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www Visite .bra noss silpn o si uma te .org Nº 106 .br ABR/MAI 2009
Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Um novo acordo pelo meio ambiente Investimentos de US$ 750 bilhões alavancariam economia verde no planeta
Investimentos da ordem
de US$ 750 bilhões, ao longo de dois anos, em cinco setores-chave da economia mundial – como energia renovável e fontes de água limpa –, seriam fundamentais para a implementação de um novo acordo global entre os países para o estabelecimento da base de uma economia verde planetária. Relatório com essa importante agenda ambiental foi lançado pela ONU antes da Cúpula do G-20, promovida em Londres, em abril, para incentivar as lideranças políticas das maiores economias do planeta a adotar ações ecológicas em seus pacotes financeiros de estímulos à combalida economia mundial, que já chegaram à casa dos trilhões de dólares. No comunicado final do encontro do G-20, os líderes mundiais prometeram “uma transição para tecnologias e infraestruturas limpas, inovadoras e eficientes no uso de recursos naturais” e reafirmaram o compromisso de enfrentar as mudanças climáticas. Enfim, estabeleceram metas vagas que só o tempo dirá se serão cumpridas a contento ou não. Mas o relatório da ONU serve como um bom guia para investimentos verdes realistas, apontando inclusive múltiplos benefícios econômicos, ambientais e sociais advindos dos US$ 750 bilhões de investimentos sugeridos.
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água limpa, florestas, solos e recifes de corais; Incentivo à agricultura sustentável, incluindo a produção de alimentos orgânicos. Disponível em www.unep. org/greeneconomy/, o relatório das Nações Unidas apela aos governantes do G-20 para que sejam estabelecidas medidas específicas para apoiar as nações mais pobres no alcance das Metas de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidas na Conferência da ONU de Johannesburg, em 2002, de redução da pobreza mundial pela metade até 2050 e para tornar suas economias mais verdes. Essa política incluiria, entre outras medidas, a expansão de linhas de microcréditos para fontes de energia limpa e o estabelecimento de um novo acordo sobre mudanças climáticas a ser definido na Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro próximo, no sentido de se fortalecer o alcance dos mercados de carbono na África, Ásia, América Latina e países de pequenas ilhas em desenvolvimento. A título de exemplo de boas práticas ambientais, o relatório cita o anúncio do Japão de criação de um fundo de empréstimos de US$ 5 bilhões para economias de países em desenvolvimento que desejam estimular seus setores de energia renovável.
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Metas realistas – Para os especialistas que elaboraram o relatório, uma política realista voltada para uma economia verde deveria focar investimentos na recuperação da economia mundial em cinco setores-chave: Aumento da eficiência energética de antigos e novos prédios; Apoio a fontes de energia renovável, como vento, solar, geotérmica e biomassa; Incentivo ao transporte sustentável, incluindo veículos híbridos e linhas férreas para trens de alta velocidade integradas a sistemas de trânsito rápido para ônibus; Apoio à preservação de infraestrutura ecológica, como fontes de
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EDITORIAL Em nossa capa, apresentamos relatório da ONU propondo uma agenda ambiental de investimentos bilionários em cinco setores-chave da economia que serviriam de base para a implementação de uma economia verde mundial. Algo factível de ser realizado, em dois anos, pelas maiores economias do planeta. Aqui ao lado, falamos de outra importante iniciativa que pode ser promovida: uma agenda para as indústrias automobilísticas alcançarem uma economia de 50% do consumo de combustível de sua frota mundial até 2050. Na página 3, uma notícia alarmante: o derretimento acelerado dos pólos Norte e Sul pode provocar danos ambientais ao planeta muito mais graves do que os apontados pelos atuais modelos científicos. O que, mais do que nunca, coloca a urgência dos países chegarem a um acordo de alto nível na Conferência da ONU de Copenhague, em dezembro, estabelecendo reduções significativas de suas emissões de gases-estufa. Nas páginas centrais, apresentamos artigo do diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental, Clóvis Ricardo Schrappe Borges, defendendo a adoção em larga escala no Brasil da remuneração por serviços de conservação de áreas naturais. Na contracapa, mostramos o trabalho do Instituto Triângulo de Desenvolvimento Sustentável, que já reúne milhares de adeptos em São Paulo em prol de iniciativas ambientais como o recolhimento e reciclagem do óleo de cozinha usado. Um abraço e até o próximo, Haroldo Mattos de Lemos Presidente
Pela economia de combustível Pnuma lança iniciativa para cortar consumo de carros em 50% até 2050 Arquivo Pnuma
Diante da perspectiva de que a frota mundial de carros esteja triplicada em 2050, o Pnuma, a Agência Internacional de Energia, o Fórum Internacional de Transporte e a Fundação FIA lançaram a iniciativa 50 by 50 Global Fuel Economy Initiative (GFEI), para que a indústria automobilística adote uma agenda radical com o objetiEconomia de combustível de frota mundial pode vo de alcançar, em meados ser obtida com o uso de tecnologias já existentes do século, uma economia de combustível da ordem de 50%. nologias já existentes, como o empreO relatório que marcou o lançamengo de motores e componentes mais to da iniciativa mostra ser factível, ao eficientes e de materiais mais leves. se implementar essa agenda ambienPara alcançar as metas propostas, tal, a obtenção de uma economia anuinclusive as etapas intermediarias preal da ordem de 6 bilhões de barris de vistas para 2020 e 2030, a GFEI prepetróleo e de duas gigatoneladas de tende trabalhar com a colaboração de CO2, algo equivalente à metade das governos, indústrias automobilísticas e outros parceiros. emissões anuais desse gás-estufa nos Os objetivos de curto prazo, para Estados Unidos. 2009, incluem o desenvolvimento de Segundo o estudo, as ações previsanálises regionais da situação do contas e necessárias devem estar integrasumo das frotas de carros e a organidas aos pacotes de financiamento à zação de campanhas públicas de ecocombalida indústria automotiva que nomia de combustível, para angariar vêm sendo implementados por alguns apoios políticos na Europa, América países desde o estouro da crise finando Norte, América Latina e Ásia. ceira, em 2008. Alem disso, prevê-se o lançamento Urgência – Para especialistas, com de quatro projetos-pilotos em difereno agravamento do aquecimento global tes regiões do planeta para apoiar e a perspectiva de que a frota de carros países no desenvolvimento de polítitriplique até 2050, é necessário que os cas nacionais de economia de compaíses deem prioridade máxima às bustível, de um banco de dados sobre ações previstas nessa agenda ambiena economia de combustível e de um tal. Uma agenda que, segundo o estusite para a troca de informações. do, pode ser alcançada usando-se tec-
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Viegas, Saint Clair Zugno Giacobbo, Vicente Hermogerio Schmall (suplentes).
Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell Fotolito: Pigmento Conselho Consultivo: Adolpho de Marinho Pontes (ex-deputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (ex-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes,AL), Cândido Mendes de Almeida (diretor-geral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Henrique de Abreu Mendes (ex-
Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc (ministro do Meio Ambiente), Hélio Saboya (ex -procurador geral do Estado do Rio de Janeiro), Henrique Brandão Cavalcanti (ex-
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ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L. Dubois (presidente do Instituto Rede
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Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/Firjan), Márcio Nogueira Barbosa (vice-diretor executivo da Unesco), Nelio Paes de Barros (ex-diretor administrativo do Instituto Brasil Pnuma), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (ex- presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro), Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin (presidente da SOS Mata Atlântica,SP),
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Aumenta degelo dos pólos Norte e Sul Situação ambiental da Terra pode ser mais dramática do que previsão inicial Arquivo Pnuma
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s estimativas científicas iniciais do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) sobre a aceleração do aquecimento global, que já eram preocupantes, podem estar subestimadas. As avaliações do aumento dos níveis dos mares até o próximo século, devido ao efeito estufa, variavam de 18 cm a 59 cm. Mas agora, já se fala num aumento de 0,8 a 1,5 metro. As análises atuais mais pessimistas têm como base o surpreendente aumento do derretimento dos pólos Norte e Sul. E devido à aceleração desse processo, alguns cientistas acham que somente o degelo da Groelândia pode provocar um aumento dos níveis dos mares de até dois metros. Portanto, a visão inicial mais otimista, publicada na avaliação ambiental do Pnuma Year Book 2009, lançada em fevereiro, já foi ultrapassada em muito por análises científicas mais recentes divulgadas em março, durante encontro sobre o clima promovido em Copenhague, na Dinamarca. E os especialistas alertam: um metro de aumento do nível dos mares poderia desabrigar milhões de pessoas ao redor do planeta: cerca de 100 milhões na Ásia, 14 milhões na Europa, 8 milhões na África e 8 milhões na América do Sul. ABRIL/MAIO 2009 – Nº 106
Com o crescente degelo dos pólos, cientistas temem que o aumento do nível dos mares possa chegar a até dois metros de altura, o que desabrigaria milhões de pessoas em diferentes regiões do planeta
Alarme geral – As preocupações de cientistas, porém, não se limitam ao acelerado degelo dos pólos Sul e Norte. O Year Book 2009 aponta uma preocupação crescente em relação a gases-estufa que vêm sendo liberados devido a esse degelo, como o metano, que é mais potente, em termos de aquecimento global, do que dióxido de carbono (CO2). Somente no Oeste do Ártico, a temperatura estaria aumentando 3,5 vezes mais rápida do que no resto do globo. Pesquisadores avaliam, por exemplo, que o degelo da camada de subsolo do Leste da Sibéria pode se tornar irreversível, o que provocaria a liberação, ao longo de cem anos, de cerca de 250 bilhões de toneladas de carbono.
Ao monitorar os níveis de liberação do gás metano na atmosfera, cientistas encontraram um dado intrigante e alarmante: a sua concentração aumentou em 2007 e 2008 após uma década de relativa estabilidade. E as maiores concentrações de metano foram detectadas justamente em regiões atmosféricas mais ao sul e ao norte do planeta. E se não bastassem as más notícias vindas dos pólos Norte e Sul, o Year Book 2009 assinala outra dado preocupante: a possível diminuição da capacidade das florestas em absorver CO2. O aumento das temperaturas terrestres pode estar estressando em demasia as árvores ao redor do planeta, fazendo com que o processo de fotossíntese – que sequestra carbono – termine mais cedo nos meses de verão. Além disso, florestas estressadas se tornariam mais vulneráveis à poluição, doenças e pestes, provocando um ciclo vicioso de diminuição do seu potencial de estocagem de carbono, o que tornaria mais dramática ainda a situação ambiental planetária. Enquanto isso, os países desenvolvidos e em desenvolvimento não chegaram ainda a propostas consistentes de diminuição radical de suas emissões de gases-estufa para serem colocadas na mesa de negociações na Conferência do Clima de Copenhague, a ser realizada em dezembro, para se desenhar uma nova etapa para o Protocolo de Kyoto.
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Escala e urgência para iniciativas que rem
Última alternativa para a conservaç
CLÓVIS RICARDO S
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exploração dos recursos naturais no território brasileiro, intensa nos últimos cinco séculos, caracterizou-se pelo descontrole e excessos. Ciclos econômicos foram se sucedendo, gerando fortes pressões sobre os recursos naturais. A exploração das áreas naturais pelo extrativismo seguida da simplificação radical das paisagens para a implantação de pastagens, culturas agrícolas, monoculturas de árvores e cidades modificaram drasticamente boa parte do território e representaram fielmente nosso modelo de desenvolvimento. O esforço de frentes de colonização é historicamente reconhecido pela bravura com a qual nossos antepassados conseguiram ampliar fronteiras, pondo abaixo a natureza selvagem e inóspita. Por muito tempo, praticamente não existiu qualquer preocupação relacionada à proteção da natureza, excetuando-se eventos esporádicos, como a restauração de amplas áreas degradadas no Rio de Janeiro, ainda na época do Império, ou a criação de algumas poucas áreas de conservação como os parques nacionais de Itatiaia e do Iguaçu, na década de 1930. Mais recentemente, em especial a partir da criação do Código Florestal Brasileiro, nos anos 1960, uma série de instrumentos, visando a proteger o patrimônio natural, passam a ser desenvolvidos. Surge um complexo arcabouço legal, construído, em tese, pela expectativa de que a sociedade pudesse ampliar suas atividades econômicas a partir de limitações que evitariam a destruição excessiva de áreas naturais. Também pretendemos explorar parte de nossas florestas de maneira mais controlada, com a instituição dos planos de manejo florestal. A proposta visava a permitir licenciamentos de exploração com base em estudos téc-
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A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental promove uma série de atividades preservacionistas, como o replantio de Mata Atlântica
nicos, capazes de indicar a intensidade de intervenção possível em cada área a ser manejada sem danos excessivos ao ambiente natural. Surgem aos poucos órgãos públicos com responsabilidades na área ambiental, em parte atuando na gestão e no controle de áreas naturais. Multiplicam-se as unidades de conservação, cada vez mais diferenciadas e garantindo em parte a proteção de áreas em bom estado de conservação. Organizações do Terceiro Setor, capitaneadas pela Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, fundada há mais de 50 anos, passam a cumprir um papel que permite o incremento nos avanços da agenda conservacionista no Brasil. Por certo os cenários pautados pela inconsequência e pelos abusos entraram na ilegalidade e deixaram de ser
aceitos pela sociedade, em grande parte favorável a iniciativas de proteção da natureza. O resumo incompleto relatado anteriormente sobre o avanço das políticas de conservação indica que vivemos um estágio muito mais favorável nos dias de hoje se comparado a poucos anos atrás. Tendências importantes amplificando a capacidade de medidas de proteção de áreas naturais. Dentre estas, é relevante considerar um ainda singelo aceno da iniciativa privada para com o tema, que hoje começa a despertar seu interesse pela conservação, em especial por sentir os efeitos da degradação ambiental sobre seus negócios. Empresas, pouco a pouco, começam a reconhecer o papel dos serviços ecossistêmicos. A água, a biodiversidade, a segurança contra catástrofes ABRIL/MAIO 2009 – Nº 106
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muneram a conservação de áreas naturais
ção de remanescentes ameaçados? Divulgação
SCHRAPPE BORGES naturais, o equilíbrio do clima e muitas outras benesses concedidos pela natureza, apenas supostamente disponibilizadas de maneira graciosa e ilimitada, fazem parte das vantagens das ações de conservação de áreas naturais. Os serviços ecossistêmicos nem são de graça nem são ilimitados. Sem a proteção adequada de parte de nosso território com áreas bem conservadas, perdemos os recursos indispensáveis a nossa sobrevivência. E mesmo que não sejamos os responsáveis diretos pela destruição, estaremos sendo afetados pela carência e indisponibilidade de cada vez mais insumos prestados pela natureza ao ser humano. Estaremos próximos de uma situação em que áreas protegidas, provedoras de inestimáveis serviços à humanidade, passarão a ser adequadamente valorizadas? Serão objeto de desejo de governos e empresas interessadas em perpetuar as condições mínimas para nossa existência? Alguma coisa não se encaixa com todo o raciocínio desenvolvido neste texto. Se avançamos tanto, onde estão os resultados de que precisamos? Por que ainda há tantas informações negativas sobre o desafio da conservação? Constante descumprimento das leis, pressões políticas em prol do uso exacerbado dos recursos naturais, corrupção, desvios de recursos, falta de estrutura, investimentos insuficientes, superficialidade, ações destituídas de princípios técnicos e de noções de prioridade – tudo isso e muito mais ainda representam a duríssima realidade nos dias de hoje. Mais sério ainda, o limiar de desaparecimento de muitos dos biomas brasileiros é um fato. Na Amazônia, ainda uma região com vastas áreas com enorme potencial de proteção, o desmatamento não vem sendo contiABRIL/MAIO 2009 – Nº 106
do nem controlado. Longe disso, a impressão mais comum é de que os instrumentos convencionais que disponibilizamos representam mais um placebo para inibir reações negativas do que um meio efetivo de enfrentar a situação. Em todo o resto do território, também vastas áreas continuam a ser perdidas todos os dias. Algumas delas em estado desesperador, como as florestas com araucária e os campos naturais do Sul do Brasil, praticamente já destruídos por completo. A conclusão mais lógica é de que todos os degraus percorridos, por mais relevantes que tenham sido, simplesmente não são suficientes para mudar o rumo dramático da degradação da natureza e da perda dos serviços ecossistêmicos em nosso país. Continuamos em direção a um abismo de consequências incrivelmente sérias, com desdobramentos para a área social e econômica só não adequadamente reconhecidos pela falta de interesse em medir e comunicar o que já temos desperdiçado de recursos e gerado de perdas. E quais são e continuarão a ser as consequências dessas perdas aos nossos bolsos e na qualidade de nossas vidas? A demanda pela conservação de áreas naturais no Brasil se encontra em situação de extrema criticidade e que prescinde, fundamentalmente, de iniciativas com três condições básicas: investimentos adequados e com base em ciência, medidas de curto prazo e na escala necessária. Nada com essas premissas somadas vem ocorrendo, o que nos coloca numa situação de franco desespero. Em muitos casos, o tempo já é o maior inimigo, e reverter situações baseia-se em acreditar em milagres. Com base nessas afirmações, que provavelmente venham a ser contestadas por muitos, seria lógico apostar
em saídas que realmente nos dessem alguma chance. De qualquer maneira, estratégias potenciais para a conservação da natureza no Brasil já são, em grande parte dos casos, uma questão de assumir riscos. Riscos de criar incentivos para o setor privado ou diferentes fontes externas para ocorrer uma corrida de investimentos e garantir a conservação de remanescentes naturais ainda bem conservados e que estejam em condição de ameaça iminente de destruição. Riscos para identificar proprietários de áreas naturais e, ao invés de apenas tentar impor o rigor da lei (fórmula falida muito embora necessária), estabelecer parcerias que valorizem esses remanescentes e agreguem valor aos seus donos. Riscos de apostar na aplicação em escala de iniciativas numerosas experimentadas ao longo dos últimos anos por organizações não-governamentais, empresas privadas e pelo próprio governo, focadas no reconhecimento e no pagamento de serviços ecossistêmicos para proprietários de áreas naturais relevantes. Riscos de inserir a conservação da natureza nas prioridades da sociedade, caracterizando esse desafio como uma busca pelo equacionamento de um dos mais sérios problemas sociais e econômicos da história da humanidade – o desmonte da natureza de nossos tempos. Clóvis Ricardo Schrappe Borges, fellow da Fundação Ashoka e Fundação Avina, é um dos fundadores e diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – organização do Terceiro Setor que tem como missão trabalhar pela conservação da natureza, especialmente de ecossistemas como a Floresta Atlântica e a Floresta com Araucária.
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Parte das publicações, periódicos e DVDs recebidos pela biblioteca ARACRUZ CELULOSE. Relatório anual de sustentabilidade 2007. Publicação: Aracruz, Espírito Santo. 2007. 150p.
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AGENDA
XXIX MIT Global Change Forum – De 24 a 26 de junho, em Roma (Itália). Realização: Eni. Informações pelo email FKG@mit.edu ou pelo site www.eni.it. World Climate Conference – De 31 de agosto a 4 de setembro, em Genebra (Suíça). Realização: Organização Mundial de Meteorologia. Informações em www.wmo.int/wcc3/index_en.html.
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Paz antiecológica Encontro promovido na sede do Pnuma, em Nairobi (Quênia), em março, debateu uma série de medidas ambientais a serem adotadas pelas missões de paz em zonas de conflito, como o emprego de tecnologias verdes e práticas de manejo sustentável. Estudos de vários países envolvidos com ações de reconstrução sugerem que a demanda por recursos naturais críticos, pelos responsáveis pelas operações de paz, como água e madeira, pode ter impacto significativo no meio ambiente. Na reunião, foi citado como exemplo de boas práticas o caso da missão de paz da ONU no Sudão, que está investindo US$ 5 milhões para que seus 10 mil homens adotem ações verdes como novas tecnologias para o tratamento de lixo e o uso eficiente de água e energia, com o estabelecimento de meta ambiciosa de redução do consumo de água em 30%, de gasto de energia em 25% e do volume de lixo em 60%. Veja relatório sobre o tema em http://postconflict.unep.ch/publications/pcdmb_policy_01.pdf.
Dia Mundial do Meio Ambiente O tema para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2009, a ser promovido pelo Pnuma na Cidade do México, em 5 de junho, é Seu Planeta Precisa de Você-UNido para Combater as Mudanças Climáticas. Isso reflete a urgência de as nações assinarem um novo acordo na crucial convenção do clima de Copenhague, em dezembro, e os vínculos com a superação da pobreza e a melhoria da manutenção das florestas. A escolha do México como país anfitrião da cerimônia reflete seu crescente envolvimento na luta contra as mudanças climáticas, incluindo o aumento de sua participação nos mercados de carbono.
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Empresa inovadora Divulgação
Prêmio para Goldemberg O físico brasileiro José Goldemberg foi agraciado com a edição de 2008 do prestigiado prêmio ambiental Blue Planet Prize, da fundação japonesa Asahi Glass Foundation, ao lado do cientista francês Claude Lorius. O trabalho do brasileiro foi reconhecido internacionalmente por iniciativas como sua contribuição na formulação e implementação de políticas associadas ao aperfeiçoamento do uso e conservação de energia. Já o francês foi premiado por trabalhos como a descoberta de eras passadas de mudanças climáticas na Terra, ao analisar a superfície do gelo polar, e da relação entre mudanças climáticas e concentrações de dióxido de carbono na atmosfera durante períodos glaciais e interglaciais.
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Pequim: Olimpíadas ecológicas Relatório do Pnuma de avaliação dos resultados ambientais propostos pelos organizadores das Olimpíadas de Pequim informa que os chineses atingiram ou, em alguns casos, até mesmo ultrapassaram as metas estabelecidas de redução da poluição atmosférica, de grandes investimentos em transporte público e do uso de energias renováveis, entre outras. Estima-se que as autoridades chinesas tenham investido mais de US$ 17 bilhões em projetos ambientais para os jogos. No entanto, o relatório Beijing 2008 Olympic Games – Final Environmental Assessment enfatiza que algo mais poderia ter sido feito em termos do engajamento ambiental de ONGs e do corte de emissões de carbono durante os Jogos Paraolímpicos, promovidos logo após as Olimpíadas de Pequim.
O governo federal ampliou seu apoio a empresas inovadoras desde a aprovação da Lei de Inovação, tornando possível que recursos públicos sejam repassados para empresas privadas como forma de subvenção a suas atividades inovadoras. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, tem realizado uma série de chamadas públicas para seleção dessas empresas. Em março, foi lançado o Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), que, criado pela Finep e com apoio do Sebrae/RJ, tem o objetivo de incentivar o desenvolvimento de micro e pequenas empresas que tenham a inovação como vetor principal. No primeiro ano de operação, cada empresa selecionada poderá contar com R$ 120 mil, em recursos não-reembolsáveis. No segundo ano, a empresa poderá se beneficiar de crédito adicional de mais R$ 120 mil, mas tendo que devolver esse financiamento em cem vezes sem juros. O Prime abrange setores como saúde, agronegócios, bens de capital, petróleo e gás, audiovisual, biotecnologia, tecnologia da informação e comunicação. No Rio de Janeiro, foram selecionadas as incubadoras de empresas âncoras Coppe/UFRJ, Instituto Gênesis – PUC/Rio e Fundação BioRio, que irão atuar como agentes financeiros da Finep e serão responsáveis pela seleção dos empreendimentos no estado. Mais informações em www.incubadora.coppe.ufrj.br, www.genesis.puc-rio.br ou www. biorio.org.br.
Mudança climática na África Apesar de sua relativa baixa contribuição para o aquecimento global, algumas cidades africanas estão sendo afetadas de maneira desproporcional pelo aumento das emissões de gases-estufa. Esta foi uma das conclusões de encontro de prefeitos de grandes cidades do continente promovido, em fevereiro, na sede do Pnuma, em Nairobi (Quênia), pelo órgão da ONU UNHabitat. As maiores preocupações sobre o esperado aumento dos níveis dos mares partiram de prefeitos de cidades costeiras e de estados de ilhas pequenas. A prefeita da capital das Ilhas Seychelles, Marie-Antoinette Alexis, assinalou: “Todas as nações devem trabalhar conjuntamente para combater a mudança climática. Nas Seychelles, nossas 116 ilhas estão na linha de frente. Nós podemos perder nossas praias, nosso turismo, nossa terra e nosso estilo de vida se algo não for feito rapidamente”.
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São Paulo em defesa do meio ambiente Instituto Terra mostra ser possível mobilização por sociedade sustentável Divulgação
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rganização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), o Instituto Triângulo de Desenvolvimento Sustentável vem desde 2003 desenvolvendo mecanismos que incorporam práticas adequadas à sustentabilidade no dia-a-dia das pessoas, com o objetivo de difundir práticas ecologicamente corretas na busca de um ambiente com mais qualidade de vida. Sediado em Santo André (SP), o Instituto Triângulo iniciou seu trabalho mobilizando milhares de pessoas da Grande São Paulo para a coleta seletiva de óleo de cozinha usado. Num esforço casa a casa, os colaboradores do instituto levavam informações que mostravam a importância de se assumir uma postura mais responsável em relação ao ambiente urbano e pediam aos moradores que não jogassem mais o óleo de cozinha no lixo ou nos ralos e vasos sanitários. O diretor-conselheiro do Instituto Triângulo, Eduardo Maki, lembra que esse hábito, além de contaminar o solo e a água, proporciona grandes prejuízos econômicos, pois o óleo é um dos grandes responsáveis pelo entupimento de canos domiciliares e das redes do esgoto público. Segundo ele, em apenas um ano, esse trabalho mobilizou mais de 400 mil famílias do Grande ABC e de São Paulo para a coleta seletiva do óleo. Recolhido diretamente nas residências, o óleo passou a ser transformado em sabão biodegradável na usina de reciclagem do instituto, gerando trabalho e renda para dezenas de colaboradores. Atualmente, cerca de 10 toneladas de óleo por mês são coletadas em mais de 175 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), em supermercados, empresas, condomínios residenciais e escolas da Grande São Paulo, do interior do estado e do litoral.
Instituto Terra mobiliza milhares de paulistanos para a coleta seletiva de óleo de cozinha usado, transformando-o em sabão biodegradável
VivaMundo – Em apoio ao seu trabalho, o Instituto Triângulo dedicou seis anos em pesquisas para a criação de ferramentas que auxiliam pessoas a contribuir com a melhoria do ambiente em que vivem. Como resultado, em dezembro de 2008, foi lançado o programa não-governamental VivaMundo, que, segundo Maki, nada mais é do que uma grande ferramenta com a missão de incluir a sociedade civil na solução de questões socioambientais urbanas. Seus temas – divididos em 21 campanhas que envolvem meio ambiente, solidariedade e cidadania, e que podem ser ampliadas pelos próprios associados – têm relação direta com os problemas urbanos.
A reciclagem, por exemplo, é um dos grandes focos do programa, que oferece aos associados um exclusivo serviço de coleta mensal de materiais como papel, garrafas PET, latas de alumínio e embalagens longa vida, para estimular a prática do descarte seletivo de resíduos recicláveis. As campanhas solidárias estimulam a participação dos associados em campanhas de doação de sangue, de agasalhos, de remédios, de óculos, entre outras, e também para ações como caronas solidárias e o plantio de árvores, que melhoram a qualidade do ar. “Queremos estimular cada vez mais esse desejo de participar que cada cidadão tem dentro de si de encontrar soluções para os problemas que nos cercam”, diz Maki.
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ABRIL/MAIO 2009 – Nº 106