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mobilidade sustentável
CAMPEONATO DE PORTUGAL DE NOVAS ENERGIAS
BRINCAR E SENSIBILIZAR COM O CARRO DE TODOS OS DIAS
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António Gonçalves Pereira
Presidente da Ecomood Portugal (ecomoodportugal.org) Embaixador do Pacto Climático Europeu
Na Ecomood Portugal, desde 2015, ainda como Ecokart Portugal, que promovemos os desportos motorizados sustentáveis. Acreditamos que já não é tempo de poluirmos despreocupadamente por diversão ou desporto. E foi por isso que estivemos presentes com 2 dos nossos Ecokarts a abrir classi cativas no 1º Portugal EcoRally, em 2018, prova que resultou, em 2021, num novo campeonato de provas de regularidade para automóveis elétricos. Além do mais, esta é uma excelente ferramenta para a promoção da mobilidade elétrica. E é também por isso que participamos. Aqui partilho consigo, como exemplo, a nossa presença no recente 1º EcoRally de Lisboa.
SEXTA-FEIRA – ESCOLAS E VERIFICAÇÕES
Para a nossa equipa poder participar neste EcoRally, além das habituais parcerias com a 100% Car, que fornece a viatura, e a Prio, que a alimenta de energia, estabelecemos também uma cooperação com a Junta de Freguesia de Santa Iria da Azóia, São João da Talha e Bobadela. No âmbito deste acordo efectuámos sessões de esclarecimento e sensibilização para a mobilidade sustentável em 3 escolas da zona. E foi assim que passei a minha manhã de sexta-feira, dia 21 de Outubro, a falar com jovens de 8º e 9º anos sobre transportes públicos, bicicletas, integração entre modos de transporte e, sim, também sobre veículos elétricos. Isto com o carro de prova já decorado e com uma bicicleta elétrica dobrável, mais do que como exemplos, como chamarizes, ferramentas de captação da atenção. Foi, como habitualmente, muito gratificante.
À tarde foi tempo de reencontrar ‘a família’ do CPNE, nas verificações técnicas para o EcoRally, no deslumbrante cenário do estuário do Tejo. E quando chamo ‘família’ aos supostamente adversários, não é um eufemismo, não é simpatia minha, é uma realidade. Talvez também por se tratar de um campeonato novo, com uma assumida vertente de pioneirismo e sensibilização social, há um implícito espírito de entreajuda, de camaradagem, de confraternização. A ponto de os mais experientes ajudarem tão empenhadamente os que estão a dar os primeiros passos que, não poucas vezes, estes rapidamente lhes começam a dar luta na classificação.
Este espírito de família é também realçado por uma boa parte das equipas serem isso mesmo. Dentro de um muito considerável número de carros há casais, pais e filhos, irmãos. Alguns com muita experiência, outros trazidos pelos seus amigos destas andanças. E todos ficam fãs.
SENSIBILIZAÇÃO NOS DOIS SENTIDOS
Curiosamente, entre estas equipas familiares encontram-se aqueles que já estão mais sensibilizados para a descarbonização, para a necessidade de melhorarmos hábitos e diminuirmos emissões. Já entre os mais ‘profissionais’ passa-se exactamente o oposto. A maioria vem dos campeonatos de regularidade de automóveis clássicos, e do seu tão amado cheiro a gasolina queimada, dos ensurdecedores decibéis de motores apaixonantemente infiáveis e ineficazes. E, neste EcoRally de Lisboa, a estes juntaram-se nada menos do que 4 campeões de ralis tradicionais, um deles até antigo campeão do mundo.
E é nesta mistura entre sensibilizados, activistas e assumidos praticantes do insustentável que a sensibilização ganha dois sentidos. Para fora, ou seja, para quem assiste, vê notícias, tropeça em informação. Mas também para dentro, para os próprios participantes. É com esperança que tenho visto a evolução a acontecer nas mentalidades destes membros desta minha família. Lenta, é certo, com grandes resistências, mas inexorável. Mesmo se a maioria continua, e continuará, a fazer também as suas provas insustentáveis, enquanto isso lhes for permitido, muitos já evoluíram as suas posições pelo menos de ‘contra’, para ‘lá
Fotos: Bernardo Lúcio
terá que ser, um dia, talvez’. E alguns já estão até a implementar procedimentos mais sustentáveis nas suas corridas a gasolina, ao nível da separação de resíduos, da tentativa de minoração das emissões extracompetição, da compensação. Como, aliás, me apercebo que acontece com vários outros participantes: foi o seu carro elétrico e o convívio com a comunidade envolvente que os começou a despertar para hábitos mais sustentáveis, da captação de energia renovável, à separação de resíduos ou à compostagem.
O certo é que até mesmo o clube organizador desta prova quis ter esta primeira experiência de desportos motorizados sustentáveis. E, por muito que o seu objectivo com a presença dos quatro campeões fosse sobretudo notoriedade e visibilidade, o certo é que o envolvimento destes, e esse acréscimo de visibilidade, tem também um duplo papel muito positivo. Além da sua própria primeira experimentação, imagino muitos fãs de ralis a terem uma reacção imediata negativa à notícia (“então estes agora também vão correr de microondas?!”) mas lá ficará a semente. E se até os seus ídolos vêm ‘dar uma perninha’ aos elétricos, porque não experimentar?
ESTE ECO RALLY
É claro que nem tudo é bom. Os maus hábitos são difíceis de quebrar. E terá sido por isso que a organização fez um trajecto que os carros de menor bateria não conseguiriam terminar, ou que colocou um gerador a gasóleo a alimentar as suas instalações no Parque das Nações durante os 3 dias.
De resto, as estradas escolhidas fizeram-nos passar por locais lindíssimos e, até, icónicos, como o famoso troço de Montejunto do Rali de Portugal. Ao longo dos concelhos de Lisboa, Loures, Alenquer e Vila Franca de Xira tivemos ainda paragens-surpresa ao longo do percurso para rece bermos recordações dos municípios envolvidos. Os troços de regularidade eram exigentes e com muitas armadilhas nas notas, nalgumas das quais nós acabámos por cair. Isso fez-nos chegar ao fim da etapa de sábado em 8º, piorando depois na de domingo para 9º, por mais um disparate nosso, ultrapassados pelos campeões de ralis Bruno e Carlos Magalhães. Mas se a classificação é de longe o menos importante destas participações (eu sei que parece desculpa de mau perdedor, mas é mesmo a sensibilização que me move), o 5º posto na eficiência energética deixa-me orgulhoso, já que o VW ID.3 tem um consumo anunciado baixo e difícil de cumprir e é esse o dado comparativo utilizado para estabelecer esta classificação. Portanto, fui poupadinho e eficiente, como minimamente exigível ao dirigente de uma associação ambiental.
A discutir os primeiros lugares andaram as equipas do costume, as mais experientes, como é natural. A luta foi grande pelos lugares de 2º a 6º, já que os vencedores não deram confiança a ninguém, cedo se destacando na liderança. E assim Eduardo Carpinteiro Albino e José Carlos Figueiredo, da equipa Prio Renault Eco Team, celebraram mais uma vitória. Nas senhoras, venceram Magda Ferreira e Rosário Magalhães, num Kia EV6, uma das duas únicas equipas 100% femininas, apesar da presença de várias outras senhoras.
A Ecomood acaba por estar de alguma forma ligada a estas duas equipas vencedoras, nem que seja no orgulho. Magda Ferreira navegou a campeã Elisabete Jacinto
4 campeões. Da esquerda para a direita: Rui Madeira, Ricardo Teodósio, Bernardo Sousa e Bruno Magalhães.
na sua estreia, integrada na equipa Ecomood Peugeot, no Portugal EcoRally de 2021, o ano de estreia deste campeonato, no qual José Carlos Figueiredo foi o meu navegador, passando depois para a equipa oficial da Renault, na qual está a lutar pelo campeonato deste ano.
ENQUANTO OS CARROS SÃO ASSIM
Como já terá percebido, estas provas são feitas em normais automóveis elétricos do dia-a-dia. E quase qualquer um serve. Para que tenha uma ideia, se não me falham as contas, em 22 participantes, nesta prova havia nada menos do que 14 modelos diferentes de veículos. É claro que as equipas de topo têm algum equipamento mais sofisticado, mas a algumas das outras, além do caderno de itinerários, basta um telemóvel em frente ao navegador, com uma aplicação de fácil obtenção e utilização.
Portanto, e uma vez que acontecem em estadas abertas, enquanto os nossos carros forem no formato actual e não evoluirmos para veículos mais autónomos e controlados pelos sistemas de trânsito, este é um formato de prova acessível a todos os que tenham, ou aluguem, um automóvel elétrico. Pode ainda juntar-se à família já no próximo EcoRally, que acontecerá no Alentejo a 19 e 20 de Novembro. Ou pode ir lá visitar-nos, falar connosco, colocar as suas questões. Como lhe disse, há grande partilha de informação e muita ajuda a quem tem menos experiência. E depois pode começar a preparar-se para participar no campeonato de 2023.
Espreite www.cpnovasenergias.pt. Venha brincar e sensibilizar connosco. l