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BRASIL PNUMA

www Visite .bra noss silpn o si uma te .org Nºº 108 .br AGO/SET 2009

Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Steiner defende nova economia Diretor do Pnuma fala para empresários brasileiros sobre investimentos verdes

Em recente viagem ao Brasil, no

início de agosto, o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, defendeu, em encontro empresarial, os investimentos na chamada economia verde, em setores como novas tecnologias para a produção de energia e de alimentos e preservação das florestas, com sua biodiversidade biológica servindo de base para a geração de empregos e riqueza. No 3º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável (Sustentável 2009), promovido, em São Paulo (SP), pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Steiner falou da necessidade urgente dos países promoverem ações de combate ao aquecimento global, para estabilizar em até sete anos o crescimento das emissões de CO2. Segundo ele, um dos pontos-chave para se conseguir a reversão das emissões de gases-estufa é a retomada do crescimento econômico, após a crise que explodiu no ano passado, sobre novas bases – a de uma economia verde. Steiner chamou a atenção de que até agora foram gastos mundialmente mais de US$ 3 trilhões em pacotes de estímulo econômicos para salvar bancos e empresas, como montadoras de carros, mas que bem menos do que isso poderia ser direcionado para investimentos na nova economia verde. A título comparativo, recente estudo do Pnuma estima que, entre 2009 e 2011, pelo menos US$ 750 bilhões – ou 37% dos atuais pacotes de estímulo econômico e o equivalente a 1% do PIB mundial – seriam necessários para fi-

Jefferson Rudy/MMA

Uma das bases da economia verde são investimentos na exploração sustentável dos recursos florestais, como na produção de borracha

nanciar uma recuperação econômica sustentável, investindo-se no “esverdeamento”de cinco setores-chave da economia: construção civil, energia, transporte, agricultura e recursos hídricos. Inovação e ciência – “Essa economia verde está repleta de oportunidades para empresas e empreendedores. São desafios em quase todas as áreas, baseados na inovação, no conhecimento e na ciência”, continuou Steiner, alertando sobre uma das questões fundamentais para se impulsionar essa nova economia: a definição de prioridades de investimentos. De acordo com relatório do Pnuma, lançado em junho passado, o crescente entendimento de que as emissões de dióxido de carbono precisam começar a cair a partir de 2015, para evitar mudanças climáticas dramáticas, deve

impulsionar investimentos em energias limpas. Para o organismo ambiental da ONU, os investimentos anuais em energias renováveis, eficiência energética e captura e armazenamento de carbono precisam alcançar meio trilhão de dólares até 2020, o que representaria uma média de investimentos de 0,44% do PIB global. Para o Pnuma, esse níveis de investimento não são impossíveis de se atingir, especialmente se se observar o crescimento dos últimos quatro anos das aplicações em fontes renováveis de energia, que passaram de US$ 35 bilhões para US$ 155 bilhões. Mas para que sejam realizados, terá que haver fortes comprometimentos sociais com paradigmas energéticos sustentáveis e de baixa emissão de carbono.


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EDITORIAL Em nossa capa e aqui ao lado, destacamos a presença no Brasil do diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, que falou em encontro empresarial e manteve conversações, entre outros, com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Steiner defendeu a implantação de uma nova ordem econômica – a economia verde, fundamental para a humanidade combater com eficácia o crescente aquecimento global. Na página 3, falamos de estudo apontando um novo desafio para os governos: a substituição com urgência do uso dos gases hidrofluorcarbonos (HFCs) em sistemas de refrigeração, entre outros, pois contribuem para o aquecimento do planeta. Em artigo publicado nas páginas centrais, o fundador e diretor-executivo da Global Footprint Network, Mathis Wackernagel, que criou com o professor William Rees a medida de Pegada Ecológica, defende a importância do reconhecimento de um novo conceito ambiental: os “credores ecológicos”, ou seja, países capacitados a prover o mundo de serviços ecológicos, como florestas que retiram CO2 da atmosfera. Na contracapa, divulgamos a campanha “Saco é um Saco”, do Ministério do Meio Ambiente, que inicialmente com o apoio da rede de supermercados Wal-Mart, vem agregando novos parceiros em um objetivo fundamental: desestimular o uso das sacolas plásticas, que tantos males provocam no meio ambiente quando descartadas de forma errada. Um abraço e até o próximo.

Haroldo Mattos de Lemos Presidente

Pnuma reforça laços com MMA Steiner e Carlos Minc discutem ações de apoio a energias renováveis Arquivo Pnuma

Em encontro em Brasília, em agosto, com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, defendeu a economia verde, em especial os investimentos em fontes de energias renováveis, como a eólica. O encontro, no gabinete do ministro, deixou claro o entendimento dos dois sobre o tema. Minc disse ser um entusiasta das energias limpas, dando como exemplo a Carta dos Ventos que assinou em junho, em Natal (RGN), com dez secretários de estados e os representantes brasileiros do setor. O documento defende a busca de consenso sobre a necessidade de maior participação da energia eólica na matriz energética brasileira. Steiner falou então de dados do relatório do Pnuma, divulgado em junho, mostrando que os US$ 155 bilhões investidos, em 2008, em companhias e projetos de energia limpa em todo o mundo já representaram a maior parte (62%) do total de US$ 250 bilhões gastos, no mesmo período, com todos os tipos de fontes de energia. Nesse relatório, o Brasil é citado como o maior mercado mundial de energias renováveis. Pelo levantamento do Pnuma, cerca de 46% da energia produzida no país provêm de energias renováveis, sendo que 85% desse percentual têm a ver com seus enormes recursos hidrelétricos e suas já tradicionais indústrias de bioetanol.

Segundo o Pnuma, aproximadamente 90% dos novos carros brasileiros rodam tanto com etanol quanto com derivados de petróleo – e que estes já contam com cerca de 25% de etanol misturados. Ao final do ano passado, o etanol foi responsável por mais de 52% do consumo de combustíveis por veículos leves. E no caso da energia dos ventos, embora ainda com investimentos limitados, o Brasil vem aumentando gradativamente seu parque eólico. O relatório registra ainda que o Brasil é responsável por mais de 90% dos novos investimentos na América Latina, mas vários outros países da região, como Chile, México e Peru, estão buscando implementar marcos regulatórios de apoio às energias renováveis. Mais informações sobre esse estudo no site do Instituto Brasil Pnuma, em www.brasilpnuma.org.br, ou do Pnuma, em www.unep.org.

Presidente: Haroldo Mattos de Lemos Diretor Técnico: Carlos Gabaglia Penna Diretor Jurídico:

Roberto Messias Franco (presidente do Ibama) Conselho Fiscal: Joper Padrão do Espirito

Oscar Graça Couto Diretor Administrativo: Roberto Carrilho Padula Jornalista Responsável:

Santo, Roberto de Faria Almeida, Telma de Avellar Guimarães (titulares), João Alfredo Noronha

Ronie Lima (MTb 15.415/RJ) Referências Bibliográficas: Josy Soares da Silva Mendes de Moraes

Viegas, Saint Clair Zugno Giacobbo, Vicente Hermogerio Schmall (suplentes).

Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell Impressão: Corbã Conselho Consultivo: Adolpho de Marinho Pontes (ex-deputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (ex-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes,AL), Cândido Mendes de Almeida (diretor-geral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Henrique de Abreu Mendes (ex-

Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc (ministro do Meio Ambiente), Hélio Saboya (ex -procurador geral do Estado do Rio de Janeiro), Henrique Brandão Cavalcanti (ex-

INSTITUTO

ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L. Dubois (presidente do Instituto Rede

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Brasileira Agroflorestal/Rebraf,RJ), João Augusto Fortes (presidente da Sociedade Civil Pró-Rio),

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Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/Firjan), Márcio Nogueira Barbosa (vice-diretor executivo da Unesco), Nelio Paes de Barros (ex-diretor administrativo do Instituto Brasil Pnuma), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (ex- presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro), Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin (presidente da SOS Mata Atlântica,SP),

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O interessado em tornar-se sócio do Instituto BRASIL PNUMA e receber este informativo deve fazer contato pelo nosso telefone ou pelo email.

www.brasilpnuma.org.br COMITÊ BRASILEIRO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASIL PNUMA Av. Nilo Peçanha 50, sala 1.708 – Centro CEP 20.020-906 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Telefax: (21) 2262-7546 CGC: 40.200.230/0001-19 Emails brasilpnuma@brasilpnuma.org.br brasilpnuma@gmail.com

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Ciência alerta sobre gás-estufa Estudo aponta necessidade de substituir HFCs, usados em sistemas de refrigeração

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studo de um grupo internacional de cientistas – publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e divulgado pelo Pnuma – aponta a necessidade de se acelerar as ações mundiais pela substituição do uso de um grupo de gases que provocam efeito estufa conhecidos como hidrofluorcarbonos (HFCs). Os cientistas estão preocupados com o aumento do uso desses gases nos próximos anos, em produtos como espumas para isolamento, ares-condicionados e refrigeradores, em processos de substituição de substâncias químicas que destroem a camada de ozônio. O esperado aumento do uso dos HFCs tem a ver em parte com o sucesso do Protocolo de Montreal, que, administrado pelo Pnuma, estabelece a substituição progressiva pelos países de gases como o clorofluorcabonos (CFCs), que são extremamente danosos à camada de ozônio. Utilizados em equipamentos como refrigerados e ares-condicionados, esses

gases têm também influência no aumento do aquecimento global. Segundo os cientistas, se nada for feito para a contenção do uso dos HFCs, o volume de sua presença na atmosfera, por volta do ano de 2050 – em um cenário otimista em que as emissões de dióxido de carbono das nações estejam estabilizadas em 450 partes por milhão –, pode ser equivalente a 45% do total das emissões de CO2. O cientista que liderou o estudo, Guus Velders, da agência holandesa de análise Netherlands Environmental Assessment Agency, assinalou que os HFCs representam “uma ameaça significativa aos esforços mundiais para estabilizar as emissões climáticas”. Para Velders, em um cenário mais pessimista, em que as emissões de CO2 aumentem muito em 2050, o uso crescente de HFCs pode atingir algo entre 9% e 19% das emissões de dióxido de carbono, o que equivaleria ao efeito de gases-estufa emitidos durante seis a 13 anos. Fotos: Divulgação/MMA

Sucesso do Protocolo de Montreal gera problemas para o clima do planeta O

Protocolo de Montreal, que entrou em vigor nos anos 1980, é uma história de sucesso, demonstrando o alcance que podem ter acordos internacionais entre países, desde que haja decisão política e investimentos em soluções alternativas. O protocolo foi idealizado para substituir por outras substâncias químicas o uso de gases como os CFCs em sistemas de refrigeração. Os CFCs destróem a camada de ozônio que envolve a Terra, protegendo-a dos raios ultravioletas do Sol. O Pnuma contabiliza que desde da entrada em vigor do Protocolo de Montreal, foram substituídas no mundo cerca de 97% de cem substâncias químicas danosas à camada de ozônio. Mas, em meio aos bons resultados, cientistas se depararam com outra ameaça ao meio ambiente: um dos problemas da substituição dos gases como os CFCs pelos HFCs é que estes também provocam o aumento da temperatura da Terra, acelerando as mudanças climáticas em curso.

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Com o uso de centros de regeneração de fluídos refrigerantes e de máquinas recolhedoras de CFCs, 97% das substâncias danosas à camada de ozônio foram substituídas

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Credores e devedores ecológ T

odos nós conhecemos o conceito de países credores como aqueles que emprestam recursos financeiros para instituições e países distantes. Mas há um outro tipo de país credor que financia as economias e os meios de vida em lugares distantes. Os chamados “credores ecológicos” são países que têm mais biocapacidade (habilidade dos ecossistemas para produzir recursos e absorver resíduos) que o necessário para benefício próprio. Ao prover serviços ecológicos – desde a exportação de recursos madeireiros, por exemplo, até a remoção de CO2 da atmosfera –, colaboram para manter o recurso básico de que depende o resto do mundo. Com uma ampla biocapacidade, que inclusive excede significativamente a demanda ecológica de sua própria população, o Brasil é um dos principais credores ecológicos. Com a contínua escalada das pressões sobre recursos globais, essa reserva ecológica será progressivamente um recurso vital e valioso, mas que também se torna cada vez mais frágil. Assegurando o êxito econômico em um mundo de recursos escassos Há apenas cinco décadas, a vasta maioria da população mundial vivia em países que possuíam reservas ecológicas. Hoje, aumentamos nossa demanda sobre serviços da natureza para tão alto nível que 80% da população mundial agora vivem em países que são “devedores ecológicos”, pois usam mais recursos e serviços ecológicos que os produzidos pelos ecossistemas presentes no interior de suas fronteiras. Esses países dependem de reservas de recursos concentradas nos poucos países que possuem mais biocapacidades que as que utilizam. Por meio da nossa Iniciativa de Credor e Devedor Ecológico, a Global Footprint Network está convocando especialistas em formulação de políticas e tomadores de decisão para iniciar um diálogo sobre a crescente importância de biocapacidade para a prosperidade e a estabilidade econômica. Se tivermos êxito, os políticos começarão a reconhecer tanto os benefícios tangíveis de se manter os recursos ecológicos quanto o risco que a liquidação desses recursos representa para seus interesses nacionais de longo prazo. Eles irão ver que a diminuição de déficits ecológicos aumentará cada vez mais a confiabilidade da economia de qualquer país.

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MATHIS WA

PERCENTUAL DA BIOCAPACID 1961 - 54%

Considere o Brasil, por exemplo. Alguns podem pensar que possuir tanto capital ecológico significa que o país não precisa se preocupar com a escassez de recursos. Na realidade, a verdade é o contrário. Uma vez que ecossistemas intactos se tornam cada vez mais raros, a riqueza ecológica do Brasil será um recurso de crescente valor tanto para assegurar o bem-estar de sua população quanto para manter sua economia forte e competitiva. Enquanto o mundo como um todo se direciona para um overshoot (*), as demandas por esses recursos – diretas, por meio do comércio, ou indiretas, por meio de fenômenos como as mudanças climáticas – irão crescer. No entanto, a fim de se beneficiar de sua riqueza natural, o interesse do Brasil é mais por mantê-la do que de liquidála, como fizeram tantos outros países. Por exemplo, o Brasil poderá encorajar práticas que mantenham a produtividade agrícola sem prejudicar determinados ecossistemas e sem por em perigo a atual capacidade com o aumento de pesticidas ou da erosão dos solos. Outra ação fundamental será o foco em decisões que trarão consequências de longo prazo. A construção de infraestruturas – casas, estradas, escritórios, usinas energéticas, diques, transportes – pode continuar por mais 50 ou 100 anos. Os tomadores de decisão devem se perguntar: estamos investindo em recursos que representam oportunidades ou ciladas? Nossa nova infraestrutura está nos deixando um legado positivo que nos permite ser mais competitivos em um mundo de recursos escassos ou ela é uma cilada que prejudicará nossa riqueza natural? Revigorando o debate climático Por que importa se um país é um credor ou um devedor ecológico? A razão tem a ver com o fato de que, por mais de duas décadas, a humanidade tem demandado recursos e produzido resíduo (na forma de emissões de CO2) mais rapidamente do que os recursos podem regenerar-se e do que o resíduo pode ser absorvido – uma condição conhecida como “overshoot ecológico”. No início dos anos 1960, a humanidade consumiu apenas cerca de metade do que o AGOSTO/SETEMBRO 2009 – Nº 108


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gicos: o que cabe ao Brasil?

ACKERNAGEL

DADE CONSUMIDA DA TERRA 2005 - 131%

planeta Terra podia prover. Desde então, o aumento da população humana e do consumo per capta de recursos têm provocado a escalada do overshoot. Nossas contas concluem que em 2005, o mais recente ano para os quais há dados disponíveis, a demanda humana excedeu em 30% a capacidade de regeneração da Terra. Os resultados do overshoot são claros e prementes: a rapidez das mudanças climáticas, a insuficiência de colheitas, a perda de biodiversidade, a diminuição de águas doces, a redução das florestas e o esvaziamento da pesca. Apesar dessas rápidas tendências, as negociações globais sobre as crises ambientais estão estagnadas em longos debates e impasses. A maioria dos líderes políticos vê poucos benefícios estratégicos em tomar atitudes corajosas e em fazer políticas ousadas. O caminho para alcançar acordos globais (como o emergente acordo de Copenhague sobre mudanças climáticas) tem sido extremamente frágil. Agora com a debilitada situação econômica mundial, há uma alta probabilidade de ajuste. Mas o fato é: se Copenhague for pouco eficiente, o mundo se tornará mais imprevisível, e isso deverá obrigar os países a considerar a escassez de recursos ainda mais seriamente do que sob um regime internacional estabelecido em Copenhague. A perspectiva de um credor/devedor acerca do mundo põe em discussão o elemento revigorante do interesse próprio de um país ou de uma região. Países credores como o Brasil têm motivo econômico, político e estratégico para preservar suas reservas ecológicas. Países devedores como o México ou a Suíça têm um interesse direto em reduzir sua exposição por meio da minimização de sua dependência de recursos. Reconhecer que a humanidade está movendo-se velozmente rumo à escassez de recursos e que reinventar nossa infraestrutura urbana para enfrentar essa escassez leva tempo – possivelmente várias décadas – torna claro que não há vantagem em esperar. Se acordos coletivos irão certamente acelerar as atitudes, postergá-las gerará aumento de custo e de risco. AGOSTO/SETEMBRO 2009 – Nº 108

Natureza: um recurso nacional chave Diferentemente de déficits comerciais, em que um crescente desequilíbrio é entendido como risco, o mesmo não tem sido verdade com déficits ecológicos. Considere os EUA, país que em 1961 manteve uma reserva ecológica, mas que agora utiliza 87% acima de sua capacidade de regeneração. O pensamento sobre recursos tem sido sempre o de que podemos consegui-los em algum outro lugar. No entanto, no mundo de hoje, ignorar a escassez de recursos é uma estratégia crescentemente arriscada. Até enquanto dispusermos de apenas uma Terra, a matemática é clara: nem todo mundo pode ser importador de recursos. Assim como para credores ecológicos, o futuro não lhes dá vantagens se eles não se prepararem bem para evitar as dificuldades. Uma vez que as reservas ecológicas ficam progressivamente raras, torna-se crítico para os países credores e devedores empreender novos relacionamentos e fazer políticas que protejam recursos naturais enquanto melhoram a saúde e o bem-estar. A Iniciativa de Credor e Devedor Ecológico irá ajudar países a desenvolver estratégias que reconheçam a natureza como um recurso-chave. Nesse jogo, todos podem vencer. Todos irão beneficiar-se da ação antecipada. Em abril, a Global Footprint Network reuniu-se com especialistas em políticas e representantes governamentais em Lima, no Peru, para lançar a iniciativa e começar uma série de conferências. A organização irá continuar a realizar encontros e sessões internacionais de trabalho durante todo o ano, incluindo a realização de um evento paralelo em Copenhague. No ano que vem, a Global Footprint Network planeja apresentar os resultados de uma sessão de trabalho em vários fóruns e conferências, levando a uma cúpula presidencial sobre biocapacidade no final de 2010. Uma vez que os líderes e seus apoiadores começarem a entender o valor inerente aos recursos ecológicos, a perspectiva pode mudar de “quanto mais reduzirmos o consumo de recursos e a emissão de resíduos, mais dificilmente seremos competitivos” para “quanto mais reduzirmos o consumo, maior será nosso bem-estar e menor nosso risco”. Isso muda a equação de um jogo de soma negativa, em que riqueza financeira é gerada à custa do meio ambiente, para um jogo de soma positiva, em que o objetivo econômico torna-se assegurar a máxima qualidade de vida com a mínima utilização de recursos. Mais informações sobre a Iniciativa de Credor e Devedor Ecológico da Global Footprint Network em www. footprintnetwork.org/creditors. (*) Overshoot significa exceder, ultrapassar limites acidentalmente – sem qualquer intenção. Mathis Wackernagel, Ph.D, fundador e diretor-executivo da Global Footprint Network, criou com o professor William Rees a medida de Pegada Ecológica

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Parte das publicações, periódicos e DVDs recebidos pela biblioteca AMBIENTE URBANO. São Paulo: Instituto Triângulo. ano 4, n. 33, mar. 2009. BOLETIM ABNT. Caminhos abertos aos inovadores. São Paulo, v. 7, n. 82, maio 2009. BOLETIM IRAM. Normas para fortalecer la cadena de provisión de alimentos, n. 152, fev. 2009. BOLETIM IRAM. Água: um desafio vital, Iram, n. 153, mar. 2009. CEMPRE ENERGIA. São Paulo: Cempre. n. 104, mar./abr. 2009. ECONOMIA E ENERGIA. Os caminhos para o petróleo e o gás no Brasil, Rio de Janeiro: Ecen. ano 13, fev./mar. 2009. ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. v. 14, n. 1, jan./mar. 2009.

REVISTA MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL. São Paulo: Tocalino. ano 78, mar./abr. 2009. REVISTA VIVERDE NATUREZA. Mananciais: cuidar para não acabar, São Paulo: Revista Viverde, ano 1, n. 1, ago. 2007. REVISTA VIVERDE NATUREZA. Catástrofes climáticas: mitos e verdades, São Paulo: Revista Viverde, ano 2, n. 8, fev. 2009. REVISTA VIVERDE NATUREZA. Guarapiranga: palco de transformações sociais, São Paulo: Revista Viverde, ano 3, n. 9, abr./maio 2009. ROBÈRT, Karl-Henrik. The natural step: a história de uma revolução silenciosa. São Paulo: Cultrix, 2002. 299p.

INFORMATIVO IEA. Projeto Mucky: protegendo nossos melhores primatas, Rio de Janeiro. ano 15, n. 88, mar./abr. 2009.

SAROLDI, Maria José Lopes de Araújo. Perícia ambiental e suas áreas de atuação. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. 168p.

PROJETO MATA ATLÂNTICA. A Mata Atlântica tem legislação específica. Projeto Mata Atlântica, 2009.

SISTEMA FIRJAN. Orientações para a obtenção de outorga do uso da água. Rio de Janeiro: GMA, 2006. 23p.

REVISTA DO EMPRESÁRIO DA ACRJ. A megalópole brasileira: de Campos a Campinas, Rio de Janeiro: ACRJ. ano 67, n. 1391, jan./fev. 2008. REVISTA DO EMPRESÁRIO DA ACRJ. Por um Rio melhor: candidatos a prefeito apresentam suas idéias. Rio de Janeiro: ACRJ. ano 67, n. 1394, jul./ago. 2008. REVISTA DO EMPRESÁRIO DA ACRJ. Inovação e empreendedorismo: receita para crescer e vencer, Rio de Janeiro: ACRJ. ano 67, n. 1396, nov./dez. 2008. REVISTA DO EMPRESÁRIO DA ACRJ. Uma cruzada contra o aquecimento global, Rio de Janeiro: ACRJ. ano 68, n. 1398, mar./abr. 2009. TER

SÚMULA AMBIENTAL. Resíduos industriais: da geração ao gerenciamento, Rio de Janeiro: Sistema FIRJAN, ano 18, n. 144, fev. 2009. SUSTAINABLE MOUNTAIN DEVELOPMENT. Biodiversity and climate change in the Himalayas, Nepal: Icimod, n. 55, mar. 2009.

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UNEP. Unep annual report 2008. Nairobi: Unep, 2009. 102p. VALLE, Cyro Eyer do. Meio ambiente: acidentes, lições, soluções. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2004. 256p.

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AGENDA

Expo Biodiesel 2009 – Congresso & Feira Internacional de Negócios e Oportunidades do Setor de Biodiesel – De 23 a 25 de novembro, no Rio de Janeiro (RJ). Realização: Orgadem (Organização de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios). Informações em www.expobiodiesel.org.br. XI Fimai e XI Simai – Feira e Seminário Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade – De 4 a 6 de novembro, em São Paulo (SP). Realização: Revista do Meio Ambiente Industrial. Informações em www.fimai.com.br ou pelos tels. (11) 3917-2878 e 0800-7701449.

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O governo do Reino Unido anunciou, em julho, o seu Plano de Transição para uma Economia de Baixo Carbono, em que descrimina as ações para o país conseguir alcançar, até 2020, metas domésticas de corte de 18% de suas emissões de gases de efeito estufa, em relação aos níveis de 2008. Dentre as ações previstas para transformar a matriz energética em fontes renováveis de energia, estão o aumento da eficiência energética de prédios, casas e dos transportes. O plano estipula, por exemplo, que até 2020 cerca de 40% da eletricidade venham de fontes de baixo carbono, como energia eólica. Nesse período, os carros deverão emitir, em média, 40% menos de carbono, em comparação com 2007. Com eficiência energética, pretende-se reduzir em 29% as emissões dos domicílio, em comparação com 2008. O sumário executivo do plano, em português, pode ser acessado em ukinbrazil. fco.gov.uk , e o documento completo, em inglês, em centralcontent.fco.gov.uk.

UNEP. From vision to action: Unep since Unced. Nairobi: Unep, 1997. 39p.

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Economia de baixo carbono

Blue Planet Prize 2010 Estão abertas até 15 de outubro as indicações para a edição de 2010 do prestigiado prêmio internacional Blue Planet Prize, da fundação japonesa The Asahi Glass Foundation. Podem ser indicadas pessoas que tenham demonstrado uma profunda compreensão dos problemas ambientais e que acreditam na importância da cooperação internacional na busca de soluções para eles. Os premiados de 2009 foram o professor japonês Hirofumi Uzawa e o professor do Reino Unido lord Nicholas Stern. Mais informações sobre o processo de indicação em www.af-info.or.jp.

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Contra o efeito estufa

Meio Ambiente Industrial

Em seu site (www.unep.org), o Pnuma está promovendo a campanha mundial de adesão Copenhagen Seal the Deal! – em prol da assinatura de um acordo consistente entre países para a segunda fase do Protocolo de Kyoto, previsto para entrar em vigor após 2012. Diante do avanço dramático dos efeitos climáticos, por causa do aquecimento global, cresce o coro internacional de lideranças sociais, empresas, governos e pessoas mais conscientes em prol de resultados mais significativos da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, a ser realizada em dezembro, em Copenhague (Dinamarca).

Para premiar ações empresariais em prol do meio ambiente, a revista Meio Ambiente Industrial promoveu em junho, em São Paulo (SP), a 4ª edição da Homenagem às Empresas Brasileiras Sustentáveis. No encontro, na sede do Conselho Regional de Química, foram homenageadas as empresas que possuem certificação em conformidade com a norma ISO 14001, Balanço Social e Ambiental e as que voluntariamente estão promovendo a mitigação (neutralização, compensação e inventário) de suas emissões de gases de efeito estufa. Dentre as empresas homenageadas, figuram o Banco Real, Biozyme Brasil Indústria e Comércio de Produtos Ecoeficientes, Bradesco, CBC Indústrias Pesadas S/A, Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira S.A., Conpacel – Consórcio Paulista de Papel e Celulose, Eaton, Grupo Ambitec, Holcim (Brasil) S.A., Moto Honda da Amazônia Ltda., MWM International Indústria de Motores da América do Sul, Nestlé, Resol, Sama S.A. Mineração Associadas, Siemens e Toyota do Brasil Ltda. A finalidade da homenagem é estimular a integração do desenvolvimento da sustentabilidade empresarial e a performance financeira, proporcionando às empresas, entre outros, o aumento de sua visibilidade no mercado nacional e internacional, a consolidação da credibilidade entre clientes, fornecedores e colaboradores e o incen-

A campanha internacional do Pnuma Billion Tree Campaign, que agora adotou a meta de incentivo ao plantio de 7 bilhões de árvores até o final deste ano – correspondente a cerca de uma árvore por cada habitante do planeta –, faz parte desse esforço para que os países signatários do Protocolo de Kyoto assinem metas mais audaciosas de redução de suas emissões de gases-estufa na segunda fase do tratado. Ainda como parte da campanha Copenhagen Seal the Deal!, cerca de 700 representantes de crianças e jovens de cem países, de dez a 24 anos, participaram da conferência Tunza International Children and Youth Conference, em agosto, em Daejeon (República da Coréia), e divulgaram declaração final assinalando sua preocupação e frustração em relação aos governos dos seus países, que “não estão fazendo o suficiente no combate à mudança do clima”. E acrescentam: “Precisamos de mais ações e menos falação”. Mais informação sobre a conferência dos jovens em www.unep.org/tunza.

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tivo ao consumo sustentável. Em uma edição especial, a Revista Meio Ambiente Industrial incluiu todos os participantes do evento e publicou a segunda edição do Inventário Socioambiental do Brasil. Para o presidente do Instituto Brasil Pnuma, Haroldo Mattos de Lemos (1º à esq.), que participou da premiação, o evento não é importante apenas para a Cidade de São Paulo, mas para o Brasil como um todo. “Sustentabilidade é um dever do empresariado, do governo e das pessoas. A ação individual, ao contrário do que muitos pensam, faz diferença. Muitas empresas têm a sustentabilidade como direcionamento de suas ações e vão além do que a legislação requer. Esse evento é uma verdadeira vitrine dessas empresas”, ressaltou. Segundo o diretor do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Dallari, “o empresariado, de um modo geral, mudou seu padrão de pensamento e comportamento na hora de fazer negócios. Hoje, eles buscam a competitividade a partir de boas práticas ambientais, entendem que é totalmente viável agir em prol do desenvolvimento sustentável”.

Prêmio von Martius Estão abertas até 25 de setembro as inscrições para a 10ª edição do Prêmio von Martius de Sustentabilidade, promovido pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. Com patrocínio da Gráfica Bandeirantes, Henkel e Tetra Pak e apoio do Pnuma, Ministério do Meio Ambiente, WWF-Brasil, CSR, CarbonFix, Sustentax e CEBDS, o prêmio visa a reconhecer o mérito de iniciativas de empresas, do poder público, de indivíduos e de entidades da sociedade civil na promoção do desenvolvimento em padrões socioambientais sustentáveis. Inscrições, informações e regulamento em www.premiovonmartius.com.br.

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Contra o uso dos sacos plásticos Campanha do Ministério do Meio Ambiente, com apoio do Wal-Mart, ganha adesões

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stima-se que anualmente 500 bilhões de sacos plásticos sejam descartados inadequadamente no meio ambiente mundial, formando uma maré de lixo, entupindo bueiros, causando enchentes e poluindo mares, rios e matando peixes. Para estimular o consumidor a repensar o hábito de utilização dessas sacolas, reduzindo-as sempre que possível, o Ministério do Meio Ambiente lançou, com apoio da rede de supermercados Wal-Mart, a campanha “Saco é um Saco”. Em termos de Brasil, estima-se que o consumo anual chegue a 12 bilhões de sacolas plásticas. Assim, diante do grande desafio de reduzir esse uso, a campanha aposta no poder de decisão do consumidor como ação transformadora de hábitos e atitudes, acabando por influenciar, por consequência, a conduta dos empreendedores. Ao estimular o empreendedorismo ecológico de grandes redes de supermercados e de outros segmentos empresariais, a campanha já conta com outros parceiros, como os supermercados Prezunic, a CPFL Energia, que estampa o slogan em suas contas de luz, e os metrôs de Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, que fazem publicidade gratuita nas estações. Por sua vez, a revista de bordo da Gol, com tiragem de 150 mil exemplares, está apoiando e publicou anúncio da campanha em sua edição de agosto. Apoio Cultural

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Divulgação/MMA

Apoio artístico – Vídeos da campanha estão sendo veiculados nas 400 salas da rede de cinemas Rain espalhadas pelo país, além de exibidos em algumas emissoras de TV. O grupo cultural AfroReggae, do Rio de Janeiro, também está apoiando, sendo responsável por dar voz à campanha, com seu fundador, José Júnior, protagonizando o vídeo principal de divulgação, em que estimula o cidadão a recusar, reduzir e reutilizar os sacos plásticos. Segundo a idealizadora da campanha, a secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do

Ministério do Meio Ambiente, Samyra Crespo, é preciso atrair mais parceiros e fortalecer a corrente dos consumidores conscientes, cada vez mais atentos à importância de se pesar as consequências do consumo de bens e serviços, adotando-se alternativas às sacolas plásticas. Ou seja, pensando não apenas em sua comodidade, mas no impacto que causam ao planeta. Em busca de alternativas, estados e municípios brasileiros têm legislado sobre o tema, tanto para restringir o uso de sacolas plásticas quanto para substituir o material convencional de polietileno – que leva anos para se decompor – por opções como o bioplástico e o papel, além das sacolas retornáveis, confeccionadas em material resistente. O Governo do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, sancionou, em agosto, lei que obriga os estabelecimentos comerciais a substituir os sacos plásticos em prazo de seis meses a três anos, além de dar incentivos ao consumidor: a cada grupo de 50 sacolas coletadas, o cliente poderá trocá-las por um quilo de feijão ou arroz; ou ainda obter um desconto de R$ 0,03 a cada cinco itens levados sem ser em sacos plásticos. As sacolas recolhidas pelos comerciantes seguirão para reciclagem, beneficiando-se assim cooperativas de catadores.

Impresso em papel ecoeficiente Printmax 90g/m² da Votorantim Celulose e Papel - VCP. Papel produzido com florestas plantadas de eucalipto. Preservando matas nativas, em harmonia com o meio ambiente. AGOSTO/SETEMBRO 2009 – Nº 108


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