Trilha sonora na comunicação.(Mon.)

Page 1

Centro Universitário SENAC

Beatriz Delgado Goldar

Trilha Sonora na comunicação.

São Paulo 2014


Beatriz Delgado Goldar

Trilha Sonora na comunicação.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como

parte

das

atividades para obtenção do título de bacharel do curso de Comunicação Social

com

habilitação

em

Publicidade e propaganda do Centro Universitário SENAC.

Orientador: André Olzon

São Paulo 2014


Beatriz Delgado Goldar

Trilha Sonora na comunicação.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como

parte

das

atividades para obtenção do título de bacharel do curso de Comunicação Social

com

habilitação

em

Publicidade e propaganda do Centro Universitário SENAC. Orientador: André Olzon

A banca examinadora do Trabalho de Conclusão realizada em __/__/____considerou a (o) candidata (o):

1)Examinador(a):

2)Examinador(a):

3)Presidente:


Dedicado aos meus pais que me proporcionaram a experiência de cursar uma faculdade, e a todos que me incentivaram e apoiaram e ajudaram na elaboração desse trabalho.


Agradecimentos:

Agradeço a todos incentivadores Amigos e familiares E aos professores que ajudaram na elaboração dessa obra


RESUMO

A presente monografia visa abordar a importância das trilhas sonoras nas mensagens das propagandas, de que maneira as pessoas conseguem associar o que elas enxergam e o que ouvem ao mesmo tempo. O trabalho visa destacar a funcionalidade e

personalidade das marcas por meio da

sonoridade. A comunicação nos dias de hoje conta com a forte presença dos famosos “comerciais de TV”, ou os vts publicitários. Por esse motivo serão investigadas sua elaboração e construção, para perceber e compreender a participação e eficácia das trilhas sonoras. Será uma pesquisa sobre o sentido auditivo combinado a visão e o perceber do público. O texto tratará de assuntos sobre música, movimento, texto poético, composição de imagens e sons.

Palavras chave: Trilha sonora, propaganda, audiovisual, música, filme publicitário.


ABSTRACT

This monograph aims to address the importance of the soundtracks in the messages of the advertisements, that way people can associate what they see and what they hear at the same time. The work aims to highlight the functionality and personality of the brands through sound. Communication nowadays has a strong presence of "TV commercials" famous, or advertising vts. For this reason will be investigated their preparation and construction, to perceive and understand the participation and effectiveness of soundtracks. Does research on the sense of hearing and vision combined with the notice of the public. The text will address issues about music, movement, poetic text, images and sound composition.

Keywords: Soundtrack, advertising, audiovisual, music, advertising film.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................9 1 MÚSICA E TEXTO POÉTICO........................................................................11 1.1 CANÇÃO...............................................................................................14 1.2 MÚSICA INTRUMENTAL......................................................................18 2 MOVIMENTO..................................................................................................20 2.1 COMPOSIÇÃO AUDIOVISUAL…………....................………………….24 3 TRILHA SONORA MUSICAL………………………………......….…………….27 3.1 A CANÇÃO ORIGINAL INSERIDA NO COMERCIAL...........................28 3.2 A MÚSICA INSTRUMENTAL................................................................29 3.3 A UTILIZAÇÃO DE CANÇÃO E MÚSICA INSTRUMENTAL NA COMUNICAÇÃO.........................................................................................31 3.4 OS JIGLES............................................................................................31 3.5 VERSÕES DE CANÇÕES PARA FINS PUBLICITÁRIO......................33 3.6 TRILHA MUSICAL PUBLICITÁRIA.......................................................34 CONCLUSÃO....................................................................................................40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………..…………………………………..39


9

INTRODUÇÃO

A trilha sonora, de uma maneira geral, é chamada assim, pois remete as trilhas de edição de áudio digital, onde existem três pistas elementares: as pistas de diálogos, que envolvem os sons proporcionados por vozes, pistas de músicas, que compõem com sons instrumentais, e a pista de ruídos que seriam todos os efeitos inseridos a composição. Para falar de trilhas sonoras não podemos nos prender apenas em sonoridades, mas também é necessário tratar de um conteúdo audiovisual, onde existem três caminhos que o resultam. O áudio, as imagens e a poética audiovisual, que consistem principalmente na sincronização de tudo que acontece entre os outros dois anteriores, sendo assim a sonoridade deve nos dar uma percepção maior do que estamos assistindo. No livro Sygkhronos, Ney Carrasco cita uma entrevista de 1970 de Bernard Herrmann, compositor de músicas para cinema que trata bem esse assunto. Segundo ele “a música como um todo, deve suprir aquilo que os atores não são capazes de dizer. A música deve dar ao público seus sentimentos. Ela deve prontamente exprimir o que a palavra não é capaz, se você está lidando com o emocional, ou este é todo o propósito de uma trilha musical.” O objetivo do trabalho é compreender a função de uma trilha sonora enquanto obra audiovisual. Contendo um estudo claro e objetivo sobre música e canção, texto poético, música instrumental, movimento e imagens e os tipos de trilha que existem no cinema e na publicidade. O ser humano desfruta do mundo sonoro antes de nascer, o sentido auditivo é o primeiro a se desenvolver ainda em gestação, a partir dele é que laços afetivos como o de um bebê ao ouvir a voz de sua mãe pela primeira vez.

“Começamos a ouvir antes de nascermos (quatro meses e meio antes de nossa concepção). Desse momento em diante, desenvolvemo-nos num contínuo e luxuriante banho de sons: a entoação da voz de nossa mãe, o som de sua respiração, de seus intestinos em funcionamento, os batimentos de seu coração. Durante os quatro meses e meio seguintes, a Audição


10 permanece como uma rainha solitária de nossos sentidos: o mundo líquido e fechado da escuridão uterina tornam a Visão e o Olfato impossíveis, torna o Paladar monocromático, e o Tato uma obscurecida insinuação do que está por vir.” (MURCH, 1994, p.7)

Esse é um dos motivos pelo qual a música é tão significativa em nossas vidas. Todos têm uma relação com música que pode emocionar, lembrar-se de momentos marcantes, e inúmeras outras coisas, mas nunca conseguimos descrever ao certo como realmente sentimos ou o quanto é significante para nós ouvir tal música. Sendo assim estudaremos a participação que a mesma possui na vida do ser humano, entenderemos a significação de frases, acordes, texto poético e como ele é aplicado à melodia. A instrumentação no caso de músicas instrumentais e entenderemos sua composição. Quando se trata de um tema audiovisual, podemos ter como ponto de discussão o movimento, que é uma associação da música, pois é um modo de entender como a música compreende a questão do movimento. A música se dispõe de movimento e as imagens também. Todo o movimento em relação a música está ligado ao seu tempo, troca de acordes, etc. Sendo assim compreendemos que há uma conexão forte entre movimento musical e movimento visual. No aspecto audiovisual como um todo a obra tem uma composição diferente, pois possuem inúmeras ferramentas, elementos articulatórios que constituem a linguagem audiovisual. Sabemos que o cinema é onde deu espaço para as obras audiovisuais, principalmente às trilhas sonoras, mas com o passar dos anos surgiram outras maneiras de introduzir para o público trabalhos deste tipo, e um dos caminhos da publicidade é a linguagem audiovisual. Comerciais de Tv e com os acessos à internet nos dias de hoje é muito mais frequente e presente na vida do consumidor. Podemos comparar a função do som no cinema e na publicidade, pois não se fazem exatamente do mesmo sentido. No cinema a trilha sonora musical é diferente da trilha dos filmes publicitários. Analisaremos como é feita essa articulação da música nas propagandas nos dias atuais.


11

1 MÚSICA E TEXTO POÉTICO

O ser humano possui cinco sentidos, a audição, olfato, tato, visão e o paladar. São todos muito importantes para a formação de um ser. Os bebês ao nascerem desenvolvem pouco a pouco cada um deles. Mas antes disso, no útero de suas mães é a audição que se desenvolve primeiro. Aos quatro meses e meio de gestação o feto já começa a ouvir, e é a partir deste ponto que a relação entre o bebê e sua mãe fica cada vez mais forte. Apesar de estudos de laboratórios americanos sugerirem que nosso sentido mais apurado é o olfato, conseguindo captar pelo menos um trilhão de cheiros, enquanto nossos ouvidos só conseguem diferenciar trezentos e cinquenta mil tons sonoros, são nosso ouvidos que tem um papel muito importante para o dia a dia do ser humano. Segundo Murray Schafer os limites da audição humana fazem-se tanto pelo audível quanto pelo suportável. Somos capazes de captar ondas sonoras entre 20 até 20.050 Hz e uma amplitude aproximadamente de zero e 130 decibéis. Todas as ondas abaixo dessa escala se tornam imperceptíveis aos nossos ouvidos mas conseguimos através do tato, sentir suas vibrações. Ao contrário de alguns animais que podem ouvir em uma escala de ondas muito mais ampla que as nossas, como os cães que ouvem entre 15 e 50.000 Hz conseguem produzir sons de 452 à 1.800 Hz, enquanto nós, humanos somos capazes de produzir sons entre 85 e 1.100 Hz. (CARVALHO, 2009, p.19 – 24) A audição é um dos sentidos que faz parte de diversos estados do nosso cérebro. Compreendemos que a audição faz parte da comunicação e linguagem, está ligada ao nosso estado de alerta, equilíbrio, atenção, entre outros. Nossos ouvidos estão conectados o tempo todo com nosso cérebro, eles são responsáveis muitas vezes pelo nosso despertar a cada manhã, pois se isso não fosse verdade é bem provável que os despertadores não teriam sido inventados. A escuta nos faz perceber promessas e ameaças, e ainda é capaz de nos avisar sobre o que está acontecendo em 360º, enquanto a nossa visão nos limita em apenas 180º em seu aspecto normal. Além de toda a participação em nosso dia a dia, a audição está ligada diretamente com a música.


12

Podemos dizer então que a música também possui uma participação em nossos cérebros muito grande, pois a mesma pode despertar nosso lado racional e emocional. Para muitos ouvir música é uma experiência mais emocional do que racional. Segundo Ney Carrasco em seu livro SYGKHRONOS a formação da poética musical do cinema “A audição musical é um processo rico, complexo, de implicações tão sutis e variadas que as tentativas de descrevê-lo geram mais frustrações do que satisfações”. (2003, p. 11 e 12)

São incríveis as tantas reações que a música é capaz de causar nas pessoas, não sabemos ao certo como compreender e nem como explicar as emoções e sensações que temos quando escutamos alguma peça musical. Mesmo que conseguíssemos explicar pode nos parecer uma tentativa falha, pois não alcançamos palavras que a descrevam com total emoção que sentimos. Existem também fatores que influenciam direta ou indiretamente no emocional, como fatores culturais, pessoais e religiosos. Existem tipos diferentes de música e também finalidades diferentes. Muitas vezes a música é vista como uma obra de arte, mas qualquer música é considerada um elemento cultural. Outras vezes ela é usada para complementar outros tipos de criação, como no caso audiovisual. Para tratar do assunto que é a música, é possível compreender que não se trata apenas de melodia, ou melodia e texto. Existem mais coisas que compõem uma peça musical: a melodia, a harmonia, o ritmo, timbre, a forma e textura, tudo isso compõe uma música. A melodia é o fator mais importante em uma peça musical, a mais famosa também, mas seu significado nem sempre é compreendido de maneira correta. Melodia é uma sequência de acordes de diferentes tons que organizados de tal forma possam fazer sentido musical para quem está ouvindo. A harmonia é a seleção de notas que constituem determinado acorde ou toda uma composição. O ritmo é o modo que o compositor agrupa os sons, principalmente a acentuação e duração de cada um deles. Há sempre uma batida regular ou uma pulsação que serve como referência para nossos ouvidos. O timbre é a particularidade de cada som, de cada instrumento e de cada voz, é o que nos faz reconhecer imediatamente


13

de que instrumento ou voz que estamos ouvindo. A forma é a configuração que o compositor leva em consideração no momento de desenvolvimento de uma obra musical, as formas se diferenciam por diversos métodos usados pelos compositores. A parte da textura é mais complexa, comparamos com tecidos e como o autor “tece” a sua música. Existem três tipos de textura: a monofônica, constituída por apenas uma linha melódica; a polifônica, formada por duas ou mais linhas melódicas, essa também pode ser chamada de contrapontística; e a homofônica que possui uma única melodia contra um acompanhamento de acordes, basicamente uma música com o mesmo ritmo em todas as vozes. (ZAN, 2001) Não se sabe ao certo quando foi o surgimento da música, pois existiam muitos fragmentos de sua existência no passado. Carrasco cita em seu livro o canto gregoriano como uma das formas musicais mais antigas, talvez o primeiro tipo de música ocidental existente. Pode-se dizer que o canto gregoriano é então, um tipo de música monofônica, não tinha nenhum acompanhamento musical, ou uma afinação adequada e seguida pela voz, era apenas uma leitura com um ritmo próprio e característico em rituais católicos romanos. A partir deste tipo de música conseguimos enxergar um fragmento entrelaçado com a música atual, pois existe um tempo nessa leitura, um ritmo atrelado a escritura dos textos sagrados, mesmo que esse ritmo não seja empregado por uma batida de algum instrumento musical. A música oriental é uma referência muito antiga para a música atual. Mas o seu propósito não era somente em prazer musical, existia uma questão religiosa e cultural muito forte e influente. A maior parte do acervo da música oriental é reconhecida por seus rituais religiosos ou culturais. Na Índia por um exemplo, a música é criada com 5 a 7 notas, e cada uma delas representa uma estação do ano ou um momento do dia. Com o tempo a música indiana foi ganhando mais ritmo e uma consonância maior nas notas. Mas em sua cultura até mesmo os instrumentos usados para uma ocasião possui um significado.


14

Rituais culturais e religiosos são comuns por todos lugares do mundo, cada região tem seus costumes e práticas, por esse motivo existe uma infinidade de tipos musicais, pois as pessoas expressam na música aquilo que acreditam e que fazem parte de seu dia a dia. Não somente músicas para rituais são compostas por esse motivo, o formato de música canção também se faz de muitas composições que fazem sentido para o autor por seu dia a dia e seus costumes mas empregados de uma maneira diferente em cada região e seus costumes.

1.1 Canção

O formato de música em canção é realmente o mais comum, que estamos acostumados a ouvir nas rádios nos dias atuais. É a combinação de letra, ou texto poético verbal, melodia e harmonia. Esse tipo de composição é geralmente composta para a voz humana, para interpretação de um texto escrito poeticamente para a música.

Muitas vezes em um senso comum massivo, a utilização da palavra canção é ligeiramente incorreta, pois fazem uso da mesma para descrever qualquer tipo de composição musical, até mesmo aquelas que não possuem um texto cantado.

No Brasil a canção só se concretizou de fato com a invenção do gravador, na década de 20. Antes disso eram músicas improvisadas, não havia muitos recursos para que decorassem e cantassem. Era até muito comum que os compositores esquecessem suas próprias obras musicais.


15 Foto de um gravador Nagra (um dos primeiros gravadores de captação de som direto)

Fonte: Google Images.

A música brasileira em seu processo cultural teve sua história ligada à invenção do fonógrafo de Thomas Edison em 1877. A partir dessa etapa a música popular virou um produto, onde existia o seu consumo. A indústria fonográfica tinha a música popular brasileira como seu principal produto desde então. A partir disso a música passou a ser um produto cultural industrializado. Em 1897 o tchecoslovaco Frederico Finger fez as primeiras gravações de música no Rio de Janeiro, passados alguns anos Finger passou a contratar alguns músicos populares para registrar suas modinhas, ludos e outros gêneros musicais. Em 1900 Finger fundou a Casa Edison para vender fonógrafos, gramofones, cilindros e discos gravados por ele mesmo. A música popular brasileira começou a ser comercializada, e assim criou-se um mercado de música gravada no Brasil. Desde o início houveram tentativas de se chegar a um formato, a partir destas então surgiram as divisões da canção: as estrofes e o refrão. Foi estabelecido então um padrão para os textos. O texto poético é uma parte da música que talvez seja, não mais importante, mas sim o que faz a composição se tornar um feito cultural, consumido por pessoas de determinada região, que por muitas vezes o texto ou o canto na música, prende total atenção de quem a está ouvindo, fazendo sentido para pessoas normais em seu dia a dia, culturalmente falando. Para todos os tipos de música existe algo que as conseguimos captar mais em cada uma delas. Mas o texto poético nem sempre é compreendido. Prestamos mais atenção quando ouvimos alguma voz, tanto


16

verbalizada quanto vocalizada, assim como diz Michel Chion em seu livro AudioVision. Michel Chion é um dos mais respeitados compositores de música experimental. Em seu livro podemos ter uma boa base sobre música de cinema. E um dos temas que ele aborda é justamente o da voz, da verbalização, o texto e a percepção que as pessoas conseguem obter Carrasco cita em seu livro uma afirmação de Susane Langer que diz:

“Quando as palavras e música se conjugam na canção, a música engole as palavras; não só meras palavras e sentenças literais, mas até mesmo estruturas literárias de palavras, poesia. A canção não é um compromisso entre poesia e música, embora o texto tomado em si mesmo seja um grande poema; a canção é música.” (1980 apud CARRASCO p. 23)

Acontece muito de cantarmos músicas sem compreender o verdadeiro sentido que a letra possui, e muitas vezes adoramos alguma peça musical que não está sendo cantada em uma língua de nosso entendimento. E com toda certeza conseguimos ainda assim nos emocionarmos sem saber o que está sendo contado naquela música, é o poder que um compositor tem em suas mãos. Mas não podemos descartar a hipótese do processo contrário, músicas que compreendemos a letra e que após esse entendimento passamos a adorá-la ainda mais. “É possível, inclusive, ouvir música cujo texto foi escrito em uma língua que desconhecemos e, ainda assim, usufruirmos de uma experiência estética rica. Contudo, a compreensão do texto permite uma experiência diferenciada.” (CARRASCO, 2003, p. 23)

Se para Chion toda voz prende nossa atenção, Langer vai mais a fundo e nos faz entender que essa atenção seria quase que superficial, afirmando que a música “engole” as palavras. Na frase de Langer, podemos discordar de alguns pontos, como o termo “engole” que ela utiliza, não somos capazes de generalizar e dizer que o texto é ignorado em alguma música por conta da parte musical. Talvez seria mais difícil mesmo para o ser humano captar a peça como um todo. Só conseguimos dar atenção a uma coisa de cada vez.


17

Discordando em partes da frase de Langer, podemos dizer que o texto complementa a música, e em alguns casos a música complementa o texto. Na maioria dos casos o autor conta uma história, tanto em músicas cantadas quanto em instrumentais. Compreender o que o autor quer dizer na obra é realmente uma experiência única. Cada ser humano tem sua interpretação, ao ouvirmos alguma música não prestamos a devida atenção para todos os detalhes, podemos saber do que a música está tratando, qual história está sendo contada, mas são poucas vezes que são interpretadas como o compositor realmente a criou. Por esse motivo o compositor e professor do Departamento de Linguísticas da USP Luiz Tatit afirma que existem impressões em cada composição que nos permite entender um pouco mais de ritmo ou de formatos de canções. Ele alega que a letra e a melodia devem passar a mesma mensagem, e também possuir uma entonação e é aí que entra a participação das consoantes e vogais. Em sua aula sobre canção e MPB ele explica que as vogais são de extrema importância para a canção, elas é que dão a altura e afinação do som. Entretanto as consoantes é que dão o corte e representam o ritmo. “Quando a canção é romântica, as vogais duram mais, justamente para você sentir a vibração de cada nota que o cantor está cantando. Uma canção mais rítmica não precisa alongar tanto as vogais, ela quer provocar estímulos de dança.” (TATIT,2007)

A partir dessas ideias é possível refletir sobre as canções e a sensações provocadas em seus ouvintes. Todos os elementos empregados em uma canção precisam estar sincronizados, a entonação das palavras como diz Tatit é o que faz uma música ser romântica ou dançante. E podemos dizer que todos esses elementos juntos são decisivos para criar uma trilha ou colocar uma canção como trilha sonora em uma arte audiovisual. Escolher uma canção para usar em um projeto audiovisual requer o estudo de alguns elementos. A canção precisa “conversar” com as imagens que estão sendo passadas, se existe um texto na música e um roteiro de imagens, esses elementos precisam estar ligados de alguma forma. Se a canção oferece uma mensagem ao receptor então ela deve ter uma relação com a mensagem que as imagens também


18

estão querendo passar. Abordaremos melhor a função da canção como complemento para a narrativa de projetos audiovisuais mais a diante, no capitulo 3.

1.2 Música Instrumental

Como sabemos, não existe somente o formato de músicas Canção, o formato de músicas instrumentais é um dos mais antigos, é talvez o mais valorizado, pois muitos de seus compositores têm um conhecimento muito amplo sobre música, sonoridade, timbres, tons. Por esse motivo os autores de sinfonias, por exemplo, acabam se tornando famosos mundialmente. É comum por um senso massivo a associação entre música instrumental e música clássica, a música clássica abrange para vários tipos de música onde nem todas se fazem apenas de instrumentos, alguns apresentam textos cantados por vozes humanas. A forma de composição de música clássica e música instrumental é parecida, as duas dispõe de notação de partituras e também dispõe de como cada nota precisa ser tocada, em geral as duas são compostas por alguns elementos como altura, métrica, ritmo e velocidade para dar o suporte necessário para quem for executá-la, para que faça-o com exatidão. A

característica

de

músicas

instrumentais

é

irrevogavelmente

sua

instrumentação, que se faz por muitos instrumentos de diferentes tipos, os de corda que compreendem o violino, viola, violoncelo e contrabaixo, os madeiras que são os oboés, flautas, clarinetas, fagote, etc, os metais que são os trompetes, trompa, trombone, tuba, e também os instrumentos de percussão, tímpano, gongo, xilofone, etc. Esses são a base de uma orquestra por exemplo, que eventualmente acolhem o som do violão, piano e saxofone, além de todos os outros. Há variações em uma orquestra, quando um instrumento é o destaque e se torna a voz principal, então passa-se a chamar-se de concerto, mesmo com os outros instrumentos da orquestra presente, é possível destacar apenas um enquanto os outros fazem o acompanhamento. Outra variação são as operas nas quais a orquestra acompanha


19

a voz humana, nesses casos a voz se classifica como “soprano” para vozes agudas e “baixo” para vozes em tons graves. Em geral podemos dizer que a música instrumental é toda e qualquer música que se dispõe apenas de instrumentos, ou se existe alguma voz humana, seja nas categorias que acompanham uma orquestra. Esse tipo de música é muito comum em trilhas sonoras, uma vez que não detêm de uma composição de texto poético, sua utilização para esse fim é mais ampla. Será abordado no capitulo 3 o estudo sobre a aplicação de música instrumental em obras audiovisuais. Composições audiovisuais estão em todos os lugares nos dias em que vivemos, pode até mesmo ser por este motivo que não damos tanta atenção ao que estamos vendo, muitas vezes a trilha não é compreendida, pode até atingir o objetivo emotivo da cena, mas não é dada a devida atenção a ela. Nem sempre sabemos como são feitas essas trilhas sonoras, se foram estudadas e nem se compõem cada movimento da obra. Muitas vezes a trilha passa desapercebida pelo público, que acabam não percebendo sua existência na narrativa.


20

2 MOVIMENTO

A visão é tão importante quanto a audição para o ser humano. Não é um sentido que se desenvolve tão rápido quanto nossos ouvidos, mas é um dos principais para o estímulo de exploração e desenvolvimento de um bebê por exemplo. Tudo o que vemos é mandado para o cérebro para que ele possa fazer o reconhecimento e interpretação daquela imagem. As imagens de um objeto que quando visto pela primeira vez vai para o cérebro que faz a interpretação da imagem e então passamos a conhecê-lo, e sempre que o olho captar imagens desse mesmo objeto, o cérebro é capaz de fazer o reconhecimento. Quando os bebes começam a enxergar melhor e explorar o mundo, a visão é o sentido que prende mais a atenção deles, ao ver algo colorido, ao ver algum movimento, luzes e pessoas. Antes mesmo de aprenderem a falar, já conseguem reconhecer sua mãe, parentes e brinquedos com sua visão. A combinação dos sentidos é muito forte para esse reconhecimento, mas a visão é imprescindível nesse processo. Vivemos em uma sociedade que prioriza a imagem, deixando um pouco em segundo plano os sons que ouvimos tanto no dia a dia quanto em algum filme. Para alguns a percepção entre o som e a imagem é realmente mais difícil, isso varia de pessoa para pessoa. São capacidades perceptivas diferentes uns dos outros. Dizem, popularmente, que os olhos são as janelas da alma, sendo assim os ouvidos são as portas que nos levam até elas. O movimento é um dos elementos que o som nos proporciona, através desse último somos capazes de ter percepções diferentes sobre o que estamos vendo. Uma imagem em movimento é perceptível aos nossos olhos que o acompanham atentamente. O olho nos faz compreender o que está sendo passado em um filme, mas o som nos dá um complemento, pois o mesmo tem a capacidade de ampliar as nossas funções sensoriais, nos dando uma experiência muito mais rica. Por exemplo, em uma trilha sonora de uma cena de ação podemos ter a percepção de uma cena rápida, com muitos cortes e informações se a música ou trilha que a


21

acompanha for do tipo mais agitada. Esse é somente um exemplo de tantos outros possíveis, como uma cena romântica possui músicas mais lentas e “leves”, uma cena de suspense muitas vezes é acompanhada de sons que possam nos causar um incomodo, neste caso é muito usado sons de violinos, e entre outros. Vsevolod Pudovkin um dos mais influentes em teorias de montagens de cinema, reconhece que a chegada do som para o cinema foi um marco importante, e com essa nova ferramenta é possível obter um resultado satisfatório de maneira mais rápida em muitos casos. Há muito a ser levado em consideração no momento de colocar uma trilha em uma cena, nem sempre os elementos de áudio e vídeo são pensados separadamente. Sempre que se cria algum tipo de cena já se sabe a emoção que a mesma tem que passar a quem for assisti-la. Por esse motivo quando existe a ideia para a cena já existe também uma ideia para a trilha, nem sempre específica, mas o seu estilo já é definido. Com o cinema mudo não era pensado dessa mesma forma, para conseguir um resultado emocional no espectador, era necessário uma série de cortes ou de cenas para conseguir um único resultado, pois a música que acompanhava não fazia parte do que estava sendo contado, apenas ajudava a dar ritmo para o filme. Para obter um resultado de emoção para a cena, era necessário dar mudanças de planos nas câmeras, fazer o espectador, sentir o que era para ser sentido apenas com os olhos. Se a personagem apresenta um estado emocional confuso, então a cena apresentava muitos cortes para planos diferentes, para que assim o espetador pudesse captar a confusão da mesma. No livro SYGKHRONOS, Carrasco trata o movimento musical e explica que o tempo é o elo entre movimento e música. “A sucessão de sons organizados ao longo do tempo gera uma resultante que nossa percepção tende a entender como movimento, que de fato não existe. Trata-se de uma ilusão de movimento, que só é possível porque a cada novo evento ainda temos a memória imediata do evento anterior. O confronto desses eventos sucessivos em nossa percepção é que gera essa sensação de movimento.” (2003, p. 25)

Sendo assim toda a sensação de movimento que a música já nos dá por si só é totalmente ligada ao tempo. Uma composição com sons e mudanças de sons


22

significativamente mais rápidas nos dão a impressão ou a percepção de um movimento musical rápido. O movimento musical é algo ilusório, o que se torna um tema difícil para se abordar, mas podemos dizer, então, que sempre vamos ter essa ilusão ao escutar alguma música. Em composições de músicas clássicas, por exemplo, o compositor encontra uma complexidade na forma e no desenvolvimento, as partes de uma composição clássica podem ser denominadas movimentos, sendo assim a música é dividida em vários destes “movimentos”. Esse termo foi adotado desde a época do renascimento e desde então ajudou muito em composições, dança, interpretação e compreensão de peças longas. Utilizando então desse tipo de movimento, é possível termos sensações de movimento em algum conjunto áudio visual por esse mesmo motivo. Se compreendemos que a cena já possui elementos visuais com movimentos ditos visuais, então se ligarmos a cena com a música conseguimos a ligação entre dois movimentos, o visual e o musical, nos quais precisam entrar em harmonia para alcançar o objetivo emocional. Juntando os elementos musicais e visuais conseguimos uma percepção diferenciada do que está sendo mostrado ao espectador. É importante frisar que emoção não se faz somente daquela que nos faz chorar, existem muitas outras emoções como o medo, a angústia, a alegria, a ansiedade, a tristeza, a apreensão, a felicidade, a aflição, a surpresa, o amor, a comoção, entre tantas outras. Por esse motivo sempre que uma cena precisar demonstrar emoção, tudo que precisamos saber é o tipo de trilha que possa ajudar para a ativação da mesma no subconsciente de quem estiver assistindo. A partir do momento em que o movimento foi esclarecido podemos compreender que não há uma regra para trabalhar com trilha sonora, não há uma fórmula certa. Existem casos em que pode ser feito um paradoxo ou uma brincadeira com o movimento visual e o musical. Podemos utilizar deste meio para dar o sentido contrário ao que a imagem está passando. A trilha é tão influente que pode nos dar sentidos diferentes a qualquer cena. Podemos tomar como um exemplo uma cena de ação com perseguição com uma trilha de valsa, é totalmente possível imaginar uma obra desta, onde a cena


23

acaba virando uma dança, onde vamos ter a percepção de uma cena mais lenta, mas sem perder a essência da história que está sendo contada. Existem inúmeras maneiras de conseguir dar efeitos para as imagens apenas com a trilha. (BARRETO, 2004, p. 107-108) Em muitos casos, de filmes principalmente, a trilha faz com que o mesmo crie muito mais sentido para o espectador e ganhe uma categoria de suspense, terror, romance ou comédia. Se imaginarmos um filme sem nenhuma trilha, apenas sons ambientes e as falas de diálogo dos atores, provavelmente não sentiríamos as emoções que os artistas estariam tentando reproduzir, este feito seria difícil ou um processo mais lento para alcançar o objetivo emocional atrelado à cena. Toda história dramática, que se dispõe de uma dramaturgia, está relacionada a uma ação representada, e junto com essa ideia temos as personagens como base para cada uma dessas ações dramáticas. Carrasco cita em sua tese exemplos de como a música pode representar um personagem ou substitui-lo, no filme Tubarão de Steven Spielberg por exemplo, o tema principal para a figura principal da trama, que é o Tubarão, é o que informa o público da presença do mesmo, pois assim o personagem não precisa estar presente com sua imagem, mas o som já o substitui e cria a mesma essência na cena. Então sempre que ouvirmos o tema do personagem fazemos a associação em nossos cérebros e sabemos que ele está por perto, mesmo que não estivermos o vendo. Há também momentos em que o silêncio e a ausência de qualquer som se faça como trilha sonora, por passar uma emoção pelo o que estamos assistindo acabam por atingir o objetivo emocional da cena. São muito comuns em filmes de suspense por exemplo, onde o silêncio acaba nos causando um incomodo, aflição e apreensão pela cena. Nossos ouvidos estão o tempo todo “ligados” ao que estamos vendo em algum filme, mas nossa percepção sobre o que eles estão captando não são tão fortes, percebemos muito mais quando há uma ausência de som do que quando a cena apresenta uma trilha, que acaba por passar batido sobre nós.


24

No caso da música como trilha, ela acaba por se penetrar na narrativa e na ação existente, sem que seja prejudicial para a progressão da mesma e a clareza da cena. Sendo assim a música dá voz ao narrador, e conta a história junto com as ações ocorrentes ao longo da trama. Mas quando há um diálogo entre personagens e uma trilha musical juntamente à esta ação, nossos ouvidos dão mais atenção aos personagens e ao que eles estão falando, é assim que a trilha deve se comportar em situações como esta. Se o contrário acontece, perde-se totalmente o fio condutor que está ligando o espectador à narrativa do texto do filme.

2.1 Composição Audiovisual

Como já vimos anteriormente, a música está conectada a prática audiovisual. Em alguns trabalhos teóricos foram aparecendo ao longo do tempo depois da década de trinta, onde o cinema se tornou sonoro e a trilha musical ou trilha sonora passaram ter mais sentido que fossem chamadas assim. Em muitos desses trabalhos chegavam-se a quase os mesmos resultados de regras para a montagem sonora de filmes, variando pouco entre um ou outro trabalho. Eram basicamente os mesmos princípios. No trabalho um pouco mais recente, Film Music – a neglected art, podemos ver uma lista de coisas para que servia a música no cinema: a) Música pode criar uma atmosfera mais convincente entre tempo e lugar b) Música pode ser usada para sublinhar ou criar refinamentos psicológicos – os pensamentos não ditos de um personagem ou as implicações não vistas de uma situação c) Música pode servir como um fundo neutro de preenchimento d) Música pode ajudar a construir o sentido de continuidade de um filme e) Música pode prover a sustentação para a construção teatral de uma cena e então arrematá-la com um sentido de finalização.

Esse é um exemplo para que possamos entender um pouco mais sobre esses trabalhos que se apresentavam muito semelhantes na época. Eisenstein então, foi


25

um dos mais inteligentes para desenvolver estudos sobre o cinema e a arte audiovisual. Todos as teorias anteriores davam a entender que a música era desconecta do filme, como se a música tivesse sido aplicada ao filme. Já a teoria e o estudo de Eisenstein acabam por fazer mais sentido, pois ele tratou o filme e a música como partes ligadas uma a outra, como se um não existisse sem o outro, a música e as imagens. Há um trabalho que também se destaca por se diferenciar dos anteriores, chama-se Unhead Melodies de Claudia Gorbman, que tentou sistemizar a música de cinema na década de trinta, foi citado e explicado por Ney Carrasco em sua tese sobre trilha musical: “a) Invisibilidade: o aparato da música não digética¹ não deve ser visível. b) Inaudibilidade: a música não é destinada a ser ouvida conscientemente. Assim ela deve subordinar-se aos diálogos, às imagens – ou seja aos veículos primários da narrativa. c) Significador de emoção: a trilha musical pode estabelecer climas e enfatizar emoções particulares sugeridas na narrativa, mas em primeiro lugar e acima de tudo, ela é um significador de emoções por si só. d) Sugestão narrativa: Referencial/narrativa: a música proporciona sugestões narrativas e referenciais, indicando pontos de vista, provendo demarcações formais e estabelecendo ambientação e caráter. Conotativa: a música “interpreta” e “ilustra” eventos narrativos. e) Continuidade: a música provê continuidade rítmica e formal – entre planos, em transições entre cenas, preenchendo “lacunas”. f) Unidade: pela repetição e variação do material musical e da instrumentação, a música auxilia na construção da unidade formal e narrativa.” (CARRASCO, 1993, p. 61)

A partir desse estudo podemos compreender um pouco sobre trilhas musicais. Mas é um processo complicado o estudo audiovisual como um todo, o cinema não possui teorias, sistemas, conceitos estabelecidos, a música em si, por outro lado, possui dessas teorias e conceitos que podem ser estudados, esse foi o grande desafio para conseguir juntar os dois, foi uma dificuldade de entender o


26

porquê música e imagem combinam. No cinema mudo, por exemplo, muitos filmes que eram considerados bons filmes, nenhum produziu música, segundo um experimento realizado por Edmund Meisel, compositor e colaborador de Eisenstein, ele analisou o ritmo, intensidade, clímax e caráter de diversos filmes mudos, ele quis mostrar que bons filmes se desenvolvem através das mesmas leis e do mesmo modo que a música. Podemos dizer que uma obra audiovisual possui uma linguagem única, pois não é composta apenas de som ou somente de imagens, por mais que o som passe batido pelo espectador em muitos momentos, é importante para a elaboração de um conceito ou uma narrativa. Compreender que a obra se faz por som e imagem interligados na construção de uma linguagem. Não somente um ou somente o outro. O silêncio também pode ser utilizado em uma linguagem audiovisual como trilha sonora, como vimos anteriormente. Isso nos faz entender que até mesmo a ausência de som, se faz importante quanto trilha sonora para a construção de um objeto audiovisual significativo para a percepção do público quanto espectador. A obra como um todo deve alcançar o objetivo inteligível de quem estiver a assistindo, criando uma noção completa e sensorial em todos os sentidos que a mesma o proporciona.


27

3 TRILHA SONORA MUSICAL

Em obras literárias existe uma teoria dos gêneros, onde cada obra apresenta o seu gênero particular, desde Platão e Aristóteles essas teorias foram desenvolvidas e dando espaço no momento atual para classificar e sintetizar os conceitos. Os conceitos Épico, Lírico e Dramático, se fazem presente em filmes, esses conceitos buscam ter como base a maneira de como o compositor ou poeta se posiciona na linguagem de seus textos. No gênero épico o autor se utiliza de uma narração e conta os fatos e ações ocorrentes, muitas vezes no passado. O gênero Lírico é quando o poeta expõe suas impressões sobre os fatos. E por fim o Dramático o autor se ausenta totalmente e os fatos ocorram no presente e por conta dos personagens. É importante lembrar que em muitas obras literárias, dramáticas e audiovisuais os gêneros não se apresentam de forma pura, podendo ocorrer a mescla de um ou mais gêneros. Dessa forma podemos verificar em determinada obra, por exemplo, predominância de um gênero com a presença de elementos de outro. As características que são apresentadas no gênero épico são determinantes para a construção da linguagem audiovisual, assim podemos dizer que o cinema é predominantemente épico. É relativa a participação do autor do texto no filme, pois existem muitos recursos para sua intervenção na narrativa. Na tese de Ney Carrasco sobre Trilha Musical, cita um exemplo simples e fácil de ser compreendido de como isso é posto em prática no cinema. “Há outros recursos que se equivalem à interferência do narrador na literatura. Algumas dessas interferências são bastante objetivas e podem de fato ser percebidas pelo público como tais. Um bom exemplo são as legendas do cinema mudo, que tinham a função de orientar o espectador em relação à narrativa, com intervenções do tipo: “Do outro lado da cidade...”, ou mesmo fornecendo indicações sintéticas dos diálogos.” (1993, p.69)


28

Sendo assim, no cinema podemos compreender que o autor da obra não precisa fazer intervenções diretas a todo momento, nos dias de hoje, ou melhor dizendo, desde que o cinema deixou de ser mudo, esse tipo de intervenção é feito indiretamente, com um plano do personagem, ângulo de câmera, caracterização do personagem, luz, cenário, figurino, montagem e música, todos estão ligados ao narrador.

3.1 A canção original inserida no comercial

Tratando-se de trilha sonora, a canção tem uma função épica na narrativa de um filme. Mas a inserção de uma canção na obra é sempre um assunto muito delicado para os compositores de música para cinema. Em geral, há dois tipos de trilha sonora para filme, aquelas que são criadas para o filme e as que já existem e acabam por se tornar trilhas sonoras por algum quesito de ligação com o tema do filme. Para as trilhas que são feitas especialmente para o filme, estão as instrumentais e as canções. A linguagem musical pura, sendo somente instrumental acaba por ter menos agregação de valor para se contar uma determinada história. Já o formato de canção tem uma função mais atrelada ao que está sendo contado, possuindo uma interferência épica maior. Carrasco diz em sua tese que a canção tem um poder descritivo muito grande pelas associações que ela possui, música e texto poético verbal, e completa dizendo que o grau de objetividade é maior. Podemos compreender a utilização e a criação de música canção para o cinema. Mas o que faz esse assunto tornar-se mais delicado, é o grande problema de criar algo que não tire o foco do espectador para a história. O intuito de uma canção é ajudar a contar a história e não confundi-la. Essa tarefa nem sempre é fácil, por esse motivo compositores do mundo todo tem uma certa insegurança ou uma resistência para criar uma trilha.


29 “Em seu aspecto épico, de interferência do narrador, a canção na trilha musical de cinema se assemelha ao coro da tragédia grega clássica. Ela pode se infiltrar na narrativa como comentário, como a voz de um personagem ausente, ou mesmo como o ponto de vista de um determinado personagem.” (CARRASCO, p.84)

A canção interfere muito na narrativa, esse é o medo dos compositores, pois o espectador começa a dar mais atenção para o que está ouvindo. Mas se o intuito é que a canção atraia essa atenção maior, então deve ser feita de modo que faça parte da história contada. Corre-se o risco de prejudicar a narração do texto e perder o impacto da canção, o que pode ser ruim para o sucesso do filme e da trilha. A solução para esse problema é fazer com que a canção faça sua interferência épica mas sem interromper na narrativa e ainda seja capaz de contribuir para o desenvolvimento da mesma. Por exemplos, há casos em que a canção se torna quase uma sinopse do filme, mas para introduzi-la à uma ação dramática sem sufocar tal cena, há uma escapatória que seria fazer uma “pausa” na dramatização para que a música seja introduzida e ouvida de maneira que o espectador entenda que a trilha está dando continuidade à ação, introduzindo sua função épica para a narrativa. Há casos em que são possíveis fazer essa junção diretamente, sem que uma ação pare e a música comece. A canção é ligada ao conceito do filme e o incorpora, fazendo assim com que a narrativa também incorpore a canção.

3.2 A música instrumental

No caso da música instrumental, a música sem a utilização de um texto poético, o que na música clássica no período romântico foi denominada de música programática, é mais flexível para a sua utilização, não contém muitos problemas para a sua prática. O uso desse tipo de trilha é mais amplo, pois podemos colocar a música em paralelo com a ação dramática, sem que o espectador perca a percepção sobre a cena. Pode-se também introduzi-la há um espaço vazio em meio a falas de diálogo, ou pode ser usada também como uma textura sonora para uma


30

determinada passagem do filme, passando desapercebido pelo espectador. (CARRASCO, 1993, p. 88) Esse tipo de linguagem musical, se utiliza muitas vezes em “segundo plano”, onde o campo sonoro não ocupa todo seu espaço, ele é colocado então, em segundo plano para praticamente não percebemos a sua existência, mas construindo mesmo assim a dramatização necessária da ação. As músicas em “primeiro plano” são aquelas que ocupam toda a dimensão sonora, as canções são mais comuns para esse último, pois utiliza-se da pratica épica da canção. No caso de músicas instrumentais o grau de penetração pode se tornar mais amplo, pois assim a música se introduz na narrativa do filme sem a objetividade da palavra, o que muitas vezes a torna mais sutil. “Em suma, há coisas que não podem ser ditas apenas com música, mas há coisas que só a música pode dizer.” (CARRASCO, 1993, p. 87) Qualquer música seja ela canção ou instrumental, tem um valor único com relação ao filme, somente ela é capaz de expressar tantos sentimentos e contribuir para o entendimento da narrativa do filme, muitas vezes alcançando tal objetivo sem ser se quer ouvida pelo espectador. No cinema é comum a música ficar famosa ou se tornar popular após um filme de sucesso, mas é importante compreender a origem, o porquê de cada composição ser feita de alguma determinada maneira, pois assim poderemos ter uma percepção sonora muito mais ampla da construção de cada uma. Há dois caminhos para criar uma de trilha no cinema, há aquelas que foram unicamente compostas para o filme, para ajudar a contar a história do filme, tanto instrumental quanto no formato de canção, e há as trilhas que são músicas já existentes que são introduzidas no filme que ajudam dar o mesmo sentido épico ao filme. Quando se trata de músicas compostas para o filme o resultado pode ser dos mais variados, no formato canção por um exemplo, há históricos de trilha em que a canção é basicamente a sinopse do filme, ajuda ao espectador a entender a narrativa até em seu texto poético musical. No caso de músicas instrumentais para cinema o resultado pode ser outro totalmente diferente do formato canção, muitas


31

vezes esse tipo de trilha acaba por se fazer mais discreta nos filmes, mas o objetivo é o mesmo, ajudar o espectador a ter uma percepção emotiva do filme em que está assistindo, e estabelecer uma linha a ser seguida pela narrativa do mesmo. No cinema esses tipos são muito comuns, mas se tratando de publicidade, os comerciais de TV, utilizam de outros tipos de composições.

3.3 A utilização de canção e música instrumental na comunicação

Sabemos que trilha sonora são os elementos sonoros que estão presentes em algum filme ou obra visual, que dependem da percepção individual de cada espectador para a compreensão da mesma. Sendo assim podemos compreender que todo som que acompanhe a obra é parte integrante de uma trilha sonora, por esse motivo entendemos que existe mais de um tipo de trilha, onde cada trilha possui sua característica, tanto na composição, quanto à sua função para com o filme. Em outras palavras os diálogos e narrações tem sua funcionalidade geralmente mais descritiva do produto anunciado. Os efeitos sonoros ambientam o lugar e geram os elementos naturais e artificiais que destacam situações específicas do filme publicitário. Ao falar de comerciais de TV, sonoridades, músicas, logo associamos aos famosos Jingles, seria impossível falar de trilhas sonoras para propagandas sem falar dos jingles.

3.4 Os Jingles

Os Jingles são músicas ou um pequeno verso, ou frase concebida para determinada marca ou propaganda de algum produto, a fim de criar uma associação mais fácil e rápida para o consumidor com a marca ou produto. São em sua maioria versos facilmente decorados pelo espectador, alguns podem se utilizar de repetições. Mas nem sempre os jingles foram feitos de modo pensados para a


32

publicidade. A história dos Jingles no Brasil é muito antiga, antes mesmo das propagandas comerciais na tv existirem, ou a própria televisão existir. Entre os anos 1859 e 1900 existiam partituras de propagandas vinculados à imprensa, que eram na realidade músicas sobre produtos, industrias ou comércio, que faziam essa “propaganda” nos jornais da época. Através dessas partituras o músico e pesquisador Tadeu Santinho descobriu um dos primeiros jingles do Brasil gravado por um grupo musical chamado Os Matutos de Cordeiro que incluíram em seu primeiro CD o Viva o Formicida Guanabara. Foi uma ótima estratégia do fabricante, que distribuía a partitura aos fregueses, a música não tinha letra, mas em dois momentos o pianista gritava: “Viva o formicida Guanabara!”. Após a chegada do fonógrafo, em 1877, era divulgada a partitura juntamente com os anúncios pela imprensa. Com a invenção de Thomas Edison logo muitos compositores brasileiros de grande nome, como Chiquinha Gonzaga, já utilizavam desse novo método para lançar ao público suas composições sobre produtos da indústria brasileira (GOULART,2011, p.53). “A associação entre música e propaganda foi, ao longo da segunda metade do século XIX, delineando distintos modos de expressão, tornando evidente que um novo gênero publicitário estava se formando e se expandindo. Desse gênero se apropriaram diferentes empresas e compositores, utilizando-o em situações variadas, procurando imprimir, em cinco décadas, inovações, tanto do ponto de vista da composição quanto da edição e circulação de partituras de propaganda – recurso mais visível, no período, através do qual se manifestou a associação entre música e função publicitária.” (GOULART, 2011, p. 57)

Os jingles tiveram uma história muito lenta até chegarem no formato de jingles que conhecemos e estamos acostumados nos dias atuais, ninguém tratava as músicas populares na época como jingles somente por estarem fazendo referência à algum produto, mas discretamente essa ideia de música e propaganda foi crescendo, foram ganhando espaço, primeiro nas rádios e posteriormente na televisão. Hoje em dia no Brasil, há muitas produtoras de jingles, estúdios voltados para essa criação publicitária que nunca se perde no tempo, ou sai de moda dentro da publicidade brasileira. Podemos usar como exemplo um dos mais antigos jingles que é usado até hoje, o do Big Mc, famoso no início dos anos 80, criado pelo


33

publicitário Charles Rosenberg, foi um dos mais marcantes jingles da TV brasileira, em 2008 quando o lanche completou 40 anos, foi feita uma nova versão do jingle mas sem cortar a letra já existente desde a sua primeira versão: “dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles em um pão com gergelim.” Outro Jingle marcante não só na história da televisão brasileira mas também na história da marca, foi a do Café Seleto, marcada como um dos clássicos da publicidade brasileira, o que ajudou muito nas vendas do produto e no reconhecimento da marca. Criado por Arquimedes Messina, a campanha também de 1974 marcou muito crianças da geração da época, mesmo que não fosse um produto destinado às crianças, acabou ganhando forte identificação do público pelos relatos do dia a dia que a letra contava nas propagandas: “Depois de um sono bom, a gente levanta. Toma aquele banho, escova os dentinhos. Na hora de tomar café, é Café Seleto que a mamãe prepara com muito carinho. Café seleto tem sabor delicioso, cafezinho gostoso, é Café Seleto. Café Seleto…”

3.5 Versões de canções para fins publicitário

Além dos jingles as propagandas atuais vêm utilizando trilhas musicais com o mesmo embasamento do cinema, algumas fazem uso de canções para ajudar na narrativa, ritmo, clímax do comercial, muitas vezes as canções são parte da publicidade como um complemento sensorial mesmo, assim como nos filmes, como vimos anteriormente. Outros utilizam músicas instrumentais, para dar mais sentido ao espectador, e também ajudar no ritmo sentidos. Nos filmes publicitários a mensagem de todo o conteúdo tem de ser compreendida mais rapidamente, pois o tempo é limitado, existem filmes publicitários de 30 segundos, 1 minuto e até 5 minutos, por esse motivo a mensagem precisa ser certeira, rápida e percebida no tempo disponível no filme. Analisando algumas propagandas mais atuais podemos perceber que a maioria das trilhas musicais são feitas especificamente para o comercial, mas não


34

são necessariamente jingles. Em alguns casos essa trilha se apresenta como canções já existentes mas que apresentam uma nova versão de tal música para ser atrelada ao comercial. Essa nova versão é muitas vezes gravada por outro artista. Em alguns casos é usada uma canção mas transformada em música instrumental. Por exemplo recentemente, a marca de cerveja, Brahma, lançou um comercial para a Copa do Mundo no Brasil, a história do comercial se dispunha de uma festa surpresa para os moradores de uma vila que ficava a 500 quilômetros de uma cidade sede da Copa, a Brahma fez essa festa para que os moradores sentissem a emoção que estava envolvendo as cidades participantes, o comercial todo tinham imagens reais de cenas dessa festa, e a trilha musical era uma versão instrumentada da música “Por Enquanto” escrita por Renato Russo mas que teve ser grande sucesso na voz de Cássia Eller. A música foi introduzida ao comercial apenas como uma trilha instrumental, mas de modo que os violinos interpretassem a voz e desse modo o público ainda reconheceria de imediato a música ao ouvi-la.

3.6 Trilha musical publicitária

As trilhas instrumentais são mais discretas tanto em filme no cinema quanto em filmes publicitários, mas há momentos que a publicidade se utiliza de músicas instrumentais com alguns intuídos parecidos com os que Gorbman descreve em seu trabalho Unhead Melodies, ela é usada em casos para ser inaudível, outros casos ela aparece como significador de emoções e as enfatiza para que o consumidor possa sentir e assim possa compreender o sentido comercial e criar uma relação maior entre marca e consumidor. Em outros casos ela serve para dar a continuidade, principalmente quando há filmes publicitários que contam de fato uma pequena história e acabam por necessitar de uma trilha para fazer uma ligação de uma cena à outra, ou fazer uma transição. Não precisamos de um exemplo específico, pois conseguimos visualizar em nossas mentes facilmente um exemplo de filme rápido e claro, pode até mesmo ser considerado “clichê” mas funciona para entendermos melhor essa questão da transição. Imanemos então, uma pessoa toda triste sozinha, uma trilha musical instrumental lenta, que faça o espectador captar a


35

tristeza do personagem fazendo a associação de sua interpretação de um rosto triste, com a trilha dando ao consumidor a perspectiva do personagem que está em cena, logo em seguida há um corte e ele adquire um produto que vá faze-lo ficar mais feliz, um carro por exemplo, e de repente a trilha muda no momento em que a cena também muda e mostra o personagem em seu novo carro, feliz, com uma trilha muito mais alegre e que desperte um sentimento de aventura, algo tocado com guitarras elétricas, coisas do tipo mais jovial, para fazer uma associação do espírito jovem aventureiro. É possível imaginarmos esse tipo de trilha, inclusive muito comum nos dias atuais, que podemos ver muitas vezes se assistirmos televisão regularmente. As músicas instrumentais nos filmes publicitários, por muitas vezes acabam tendo uma função sonoplasta para as imagens do comercial, acabam dando acentuação ao sentimento do personagem. Um exemplo antigo de trilha que nos faz ter uma percepção de continuidade é o do sutiã Valisere, esse filme publicitário foi premiado em Cannes em 1987, a música durante todo o filme é uma mesma música, mas tem entonações e passagens que acompanham a narrativa, ajudando a contar o “antes” e o depois que a menina (personagem) ganha seu primeiro sutiã Valisere, e como isso ajudou em sua simples rotina. Captura da tela comercial Valisere

Fonte: Youtube


36

A inaudibilidade das trilhas instrumentais, se dá a partir do momento em que há o diálogo ou imagens, que o consumidor potencial consiga dar mais atenção para esses outros elementos da propaganda que acabam por se tornar mais importantes para que a mensagem seja rápida e certeira, No caso das canções temos uma variação maior de sua utilização em filmes publicitários do que nos casos de músicas instrumentais. A canção para a propaganda pode ser o caminho mais curto para chegar até o consumidor, assim a mensagem do filme é passada mais rapidamente por meio da música utilizada. Mas o formato de canção é levado ainda mais adiante pelos publicitários. Além de se utilizarem de composições já escritas, muitas vezes famosas, há também uma forma de captar a atenção de determinado público com paródias de músicas famosas, por exemplo, nesse caso, a confecção é feita com uma semelhança ao jingle, levando em consideração que sua composição é a favor de uma marca ou produto especifico, mas com a diferença que a letra é escrita em cima do ritmo e melodia de uma música já existente, nesse caso é comum fazer o uso de músicas popularmente famosas, para que as pessoas consigam assimilar a música original à música do filme. Um exemplo bem recente é um filme publicitário que pretendia atingir principalmente o público jovem, que tem costume de beber e ir em festas, tendo em vista o estilo musical desses jovens, foi feita uma paródia da música Adrenalina do cantor Luan Santana, famoso entre esse público por suas músicas de sertanejo universitário, o filme se tratava de um remédio que promete aliviar a “ressaca” causada por enjerir bebidas alcoólicas, chamado ENGOV, a nova versão da letra da música utiliza de todo o ritmo e melodia da original mas faz referência ao produto: “Tenho sempre meu ENGOV. Com ENGOV é sossegado, porque no dia seguinte a vida não pode parar. Na balada do ENGOV, você vai, ele resolve. Bom ENGOV. Tenho sempre meu ENVOV, se tem festa é assim. Bom ENGOV ‘pra’ você. Bom ENGOV ‘pra’ mim.” O filme tem apenas 30 segundos que a mensagem é inteiramente levada ao consumidor pela letra da música.


37 Captura da tela do comercial do ENGOV

Fonte: Youtube.com

Devido ao grande crescimento tecnológico, onde nos dias atuais em que vivemos, é comum todos terem acesso à internet, o modelo de filmes publicitários também mudou muito, com esse acesso massivo, o conteúdo da publicidade na internet, principalmente o de filmes publicitários, não tem mais um formato definido, o filme pode ter quantos minutos for necessário para falar da marca, produto ou serviço, o grande problema é que as pessoas não se interessam por filmes muito longos, elas têm a possibilidade de parar de assistir a qualquer momento, então por esse motivo, é mais comum filmes de até 5 minutos. Um filme publicitário de mais repercussão nesse meio foi um “vídeo clipe” da famosa música de Renato Russo, Eduardo e Mônica, criado pela marca de operadora de celular VIVO, utilizou a música original do começo ao fim, contando em imagens a história que a letra contava, foi uma homenagem de dia dos namorados a todos casais do Brasil que estão cada vez mais conectados. Eduardo e Mônica não possuía um vídeo clipe, foi uma atitude nova da VIVO. O comercial não foi ao ar em outra mídia, somente na internet, e ficou entre os assuntos mais comentados. Neste caso a utilização da canção foi o que conectou o público à marca, a música é basicamente um clássico nas rodas dos jovens de todas as épocas, nunca se perdeu no tempo, por esse motivo conseguiu captar todos os públicos de consumidores em potencial.


38 Capturas da Tela comercial VIVO

Fonte: Youtube

Analisando alguns filmes publicitários mais atuais, percebemos que a utilização de alguma canção, pela sua grande função de dar mais sentido à mensagem do filme, além de conseguir a atenção de nossos ouvidos, é mais abrangente do que a utilização de músicas instrumentais. A canção na publicidade nem sempre traz canções conhecidas, o que faz em muitos casos, tentar fazê-la mais discreta, mas há exceções em que a música se destaca e acaba por ter uma procura maior pelo público, há casos de canções se tornarem populares através de um filme publicitário de sucesso e há casos de filmes publicitários se tornarem um sucesso pela utilização de uma música de sucesso. No caso da cafeteira NESCAFÉ


39

DOLCE GUSTO da NESTLÉ, foi usada uma música famosa mundialmente, Sex Machine de James Brown, a música marcou a propaganda para sempre como uma das melhores trilhas usadas na publicidade, o que alavancou as vendas do produto. O sentido das trilhas sonoras em filmes publicitários e filmes de cinema é semelhante, mas a diferença arrebatadora é que no cinema a utilização de uma canção ou música instrumental, é feita de maneira mais discreta de modo que a narrativa não seja atrapalhada com a presença da música. Na publicidade a trilha se faz mais presente para dar uma percepção maior e mais rápida ao espectador.


40

CONCLUSÃO

Tendo como objetivo analisar e entender a função de músicas, tanto instrumentais quanto no formato canção, para a utilização como trilha sonora. Compreender a origem e a comparação de suas funções no cinema e em filmes publicitários. Os estudos foram elaborados principalmente com embasamento de trilhas de cinema e sua composição com a imagem e análise de filmes publicitários. No entanto compreendemos a capacidade humana de percepção sonora, a música e sua composição artística, analisando os formatos de música canção e instrumental, tendo assim uma base para falar de sua sobreposição em filmes através de movimentos musicais e visuais que nos permite entender melhor a aplicação de música e imagem em movimentos e como são compostas em sua simplicidade. Analisamos também o poder contrário que a música é capaz de causar em algumas cenas e sua extensa objetividade com a relação emocional do espectador. Levantando a questão do termo trilha sonora musical, o porquê desse termo depois da transição entre cinema mudo e cinema sonoro, a obtenção da música no cinema, sua função atrelada à narrativa e percepção do espectador, conseguindo com que o mesmo entenda melhor o filme com a participação da música, mesmo que a mesma não seja ouvida, ou inaudível. Comparando a função fílmica da articulação do som no cinema e na publicidade, conseguimos analisar alguns comerciais de televisão, e outros filmes publicitários realizados através de outras mídias que proporcionam a utilização da canção e música instrumental de maneira diferente do cinema, com uma função parecida, mas mais objetiva e significativa para o consumidor em potencial. Destacamos os tipos diferenciados de trilha sonora com fins publicitários, os jingles que ajudam o consumidor fazer uma associação maior ao produto, marca ou serviço, as canções originalmente criadas para a publicidade em novas versões de músicas já existentes, músicas originais usadas em filmes publicitários que ajudam


41

no sucesso do mesmo e por fim músicas instrumentais que fazem um complemento ao comercial a fim de ser audível ou inaudível para o consumidor e espectador. Sendo assim, compreendemos e analisamos algumas das estratégias usadas pelos publicitários ao criar algum tipo de propaganda afim de utilizar de trilhas sonoras para atingir o objetivismo da mesma em criar uma relação maior e mais rápida com o consumidor.


42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARRASCO, Ney. Sygkhronos: a formação da poética musical do cinema. São Paulo: Lettera, 2003. CHION, Michel. Audio-vision: sound on screen. Nova Iorque. 1995. EISENSTEIN, Serguei. O sentido do filme. Moscou, Zahar, 1942.

CARRASCO, Ney. Trilha Musical: música e articulação fílmica. São Paulo, 1993. Disponível

em:

http://webensino.unicamp.br/disciplinas/MU871-

220116/apoio/4/Trilha_Musical_TESE_NEY.pdf Olzon, André Luiz. A influência da trilha sonora sobre a percepção da obra cinematográfica: A análise fílmica de Bye Bye Brasil, Pra Frente Brasil e Central do Brasil.

2008.

Campinas.

Disponível

em:

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000434191&opt=1 CARVALHO, Anderson. A percepção sonora no cinema: ver com os ouvidos, ouvir com

outros

sentidos.

2009.

Niterói.

Disponível

em:

http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3723 BARRETO, Thiago. Vende-se em 30 segundos: manual do roteiro para filme publicitário. São Paulo, Editora Senac. 2004. GOULART, Paulo Cezar Alvez. Música e propaganda. São Paulo, A9 Editora. 2011.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.