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BRASIL PNUMA

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DEZ 2006/JAN 2007

Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Campanha por um bilhão de árvores Pnuma promove plantio mundial pela preservação de nossas florestas

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ara estimular ações voluntárias contra as mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa, o Pnuma está coordenando campanha mundial para o plantio, em 2007, de no mínimo um bilhão de árvores ao redor do planeta. Do cidadão comum a grandes corporações filantrópicas, passando por empresas e governos, todos os atores sociais estão convidados a participar da Plant for the Planet: Billion Tree Campaign. Idealizada pela professora Wangari Maathai, ambientalista laureada com o Prêmio Nobel da Paz de 2004, a campanha – lançada em novembro, em Nairóbi (Quênia), durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas – tem o apoio do príncipe soberano de Mônaco, Albert II, e da organização World Agroforestry Centre (Icraf). Os interessados em participar estão convidados a inscrever seus compromissos com metas de plantio no site www.unep.org/billiontreecampaign, que podem variar de um simples muda, em pequeno jardim, a 10 milhões de árvores em quatro áreas-chave: florestas degradadas ou desérticas; fazendas e paisagens rurais; plantações de manejo sustentável; e ambientes urbanos. Serão disponibilizadas técnicas de plantio e informações sobre reflorestamento e outros dados de interesse, como acessos a sites de organizações que possam se tornar parceiras nessa gigantesca empreitada. Os participantes receberão certificados do seu envolvimento na campanha. Mesmo reconhecendo os limites de uma campanha do gênero, o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, lembra que a humanidade tem pouco tempo para reverter as sérias mudanças climáticas em curso no planeta e que a iniciativa pode tornar-se uma expressão significativa, prática e simbólica, “de nossa determinação comum” em enfrentar o problema. Ao lado de outras ações necessárias de combate ao efeito estufa – como o uso de energia renovável e as pessoas dirigirem menos e desligarem as luzes de ambientes vazios e os aparelhos eletrônicos, ao invés de deixá-los na posição standby –, o plantio de árvores ataca outros problemas graves provocados pelo desmatamento, como a perda de biodiversidade, a diminuição de fontes de água, a desertificação e a erosão de solos.

Iniciativa combate taxa alarmante de desmatamento A

campanha Plant for the Planet: Billion Tree Campaign coloca em questão a importância de se preservar as florestas do planeta, desmatadas a uma taxa alarmante: cerca de 13 milhões de hectares anuais – área equivalente à Grécia. As maiores perdas vêm sendo registradas em países da África e da América do Sul, como o Brasil. A destruição anual de florestas contribui mais para o aquecimento global, devido à liberação de dióxido de carbono para a atmosfera, do que a emissão de gases do setor de transportes. Recuperar essa perda não é tarefa fácil. Apenas para reflorestar o que foi desmatado na última década, seria necessário replantar 130 milhões de hectares, uma área equivalente ao Peru. Isso representa o plantio de cerca de 14 bilhões de árvores, anualmente, pelos próximos dez anos. É o equivalente a cada habitante da Terra plantar e acompanhar o crescimento de duas sementes de árvores por ano.

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Em nossa capa, aqui ao lado e na reportagem da página 3, divulgamos informações sobre graves conseqüências relacionadas às mudanças climáticas devido ao efeito estufa. Na capa, falamos do lançamento de importante iniciativa simbólica e mobilizadora: a campanha mundial para o plantio, em 2007, de pelo menos um bilhão de árvores. Aqui na página 2, destacamos que, se não forem mitigados com ações preventivas, os desastres naturais poderão provocar prejuízo mundial da ordem de US$ 1 trilhão, em no máximo três ou quatro décadas. Na página 3, informamos sobre o lançamento de estudo sobre o processo de descoloração de recifes de corais que aponta uma relação entre a capacidade de recuperação dos corais e os níveis de poluição das águas costeiras. Quem assina o artigo das páginas centrais é o novo diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, também subsecretário-geral da ONU, que fala da nova estratégia do Pnuma como autoridade ambiental global e do papel do Brasil de ajuda na promoção da agenda ambiental e econômica em curso no planeta. Na página 8, fechamos nossa edição com reportagem sobre o lançamento de livro – uma parceria do Sebrae com o Instituto Brasil Pnuma – dirigido às pequenas e médias empresas brasileiras, com o objetivo de alertá-las para a necessidade de melhorar o desempenho ambiental de suas atividades produtivas.

Um prejuízo trilhionário Perdas com mudanças climáticas dobram a cada 12 anos As mudanças climáticas devido ao aquecimento global podem provocar, nas próximas três ou quatro décadas, prejuízos anuais mundiais de US$ 1 trilhão, devido a secas, tempestades marítimas, furacões e enchentes. Segundo estudo da Iniciativa Financeira do Pnuma, realizado pela Andlug Consulting, as perdas devido a eventos climáticos extremos estão dobrando a cada período de 12 anos. O estudo Adaptação e Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas: o Papel do Setor Financeiro foi divulgado, em novembro, na Conferência sobre Mudanças Climáticas, realizada em Nairóbi (Quênia), na sede do Pnuma. A previsão de gasto anual de US$ 1 trilhão integra modelo de estimativa que pode se tornar real caso não sejam tomadas medidas preventivas, principalmente pelos países em desenvolvimento. Para bancos e seguradoras que integram a Iniciativa Financeira do Pnuma, o agravamento das mudanças climáticas torna urgente o estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado para a criação de instrumentos financeiros criativos que

auxiliem os países em desenvolvimento a enfrentar o problema, já que estes deverão ser os mais prejudicados pelo aumento dos desastres naturais. Se não forem adotadas ações preventivas, que diminuam os eventuais prejuízos, os custos de recuperação dos países atingidos deverão alcançar níveis que ultrapassem em muito a capacidade dos atuais programas de auxílio humanitário. O estudo aponta, porém, algumas iniciativas positivas já em curso, como a de apoio financeiro a fazendeiros da Índia e de países africanos, como a Etiópia, no caso de uma eventual precipitação reduzida de chuvas prejudicar a safra agrícola. Outros projetos estão em estudo para auxiliar criadores de gado se a quantidade de suas forragens estocadas ficar abaixo de determinado nível. Disponível no site www.unepfi.org, o estudo foi encomendado pela Iniciativa Financeira do Pnuma – um grupo de trabalho formado por pesos-pesados do setor financeiro e de seguros internacional, como o Bank of America, o Development Bank of Japan e as companhias MunichRe e Swiss Re. Prejuízos com desastres naturais podem chegar a US$ 1 trilhão por ano

Um abraço e até o próximo Haroldo Mattos de Lemos Presidente

Presidente: Haroldo Mattos de Lemos Diretor Técnico: Carlos Gabaglia Penna Diretor Jurídico: Oscar Graça Couto Diretor Administrativo: Roberto Carrilho Padula Jornalista Responsável: Ronie Lima (MTb 15.415/RJ) Referências Bibliográficas: Lílian Döbereiner Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell Fotolito: Pigmento Conselho Consultivo: Adolpho de Marinho Pontes (exdeputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (ex-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes,AL), Cândido Mendes de Almeida (diretorgeral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Alberto de Oliveira Roxo (gerente-geral de Meio Ambiente e Relações Corporativas da Aracruz Celulose S.A.), Carlos Henrique de Abreu Mendes (exsecretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc (deputado estadual PT/RJ), Henrique Brandão Cavalcanti (ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L. Dubois (presidente do Instituto Rede Brasileira Agroflorestal/Rebraf,RJ), João Augusto Fortes (presidente da Sociedade Civil Pró-Rio), Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/Firjan), José Mendo Misael de Souza (vice-presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Mineiração), Márcio Moreira Alves (jornalista e presidente da Brain Trust Consultors), Marcio Nogueira Barbosa (ex-diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Inpe), Nelio Paes de Barros (ex-diretor administrativo do Instituto Brasil PNUMA), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro),

Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin (presidente da SOS Mata Atlântica,SP), Roberto Messias Franco (ex-assessor do diretor regional do PNUMA para América Latina e Caribe e ex-secretário especial do Meio Ambiente) Conselho Fiscal: Joper Padrão do Espirito Santo, Roberto de Faria Almeida, Telma de Avellar Guimarães (titulares), João Alfredo Noronha Viegas, Saint Clair Zugno Giacobbo, Vicente Hermogerio Schmall (suplentes). Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. INSTITUTO

COMITÊ BRASILEIRO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE

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O interessado em tornar-se sócio do Instituto BRASIL PNUMA e receber este informativo deve fazer contato pelo nosso telefone ou pelo e-mail.

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Menor poluição fortalece corais Destruição pelo efeito estufa seria compensada com mares mais limpos

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o estudar o processo de descoloração de recifes de corais no final dos anos 1990, provocado pelo aumento da temperatura de superfície dos mares, devido ao efeito estufa, cientistas descobriram uma relação entre a taxa de capacidade de sua recuperação e os níveis de poluição das águas costeiras, provocados por atividades terrestres. Ou seja: a capacidade de sobrevivência dos recifes de corais, em um planeta cada vez mais aquecido, pode depender, de maneira crucial, dos níveis a que sejam expostos pela poluição provocada por ações do desenvolvimento humano. A descoberta enfatiza a importância – para a sobrevivência dos recifes de corais – de se intensificar o combate à crescente poluição dos mares, ao lado de ações contra o aquecimento global. Novos modelos de pesquisa sobre o crescimento populacional da humanidade indicam a urgência de iniciativas contra atividades poluidoras, já que mais de 90% das zonas tropicais costeiras deverão estar desenvolvidas por volta de 2030. Até agora, com 70% das costas ocupadas, o que se observa é a intensificação

de fontes poluentes dos mares, como despejo de esgoto sem tratamento, de fertilizantes, de sedimentos e de lixo. Recuperação – O novo estudo sobre a situação dos recifes de corais foi produzido por cientistas e especialistas do Pnuma, do Nature Seychelles (órgão ambiental do governo de Seychelles) e dos governos da Holanda e da Noruega. Divulgado em encontro intergovernamental do Programa de Ação Global de Proteção do Meio Ambiente Marinho de Fontes Baseadas em Terra, realizado em outubro, em Pequim (China), pode ser acessado nos sites www.unep.org, www.grida.no ou www.globio.info. Ao monitorar os corais em torno de Mahé, a principal ilha de Seychelles, foram encontradas taxas de recuperação variando entre 5% e 70%. Os especialistas descobriram que recifes de corais que se recuperam mais rapidamente estão localizados, em geral, em áreas de proteção marinha e em águas costeiras em que os níveis de poluição, de dragagem e de outras atividades poluentes são considerados baixos.

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Proteção de ecossistema é vital para espécies A

proteção dos recifes de corais é vital para a saúde do planeta. Os recifes de corais são hábitats para um milhão de espécies de plantas e de animais, sendo talvez o ecossistema de maior diversidade biológica da Terra. Fundamentais para a manutenção das atividades pesqueiras, de turismo e de mergulho nos mares tropicais, as atividades econômicas geradas em torno dos corais são avaliadas, anualmente, em US$ 30 bilhões.

Os corais são preciosos hábitats para animais e plantas

O branqueamento dos corais, pelo aquecimento dos mares e/ ou poluentes, indica que estão enfermos, a caminho da morte. Pesquisadores estimam que em 16% dos recifes de corais do pla-

neta existem mais de 90% de mortalidade de corais. Os recifes de corais mais degradados são encontrados no Oceano Índico, em regiões como de Madagascar, Maurício e Seychelles.

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Meio ambiente para o desenvolvimento – o Br ACHIM STEINER

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gora faz mais de seis meses desde que assumi o posto de diretorexecutivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e tenho que dizer que estes tempos têm sido um verdadeiro furacão cheio de novos desafios, possibilidades e surpresas. Surpresas porque apesar de possuir muitos conhecimentos e ter familiaridade com o Pnuma antes de chegar aqui, tenho ficado atônito com a escala das atividades sendo desenvolvidas em diversos campos na nossa sede, nas regiões e via parcerias – o muito ativo processo do Global Environment Outlook no Brasil sendo apenas uma das áreas que me vêm à cabeça. Desafios – porque integrar completamente essa mistura de atividades, para que elas se unam em uma única direção, de forma fluida e frutífera, é algo que necessita de atenção urgente. Desafios também como resultado da agenda de reformas do secretáriogeral, que pede que o Pnuma e o resto do sistema da ONU trabalhem cada vez mais eficientemente em conjunto em uma causa comum em direção ao desenvolvimento sustentável. Esses desafios se traduzem em possibilidades e oportunidades reais, que talvez não tenham sido vislumbradas há uma geração. E o meio ambiente, longe de estar às margens do debate político, agora está cada vez mais próximo do centro com governos, negócios, a comunidade científica e a sociedade civil olhando como nunca para a ONU e o Pnuma à procura de instruções, direções e, o mais importante, de soluções. É realmente um privilégio ser o diretor-executivo do Pnuma nesse momento de um novo despertar e de descobertas – em um momento de interesse renovado no meio ambiente como fonte de um desenvolvimento de longa duração, mas também como uma fonte potencial de competição e conflitos. Este novo despertar se deve em larga medida ao entendimento difundi-

Divulgação

do de que estamos vivendo com um tempo emprestado, com muitos dos ecossistemas do planeta e seus produtos e serviços de base natural – o sustento de toda a vida na Terra – em um estado periclitante. O movimento ambiental tinha, até muito recentemente, sido visto como um disseminador de declarações e previsões alarmistas, mas esta visão parece ter mudado. Seus alertas passados sobre o abuso de recursos naturais finitos e o gerenciamento insustentável de bens e serviços nacionais, regionais e globais em muitas áreas se concretizaram em uma larga gama de questões – a perda de biodiversidade, a falta de água e o colapso da pesca até a preocupação maior das mudanças climáticas são apenas alguns exemplos. A Avaliação de Ecossistemas do Milênio (MA), um trabalho de cerca de 1.300 cientistas e especialistas de 95 países, no qual o Pnuma teve um papel importante, confirma as preocupações de longa data dos ambientalistas. Seu primeiro relatório, publicado em março de 2005, antes da Cúpula Mundial realizada naquele ano, concluiu

que aproximadamente 60% dos serviços de ecossistemas – como água doce, pescas de captura, regulação do ar e da água e a regulação do clima regional, perigos naturais e pestes – estão no momento sendo degradados ou utilizados de forma insustentável. Os cientistas fizeram um alerta de que as conseqüências danosas dessa degradação poderiam se tornar significativamente piores nos próximos anos, minando esforços de se trazer equidade entre nações e de se atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio. O MA também foi importante ao propor recomendações simples de como reverter o declínio apoiado por fortes argumentos econômicos – argumentos que eu vejo como sendo centrais para o trabalho do Pnuma nos próximos anos. O relatório diz que uma área úmida intacta no Canadá vale US$ 6 mil por hectare versus US$ 2 mil por hectare para terras que foram limpas para agricultura intensiva. Manguezais tropicais intactos – ecossistemas costeiros que são berçários para peixes, filtros naturais de poluição e defesas costeiras – valem cerca de US$ 1 mil por hectare. Uma vez removidos para dar lugar a fazendas de camarão, seu valor cai para cerca de US$ 2 mil por hectare. A Avaliação também estabelece um valor para pântanos. Ela estima que o Muthurajawela Marsh, um pântano costeiro de mais de 3.000 hectares no Sri Lanka vale cerca de US$ 5 milhões por ano devido a serviços como o controle de enchentes. Perdas resultantes de danos por espécies alienígenas invasivas na região do Cabo Floral da África do Sul estão calculadas na ordem de US$ 2 mil por hectare. O valor recreativo dos recifes de corais nas Seis Áreas de Gerenciamento Marinho das ilhas Havaianas varia de US$ 300 mil a dezenas de milhões de dólares ao ano.

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– o Brasil despontando como uma força vital ACHIM STEINER Estudos da Argélia, Itália, Portugal, Síria e Tunísia apontam para o valor de florestas intactas. Estes estimam que o valor da madeira e lenha de uma floresta vale menos de um terço quando comparado com o valor dos serviços como proteção de bacias hidrográficas e recreação para a absorção de poluentes como gases do efeito estufa. Também existem novas descobertas sobre a ligação entre a disseminação de doenças e a destruição ambiental. Estudos na Amazônia têm concluído que para cada 1% de aumento de desmatamento, existe um aumento de 8% no número de mosquitos transmissores de malária. Investir na reabilitação de ecossistemas danificados e degradados também provavelmente será um bom investimento. Um sinal da agenda de reformas do Pnuma é a nova Iniciativa de Pobreza e Meio Ambiente com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Um relatório conjunto explicitamente utilizando o argumento econômico para o meio ambiente na erradicação da pobreza foi apresentado no Fórum Mundial. Ele diz, por exemplo, que cada dólar investido no combate à degradação de terras e à desertificação pode conservadoramente gerar mais de três dólares em benefícios econômicos, ajudando a combater a pobreza entre os milhões que vivem em terras frágeis. Dinheiro poderia ser gasto em medidas tradicionais de conservação do solo como terraços. Enquanto isso, cada dólar gasto em fornecer água limpa e saneamento pode dar impressionantes níveis de retorno, de até US$ 14. Aqui os benefícios econômicos surgem de áreas incluindo custos de saúde reduzidos, aumento de produtividade com os trabalhadores gastando menos tempo procurando água e maiores freqüências nas escolas. O capital natural também serve como seguro contra calamidades como se-

cas ou perdas de colheitas. Estudos do Brasil mostram que fazendeiros no Parque Nacional dos Tapajós, na Amazônia, se voltam para produtos florestais como nozes e frutas quando o rendimento de suas colheitas despenca. A economia de se evitar danos de mudanças climáticas também tem vindo à tona via o relatório Stern, publicado antes das reuniões da convenção do clima que aconteceram na ONU, em Nairóbi, em novembro. Se nenhuma atitude for tomada, então nós corremos o risco de aumentar as temperaturas medias em até 5ºC de níveis pré-industriais, resultando no equivalente de uma perda de 5% de PIB anualmente. Em contraste, os custos de ações para reduzir emissões de gases do efeito estufa para se evitar os piores impactos podem ser limitados a cerca de 1% do PIB global anualmente. O relatório também estima que reduzir emissões iria de fato fazer o mundo ficar melhor. Uma estimativa indica que, com o tempo, uma mudança para uma economia global com pouco uso de carbono iria gerar benefícios de US$ 2,5 trilhões por ano. É nesse clima de consciência que se aprofunda sobre a degradação ambiental, aliado ao reconhecimento crescente de que recursos de base natural têm um grande e cada vez mais quantificável valor, que agora está se moldando a estratégia do Pnuma como a autoridade ambiental global. O Brasil do início do século 21 está em uma posição ideal para ajudar na promoção dessa agenda ambiental e econômica. A dinâmica econômica do Brasil o capacita para se tornar um ator chave nesta arena global em que as decisões tomadas em Brasília ecoam por toda e região e o globo. Sob a atual administração, grandes passos têm sido dados para se diminuir a pobreza. De fato, o ultimo relatório da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe declara que o Brasil já alcançou a Meta de Desenvolvimento do

Milênio de reduzir a proporção de pessoas extremamente pobres à metade até 2015. Como a China, a Índia e a África do Sul, os recursos naturais e de base natural do Brasil são uma fonte enorme de riqueza que, se for gerenciada de forma sustentável, pode sustentar o desenvolvimento e trazer prosperidade para todo seu povo. A recente decisão de designar mais de 15 milhões de hectares do leste da Amazônia como a maior reserva de floresta tropical do mundo ressalta esse entendimento e quem sabe pode, em 20 ou 30 anos, provar ser uma das decisões de uso de terras mais lucrativa da história do Brasil. Como outras economias em rápido crescimento, as decisões de comércio e investimento do Brasil agora têm uma pegada que vai além de suas fronteiras e, portanto, têm o poder de determinar se o desenvolvimento sustentável será melhorado em outros lugares. Um caso a ser ressaltado é a moratória de dois anos, acertada em julho passado, em se produzir soja em solo amazônico recém desmatado. O acordo não só incluiu companhias brasileiras, mas também grandes multinacionais operando em áreas como exportação de óleo, processamento, comércio e redes de fast-food como o McDonalds. Esse tipo de liderança internacional, demonstrada no Brasil, é de urgente necessidade em um mundo globalizado. Uma liderança que nasce não só de sentimentalismo pela vida selvagem e as florestas, mas também está enraizada nas evidências duras e cada vez mais contundentes de que conservar o meio ambiente localmente, regionalmente e globalmente faz sentido para a sustentabilidade econômica nacional. Achim Steiner é subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

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E S T A N T E Parte das publicações, periódicos e CD-ROMs recebidos pela biblioteca AGENDA Ambiental na Administração Pública. Organizadores: Ministério do Meio Ambiente e Comissão Gestora da A3P. Brasília, 2006, 3ª Edição. 109p.

MAPA do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro 2006/2015. Publicação, Sistema Firjan, Rio de Janeiro, RJ, 2006. 112p.

AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA. A ISO 14040 na América Latina. Organizadores: Armando Caldeira-Pires, Maria Carlota de Souza-Paula e Roberto C. Villas Boas. Brasília: Abipti, 2005. 337p.

MARQUES, Eduardo César. Estado e Redes Sociais: Permeabilidade e Coesão nas Políticas Urbanas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ: Revan; São Paulo, 2000. 352p.

BRITO, Francisco A.; Câmara, João B.D. Democratização e Gestão Ambiental. Petrópolis, RJ: Vozes, 2ª Edição 2001. 332p.

MELADO, Jurandir. Manejo Sustentável de Pastagens sem o Uso do Fogo. Brasília: Embaixada da Itália, 2002. 60 p.

DONOSO, Guilhermo; JOURAVLEV, Andrei; PENA, Humberto et al. Mercados (de derechos) de Água: Experiências y Propuestas em América del Sur. Chile: Nações Unidas, 2004. DOSSIÊ do Saneamento: Esgoto é Vida. Publicação: Água e Cidade, 4ª edição, Brasil, 2006. 68p. FORMIGA, Rosa Maria; LOPES, Paula Duarte (Org.). Retratos 3x4 das Bacias Pesquisadas. Brasília: 2003. FURRIELA, Rachel Biderman. Democracia, Cidadania e Proteção do Meio Ambiente. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002. 193 p. LEMOS, Haroldo Mattos e BARROS, Ricardo Luiz Peixoto. Ciclo de Vida dos Produtos, Certificação & Rotulagem. Realização: Sebrae e Pnuma – Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Rio de Janeiro, RJ. 2006. 76p.

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NATAL, Jorge Luiz Alves. Do Desenvolvimentismo ao Neoliberalismo – A Saga do Século XX. Rio de Janeiro, RJ: Pubblycati Editora, 2006. 290p. PLANO Diretor de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara. Governo do Estado do Rio de Janeiro, RJ, 2005. 190p.

Sítios históricos sob ameaça Vários sítios históricos naturais e culturais, como o Parque Nacional da Costa Oeste, na África, a barreira de recifes em Belize, que era admirada pelo naturalista inglês Charles Darwin, e os Monumentos de Alexandria, no Egito, se encontram ameaçados devido a problemas causados pelas mudanças climáticas que assolam o planeta, como o aumento do nível dos mares, de enchentes e de tempestades. Arquivo Pnuma

SHEIDEMANTEL, Ricardo Henrique. Que Mundo Maravilhoso – Os Incríveis Efeitos da Política Global de Proteção Ambiental sobre a Vida Cotidiana. Rio de Janeiro, RJ, 2006. 116p. SVIRSKY, Enrique. Perfil das Entidades Ambientalistas do Estado de São Paulo. São Paulo: Cetesb: Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2004. 225 p. TRAINING Resource Pack for Hazardous Waste Management in Developing Economies. Copenhagen: ISWA/UNEP. s.d.. CD-ROM

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AGENDA

24ª Sessão do Conselho Governamental/Fórum Ministerial Global do Meio Ambiente – De 5 a 9 de fevereiro, em Nairóbi (Quênia). Realização: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Informações pelo tel. (61) 329-2113 ou pelo email unep.brazil@undp.org.br. 3º Encontro do Comitê de Consentimento sob o Protocolo de Montreal – De 5 a 7 de março, em Montreal (Canadá). Realização: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e parceiros. Informações pelo tel. (61) 329-2113 ou pelo email unep.brazil@undp.org.br. Encontros de Prefeitos sobre a Contribuição das Cidades para a Realização da Meta da Biodiversidade de 2010 – De 27 a 29 de março, em Curitiba (PR). Realização: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e parceiros. Informações pelo tel. (61) 329-2113 ou pelo email unep.brazil@undp.org.br.

Os dados alarmantes fazem parte de O Atlas de Mudança Climática: Mapeando os Maiores Desafios Mundiais, lançado, em novembro, pelo Instituto Ambiental de Estocolmo, com o apoio do Pnuma. Para o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, as ações para a adaptação da humanidade aos efeitos do aquecimento global precisam incluir esses importantes sítios históricos. O atlas pode ser acessado em www.earthscan. co.uk.

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Gol Verde Foram um sucesso os programas coordenados pelo Pnuma para transformar a Copa do Mundo na Alemanha e as Olimpíadas de Inverno na Itália, realizadas em 2006, em eventos esportivos que não provocaram o aumento do aquecimento global. Como resultado, a partir de agora, as preocupações ambientais estarão inseridas definitivamente no calendário esportivo das maiores competições mundiais. No caso da Copa do Mundo, a chamada campanha Gol Verde conseguiu promover significativa redução dos gases poluentes da atmosfera durante a competição futebolística na Alemanha, com medidas como o uso de energia renovável nos estádios e o incentivo ao uso de transporte público pelos torcedores. Em adição a essas iniciativas domésticas, o inevitável aumento da liberação de poluentes durante o torneio, devido à presença massiva de torcedores, foi compensado com investimentos para a instalação de plantas de energia limpa na Índia e na África do Sul.

Relatório final do evento mostra que a redução da liberação de gases-estufa, devido a iniciativas domésticas e fora da Alemanha, foi maior do que a quantidade de poluentes a mais liberada durante o torneio. Na mesma linha de atuação, as Olimpíadas de Inverno foram também um caso de sucesso. Calcula-se que cerca de 70% das emissões de gases poluentes geradas durante o evento foram compensadas por medidas de redução doméstica de fontes poluentes e de financiamento de projetos compensatórios em outros países.

Pilha de hidrogênio Pela primeira vez na história da Califórnia, nos Estados Unidos, a Árvore de Natal do Congresso estadual, na capital Sacramento, está sendo iluminada por uma pequena pilha de hidrogênio. A tecnologia que gera eletricidade a partir do hidrogênio se encontra em fase experimental. Em sua combustão, o hidrogênio libera principalmente vapor d’água na atmosfera. Trata-se, portan-

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Chuva abastece África O massivo potencial de chuvas existente na África pode servir de suprimento de água para inúmeros países e comunidades que já sofrem com escassez do precioso líquido para consumo, devido a mudanças climáticas provocadas pelo efeito estufa. A conclusão é de relatório preparado pelo Pnuma e pelo World Agroforestry Centre (Icraf), que sustenta que o suprimento de água para atividades humanas pode ser impulsionado pela instalação de equipamentos de coleta e de estocagem da águas das chuvas. O Quênia, por exemplo, com cerca de 40 milhões de habitantes, possui índice pluviométrico suficiente para suprir a necessidade de consumo de água de seis a sete vezes maior do que sua atual população. Calcula-se que cerca de 1/3 da precipitação de chuvas na África seja suficiente para sustentar os ecossistemas do continente, incluindo florestas, pastos e cursos de rios – o que dá idéia do potencial de sobra de água de chuvas que pode ser empregado para consumo humano e irrigação agrícola. Arquivo Pnuma

to, de tecnologia limpa que, no futuro, quando utilizada massivamente, terá efeito ambientais benéficos, ajudando a despoluir a atmosfera. O governador da Califórnia, o ator Arnold Schwarzenegger, que inaugurou oficialmente a iluminação, tem defendido o uso de energias alternativas, promovendo leis que limitam as emissões de gases poluentes causadores do efeito estufa.

Ciências pelo planeta Com o objetivo de demonstrar o enorme potencial das ciências na construção de um mundo mais seguro, sadio e sustentável, a Assembléia-Geral das Nações Unidas proclamou o período de janeiro de 2007 a dezembro de 2009, com ênfase em 2008, como Ano Internacional do Planeta Terra. A iniciativa é liderada pela União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS) e pela Unesco, sendo concentrada em dois focos principais de ação: ciência e divulgação. No âmbito científico, são dez temas prioritários: água (subterrânea); clima;

crosta e núcleo terrestres; desastres naturais; geologia médica; (mega) cidades; oceanos; recursos naturais e energia; solos; e vida (evolução). Em termos de divulgação, os objetivos são disseminar pelos países a grande importância das geociências para a vida humana e sua prosperidade; estimular a atenção para as contribuições das geociências nos sistemas educacionais nacionais; e incrementar o entendimento das geociências por parte dos governantes, políticos e tomadores de decisões.

Devido a esse rico potencial, que pode transformar para melhor a vida de milhões de africanos, o Pnuma e o Icraf estão incentivando governos e doadores financeiros a investir amplamente em equipamentos de coleta de água de chuvas, cuja tecnologia tem baixo custo e é de fácil uso e manutenção. O estudo pode ser acessado em www. unep.org ou em www.worldagroforestry. org.

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B R A S I L P N U M A

Livro incentiva empresa ecológica Pnuma e Sebrae mostram benefícios de adoção de produção mais limpa

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Instituto Brasil Pnuma e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas) lançaram, em novembro, o livro Ciclo de Vida dos Produtos, Certificação & Rotulagem, dirigido às pequenas e médias empresas brasileiras para alertá-las sobre a necessidade de melhorarem o desempenho ambiental de suas atividades produtivas. Os autores do livro, Haroldo Mattos de Lemos e Ricardo Luiz Peixoto de Barros, enfatizam a necessidade de uma produção mais limpa alinhada com o modelo das principais regiões econômicas do mundo, como União Européia, a Nafta e a Apec (Asian Pacific Economic Countries), cada vez mais reguladas e exigentes no que diz respeito às certificações ambientais. Normas ambientais internacionais, como as da família ISO 14000, propõem uma nova forma de comunicação com o mercado consumidor. Pela rotulagem ambiental, o consumidor pode diferenciar os produtos similares e assim optar por aqueles que impactam menos o meio ambiente. Os rótulos tipo III, por exemplo, definidos na recente norma ISO 14025, trazem informações ambientais de produtos baseados na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). O consumidor pode assim levar em consideração o histórico do produto, desde a aquisição da matéria-prima pelo fabricante até sua disposição final, em forma de resíduos. Além disso, a ACV leva em consideração impactos referentes à utilização e ao uso posterior do produto – como no caso dos eletrodomésticos com selo de baixo consumo de energia – e enfatiza a redução e o seu potencial de reciclagem.

Divulgação

Clóvis Rodrigues e Dolores Lustosa, do Sebrae, participaram do lançamento do livro de Haroldo Mattos de Lemos (esq.) e de Ricardo Barros (dir.)

Desenvolvimento sustentável – O livro também ajuda a se compreender os avanços do setor produtivo no que diz respeito às questões ambientais. Com a entrada em cena do conceito de desenvolvimento sustentável, no início dos anos 1990, a antiga abordagem do crescimento econômico a qualquer preço foi substituída por concepções baseadas na ecoeficiência, comprometidas com as melhorias no processo de produção, com a garantia dos recursos naturais e a redução de resíduos. Surge, assim, o Selo Verde e uma nova forma de projetar produtos sob a ótica do ecodesign. Algumas grandes empresas brasileiras já despertaram para a realidade de que um desempenho segundo exigências ambientais acaba gerando economia de recursos naturais e energia – e, consequentemente, lu-

cros. São empresas que agem reguladas pelo mercado internacional, cada vez mais seletivo em termos de parcerias comerciais e de fornecedores. Durante a Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002, na África do Sul, o Pnuma, ao analisar 22 relatórios setoriais, detectou que, apesar do empenho das indústrias, o meio ambiente continuava se deteriorando, pois nem todas perseguiam o desenvolvimento sustentável, principalmente as pequenas e médias empresas. Segundo o IBGE, existem no Brasil 10,7 milhões de empresas desse porte, e muitos especialistas são unânimes em afirmar que elas contribuem com grande parte da poluição no país. Com reportagem de Márcia Pimenta, veiculada no site Envolverde

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