O movimento feminista do punk rock na publicidade hoje. (Mon.)

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MINA 1


JULIANA SEREJO GALEOTTI

O movimento feminista do punk rock na publicidade hoje

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda. Orientador Fernando Citroni Co-orientador Celso Rosa

São Paulo 2013 2

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Aluno: Juliana Serejo Galeotti Título: O movimento feminista do punk rock na publicidade hoje

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda. Orientador Fernando Citroni Co-orientador Celso Rosa A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em sessão pública realizada em __/__/____, considerou o(a) candidato(a): 1) Examinador(a) 2) Examinador(a) 3) Presidente 4

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Aos meus pais, que sempre me apoiaram.

EPÍGRAFE

“Mas como podemos concordar em permitir [que a mulher] se expresse quando todo o nosso modo de viver é uma máscara planejada para esconder nossos sentimentos íntimos?” (Octavio Paz, O labirinto da solidão)

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RESUMO

ABSTRACT

Este trabalho tem como objetivo o estudo do movimento de punk rock feminista americano dos anos 90, o Riot Grrrl. Com sua base nos movimentos de contracultura que se iniciaram na década de 60 e na própria rebeldia do punk rock nos anos 70, o Riot Grrrl nasce em 1990 acompanhando a onda de reivindicações sociais que caracterizaram a época. Voltado à luta política e social da mulher contemporânea, o movimento possibilitou um meio de expressão para jovens de vários países. Influenciando mundialmente garotas a lutarem pelos seus direitos e espaço de expressão na cena do punk, e na sociedade em geral, o Riot abriu caminho para diversas bandas de punk rock feminista brasileira e incentivou a produção cultural voltada às mulheres, impulsionando assim a imprensa alternativa de produção de fanzines. Para conhecer melhor o movimento, procedeu-se um estudo histórico do surgimento do gênero punk rock, do movimento feminista e em seguida uma imersão no mundo do Riot Grrrl, a fim evidenciar sua importância na comunicação alternativa e produção artística da atualidade. Posteriormente, encontra-se no segmento prático deste projeto, a utilização de um fanzine como meio de divulgação de banda e do movimento feminista brasileiro. Unido à investigação teórica, foi construído um painel visual da banda escolhida, como subsídio à produção do fanzine. Por meio deste estudo foi possível comprovar que o fanzine como publicação alternativa ainda é relevante nos dias de hoje, apesar de ter sofrido alterações no seu formato impresso para o digital. Sendo ainda utilizado tanto por fãs e aficionados de temas variados como meio de comunicação nos grupos, quanto por marcas conhecidas que buscam atrair um público

tassum ius everi que est, nis reiunt perferum essitempor aut laborendis et omnis aut asperfe rercia nam quosa vel inum doluptur moluptatqui conseque moloreprem evenihillam, omnimolore dolupid usandic atium, ut expel min cum qui dolorem que non pra vent.Molenim ustorpor sitatecus res maio modis si ducipis et aliqui tem aspelessum ea dolessi derro cum et plaut asperatiant molupist, nobis dus, sum dellatissum sita eicid experum voluptium quibus.Ihil ilis sa provitatur? Ati dellignate si cusaest, qui ipsam sit et pel eos nonsend iscipitaqui quid mi, aliquat atiam, quat laccus doloreped quisque deliquae sin remquam quossim est, serum qui digendis restorum que verepudit quatus ipic temolor porrum quatem ut rehendenis acipid qui offic temperuptae niet litationes estis earum eserum iunt lacea dem venis doloritatur, qui di as rest faccuptam verit alit omniend esciendem re, nos qui sequossum sed quiatem eleserum iur, omniet harume de nes essi voluptur sinciis dolupta tureria ped explace pudist dici ommossitas simus reribusdam fugit enit etur sit quamust as dolorum exerum harum quia pellorent utea dem venis doloritatur, qui di as rest faccuptam verit alit omniend esciendem re, nos qui sequossum sed quiatem eleserum iur, omniet harume de nes essi voluptur sinciis dolupta tureria ped explace pudist dici ommossitas simus reribusdam fugit enit etur sit quamust as dolorum exerum harum quia pellorent u

mais jovem e estabelecer uma ligação mais transparente.

Palavras-chave: Punk rock; feminismo; Riot Grrrl; fanzine; comunicação

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Key-Words: Linguagens; punk rock ; feminismo; propaganda; expressões; comunicação

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Sumário Introdução Capítulo 1: O punk rock 1.1: Breve história do movimento punk rock 1.2.: A figura feminina no punk rock 1.2.1: O surgimento do Riot Grrrl 1.2.2: O feminismo no punk 1.2.3: O Riot Girl na Atualidade Capitulo 2: A visão performática do punk 2.1: A arte da Linguagem de resistência gráfica 2.2: Imprensa alternativa: Fanzines 2.2.1: Fanzines femininos e feministas

Capitulo 4: Projeto Fanzine 4.1: Parâmetros para produção 4.2: Fanzine Considerações Finais Referências Bibliográficas Lista de imagens

Capítulo 3: Punk rock não é só pro seu namorado 3.1: A cena do punk rock feminino no Brasil 3.2: Banda escolhida: Dominatrix 3.2.1: Histórico 3.2.2: Painel Visual 10

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Introdução A escolha do movimento punk feminista Riot Grrrl como tema para feitura deste projeto está relacionada ao interesse na criação artística que o Movimento possibilitou, de modo a formar um espaço de expressão e experimentação para a arte e a comunicação alternativa da atualidade. O punk foi o causador da ruptura não só de costumes e comportamento, mas também resultou na transformação da linguagem, influenciando todo o processo de comunicação das gerações seguintes. Iniciado na década de 70 em Nova Iorque e logo em seguida em Londres, foi em pleno governo britânico, na época governado pela primeira-ministra Margaret Thatcher, que o punk explodiu como movimento. Com a ajuda do estudante de arte Malcom McLaren e sua namorada Vivianne Westwood, que ao se apropriarem da insatisfação e rebeldia dos jovens ingleses e do ideal de contracultura iniciado nos anos 60, definiram o punk inglês. Com o passar dos anos observa-se a continuação e o fortalecimento dos ideais, com o surgimento de gravadoras independentes, produção de fanzines, novas bandas e subgêneros do punk ao redor do mundo. E em 1990, com o crescimento da luta por reivindicações sociais, se destaca o movimento punk feminista Riot Grrrl. Um movimento que se realiza da elaboração política e estética, abrindo assim, o caminho para a expressão juvenil e mais importante, para as mulheres que acharam uma voz na filosofia contestadora do punk. O Movimento se consolidou como parte da história da música, influenciando grandes bandas que prosseguiram, entre elas, Bikini Kill, The Breeders, PJ Harvey, The Donnas. E abriu caminho para importantes artistas femininas como Siouxsie Sioux da banda Siouxsie & The Banshees, Patti Smith, Debbie Harry da banda Blondie, Joan Jett, Chrissie Hynde do Pretenders, e outras mais. É inegável a importância do punk para a música, arte, e comunicação de hoje. Como bem resume Rocha (2005, p.60): “(...) o punk mudou o mundo mais do que qualquer outro estilo, reunindo de maneira caótica e sem lógica influências estéticas diversificadas e influenciando uma grande quantidade de tribos que vieram depois: skaters, grunges, riot grrrls, indie kids, góticos, new romantics, pervs, ciberpunk, e os psychobillies”.

A proposta prática deste trabalho centrou-se na produção de um fanzine como meio divulgador de banda. Considerados um tipo de comunicação alternativa, os fanzines surgiram na década de 1930 nos Estados Unidos e abordavam temas como a ficção científica e HQs, no 12

entanto com o surgimento do movimento punk, houve um aumento na publicação de zines. Por não fazer parte da imprensa mainstream, por ter um caráter cultural e por ser de fácil produção, os zines foram adotados pelos punks. Ligado ao lema do DIY- Do It Yourself- Faça Você Mesmo, serviram como meio de comunicação do movimento. Assim oferecendo um espaço onde fãs podiam escrever resenhas e anunciar suas bandas favoritas, fazer arte, compor poemas, e entre outras coisas. Acabou sendo adotado também pelo Riot Grrrl como meio de manifestação, e atualmente está vinculado ao movimento feminista, além de também estar sendo utilizado para outros meios, como ONGS e lojas de roupas. Já neste projeto, a criação de um fanzine serve como divulgador da banda Dominatrix e propagador do movimento feminista brasileiro. Tendo como objetivo aprofundar o estudo sobre imprensa alternativa e o Riot Grrrl. Para melhor compreender e assim retratar esteticamente o Movimento, foram realizados alguns estudos aqui apresentados. Primeiramente uma breve história do movimento punk, demonstrando as conseqüências que a Segunda Guerra Mundial teve na juventude americana, levando-os a dar início aos movimentos de contracultura nos anos 60 e a rebeldia nos anos 70. Necessário para saber qual era essa sociedade contra o qual os jovens estavam se rebelando e por que, além de observar a evolução das questões femininas. Em seguida o punk feminino foi abordado, desde seu surgimento na década de 60 e 70, evidenciando algumas figuras de extrema importância, junto com a história do Riot Grrrl e o feminismo no punk. Destacando assim, sua importância na vida de jovens mulheres. O passo seguinte foi analisar a produção artística que o punk possibilitou. Ao estudar a cena, influencias e linguagem, pode-se compreender seu impacto no mundo da música e no meio de comunicação independente. Aqui os fanzines foram abordados desde seu surgimento na imprensa alternativa, até seu uso no movimento feminista. Depois foi examinada a cena do punk rock feminina no Brasil, junto com a apresentação da banda escolhida. Esta etapa traz uma análise, histórico e painéis visuais da banda, com objetivo de coletar informações visuais relacionadas à parte prática. Por final, os parâmetros de produção para a criação do fanzine. Por fim este trabalho é para ser tido como inspiração, de modo a incentivar outros a aderirem à causa do movimento feminista e a produzirem algo que dê continuidade à essência do punk rock. e linguagem, pode-se compreender seu impacto no mundo da música e no meio de comunicação independente. Aqui os fanzines foram abordados desde seu surgimento na imprensa alternativa, até seu uso no movimento feminista. Depois foi examinada a cena do punk rock feminina 13


no Brasil, junto com a apresentação da banda escolhida. Esta etapa traz uma análise, histórico e painéis visuais da banda, com objetivo de coletar informações visuais relacionadas à parte prática. Por final, os parâmetros de produção para a criação do fanzine. Por fim este trabalho é para ser tido como inspiração, de modo a incentivar outros a aderirem à causa do movimento feminista e a produzirem algo que dê continuidade à essência do punk rock.

Capítulo 1: O punk rock O primeiro capítulo aborda a história do movimento punk desde seu começo na década de 70 até a atualidade, e sua influência em outras tribos e movimentos político-sociais, em especial o Riot Grrrl. Para melhor compreensão do movimento, o capítulo ressalta os eventos de duas décadas anteriores à explosão do punk, para entender a sociedade e os acontecimentos que levaram os jovens à se rebelarem. Começando pela Segunda Guerra Mundial e como suas conseqüências tiveram um impacto na juventude, levando-os a dar início à contracultura nos movimentos sociais dos anos 60 e finalmente chegando à rebeldia do punk em 70. No qual será analisado os ideais do movimento, a música e cena punk rock, moda e comportamento. Para finalmente, falar sobre a presença feminina no punk. Com uma retrospectiva de figuras importantes que abriram o caminho para o Riot Grrrl; uma análise do movimento Riot, sua história e meio de expressão e uma breve citação sobre o feminismo e sua atuação no movimento punk feminino.

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1.1: Breve história do movimento punk rock Em setembro de 1939 iniciou-se a Segunda Guerra Mundial. Esta é considerada a maior catástrofe provocada pelo ser humano em toda sua história. Envolveu tanto direta ou indiretamente todos os continentes e foi executada por setenta e duas nações. As conseqüências foram desastrosas, o número de mortos passou de cinqüenta milhões, havendo ainda vinte e oito milhões de feridos. A Segunda Guerra Mundial teve um grande impacto na vida da juventude da época. Os jovens se encontravam num estado de desânimo, desespero, tédio e depressão. Surge então, entre os intelectuais a corrente filosófica do Existencialismo, que liderada por Jean Paul Sartre, influenciou jovens descrentes na sociedade pós-guerra e ofereceu novas formas de ver o mundo. O professor Paul Sérgio do Carmo (2000) explica o movimento declarando que a doutrina prega a liberdade do ser humano, “é através da liberdade que o homem escolhe o que há de ser”(Satre, apud Carmo, 2000, p.26). O Existencialismo recomendava a necessidade da constante busca pelo sentido da vida e sua existência, influenciando assim os jovens à verem o mundo com outros olhos e terem a consciência de que poderiam criar algo melhor e original. Tratava-se no final, de uma filosofia que incentivava a rebelião e liberdade no mundo. E certamente, influenciou as gerações seguintes, oferecendo um espaço de expressão para manifestações de rebeldia, como afirma Carmo (2000). Um exemplo desta continuidade de pensamentos já se encontra nos movimentos sociais dos anos 60. Nesta época o mundo se encontrava descontente. Com a lembrança da Guerra do Vietnã, a população deu início a passeatas, protestos, e tumultos, que ao se espalharem pelo mundo, geraram uma nova revolução social. Estas mobilizações eram resultado da necessidade de quebrar antigos valores, os jovens pediam reivindicações sociais e lutavam pelos direitos civis. Como ressalta Martin Cesar Feijó (2009), esta nova geração tinha como objetivo encontrar um novo estilo de vida contra à Guerra fria, e com isso assumiu um papel social transformador. Foi a partir destas manifestações mundiais, que nasceu a contracultura, presente também nas próximas décadas.

A sociedade contemporânea participava de um momento de grandes reflexões.A juven16

tude pregava a norma de “paz e amor”, poder negro (blackpower), poder gay (gay power) e a libertação feminista (women’s lib). O ideal de igualdade aos sexos se fortalecia com o fim da separação de gênero nos meios de ensino.Como confirma Feijó (2009), “(...) com mais tempo, mais informação e mais dinheiro, passavam não só a consumir quanto a questionar a sociedade de consumo”. Em 1970, jovens ao redor do mundo davam continuidade aos movimentos reivindicatórios e à contracultura. Para a doutoranda Carmen Diniz (2009), a ininterrupção destas manifestações tinha influências do pensamento de Herbert Marcuse, presentes no prefácio de seu livro “Eros e Civilização” de 1966. Para o teórico, o ser humano precisava emancipar-se das regras da sociedade, promovendo por meio de mudanças, um novo ideal político cultural. Uma teoria que foi ganhando força perante os eventos que seguiram em 1970. Ditaduras, crises mundiais, escândalos governamentais e economias em recessão aumentavam o descontentamento, em especial da juventude inglesa. O governo de Margaret Thatcher elevou os juros e diminuiu os gastos governamentais, o resultado como demonstra Ricardo Setti (MEMÓRIA: Margaret Thatcher, Uma Dama do Lado Direito da História, 2013) foi imediato, “a atividade econômica esfriou e o desemprego triplicou. A popularidade dela afundou (...)”. A estagnação econômica e os altos níveis de desemprego afetaram diretamente os filhos das classes trabalhadoras dos subúrbios. Obrigados a saírem da escola, se deram conta que não tinham futuro. “Deus salve a rainha. Nós estamos falando sério cara. Não há futuro nos sonhos da Inglaterra. Sem futuro, sem futuro. Sem futuro para você (...)” - Deus Salve a Rainha - Sex Pistols. 1 Eis que surge o punk como novo movimento social. Jovens ingleses revoltados com a situação, começam a criticar e se rebelar contra à sociedade, a monarquia, os hippies e a cena musical. Mariana Rocha (2005, p.57) esclarece, “o punk não queria apenas se expressar, queria também incomodar (...)”. Para chamar à atenção aos problemas, adotaram uma estética agressiva, aproveitando o que tinham e na lógica do DIY - Do It Yourself (Faça Você Mesmo). Usavam alfinetes de segurança como adorno no nariz, bochecha e para impedir as roupas de se desfazerem; correntes; cadeados; lingerie barata; cabelos no estilo moicano; coturnos; símbolos anárquicos; roupas rasgadas; e etc. “O que valia nesse momento era uma expressão pessoal 17


que se revelava, por meio da indumentária. (...) Essa postura separatista e o visual agressivo dão a vestimenta um caráter combativo” (ROCHA, 2005, p.57). Ou, como bem resume Carmo (2000, p.126): “(...) ao expor o grotesco, ao insultar a sociedade de consumo, ao desprezar os partidos políticos e ridicularizar a felicidade artificial, os punks representavam um soco na sociedade tradicional”. Os jovens punks sentiam parte do “mundo mainstream da cultura estabelecida, e aderiram à anarquia e criaram uma estética peculiar que funcionava segundo suas próprias leis” (Rocha, 2005, p.57). Ao adotarem uma postura anarquista, começaram a fazer parte de um movimento político. A socióloga Helena Abramo (apud Carmo, 2000, p.126), demonstra que a música punk associa-se “a uma estética baseada nos mesmos princípios (...), na utilização de materiais rudimentares, desvalorizados, provenientes do lixo urbano e industrial”. O lema do movimento era o próprio DIY - “Faça Você Mesmo”, incorporado também na música punk, simples e sem tanta performance. Um tipo de revolta que se direcionava ao som da cultura pop da época, onde as músicas eram intermináveis, com performances exageradas e aparelhos de som caros. O importante na música punk não era a técnica e sim poder se expressar, com isso recuperaram o “som de garagem” dos anos 60. Como bem evidencia o autor Emerson Giumbelli (2008, p.5), “os grupos punks anglo-americanos reagiam ao “rock progressivo” dominante na década de 70 - com superastros, músicas elaboradas e letras herméticas - e ao que eles representavam então: a reivindicação de um status de arte para o rock. A “atitude punk” desprezava o apuro técnico-formal da música - qualquer um poderia constituir uma banda de rock - e a distância entre artista e público.” E ainda nas palavras de Carmo (2000), a música punk era “autêntica”, falava das experiências dos próprios jovens. Estes queriam fazer música para que qualquer um pudesse ouvir, queriam dividir conhecimento e se divertirem. Eis a característica mais importante do punk, a comunidade, todos se ajudavam. Os precursores do movimento foram os Sex Pistols, ajudaram a colocar o punk em evi-

1. God save the queen. We mean it man. There`s no future in England`s dreaming. No Future, no future. No furutre for you (...)” God Save The Queen - Sex Pistols. 18

dência assim como causaram bastante polêmica na época insultando a família real britânica e falando palavrão na TV em horário familiar. No cenário musical também surgiram o The Clash, Siouxsie& The Banshees, Buzzcocks, Generation X, Patti Smith, Debbie Harry da banda Blondie, The Ramones, Joan Jett, The Dead Kennedys, The Stooges, Chrissie Hynde do Pretenders, entre outros. A agressividade do punk se encontrava também durante os shows de bandas, muitos tumultos e uso de drogas incentivava à violência. Este comportamento foi importante para chamar à atenção ao movimento, porém assustava as pessoas. De acordo com Carmo (2000) este tipo de atitude fez com que o movimento perder-se a força e no final de 1977, o punk foi tomando outro rumo. A imprensa que antes tinha uma certa curiosidade pelo movimento, decretou seu fim ao publicar matérias contra o punk rock. No Brasil destaca-se o caso do Fantástico que veiculou uma matéria denegrindo todo o movimento, o que resultou na dispensa de vários adolescentes dos lugares onde trabalhavam (BOTINADA, 2006). Citando novamente Sérgio do Carmo, (2000), a imprensa começa a tratar toda e qualquer manifestação de punk desde então como New Wave, a versão mais compactada e comercial do gênero. Acreditava-se então que o punk rock estava sobre controle, porém ele estava mais informado, como evidencia o jornalista Gary Bushell (1982 apud Bivar, 2001, pp.84-85), “mais conscientizado e verdadeiramente ligado à uma faixa de juventude que continuou e continua rebelando-se contra a hipocrisia, conformismo, tédio e contra um mundo (...) no qual o jovem tem pouca chance de manifestar-se (...)”. O autor Stewart Home (1999 p. 131) examina mais à fundo: “O Punk tinha uma música, uma moda e uma posição política, mas fatores socioeconômicos causaram uma especialização crescente (e separação entre elas) das várias disciplinas unidas sob sua bandeira. Assim, a ampla base social que poderia ter se desenvolvido foi, no lugar disso, enfraquecida e destruída. Muitas correntes dignas de louvor emergiram, mas enquanto movimento, o Punk acabou logo após o seu surgimento”. Essa primeira onda do punk, no entanto, contribuiu bastante como meio de expressão entre seus integrantes, compartilhavam-se músicas, experiências e ideias. A figura feminina também estava presente, ajudando o movimento. O punk acabou também por influenciar não só o mundo da música, como a moda e até o design. O movimento cresce ao longo dos anos e jovens de diferentes partes do mundo e classe 19


sociais se identificam com a nova forma de revolta, mesmo apesar das perseguições policiais e sem terem voz nos meios de comunicação de massa (Carmo, 2000). Ou ainda nas palavras de Home (1999) “Além disso, o Punk claramente tinha algo a dizer, e o fato de conseguir comunicá-lo efetivamente é demonstrado até hoje pela identificação generalizada dos adolescentes com ele”.

Rocha (2005, p.60) acrescenta:

“(...) o punk mudou o mundo mais do que qualquer outro estilo, reunindo de maneira caótica e sem lógica influências estéticas diversificadas e influenciando uma grande quantidade de tribos que vieram depois: skaters, grunges, riotgrrrls, indiekids, góticos, new romantics, pervs, ciberpunks e os psychobillies”.

1.2.: A figura feminina no punk rock A autora Rachel Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 years Later, 2011), analisa a cena do punk rock e revela que as mulheres tinham um papel importante na contracultura do punk no final dos anos 70 e começo de 1980. Muitas encontraram uma voz, além de uma identidade musical, durante a explosão do punk. Tendo em sua filosofia a rebeldia, o movimento foi, e continua sendo, um ambiente perfeito para artistas que se sentiam, antes, excluídas de uma indústria fonográfica dominada por homens. Michelle Lee (OH Bondage Up Yours! The Early Punk Movement And The Women Who Made It Rock, 2002), no entanto, revela que apesar do punk ter uma política progressiva e a diferença de gênero ser respeitada dentro do movimento, as mulheres tinham uma tarefa difícil. Pois ficaram responsáveis de não só provarem seu valor, como também representaram a mulher na música. Uma missão complicada quando a crítica jornalística se referia às moças como sex symbols. Apesar de toda adversidade, as meninas triunfaram e abriram espaço para a política feminista e a presença feminina. Como exemplo, Patti Smith, considerada uma das primeiras jovens punk de Nova Iorque e um ícone do movimento. Freqüentadora do CBGB, famosa casa de show da cidade que impulsionou a carreira de inúmeras bandas, Patti Smith combinava poesia ao som de rock. Atualmente Smith continua suas performances no meio musical e literário. Outra importante integrante norte-americana é Joan Jett, ex-guitarista da primeira banda americana composta só por mulheres, The Runaways. Nos anos 90, Jett colaborou com o movimento punk feminista e ficou conhecida como “the original riotgrrrl” (a riotgrrrl original). Ela continua a fazer shows, importante ressaltar sua presença no Lollapalooza Brasil 2012, e ajuda a produzir novas bandas com sua gravadora Blackheart Records (15 Essential Women Punk Icons, 2011). Da famosa banda X-Ray Spex, PolyStyrene é considerada uma das mulheres mais corajosa, barulhenta e importante da cena do punk rock inglês dos anos 70. Na famosa canção “Bondage Up Yours” o grupo já se rebelava contra a posição social da mulher da época, “Some

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people think that little girls should be seen and not heard. But I say, ‘Oh bondage, up yours!’” (Algumas pessoas acham que garotinhas têm que ser vistas e não compreendidas. Mas eu digo, ‘Oh bondage, vai tomar!) Tornando-se assim um “grito de guerra” para as bandas de punk feministas que surgiriam. Styrene continuou a fazer música até falecer em 2011 com 53 anos. A conterrânea de Styrene, Siouxsie Sioux também ajudou a divulgar o punk rock no Reino Unido. Sioux, no entanto, tinha um visual diferente, exótico, como define Judy Berman (15 Essential Women Punk Icons, 2011), “Onde o punk se mistura com o goth, temos Siouxsie Sioux, que tem criado um tipo de música escura e dançante desde 1976”. 2 Depois de lançar 11 álbuns com sua banda Siouxsie and the Banshees, participou da então Creatures e desde 2004 permanece em carreira solo.

Icons, 2011). A primeira tentativa de Love na música foi com a banda Sugar Baby Doll, com as integrantes Bjelland e Jennifer Finch. O trio feminino de punk se apresentava com vestidos baby-doll, usando maquiagem pesada e com os cabelos desarrumados. Porém, Love acabou sendo expulsa da banda por Bjelland e se mudando para Los Angeles. Lá, com a ajuda de Kim Gordon montou sua própria banda chamada Hole. A banda ganhou fama internacional e ajudou Love a ser reconhecida como uma das principais artistas femininas de 1990 (HOLE, 2013; COURTNEY Love Biography, 2013).

O título de primeira banda inglesa formada somente por mulheres é dado para The Slits. As integranes Ari-Up, Kate Korus, Palmolive e Suzi Gutsy incorporavam alguns elementso de ska e dub em suas canções, estilos presentes na cena punk inglesa de 76. Populares, as meninas abriram um show para o The Clash em 1977. Dos anos 80, Kim Gordon aparece com a banda Sonic Youth. Uma mulher de mil facetas, Gordon não ficou só no mundo da música. É artista, produtora de vídeo, estilista e até atriz. Uma importante porta-voz da presença feminina na música e do movimento Riot Grrrl. Incentivando suas companheiras, Gordon ajudou a dirigir o vídeo da banda feminina The Breeders e a lançar a carreira da Hole nos anos 90. No Brasil, em 1980, as meninas da banda As Mercenárias chamaram a atenção pelas letras das canções e som punk com influência dos Sex Pistols, Siouxsie And The Banshees, Joy Division, entre outros. Se apresentavam em casas de shows de São Paulo, no entanto, deixaram apenas dois álbuns e uma coletânea lançada no exterior. Se separam em 1988, porém com a volta da baixista Sandra Coutinho do exterior após 14 anos fora, as Mercenárias voltaram. Atualmente seguem realizando shows (AS Mercenárias, 2013). Finalmente, na década de 90 acontece a terceira onda feminista. Mais recente, ela é considerada uma continuação do seu anterior, porém com novos objetivos. Com esta nova fase a representação feminina toma forma com a figura de Courtney Love. “Courtney Love foi a mulher mais importante no gênero oriundo do punk, o grunge”. 3 (15 Essential Women Punk 22

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1.2.1: O surgimento do Riot Grrrl “Nós estávamos cansadas de esperar alguém começar uma revolução. Teríamos que começar uma nós mesmas. Queríamos ouvir, aprender, falar e ajudar uma a outra.” (TURNER, 2011,p.48) 4 No começo dos anos 80, quando o New Wave se tornou o centro das atenções pela mídia, o punk rock continuou a crescer no underground dando continuidade em novas bandas pós-punks e se dividindo em vários gêneros. Como exemplo o horror punk, street punk, skate punk, hardcore punk, para citar alguns. No caso deste último, o hardcore punk, acabou se tornando o estilo de música dominante. Rachel Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 20111), afirma que no começo de 1990, com a popularidade dos sons do hardcore, o punk começou a atrair uma platéia predominante masculina. Pois se acentuava uma postura “macho” com canções agressivas e comportamento bastante violento durantes shows. Assim diminuindo o espaço de expressão que as garotas tinham conquistado no começo, pois elas continuavam presentes na cena, mas dificilmente conseguiam se apresentar em shows. Smith ressalta o problema, “a divisão de gênero se tornou permanente graças à explosão comercial do gênero musical grunge e do “rock alternativo”, gêneros com base no próprio punk rock que eram na maioria apolíticos (...) e dominados pelo sexo masculino”. Com isso, as meninas começaram a buscar um meio próprio de expressão.

estupro no país. As mulheres se reuniram e fazendo uso do lema punk DIY - “Faça Você Mesmo” e ideais feministas, formaram o Riot Grrrl. Nas palavras de Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011): “Na ideologia anti-autoritária do punk, jovens mulheres que foram deixadas de lado da cena do punk rock, se deram conta da culminante oportunidade para auto-expressão e autodeterminação”.6 O Riot Grrrl teve seu início na capital norte americana, Washington D.C. e na cidade de Olympia, com o crescimento do movimento estes dois polos prosperaram em assuntos políticos e feministas. “Revolution Girl Style Now” - Revolução No Estilo Feminino Agora era o lema do movimento, que a baterista do Bikini Kill, Tobi Val (apud Smith, REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011) descreve com sendo o slogan uma chamada para as garotas começarem suas próprias bandas, fanzines e participarem na construção de uma cultura independente. Toda essa motivação resultou futuramente em diversas manifestações, como reuniões de conscientização que abordavam uma diversidade de temas, na sua maioria não focados na música, como abuso sexual, sentimento de solidão e insegurança, a falta de compreensão feminina, etc. Jones (HANNA and HerSisters, 2012) evidência no entanto que estas reuniões de apoio aconteciam muito antes da proliferação de bandas e zines (fanzines) que abordavam questões sobre o movimento.

A crescente presença feminina no punk e o resgate do espaço de liberdade e experimentação que as mulheres antes tinham, abriu caminho para um novo movimento social que se destacou dos demais. Um movimento americano de punk rock feminista intitulado de Riot Grrrl que volta a debater a posição da mulher na música e na sociedade. Ou ainda nas palavras de Sara Marcus (2010, apud REVOLUTION Girl Style, 20 years Later, 2011): “(...) o movimento riot grrrl apareceu uma década depois, quando as mulheres tomaram mais uma vez uma posição contra o movimento musical dominado por homens e gravaram seu espaço”.5 Fazendo assim com que o punk feminino se tornasse mais forte do que nunca.

Duas bandas norte-americanas de punk rock feminino ajudaram a disseminar o movimento Riot Grrrl, Bratmobile e BikiniKill. A última é considerada a porta-voz do movimento devido ao engajamento de suas integrantes, como ressalta Berman (15 Essential Women Punk Icons, 2013), “Não tem como você falar sobre o riot grrrl sem fazer menção à Kathleen Hannah, sua porta-voz mais reconhecível. Ela impulsionou o movimento em 1990 quando formou a banda Bikini Kill”.7 Por quase uma década Hannah e suas banda, o BikiniKill, fazeram tour pelos Estados Unidos encontrando outras mulheres, distribuindo zines feministas, e abordando temas considerados taboo, como prostituição e abuso. O grupo é citado por diversas bandas femininas da atualidade como importante inspiração, como exemplo a banda inglesa Gossip e até para atual Pussy Riot. Hoje em dia o BikiniKill ainda contribui ao Riot Grrrl, seja ajudando a preservar seu legado ou expandindo o conhecimento feminino sobre o movimento.

Na época que o Riot Grrrl surgiu, a vida de jovens mulheres estava sendo tema para diversas discussões políticas nos Estados Unidos. Por exemplo, os debates nacionais que ocorreram em 1991 sobre os direitos sexuais e reprodutivos da mulher e a divulgação de casos crescentes de

Na música, as meninas abordavam temas sobre desejo, aceitação pessoal e a frustração com a sociedade na qual a vida e o futuro das mulheres ainda parecia bastante delimitado por conta do gênero. Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011) conclui, “Além disso,

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elas”, as meninas, “esperavam abrir um caminho para ajudar mulheres a fazerem o mesmo”, se mobilizarem.8

1.2.2: O feminismo no punk

A comunicação e organização do movimento Riot Grrrl, tanto quanto em suas reuniões e convenções, é realizada de uma maneira comunitária. Pode-se observar atualmente muitas manifestações do movimento que continuam sendo realizadas exatamente pela intensa interconectividade do grupo desde sua criação. Uma grande parte do Riot Grrrl tinha haver com começar uma produção cultural se apropriando do espírito DIY. Assim, podendo conectar jovens que nunca se conheceram, mas que no entanto, compartilhavam das mesmas ideias. Smith expõem como esta comunicação era realizada: “As músicas, os zines, os filmes e qualquer outro produto do momento eram meios nos quais as riot grrrls se comunicavam (...)As convenções abordavam de tudo, desde métodos de produção de zines até como começar a própria gravadora. Eram oferecidas aulas de autodefesa para mulheres e a prática de exercícios de autoconfiança. O senso de interconectividade era a base do movimento, cada parte individual ajudava a outra” (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011).9 Todo o movimento trabalhava junto para transmitir conhecimento e incentivar a mobilização, era espantoso a habilidade das meninas de propagar informação tão rapidamente e de um jeito tão acessível.

“Crescemos ouvindo que éramos pós-feministas, que não precisávamos do feminismo. Quando você descobre que você precisa, é um grande problema.” Amy Klein da banda Titus Andronicus (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011).10

Desde o século XVIII muitas foram as vozes que se mobilizaram para reivindicar o papel da mulher na sociedade. Questionavam-se a maneira de como eram tratadas socialmente e sua ausência na participação da história Ocidental. Nesta época já se era possível observar a participação de mulheres em manifestações públicas, por mais restrito que fosse esta presença. Como exemplo as tricoteuses, mulheres francesas que não podiam participar dos debates públicos da Assembléia Constituinte, e por isso se manifestavam ao assistirem aos debates enquanto tricotavam nas galerias e em seguida expressavam suas opiniões por meio de textos. A posição feminina era de submissão, desprovidas de qualquer direito eram vistas apenas como um objeto particular do homem. Suas aspirações por condições melhores eram meros anseios, não sendo assim levados a diante, pois a idéia de independência era vista somente no casamento, tido como recompensa moral para a família e para sociedade (A Mulher no Sec.XIX, 2012). As autoras, Branca Moreira Alves e Jacqueline e Pitanguy (apud Lima, 2008, p.22) comentam a situação da mulher operária da época, “No século XIX, a consolidação do sistema capitalista trará conseqüências profundas tanto para o processo produtivo quanto para a organização do trabalho como um todo, e para a mão-de-obra feminina, em especial”. Com o boom da revolução industrial e nascimento do capitalismo, a mulher passou a compartilhar com o homem as terríveis jornadas de trabalhos de 14 até 18 horas por dia. No entanto, elas ainda sofriam a “super exploração” e injustiça nas diferenças salariais em comparação aos seus companheiros. Como resume Lima, “com isso, os movimentos operários tentaram impedir o ingresso das mulheres no mercado de trabalho”. Entretanto, o século XIX também foi marcado por grandes avanços nos pensamentos sobre a situação da mulher na sociedade e presenciou o aparecimento dos primeiros movimentos

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femininos organizados. De acordo com o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, o termo “feminismo” pode ser definido como, “movimento daqueles que preconizam a aplicação legal dos direitos civis e políticos da mulher, ou equiparação dos seus direitos aos do homem”. Entende-se por isso que o feminismo tem como objetivo o interesse em diminuir a separação dos gêneros. Necessário ressaltar que existe um público masculino que se encontra unido no movimento. O Feminismo é dividido em três fases, ou ondas como são chamadas, cada onda aborda a situação da mulher naquele determinado período da história. Orson Camargo e Vera Fiori (FEMINISMO, O Que É, 2013; FEMINISMO, ontem e hoje, 2011) identifica as diferenças de cada uma, a primeira refere-se à conquista do sufrágio feminino, movimentos preocupados principalmente com o direito de voto da mulher; a segunda diz respeito a igualdade política e social das mulheres, um conceito que se iniciou com os movimentos de liberação da década de 60; e a terceira mais recente, se iniciou na década de 90 sendo considerada uma continuação do sua anterior, porém com novos objetivos, como o combate a violência domestica, a questão da legalização do aborto, a participação das mulheres na política, e a mercantilização do corpo feminino. O movimento feminista intitulado de Sufragista teve seu início nos Estados Unidos em 1848 durante a Convenção dos Direitos da Mulher em Seneca Falls, Nova York, mobilizando quase 2 milhões de mulheres. O evento é considerado um marco na luta feminina, pois foi a primeira mobilização que chamou a atenção da sociedade. Entretanto, as americanas só foram conseguir o direito ao voto 72 anos depois. Na Inglaterra, apesar de se parecer com o movimento americano, a situação teve um caráter mais violento, “Suas participantes estiveram divididas em pacifistas e sufragettes, essas, radicais promoviam a destruição e desordem a fim de conseguir a atenção das autoridades”. Conseguiram o voto em 1928 (Diniz, 2009, p.1545; A Força Feminina Durante e Depois da Revolução Francesa, 2013). No Brasil, Bertha Luz criou em 1919 a Liga Para Emancipação Feminina que lutava pelo direito de voto das brasileiras, além do trabalho da mulher sem necessidade da autorização do marido e pela escolha de domicílio. Apesar do apoio de políticos, jornalistas e senadores e da crescente participação feminina na sociedade, o voto só foi liberado em 1932. Seguiu-se em 1934 a eleição da primeira deputada do Brasil, Carlota Pereira de Queiros que ajudou a implementar a legislação trabalhista de proteção no trabalho feminino. 28

No início do século XX, a literatura da escritora inglesa Virginia Woolf, auxiliou em questões femininas do movimento. No seu livro “Um teto todo seu” de 1929, a escritora chama a atenção a ausência da figura feminina na história e manifesta sua opinião sobre a “inadequação da história existente”, aconselhando uma revisão. Já a autora Andréa Gonçalves avalia o papel que o movimento feminista irá desempenhar na metade do século XX, “destaca-se a luta pela cidadania que se consubstanciou nas manifestações pela conquista do sufrágio universal (...)” (apud Diniz, 2009, p.28). Na época da Segunda Guerra Mundial quando o Existencialismo ficou conhecido e começa a influenciar os jovens, já se percebe a participação da mulher com Simone de Beauvoir, que junto com Sartre contribui com a filosofia. Beauvoir já passa a abordar a questão da figura feminina na sociedade em seu livro “O Segundo Sexo”. O livro se tornou uma grande referência para o movimento feminista, pois nele Beauvoir “(...) apontava para as raízes culturais da desigualdade entre os sexos, denunciando a existência de uma categoria negativa à qual as mulheres estavam atreladas. Considerava que elas estavam sujeitas ao homem por inúmeras tramas: por sua condição biológica, pelo trabalho, pelos interesses econômicos e pela condição social” (DINIZ, 2009, p.1543). Ainda na obra a autora, ao analisar inúmeras questões sobre o feminismo, chega a seguinte frase que se tornou fundamental aos estudos sobre o movimento, “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A segunda onda do feminismo, que diz respeito a igualdade política e social das mulheres, se iniciou com a contracultura dos anos 60. A idéia de igualdade dos sexos se fortalecia,a introdução da pílula anticoncepcional permitiu uma libertação sexual à mulher, “Nossos corpos, nos pertence” (DINIZ, 2009, p.1543), e o meio literário que passou a abordar a questão da figura feminina na sociedade, destaca-se o livro de Betty Friedan “A Mística Feminina”. O mestre em história Rainer Souza (2011) comenta, “A partir de então, muitas mulheres saíram às rua com o intuito de reivindicar os mesmo direitos assegurados pela constituição liberal de seus países” (MOVIMENTO Feminista, 2013). Ou ainda, nas palavras de Diniz (2009): “Dessa forma, o movimento feminista foi ganhando corpo, e passou a garantir o seu espaço no mundo ocidental”. Jones (HANNAH And HerSisters, 2011) examina que no final de 1980 nos Estados Unidos e na Europa, existia um consenso de que o feminismo como movimento já tinha feito sua parte e que não era mais necessário tais idéias políticas e sociais no mundo desenvolvido. O surgimento do 29


Riot Grrrl na década de 90, junto com a terceira onda do feminismo, provava o contrário. Estas novas feministas queriam retirar o homem da posição de poder definir os direitos das mulheres, elas mesmas queriam uma participação em discussões sobre questões culturais e sociais e também sobre a participação da mulher negra na sociedade. Elas queriam combater as ideologias culturais que faziam a mulher ser subserviente ao homem independente do seu estado civil (FEMINISMO, O Que É, 2013). A grande representação dessa luta se encontrava na área de crimes cometidos contra a mulher, o mais importante sendo o estupro. As ativistas da terceira onda queriam retirar as mulheres da posição de vitimas para que esse tipo de crime não acontecesse mais. Para conseguir atingir esse objetivo, as meninas faziam uso de métodos que diferenciavam a terceira onda da segunda. Como detalha Jones (HANNAH And Her Sisters, 2011), “Em Vez de organizar protestos e passeatas, as novas feministas queriam a mudança em um nível mais pessoal. Elas enfatizavam a importância de ter vozes individuais que seriam escutadas, ao contrário de uma mensagem política. Elas organizavam workshops e conferências para ensinar mulheres como ocupar mais posições de mudança no mundo.”11 Essas conferências tinham como objetivo incentivar jovens à se desfazerem das idéias patriarcais da figura feminina pequena, quieta, fraca, subserviente, e etc. Elas almejavam ajudar as mulheres à descobrirem suas vozes e que fossem capazes de expressar suas opiniões políticas sem medo de serem rotuladas de “difícil”, “chata”, e etc. “Era a tentativa das meninas de criarem uma atmosfera político-social, onde as mulheres podiam realmente ser cidadãs do tão chamado mundo desenvolvido.” (HANNAH And Her Sisters, 2012). 12

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1.2.3: O Riot Grrrl na atualidade A popularidade do Riot Grrrl crescia a cada dia, com a entrada de novos integrantes, shows de bandas femininas, e eventos de conscientização. Entretanto, sua fama acabou chamando a atenção da mídia. O movimento foi tema de uma matéria na Revista teen Sassy, que acabou ganhando espaço e virou uma seção permanente na publicação, que periodicamente incluía informações sobre escritores e músicas do Riot Grrrl na seção “Zine of The Month” (Zine do Mês) e “Cute Band Alert” (Alerta de Banda Fofa). Grandes publicações como Spin, Newsweek e the The New York Times também demonstraram interesse no assunto. E por consequência, o Riot Grrrl, assim como o punk, se tornou mainstream. O Riot Grrrl foi tão banalizado, seus ideáis e comportamentos tão explorados pela mídia, que ocorreu uma estereotipização de como deveria ser uma típica Riot Grrrl. Tanto que, na série de TV famosa na epóca, Roseanne, aparece esse clichê de Riot Grrrl em uma das personagens. Este tipo de exposição da mídia, para um movimento explicitamente político como o Riot Grrrl, era muito preocupante, como bem resume Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011): “As participantes - muito das quais eram adolescentes (...) viram suas vidas, opiniões e princípios serem sujeitados à opiniões públicas de uma maneira que nunca tinham se deparado antes.”13 As integrantes reagiram, ignoraram o sensacionalismo da mídia e se afastaram de qualquer tipo de exposição oferecida, o movimento voltou a ser focar no underground. Outras tentaram preservar o espírito do Riot Grrrl na música, para depois descobrirem que as convicções do movimento e suas táticas de DIY foram totalmente transformadas e comercializadas em massa. Inclusive o slogan do movimento “girl power”, que nasceu como título de capa de zine, foi re-apropriado e ganhou novo significado quando utilizado pela banda pop britânica Spice Girls. A autora do livro “Girls to the Front: The True Story of the Riot Grrrl Revolution”, Sara Marcus esclarece, no entanto, que por mais que o Riot Grrrl tenha conseguido colocar a voz feminina na cultura de um jeito nunca visto antes, ele revelou também uma necessidade e um mercado para cultura pop que abordasse os sonhos, esperanças e experiências dessas jovens. E argumenta, que por mais que essa nova manifestação pop do Riot Grrrl fosse plástica e cínica, pelo menos era bem melhor do que havia antes. 31


Apesar dessa apropriação da mídia, o movimento continua vivo nos dias de hoje, produzindo arte e música, e conscientizando mulheres ao redor do mundo. “As meninas continuam a criar este movimento, se juntando para manter vivo o espírito agressivo do DIY. Para muitas delas, o Riot Grrrl continua sendo uma fonte de força na qual elas se alimentam. E contanto que qualquer jovem queria se chamar de riot girl, o movimento continua. Qualquer menina pode começar um capítulo na história. Qualquer menina pode começar um fanzine. Qualquer menina pode começar uma banda com os amigos e falar tudo que ela quer falar.” (Turner, 2011, p.49). 14 Todo o entusiasmo e curiosidade que chamou a atenção da mídia e do público em geral diminuíram ao longo dos anos. Entretanto Turner (2011, p.47-48), afirma que o espírito de rebelião do Riot Grrrl continua a inspirar mulheres à se juntarem e ressalta: “(...) O Riot Grrrl continua vivo de várias maneiras.”15 O movimento influenciou não só muitas ações políticas e culturais, como também o feminismo contemporâneo. E evidencia, “Riot Grrrl influenciou a palavra escrita. Muitos dos envolvidos na criação de zines, assim como outros inspirados pela idéia de auto publicação acabaram fazendo disso uma profissão. Como resultado, existe agora um grande número de revistas femininas de publicação própria como Bust, Moxie, Bitch e Fabula.” (TURNER, 2011, p.50)

elas, como o Riot Grrrl é para algumas pessoas, elas acabam se apropriando do movimento. (...) Se o que você realmente quer é realizer uma mudança social e fazer com que as pessoas escutem você, pegue as coisas boas daquela cultura e jogue fora as coisas que não funcionam da nossa cultura atual.” (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011).16 As próprias integrantes originais, quando questionadas sobre o movimento nos dias de hoje, revelaram que ainda existem muitos assuntos inacabados para se resolver. Mas o espírito do movimento continua vivo não só pelos eventos, as bandas atuais e projetos culturais, como também nas crescentes publicações de livros e teses de doutorado sobre o assunto. E principalmente, pela criação da coleção de arquivos que documentam todo o movimento que se encontra na The Fales Library & Special Collections (Biblioteca Fales & Coleções Especiais) na Cidade de Nova Iorque. No qual a vocal do Bikini Kill, Kathleen Hannah contribuiu com seu material pessoal de fotos, set lists, e zines (REVOLUTION, Girl Style - Shhh!, 2010 ; REVOLUTION girl Style, 20 Years Later, 2011).

Ou nas próprias palavras de Hannah:

“Não reviva ele [o movimento Riot Grrrl], faça algo melhor. Talvez nem precise de música.” 17

Smith (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011) acrescenta ao citar alguns dos projetos que o movimento ajudou a criar, como o “Girls Rock Camp Alliance” (Aliança Acampamento de Rock Para Meninas) e o evento “Ladyfest” (Festival de Moças). Ambos atualmente ajudam a reviver o espírito do Riot Grrrl e encorajam a creatividade no estilo DIY para novas gerações. As professoras Elizabeth Keenan e Sarah Dougher, respectivamente das Universidades de Columbia e Estado de Portland, relatam o crescente interesse de suas alunas no movimento Riot Grrrl. Keenan manifesta suas esperanças de que as meninas, influenciadas pela história das riot grrrls, criem seus pórpios movimentos políticos. No entanto, Dougher revela sua preocupação de que o interesse das jovens hoje em dia seja resultado de uma vontade nostálgica de querer pertencer à um grupo, invés de querer começar um engajamento político. E afirma: “Dentre as pessoas que cresceram com a internet - pessoas que são apresentadas à milhões de opções culturais - quando elas acham uma que parece ser muito legal e auténtica para 32

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2.1: A arte da Linguagem de Resistência Gráfica “É possível observar a extensa presença do punk nas histórias em quadrinhos, na literatura, arte e cinema, assim como na música e na moda e no trabalho de artistas contemporâneos (...)” - Roger Sabin (1999)

Capítulo 2: A visão performática do punk Este capítulo tem como intuito o estudo do espaço de produção artística que o Movimento Punk possibilitou. Serão abordadas a linguagem, produção e referências visuais do punk e seu desdobramento na arte, em especial nos fanzines. Podendo evidenciar assim sua influência na sociedade de consumo. Para isso, novamente se faz necessário uma retrospectiva de décadas anteriores à 1970, para examinar a mudança ocorrida na linguagem e na arte. Esta análise é fundamental para coleta de informações essenciais para o projeto desenvolvido neste TCC. Contudo, é necessário ressaltar que a escolha dos temas aqui apresentados só demonstra uma parte da produção do punk rock.

A Segunda Guerra Mundial foi de extrema importância para o desenvolvimento das artes plásticas, pois permitiu uma evolução tecnológica para a época. Foi um período de grandes avanços científicos e tecnológicos que ajudaram a definir a expansão industrial das décadas seguintes. Ao saírem vitoriosos da Segunda Guerra, os Estados Unidos passaram por um período de grande crescimento. O autor Rafael Cardoso (2004) acrescenta que isto ajudou a moldar um novo mercado consumidor na América do norte. Entretanto, todos esses novos avanços não conseguiram equilibrar a desigualdade do desenvolvimento social, o que acabou gerando os conflitos anteriormente citados e a ascensão da contracultura. O espírito contestador e de rebeldia também se fez sentir nas artes, com a emergência do pós-modernismo. Após a guerra ganhava-se força a idéia de criação de um novo estilo artístico, um estilo perfeito que pudesse ser aplicado a tudo, assim se tornando um padrão a ser seguido. Surge assim o Estilo Internacional, que prezava o funcionalismo e a simplicidade. Teve como característica a manifestação da austeridade, do rigor, da precisão, da neutralidade e da ordem. Cardoso (2004) comenta que o estilo foi bastante disseminado na era do consumismo, que teve seu início no final do conflito mundial. No entanto, a contracultura dos anos 60 e 70 passou a questionar a sociedade de consumo e tudo que a caracterizava. A partir do momento em que se perdeu essa estrutura, a arte entra em um período de insegurança. Porém, livres da rigidez e ideais impostos, surge o pós-modernismo. Cardoso (2004, p.206) examina o novo movimento, “A marca registrada da pós-modernidade é o pluralismo, ou seja, a abertura para posturas novas e a tolerância para posições divergentes (...) já não existe mais a pretensão de encontrar uma única forma correta de fazer as coisas, uma única solução que resolva todos os problemas (...)”.

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Ou ainda como afirma Rudinei Kopp (2002), tratando dessa influência sobre a tipografia, 35


que o movimento moderno é administrado pela grade, uso de tipos sem serifas, hierarquização de informações e tem como objetivo principal a legibilidade. Já o pós-moderno inclui o ruído, é caótico e menos ordenado, eclético e privilegia a atitude no lugar da informação. Exatamente por essas características que a linguagem pós-moderna acabou por influenciar o Movimento Punk. Pois dava mais importância ao sentimento do que à absorção racional da mensagem e forneceu um maior espaço de experimentação aos artistas. Que ao juntarem-na com a estética DIY – Faça Você mesmo – estabeleceram a Linguagem de Resistência Gráfica (Triggs, 2006). O historiador musical Dave Lang (apud Triggs, 2006, p.73), comenta que a linguagem punk se baseava em discursos carregados de pornografia, anarquia e na obscenidade. Isso ajudou a incorporar o uso violento e explicito da linguagem com o intuito de ofender, escandalizar e chamar atenção. A base da linguagem punk se encontra no termo “resistência”, que de acordo com o editor da Cultural Resistance Reader, Duncombe, é por esse processo de resistência que as pessoas se livram das restrições de uma cultura dominante. Essa resistência cultural permite a experimentação de novos meios de existência e compreensão, além da criação de ferramentas e recursos para auxiliá-la. A Linguagem de Resistência Gráfica contém essa atitude anarquista e de ideologia punk e também algumas características dadaístas e situacionistas presentes na produção artística do punk rock. Guy Debord (apud Triggs, 2006, p.74) acrescenta que os situacionistas apresentavam a noção de “sociedade do espetáculo”, e se opunham a ela empregando estratégias de “distração” e de “recuperação”, vistas na estética visual influenciada em gibis. O próprio Malcom McLarem empregou a linguagem dos Situacionistas no punk junto com o diretor de arte dos Sex Pistols, Jamie Reid. O autor Stewart Home (1999, p. 125) assinala, no entanto, que estas características já se encontravam nos precursores do movimento punk: “Um Situacionismo musical nasceu na imagem rebelde do Punk e da New Wave. Ainda que a influencia situacionista só esteja completamente visível numa instância específica dos Sex Pistols, a rebelião de formas de Arte Moderna, primeiramente encontrada na pintura e na literatura, embora agora recuperada, foi cada vez mais aplicada à produção musical através de intermediários como o Velvet Underground e Lou Reed”. 36

E acrescenta:

“Parte do gênero do Punk vem de dezesseis anos atrás [1962], da facção inglesa dos situacionistas e da subseqüente King Mob (....) Malcom McLaren, empresário dos Sex Pistols, foi amigo de indivíduos versados na critica situacionista na Inglaterra e se apropriou de alguns dos slogans e atitudes daquele ambiente (...)”. As referências visuais do punk rock se baseavam nesses parâmetros, ao utilizarem ilustrações compostas por colagens, desenhos animados e técnicas de produção DIY que eram expostas em flyers, anúncios e nas primeiras obras dos situacionistas. De acordo com Triggs (2006), essas técnicas acabaram se tornando um sinônimo de protestos políticos estudantis, nos quais artistas como Reid e produtores de fanzines faziam uso para atribuírem um visual de imediatismo a suas obras. Esse processo acabou por ser relacionado com a estética DIY, por sua produção e qualidade amadora. Como ressalta Kopp (2002, p.115): “Assim como o Dada (...) a Pop Arte no princípio dos anos 1970 rompe com os paradigmas clássicos da arte. A distância entre o artista e o público é achatada, desde a questão da recepção até a produção (...). A arte deixa de ser uma prática superior, acima da massa.” A idéia central do DIY - Do It Yourself (Faça Você Mesmo) no punk é a de incentivar as pessoas a fazerem sua própria cultura e pararem de consumir aquilo que é feito para elas (Triggs, 2006). Qualquer um pode produzir independente de ser um artista ou não, o importante é se expressar. Esse era o mote do punk que, ao fazer uso do DIY, incentivou a produção independente de gravadoras, videoclipes, capas de CD, cartazes, flyers, moda, literatura e até de fanzines. As características da estética punk se baseavam na fragmentação; uso de cores saturadas e da monocromia; tipografia desconstrutiva, muito utilizada pelo artista Jamie Reid com suas letras recortadas de jornal e com aparência de carta de seqüestro, com diferentes tamanhos, formas e famílias; a despreocupação com regras e modelos a serem seguidos; imagens grosseiras e de péssima qualidade; colagens e sobreposições de elementos e informações. Como referência visual os jovens tinham a cultura popular da época, que incluía: filmes de terror, imagens de militares, políticos e governantes, guerras, violência, passeatas, filmes da época, recortes de 37


publicidade, desenhos animados, histórias em quadrinhos, imagens religiosas, pornografia, fotos de shows e outros. Fazia-se uso de imagens da cultura popular para criticá-la. É possível observar essa experimentação visual do punk especialmente em flyers e fanzines, canais de expressão muito utilizados pelo movimento punk.

2.2: Imprensa alternativa: Fanzines Desde sua implementação os periódicos têm como objetivo informar sobre acontecimentos mundiais, criar espaços de manifestações e construir um senso de comunidade entre seus leitores. A teorista Angela McRobbie (1994, apud Jorge Lins Pinto Rodrigues, sem ano) esclarece, “operam para conquistar e moldar o consentimento dos leitores para um determinado conjunto de valores.” Entretanto, de enorme importância para a sociedade, nas últimas décadas os periódicos acabaram tomando outras formas. O dicionário Aurélio de Língua Portuguesa define imprensa alternativa como, “órgão de imprensa que se caracteriza por uma posição editorial inovadora, independente e polêmica”. A palavra alternativa significa algo que não está ligado a grupos ou tendências dominantes. Já de uso comum nos Estados Unidos e Inglaterra, foi utilizada pela primeira no Brasil vez pelo jornalista Alberto Dines em 1976, para designar arte e cultura não-convencionais (Rodrigues, sem ano). Nas décadas de 1970 e 1980 no Brasil, já é possível observar alguns exemplos de comunicação alternativa, como periódicos que chamavam atenção por terem como tema principal a música popular. Revistas como “Música do Planeta Terra”, “Pipoca Moderna” e “Bizz” traziam entrevistas e reportagens com artistas de MPB. Durante esta época, também surge outro tipo de publicação alternativa, os fanzines. De acordo com o autor Henrique Magalhães (1997, p.19), o termo fanzine foi criado por Russ Chauvenet em 1941, e acrescenta, “Atualmente denominamos fanzine praticamente toda publicação alternativa. Para tanto, basta que essa seja independente, tenha uma circulação de mão em mão ou via postal e trate de assuntos pouco abordados pela imprensa comercial”. Os primeiros surgiram na década de 1930 nos Estados Unidos, tinham como tema a ficção científica. Já os mais atuais trazem textos diversos como, poemas, contos, divulgação de bandas, histórias em quadrinhos, colagens e oferecem espaço para experimentações artísticas para seus leitores e editores. “Algumas características básicas dos zines são a liberdade de expressão, temas e formatos variados, pequenas tiragens, busca de satisfação pessoal por parte de editores e colaboradores, divulgação de idéias marcadas por um caráter cultural e ausência de cunho comercial. A primeira e maior importância dos fanzines é a cultural” (Rodrigues, sem ano, p.3).

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Nos aspectos crítico e informativo, a veiculação dos trabalhos encontrados nos fanzines 39


tem uma profundidade maior. Rodrigo Lariú, dono da gravadora Midsummer Madness esclarece que os zines se encontram em um patamar onde nenhuma pauta de jornal ou revista ainda chegou. E acrescenta, “os zines são a eminência parda da imprensa cultural brasileira. Tudo o que os editores de cadernos culturais escrevem é dito primeiro pelos fanzines e muitos destes editores são ex fanzineiros” (apud Rodrigues, sem ano). “Para aqueles que por inveja nos ignoram, saibam que estaremos furando a grande mídia por que nós sim vamos (e produzimos) shows, freqüentamos pistas de skate e campeonatos, perdemos horas respondendo cartas e dobrando zines. Não somos “jornalistas de releases”, e sim pessoas que acreditam de verdade no que escrevem...” O verdadeiro boom dos zines, no entanto, aconteceu no final de 1970 e começo de 1980 com a explosão do movimento punk. Os fanzines e flyers são referências visuais essenciais para o estudo do punk rock, pois são exemplos concretos da estética DIY, da Linguagem de Resistência Gráfica e dos ideais de contracultura. Nos dois casos, nota-se a produção artística de veículos de comunicação de comunidade. O Punk influenciava qualquer um a começar a produzir seus próprios fanzines. Como meio de informação promoviam shows, bandas, fóruns de discussão, críticas autorais, assim possibilitando um espaço de expressão, já que eram feitos na sua maioria pelos próprios fãs, a exemplo de Mark Perry, criador do primeiro fanzine punk que refletia o Movimento na GrãBretanha, Sniffin’ Glue; Mick Mercer criador da Panache; Charlie Chainsaw, da Chainsaw, e Tony Drayton, da Ripped & Torn (Triggs, 2006).

merecido destaque no país nos mais diversos meios, ora no lançamento de documentários explorando essa temática (...) ora por pesquisas científicas, como artigos, teses de mestrado e iniciativas com o objetivo de fomentar as produções e a circulação de infor¬mação a respeito dessa mídia”. Um importante canal de veiculação brasileiro e a Ugra Press, uma editora independente com sede na cidade de São Paulo. Responsável pelas publicações, Anúario de Zines, Fanzines e Publicações Alternativas, suas iniciativas ajudam à aproxi¬mar fanzineiros de diversos estados do país. Assim como a FANFUNZINE, uma feira anual de fanzines que auxilia no reconhecimento de artistas independentes, como também “tem o principal intuito de mostrar, promover e vender trabalhos no âmbito da ilustração, design gráfico, fotografia, desenho e gravura” (FANfunzine, 2013). E com tanto reconhecimento, o dia 29 de abril foi denominado o Dia Mundial do Fanzine. Antes restrito ao universo underground, voltado para bandas punk e movimentos político-sociais, os zines atualmente fazem parte de um universo mais abrangente. “Existem Fanzines sobre música, filmes, poesia, vegetarianismo, HQ’s, política e até fanzines que divulgam outros zines” (FANZINE: O Que é e como surgiu essa imprensa alternativa, 2012). Como conseqüência de sua popularização o fanzine acabou ganhando uma versão digital, intitulada de e-zines, fanzines online.

O modo de criação dos fanzines e flyers se assemelhava, pois os dois faziam uso das referências visuais anteriormente citadas. A única diferença, no caso dos fanzines, é que era composto por várias folhas A4 grampeadas (Triggs, 2006). O autor Richard Hollis (2000, p.203) evidencia os meios de produção dos zines punk, “usava imagens e letras arrancadas de jornais populares, textos escritos à mão e à maquina de escrever, imagens prontas, tudo colocado junto para produzir um original que era reproduzido por meio de litografia ou fotocópia. O dadaísmo fora contra a arte, o punk era antidesign”.

O produtor e fanzineiro Marcio Sno (FANZINES Para Toda Vida, 2012) argumenta que os fanzineiros de hoje tem uma vantagem essencial, o acesso ao computador e à internet, que facilitam toda a produção. “Você hoje em dia consegue produzir um zine de 16 páginas em um único dia, sem encostar os dedos em tesoura, cola. Tudo é mais fácil. O editor atual está mais próximo das informações, afinal já cresceu com um computador em casa”. Essa nova roupagem digital é importante, pois facilita o acesso de um número maior de pessoas aos zines. Um exemplo de e-zine é o projeto do casal paulistano Kauê Garcia e Carol Brandi que criaram um blog, “365 Fanzines”, que reúne uma coleção de zines pessoais. O objetivo do blog, como demonstra Albuquerque (365 Maneiras de se informar, 2013) é a realização de “postagens diárias durante um ano” de zines de edições raras e de publicações internacionais. Assim resultando em uma “zineteca on-line e livre”. O próprio casal se mani-festa a respeito do fascino pela mídia alternativa, “São as idéias de rede e de reprodutibilidade, e consecu¬tivamente o alcance proporcionado por isso e suas possibilidades poéticas”.

O Brasil também contribui na produção de publicações independentes, como com-prova Jean Albuquerque (365 Maneiras de se informar, 2013), “(...) em especial os fanzines, tem ganhado

E acrescentam: “Acreditamos que tem mais opções de edição de fanzine, e seria in-genuidade criativa se limitar a apenas essas duas idéias (papel ou virtual), existem tantas possibili-

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dades criativas a serem exploradas (...) o importante é não se agarrar à algemas e ser contemporâneo ao seu tempo” (365 Maneiras de se informar, 2013). Sno (FANZINES Pra Toda Vida, 2012), examina a produção de fanzines no Brasil em seu documentário “Fanzineiros do Século Passado”, e revela que apesar da forma de distribuição permanecer a mesma, “via carta, de mão em mão em shows, eventos, para conhecidos e parentes”, a divulgação é realizada no meio digital. Sendo muitas vezes convertido em PDF e distribuído por e-mail ou salvo em algum site, onde o link é disponibilizado. E concluí: “Porém, a realidade começa a mudar. Aos poucos nós, brasileiros, estamos aprendendo a ter uma relação harmoniosa entre impresso e virtual. E, acompanhando o andamento de países do hemisfério norte (...) os fanzines estão retomando com uma proposta que prima mais pela qualidade do que pela quantidade (...) que talvez seja uma das formas de sobrevivência frente às tecnologias que inibem a produção impressa (...) Vejo que bons ares pairam sobre o fanzinato nacional (...). A produção de fanzines, tanto impresso quanto virtuais, mantém ainda hoje a importância da imprensa alternativa na sociedade. Servindo como um meio de expressão aquém da mídia mainstream.

2.2.1: Fanzines femininos e feministas A segunda onda do feminismo ganhou impulso com os movimentos de contracultura da década de 1960. A libertação feminista (women’s lib) influenciada pelas vozes de Betty Friedan e Simone de Beauvoir, desde então lutavam pela igualdade dos sexos. Na mesma época, no Brasil, a situação era diferente, as mulheres brasileiras eram representadas na imprensa por revistas como “Querida” e “Jornal das Moças”. Estas revistas femininas não acompanhavam os ideais da contracultura americana e tratavam “exclusivamente de temas relacionados ao mundo doméstico, tais quais: família, moda e dicas de beleza” (Barreiros, sem ano, p.2). De acordo com o autor Bernardo Kucinski (apud Barreiros, sem ano, p.2) o movimento feminista não tinha muita representação na imprensa brasileira até a década de 1970. E ressalta que era considerado motivo de chacota na imprensa alternativa, “Enquanto um novo movimento feminista explodia na Europa desde o começo dos anos de 1970, no Brasil a questão da mulher era desprezada por diversos jornais alternativos importantes”. Para o autor o movimento feminista no Brasil teve como precursor o jornal Brasil Mulher. Em sua primeira edição, publicou em seu editorial: “Não há liberdade para a mulher enquanto não houve liberdade para o ser humano”. Os temas abordados pelo jornal eram de prostituição infantil e aborto. Outros jornais feministas importantes são, “Mulherio” de 1981 e “Mulheres” de 1976. Kucinski (apud Barreiros, sem ano) ressalta que estas publicações tinham inicialmente como objetivo, organizar a luta das mulheres trabalhadoras, porém mais tarde passaram a ter um sentido mais ativista. Estes jornais, no entanto não conseguiram atingir autonomia suficiente e acabaram se ligando ao meio acadêmico. Quando o movimento punk feminista dos anos 90, Riot Grrrl, surge no cenário mundial, suas integrantes fizeram uso do mesmo tipo de comunicação alternativa que o punk rock utilizava. Preocupadas em começar uma produção cultural que se apropriasse do espírito DIY, divulgasse o movimento, e que conectasse jovens mulheres, aderiram à produção de fanzines como meio de comunicação (REVOLUTION Girl Style, 20 Years Later, 2011). O primeiro fanzine feminista desta época nos Estados Unidos é considerado o “Riot Grrrl” produzido por Molly Newman, integrante da banda punk Bratmobile, que intitulou o movimento. Com o crescimento e popularização do Riot Grrrl, a produção de fanzines norte americana cres-

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ceu significativamente. “Riot Grrrl influenciou a palavra escrita. Muitos dos envolvidos na criação de zines, assim como outros inspirados pela idéia de auto publicação acabaram fazendo disso uma profissão. Como resultado, existe agora um grande número de revistas femininas de publicação própria como Bust, Moxie, Bitch e Fabula.” (TURNER, 2011, p.50) No Brasil, a influência do Riot Grrrl só é percebida durante a segunda metade de 1990. O fanzine “KAÒSTICA” produzido pela banda Dominatrix, principal representante da cena punk feminista, e outros como, “Mujeres que Hablan” (Florianópolis/SC), “Respeito!” (Juiz de Fora/ MG), “Mútua Ação” (São Paulo/SP), “True Lies’ (Barra Funda/ RJ), “Cinisca (Belém/PA), “Histérica” (Rio de Janeiro/RG), entre outros fazem parte da imprensa alternativa do país voltado socialmente às mulheres. A distribuição dos zines atualmente ainda é realizada em shows e eventos alternativos (Barreiros, sem ano). Por ser um veículo de comunicação que não tem como objetivo principal o lucro, o fanzine não é portanto produzido em função do mercado. “Dissociado de empresas, governos ou instituições, ele apresenta independência editorial, e, sem periodicidade, formato e tiragem definidos, abre espaço para o experimentalismo estético e temático. O sucesso da linguagem inovadora e da liberdade editorial dos fanzines também se reflete no uso que diversos grupos fizeram dele (...)”. Por exemplo, o fanzine “Maria Maria” produzido pelo coletivo feminista do mesmo nome de Minas Gerais, é utilizado como o principal meio de comunicação do grupo. A integrante do Maria Maria, Carolina Matozinhos demonstra, “O fanzine é um veículo de diálogo com a militância feminista e simpatizante, mas o que mais o aproxima dessa militância é seu formato original, feito manualmente e coletivamente. Fazemos discussão política no zine, mas também temos dicas culturais e espaço para arte. Trazer esses elementos complementando a discussão feminista agrega muito, e, desta forma, estamos politizando com irreverência, e sem ser chatas” (Barreiros, sem ano).

Capítulo 3: Punk rock não é só pro seu namorado No último capítulo teórico deste projeto de TCC, será realizada uma análise da influência do movimento norte americano Riot Grrrl no Brasil e na cena musical brasileira. Evidenciando assim que graças ao movimento político cultural feminista americano, uma vertente brasileira foi criada que, inspirada nos idéias do primeiro passou a oferecer um importante espaço de expressão para as mulheres. Em especial um espaço na cena musical, onde bandas brasileiras como Dominatrix, Kaóstica, Cínica, Bulimia, entre outras, influenciadas por grupos femininos americanos, consolidaram um espaço para a mulher no mundo underground da música. Ao final segue-se a apresentação da banda escolhida com um histórico do grupo e painéis visuais, com o objetivo de coletar informações para o projeto prático.

O zine impresso tem como vantagem o fácil manuseio que permite contato direto com o receptor, o que no caso de fanzines feministas abre espaço para o dialogo instantâneo durante a entrega, como no caso da distribuição de zines em shows. Se no momento o leitor se interessar, há a possibilidade de uma troca de idéias, “essencial para os objetivos de um movimento social de massas” (Barreiros, sem ano). Este contato também facilita a aproximar o público à causa feminista. Como comprova Carolina novamente, “a circulação é mais garantida, além de termos contato direto com os/as leitoras do zine quando vamos fazer a distribuição”. 44

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3.1: A cena do punk rock feminino no Brasil O impacto do movimento sócio-cultural de punk rock feminista americano dos anos 90, o Riot Grrrl, acabou influenciando a cena musical brasileira. Graças ao espaço de expressão que as meninas do Riot Grrrl proporcionaram, atualmente surgem a cada dia novas bandas femininas no país. Como ressalta a jornalista Silvia Basilio Ribeiro (MENINAS Superfuriosas, 2004), “Essa ‘emancipação musical’ ganhou forte impulso nos anos 90, quando, em resposta ao predomínio masculino nas cenas punk e hardcore, um grupo de norte-americanas uniu a ideologia punk do ‘faça você mesmo’ ao feminismo”. A influência do Riot também pode ser observada nos objetivos e comportamento das meninas brasileiras, que promovem a idéia de “não ficar à sombra da imagem masculina nas bandas”, mas ao mesmo tempo oferecer a promoção de alianças com os meninos. “O movimento vem para acabar com o clichê de que mulher é sempre rival” (Vange Leonel apud MENINAS Superfuriosas, 2004). Ou ainda nas palavras da baixista Patrícia Sueza, “Não queremos a superioridade, queremos lutar por nossos direitos”. A banda precursora do feminismo punk no Brasil é a Dominatrix, que ainda se encontra em atividade. Suas integrantes são ávidas participantes no movimento e na cena musical, colaborando em eventos político-culturais feministas e até produzindo eventos, exposições e fanzines. Além das meninas da Dominatrix, a cena brasileira contou com outras bandas importantes para o movimento que não estão mais em atividade. Como por exemplo, a banda brasiliense Bulimia, que formada em 1998, tinha canções em português e abordavam temas como preconceito e igualdade. “(...) a Bulimia ainda é lembrada como uma das bandas mais importantes do riot grrrl brasileiro” (A Música Feminista das Riot Girls, 2011). E também as bandas, Kaos Klitoriano, Sündae, Pulso, Biggs, Cínica, Suffragettes e entre outras mais que foram surgindo enquanto o movimento crescia.

ground” (RIOT Grrrl – Sim, é para mulheres, e não, não é uma nova dieta, 2013). O movimento no Brasil também conta com o uso dos fanzines, e atualmente e-zines e portais de internet. Um dos sites mais recente, é o Menstural Attack, que fundado em 2008 tem como objetivo informar e apoiar bandas femininas e feministas do underground nacional e estrangeiro. O fanzine mais importante do movimento de acordo com Renata Arruda do site Blogueira Feministas (2001), foi o Bendita Zine. Criado em 2001, a proposta do zine era chamar atenção à violência contra a mulher ao publicar casos verídicos em primeira pessoa. Quando o projeto se desfez, uma de suas idealizadoras divulgou uma nota, ressaltando que apesar do Bendita ter acabado, elas continuavam a contribuir com o movimento de outra maneira: “Não quer dizer que o valor daquelas idéias tenha se perdido, mas simplesmente que com o passar do tempo passamos a acreditar mais em outras abordagens, isso pela nossa experiência, pela nossa historia de vida e pelas expectativas que nós criamos (...) Aquela contribuição se foi, o que ela representava não, e isso não quer dizer que desistimos” (A Música Feminista das Riot Girls, 2011).

O punk rock feminino e feminista no Brasil continua a crescer a cada dia, pois outra atitude incentivada na cena é a de expressão, as meninas são encorajadas a lançar-se no mundo da música, de se expressarem através desta. Algo que impulsionado pela internet, ajudou na proliferação das bandas de punk rock composta por mulheres, “(...) o próximo passo das meninas é eliminar de vez comentários do tipo: ‘Até que para uma mulher você toca bem’” (MENINAS Superfuriosas, 2004).

Esses grupos, apesar de serem a favor das causas femininas e dos direitos das minorias, também abordavam outros temas, “(...) as extintas Bulimia, Cínica, Pulso, entre outras, que também abrangeram outros assuntos além do feminismo, como por exemplo, a banda Suffragettes, que defenderam (...) também o vegetarianismo, a filosofia straight-edge, a preservação ambiental, e mais diversos assuntos que estavam cada vez mais crescentes nas cenas under46

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3.2: Banda Escolhida: Dominatrix 3.2.1: Histórico A banda Dominatrix é a principal representante do rock feminista no Brasil e precursora do movimento Riot Grrrl no país. Formada no final de 1995 e liderada pela vocalista e guitarrista Elisa Gargiulo, além de Isabella Gargiulo e Estella Homem, as meninas que tiveram como inspiração as bandas do Riot americano, Bikini Kill, Bratmobile, e L7, trouxeram a mensagem “Revolution Girl Style Now” para São Paulo. Ou ainda nas palavras da fanzineira Gabriela Gelain, “(...) meninas bem novas já trazendo a mensagem de igualdade entre homens e mulheres, a luta contra a homofobia e que começaram muito cedo nesta cena do punk onde o machismo era explícito. Elas meteram a cara no punk, mesmo com as piadas sexistas nos shows e com a discriminação que na época era bem maior em relação às mulheres no rock” (RIOT Grrrl Will never die: Dominatrix (hardcore feminista/São Paulo), 2012).

dades como Portland, Seattle, e Los Angeles e Olympia. Tendo o privilégio de tocar nas cidades onde o movimento Riot Grrrl surgiu. O sucesso da Dominatrix ajudou a estabelecer uma cena de punk rock feminista no Brasil, além de abrir caminho para outras bandas formadas por mulheres, ajudando-as a ganharem mais projeção mundial. Em 2010 a banda comemorou 15 anos de carreira e hoje tem como formação Elisa Gargiulo, Marina Takahashi, Cleu Fogaça e Pitchu Ferraz. Ferraz também é baterista para outra banda punk feminista, as Mercenárias.

A primeira gravação musical da banda foi lançada em 1995 com o nome de Pink Hair Rules, logo em seguida o grupo lançou a Little Girls e a coletânea SP Punk vol. II. Assinaram com a gravadora Teenager In A Box no ano seguinte e em 1997, com parceira da gravadora de Elisa, Clorine Records, lançaram seu primeiro disco, Girl Gathering que seguiu com a estréia do álbum Self Delight (Riot Grrrl: Dominatrix “Você é isso”, 2012). As meninas começaram uma série de parcerias com outros músicos da cena punk e hardcore nacional como o Street Bulldogs e Dance of Days. E ganhando cada vez mais reconhecimento, foram convidadas para participar da edição holandesa do LadyFest, “um festival político-cultural feminista, sem fins lucrativos, surgido no ano de 2000 nos EUA” (A Música Feminsita das Riot Girls, 2011). Se inspirando no festival, o grupo organizou a primeira edição brasileira do evento, como explica Renata Arruda, “(...) que atraiu um público de mais de mil pessoas e contou com shows de oito bandas femininas, cinco workshops, três exposições e, duas exibições de vídeos com produção independente e feminina”. As atividades e projetos do festival incorporaram o lema do punk rock “faça você mesmo”, todas eram convidadas a fotografar, filmar, divulgar, tocar instrumentos, e compor. Isabella e Elisa também acabaram lançando um zine chamado Kaóstica, “zine pessoal político feito por meninas para meninos e meninas” (RIOT Grrrl Will never die: Dominatrix (hardcore feminista/São Paulo), 2012). 48

Em 2001 realizaram também um tour pela Europa e Estados Unidos, onde tocaram em ci49


3.2.2: PainĂŠis visuais

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4.2: Fanzine

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Consideraçþes Finais

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Lista de imagens

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