapariam aos outros olhos e seriam imperceptíveis à autocrítica; só com um técnico (coach) ele podia se tornar melhor.

A atuação do coach

Conforme a imagem mais antiga sugere, o coach não é responsável pelo destino, e sim pela condução para se chegar lá. Neste sentido, o processo (coaching) consiste na potencialização do coachee rumo a seus objetivos, minimizando suas crenças limitantes, na verdade substituindo-as por novas crenças que o levarão a criar seus próprios caminhos. O coach não dá as respostas, como fazia Sócrates com a maiêutica; ele ajuda o coachee a chegar a suas próprias respostas a partir de perguntas poderosas.

Em suma, a ação do coach, como propôs Macedo (2016) em seu método IOPAM, é auxiliar o coachee a fortalecer sua identidade, definir seu objetivo, preparar-se para a ação, agir e melhorar continuamente. Todos os itens partem do coachee retornando para o coachee.

O processo de coach consiste na criação de seu caminho a partir das respostas e novas percepções pessoais. Nele, o condutor faz perguntas do tipo: “Como você quer?” e “Qual seria o melhor resultado para você? ”

“Para ser o melhor líder da próxima geração que você pode ser, é preciso angariar ajuda de outras pessoas. A autoavaliação é útil, mas a avaliação feita por outra pessoa é essencial. Você precisa de coaching em liderança!” (Andy Stanley)

MENTORIA

Você sabe o que é mentoria e o que faz o mentor? Imagina que ele esteja presente também no contexto cristão? Vamos, neste tópico, tratar desse tema, dando destaque a seu conceito e características, além de abordar como se dá a atuação dele.

Definição

No contexto cristão, a mentoria parece ser mais praticada ainda que informalmente e não sistematizada. Nela, alguém normalmente mais velho e mais experiente dá conselhos àquele que está iniciando sua jornada.

Erlich, citado por Costta Jr. (2017, p. 133), define mentoria como: processo que ocorre em relacionamentos interpessoais. Uma parceria em que uma pessoa que tem determinados conhecimentos e experiências utiliza voluntariamente esta bagagem para estimular o desenvolvimento de outra pessoa. Este desenvolvimento pode ocorrer em diversas dimensões: aumentando o domínio sobre determinada área de conhecimento, oferecendo suporte emocional para pensar e agir, ou socializando a pessoa em um meio onde ela precisa atuar. Quem promove este desenvolvimento é chamado de mentor. Quem recebe esta ajuda é chamado de mentoreado.

Uma vez que travamos contato com a definição de mentoria, vamos avançar em nossos estudos. É hora de conhecer de que forma atua o mentor e como ele deve se comportar.

Atuação do mentor

Enquanto a atividade do coach é ajudar o coachee a olhar para si mesmo, vencer as suas limitações rumo ao próprio objetivo, o mentor atua ajudando o mentoreado a olhar para fora, valendo-se, muitas vezes, de suas experiências já vividas como modelos para o mentoreado, apontando alternativas experimentadas por ele e emprestando, inclusive, sua reputação. Sendo assim, as funções do mentor podem refletir tanto na carreira quanto nos aspectos socioemocionais, uma vez que o mentoreado é orientado, protegido, confirmado e, por vezes, até patrocinado pelo mentor.

O processo de mentoria prevê seguir os exemplos e orientações de alguém experiente. Nela, o orientador diz: “eu fiz...”, “em contexto similar nós tentamos...”

DISCIPULADO

Chegamos, agora, a uma terminologia mais familiar ao ambiente cristão, apesar de não tão implementada na prática, o discipulado. É fácil de se perceber na ordem de Jesus em Mateus 28,19 que as grandes mudanças ocorrem à medida que se formam discípulos de Jesus, assim, a Igreja não muda o mundo quando gera convertidos, a Igreja muda o mundo quando gera discípulos.

Você que investe seu tempo na formação cristã e nesta unidade se dedica à liderança, seguramente tem em vista gerar mudanças e ajudar a Igreja a expandir sua atuação e influência, assumindo o protagonismo que já citamos aqui como única organização capaz de mudar essencialmente as mazelas do mundo conforme Hybels (2002).

Vivemos o triste cenário de atuação não tão expressiva, e por perdermos a profundidade da relação discipuladora, é que nos empenharemos em defini-la e resgatá-la no próximo tópico.

Características básicas do discipulado

A palavra discipulado, no grego bíblico, dá ideia de aprendiz a partir do exemplo. Portanto, fazer discípulos significa, prioritariamente, levar outras pessoas a também, como nós, seguirem os passos daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. A proposta do discipulado é fazer pessoas que, a partir da convivência (interação discipulador/discípulo), tornem-se mais parecidas com seu mestre. A ordem de Jesus, na grande comissão, é a de “fazer discípulos” (Mt. 28,18-20 - BÍBLIA DO EXECUTIVO, 2004).

O ensino por meio de exemplos é uma das premissas da andragogia (ensino de adultos). Uma vez com isso em mente, o apóstolo Paulo (BÍBLIA DO EXECUTIVO, 2004) pôde deixar um parâmetro bem claro que nos serve de advertência: 1 Coríntios 4,16: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores”. 1 Coríntios 11,1: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”.

A advertência paulina anula o tradicional “não olhe para mim, olhe para Cristo”. Cada um de nós, com humildade e submissão, deve viver uma vida digna de ser imitada e não hesitar em pedir para que olhem para nós, com especial destaque para aqueles que estão no ministério, cujos requisitos para tal posição incluem ser exemplo: “ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.” (1Timóteo 4,12 – BÍBLIA DO EXECUTIVO, 2004, p. 1148).

Em suma, a relação de discipulado, no contexto cristão, que é nosso foco neste curso, consiste na identificação de um seguidor de Jesus de caráter, fruto e boas obras que reflitam a personalidade de Cristo e sejam dignas de serem reproduzidas.

Atuação do discipulador

Enquanto o coach olha para o indivíduo a partir de si e a mentoria olha o indivíduo a partir da experiência do mentor, o discipulado olha o indivíduo a partir da transformação maior rumo a parecer-se com Cristo. Sendo assim, o discipulador se empenhará por uma vivência conjunta rumo aos padrões bíblicos de experiência com Deus, transformações interiores, fruto espiritual e fortalecimento do caráter e da esperança.

O discipulado não se restringe à teoria e não está embasado em comandos; ele prevê proximidade, vivência e trocas numa consciência de que não há um abismo entre as partes, outrossim ambas crescerão conjuntamente. Discípulo e discipulador nutrem admiração mútua e tratam-se como irmãos sabendo que dependem do mesmo Senhor. O processo de discipulado é contínuo e prevê seguir os passos daquele que segue os passos do Mestre. Nele, a proximidade e a pessoalidade são maiores e a dependência do sumo pastor é mútua. O orientador diz: “vamos...”

A jornada do líder por muito tempo tendeu a ser solitária. Com a retomada das figuras do coach, do mentor e do discipulador, tanto aspectos técnicos quanto aspectos emocionais podem ser supridos de forma magnífica de acordo com sua necessidade e objetivo.

Isolar-se não é saudável nem para o líder nem para a equipe; sendo assim, desenvolver esta figura para a qual serão prestadas contas, expostas intenções e com a qual exercitaremos humildade será importante fator rumo a uma liderança madura e em contínuo crescimento.

This article is from: