I N S T I T U T O
PNUMA
BRASIL PNUMA
www Visite .bra noss silpn o si uma te .org Nºº 125 .br JUN/JUL 2012
Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Uma avaliação positiva da Rio+20 Em meio a críticas, Pnuma destaca avanços ocorridos na cúpula da ONU
E
netárias. Mas acabam existindo avanços – mesmo que tímidos – que, mais tarde, demonstram ter sido base para iniciativas mais consistentes. Além da união de grandes cidades em prol da saúde planetária, este pode ser o caso das chamadas Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs, na sigla em inglês). Não foi ainda desta vez que se aprovou um fundo para os países ricos financiarem iniciativas de economia verde em nações mais pobres. Mas o principal legado da Rio+20 talvez seja a adoção das SDGs. Em 2015, ao final de processo de negociações, a ONU estabelecerá metas e critérios – embora de adoção voluntária – para que os países persigam iniciativas rumo ao desenvolvimento sustentável. Assim, se as negociações avançarem, os ambientalistas contarão em suas lutas com algo mais palpável em relação ao tão falado desenvolvimento sustentável; mas até agora tão pouco Luiz Morier
m meio a críticas de que o texto final da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, O Futuro que Queremos, ficou fraco, sem que os países participantes assumissem compromissos em relação a vários pontos, como a criação de um fundo verde, o Pnuma destaca em seu relatório sobre a Rio+20 uma série de avanços positivos. Em primeiro lugar, os chefes de Estado e demais representantes dos governos de 190 países concordaram que a transição para uma economia verde pode ser uma importante ferramenta para se alcançar o desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza – desde que apoiada por políticas que estimulem empregos decentes, o bem-estar social, a inclusão econômica das pessoas e a preservação dos ecossistemas planetários, como florestas e água. A economia verde foi assim reconhecida oficialmente como importante para se alcançar o desenvolvimento sustentável. O papel das cidades e das empresas neste processo também foi destacado. Um grupo de prefeitos de 59 grandes cidades do mundo – como Nova York, Rio de Janeiro e São Paulo – assinou acordo para que cheguem até 2030 com o mesmo patamar atual de suas emissões de gases-estufa – o que representaria, na prática, uma redução de 45% caso esses centros urbanos seguissem crescendo sem controle de suas emissões. Cúpulas do tamanho da Rio+20 – em que imperam lentas negociações diplomáticas – têm a tendência de terminar com resultados apontados como aquém das necessidades pla-
Ganhos da Rio+20: a união de cidades pelo planeta e as Metas de Desenvolvimento Sustentável
precisado. E a criação dos SDGs poderá ser reforçada por uma iniciativa anunciada na Rio+20: o Índice de Riqueza Inclusiva (IWI, na sigla em inglês). Os países concordaram em trabalhar para estabelecer um novo indicador global da riqueza econômica e social que não se limite aos tradicionais Produto Interno Bruto (PIB) e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); que não levam em conta o uso (e a perda) dos recursos ao avaliar o estado da economia e do bem-estar social das nações. Outro avanço obtido: após décadas de discussões, os países decidiram reforçar o Pnuma. Se por um lado o Pnuma não foi transformado em uma agência ambiental, como queriam alguns, o organismo saiu fortalecido da Rio+20 com a decisão de se aumentar o número de 58 países que integram seu conselho de governança, que passará a incluir todos os representantes das naçõesmembros, e reforçar o seu orçamento. Veja mais em www.unep.org.
EDITORIAL Não é de hoje que as cúpulas de meio ambiente da ONU despertam críticas as mais variadas. De fato, os processos que envolvem discussões diplomáticas são, infelizmente, muitas vezes lentos, aquém das necessidades ambientais planetárias mais urgentes. No entanto, acabam gerando acordos que, só mais tarde, demonstrarão serem mais consistentes do que inicialmente previstos. Procuramos então destacar nesta edição alguns avanços da Rio+20. Em nossa capa, divulgamos a avaliação positiva do Pnuma sobre o resultado final da conferência. Aqui na página ao lado, mostramos o potencial da economia verde na transição para o desenvolvimento sustentável. Na página 3, publicamos reportagem sobre outro avanço da Rio+20: a união de megacidades por um planeta melhor. O artigo das páginas centrais, do diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, sintetiza os aspectos positivos ainda pouco reconhecidos pela mídia que cobriu a Rio+20. Em Antena, destacamos também algumas iniciativas rumo ao desenvolvimento sustentável, como as discussões para a formatação do que poderíamos chamar de um PIB Verde. Na contracapa, divulgamos o lançamento do Passaporte Verde no Rio de Janeiro, que visa a incentivar um turismo mais sustentável no Brasil. Assim como ocorreu em relação à Rio-92, pode ser que daqui a alguns anos o balanço das realizações da Rio+20 incorpore críticas mais positivas e construtivas. Só o tempo dirá. Haroldo Mattos de Lemos Presidente
A importância da economia verde Relatórios divulgados na Rio+20 revelam potencial do desenvolvimento sustentável Estudos e iniciativas divulgados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável revelam que um número cada vez maior de empresas perseguem estratégicas relacionadas a uma economia verde; inclusive com apoio governamental. Dias antes da Rio+20, relatório da iniciativa Green Jobs Initiative apontava que a transição para uma economia mais verde poderá gerar de 15 milhões a 60 milhões de empregos no mundo nas próximas duas décadas. Ao citar países em desenvolvimento e menos desenvolvidos que estimulam iniciativas verdes, o relatório Building an Inclusive Green Economy for All indicou o potencial da transição para uma economia verde para melhorar as condições de vida de boa parte das 1,3 bilhões de pessoas que sobrevivem com cerca de US$ 1,25 por dia. O setor do ecoturismo foi um dos destaques desse relatório, produzido pela rede Poverty-Environment Partnership (PEP), agências da ONU e ONGs internacionais. O ecoturismo deve gerar este ano cerca de US$ 240 bilhões, sendo a maior parte em países em desenvolvimento como o Brasil, Costa Rica, Quênia e Nepal. Outro relatório, The Business Case for the Green Economy: Sustainable Return on Investment, produzido pelo Pnuma em parceria com a SustainAbility and GlobeScan, fornece exemplos de empresas – algumas do porte da General Motors – que já estão colhendo benefícios financeiros ao implementar modos de produção mais sustentáveis.
Em 2012, ecoturismo deve movimentar US$ 240 bilhões em países como o Brasil
Somente no caso do setor de produção de equipamentos para geração de energia eólica em alto mar, projeta-se que o número de empregos na Europa atinja um patamar de 150.000 por volta de 2020, chegando a mais de 200 mil vagas em 2030. Globalmente, os rendimentos das companhias ligadas à produção de energias renováveis devem atingir, em 2030, um crescimento anual de mais de US$ 300 bilhões. Estes e outros relatórios divulgados apontaram o papel fundamental de empresas, do setor financeiro e de ONGs em ações para a transição para uma economia verde, mas destacaram a necessidade de políticas de apoio a ações de desenvolvimento sustentável. Veja mais em www.unep.org.
Presidente: Haroldo Mattos de Lemos Diretor Jurídico: Oscar Graça Couto Diretor Admi-
do Ibama) Conselho Fiscal: Joper Padrão do Espirito Santo, Telma de Avellar Guimarães,
nistrativo: Roberto Carrilho Padula Jornalista Responsável: Ronie Lima (MTb 15.415/RJ)
Vicente Hermogerio Schmall (titulares), João Alfredo Noronha Viegas, Saint Clair Zugno
Referências Bibliográficas: Zilda Rodrigues de Souza Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell
Giacobbo (suplentes).
Impressão: Corbã Conselho Consultivo: Adolpho de Marinho Pontes (ex-deputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (ex-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes, AL), Cândido Mendes de Almeida (diretor-geral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Henrique de Abreu Mendes (ex-secretário de Meio Ambiente do
Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.
Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc (secretário de Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro), Henrique Brandão Cavalcanti (ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L.
INSTITUTO
Dubois (presidente do Instituto Rede Brasileira Agroflorestal/Rebraf,RJ), João Augusto Fortes
BRASIL PNUMA
(presidente da Sociedade Civil Pró-Rio), Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação
PNUMA
Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (ex-vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/Firjan), Márcio Nogueira Barbosa (vice-diretor executivo da Unesco), Nelio Paes de Barros (ex-diretor administrativo do Instituto Brasil Pnuma), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (ex-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro), Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin (presidente da SOS Mata Atlântica, SP), Roberto Messias Franco (ex-presidente
2
O interessado em tornar-se sócio do Instituto BRASIL PNUMA e receber este informativo deve fazer contato pelo nosso telefone ou pelo email.
www.brasilpnuma.org.br COMITÊ BRASILEIRO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASIL PNUMA Av. Treze de Maio 13, sala 1.315 – Centro CEP 20.031-901 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Telefax: (21) 2262-7546 CGC: 40.200.230/0001-19 brasilpnuma@gmail.com
JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
Laurence Fabbro/Topham/Arquivo Pnuma
B R A S I L P N U M A
B R A S I L
P N U M A
O papel central dos centros urbanos Rio+20 serviu para reforçar importância de poder local para a economia verde
O
Mark Edwards/Still Pictures/Arquivo Pnuma
papel central das cidades e dos governos locais na transição para uma economia verde foi também destacado em debates e estudos divulgados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. O relatório Global Environment Outlook 5 (GEO-5) for Local Government cita, por exemplo, inúmeros casos de políticas públicas e iniciativas privadas em nível local que estão contribuindo para fortalecer o desenvolvimento sustentável e para conter a degradação ambiental. Associado à avaliação do estado ambiental do planeta GEO-5, divulgado pelo Pnuma um pouco antes da Rio+20, o relatório GEO-5 for Local Government faz uma série de recomendações de apoio ao trabalho desses governos e para ajudá-los a transferir suas políticas bem-sucedidas para outras cidades e também países. Exemplos de sucesso vão de cidades em países desenvolvidos, como Tóquio, a centros urbanos em nações em desenvolvimento, como Bogotá. A capital japonesa é citada por ter desenvolvimento um mercado de carbono municipal que, associado a um
programa de construção de prédios verdes, deverá reduzir, por volta de 2020, suas emissões de carbono em um quarto, em comparação aos níveis de 2000. Já a capital colombiana é destacada pela implantação pioneira de um criativo e integrado sistema rápido de transporte de ônibus. Ao identificar o papel central de autoridades locais na implementação de acordos ambientais multilaterais, para facilitar a transição econômica das cidades para padrões de uma economia verde urbana, o relatório faz recomendações aos poderes locais – como continuar a promover ações de sustentabilidade com objetivos nacionais, mesmo que não existam metas e diretivas nesse sentido em nível federal. Mais eficientes – Na mesma linha de apoio a iniciativas locais rumo à transição para uma economia verde, o Pnuma e alguns parceiros lançaram na Rio+20 uma nova iniciativa com o objetivo de reduzir a poluição nas áreas urbanas, melhorar a eficiência do uso de recursos e reduzir custos de infraestrutura das cidades.
Cidades com mais de 500 mil habitantes foram convidadas a participar da iniciativa Global Initiative for Resource-Efficient Cities, para trabalhar com representantes de governos locais e nacionais, do setor privado e de grupos da sociedade civil na promoção, entre outras ações, de prédios com mais eficiência energética, uso mais racional de água e tratamento adequado de resíduos sólidos urbanos. Já contando com o apoio de cidades como Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro, espera-se chegar em 2015 com mais de 200 integrantes. Prefeitos de 59 megacidades se comprometeram inclusive a manter seus atuais níveis de emissão de gases-estufa até 2030. Em um planeta que deverá abrigar, por volta de 2050, cerca de 80% de sua população em centros urbanos, as cidades são vistas como fundamentais para a criação de empregos verdes, em setores como o de energia renovável. Em 2030, cerca de 20 milhões de pessoas poderão estar empregadas em indústrias voltadas para a produção de biocombustíveis, energia solar e eólica. Veja mais em www.unep.org.
Cerca de 80% da população mundial estará vivendo em áreas urbanas, em 2050, com as cidades assumindo papel fundamental na criação de empregos verdes, em setores como o de energia renovável
JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
3
B R A S I L P N U M A
Pós-Rio+20: o futuro que queremo N
o contexto de uma crise
financeira e econômica em andamento em algumas das partes-chave do globo, níveis preocupantes de desemprego entre os jovens em muitas regiões e avisos de ameaças e desafios ambientais persistentes e outros que estão aparecendo agora, chefes de Estado e Governo se encontraram no Brasil para a Cúpula da Rio+20. Em antecedência, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, descreveu o evento como uma “oportunidade única” de tornar realidade o Futuro que Nós Queremos. A História eventualmente julgará os sucessos ou fracassos da Rio+20, mas apesar de muitas deficiências existem alguns elementos de seus resultados que podem conter dentro de si uma quebra com o passado e, se adotados plenamente, levar o mundo adiante para o futuro que precisamos.
4
Economia Verde Chefes de Estado e mais de 190 nações deram luz verde à economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza. As nações concordaram que tal transição poderia ser uma “ferramenta importante” quando apoiada por políticas que estimulam empregos decentes, bem-estar social e inclusão e a manutenção dos ecossistemas da Terra, de florestas a águas doces. A decisão apoia nações que queiram embarcar na transição para uma economia verde, enquanto fornece para as economias em desenvolvimento a oportunidade de terem acesso a apoio internacional em termos financeiros e da construção de capacidades. Metas de Desenvolvimento Sustentável A Cúpula também deu o sinal verde para um conjunto de Metas de Desenvolvimento Sustentável (MDS) para trazer todas as nações – ricas ou pobres – para o estabelecimento de metas cooperativas abrangendo desafios que vão da água à terra e desperdícios de alimentos no mundo inteiro. As MDS devem complementar as Metas de Desenvolvimento do Milênio após 2015: elas irão destacar que um século sustentável também precisa incluir as pegadas de nações desenvolvidas, além de ajudar as em desenvolvimento a erradicar a pobreza e fazer a transição para um caminho sustentável. Justiça e Leis Ambientais Enquanto isso, o Congresso Mundial sobre Justiça, Governança e Leis para a Sustentabilidade Ambiental, realizado pela Suprema Corte Brasileira e o Pnuma, em parceria com diversas organizações internacionais, comprometeu-se ao uso de leis nacionais e internacionais que avancem na sustentabilidade, direitos humanos e ambientais e na implementação de tratados ambientais.
Maria Elisa Franco
ACHIM S
O Pnuma Atualizado Após mais de quatro décadas de discussão, governos decidiram atualizar o Pnuma, incluindo áreas-chave, como a associação universal, e mais recursos financeiros – isto é bem-vindo como uma maneira importante de aumentar a autoridade, influência e impacto da organização mundial responsável pelo meio ambiente em termos de mover o desenvolvimento para um caminho mais sustentável. Maneiras de aumentar a participação da sociedade civil também são vislumbradas como parte do processo de fortalecimento e atualização do Pnuma. Além do PIB A Rio+20 lidou com crescentes preocupações de que o Produto Interno Bruto pode ter exaurido sua utilidade em um mundo onde a escassez de recursos naturais, poluição e exclusão social também estão se tornando indicadores se a riqueza de uma nação está realmente aumentando ou diminuindo. O documento resultante da Cúpula pede que a Comissão Estatística da ONU trabalhe com outros órgãos da ONU, incluindo o Pnuma e outras organizações, para identificar novas abordagens para se medir o progresso. O trabalho da comissão irá utilizar uma gama JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
B R A S I L
P N U M A
os ou o futuro que agora teremos?
STEINER de avaliações e projetos-piloto em andamento por todo o mundo, incluindo: O Programa de Desenvolvimento Humano Internacional do Pnuma e a Universidade da ONU na Rio+20 apresentaram resultados de um Índice de Riqueza Inclusiva (IRI) observando diversos países, incluindo o Brasil. Outros caminhos para um novo indicador incluem: O esforço da UE para ir “Além do PIB” – lançado em novembro de 2007, suas metas são desenvolver um conjunto mais amplo de índices de nível macro além do PIB e fornecer informações sobre como o crescimento econômico afeta suas próprias fundações (estoque de todos os ativos); Diversos países, incluindo o Brasil, Colômbia, Alemanha, Índia e o Reino Unido, têm ou estão agora executando avaliações nacionais do valor dos seus “ativos naturais”, extraindo daqueles feitos globalmente pela Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade realizada pelo Pnuma.
.
.
Consumo e Produção Outro passo significativo adiante foi a adoção de um quadro de dez anos sobre consumo e produção sustentável abrangendo diversos setores, do turismo às compras governamentais. Durante a Rio+20, mais de 30 governos e instituições, incluindo o Brasil, Dinamarca, Suíça e o Pnuma, anunciaram uma nova Iniciativa Internacional de Compras Públicas Sustentáveis (SPPI) com o objetivo de aumentar a quantidade de gastos públicos em bens e serviços que maximizam benefícios sociais e ambientais. Estudos indicam que as compras públicas, que representam entre 15% e 25% do PIB, oferece uma grande oportunidade para a inovação verde e sustentabilidade. Relatórios de Sustentabilidade Estima-se que 25% das 20.000 companhias acompanhadas pela Bloomberg estão relatando suas pegadas ambientais, sociais e de governança – mas 75% não estão. JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
Tal profundidade de dados nos oferece a oportunidade de criar fundos de pensão para investir em companhias com uma perspectiva de lucros de longo prazo através dos relatórios de sustentabilidade, enquanto ajudamos governos com a mensuração da contribuição de multinacionais para metas de sustentabilidade nacionais e progresso para além do PIB. No dia 20 de junho, diversos países, incluindo o Brasil, Dinamarca, França e África do Sul – muitos dos quais já têm bolsas de valores que exigem melhores relatórios –, anunciaram que iriam avançar nesta questão com apoio do Pnuma e da Iniciativa de Relatórios Global. Ligações Fortalecidas entre Ciência e Políticas Públicas O resultado da Rio+20 também pede que a próxima Assembleia-Geral da ONU fortaleça a habilidade do Pnuma para ajudar os estados-membros em nível nacional e regional e melhorar sua interface entre ciência e políticas públicas através do processo carro-chefe do Pnuma, a Perspectiva Ambiental Global. Durante os dois anos de preparativos para a Rio+20 – conhecida oficialmente como a Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável 2012 –, o Pnuma trabalhou incansavelmente para fornecer a análise e fomentar o debate sobre os dois principais temas da Cúpula: uma Economia Verde no Contexto do Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza; além de um arcabouço institucional para o desenvolvimento sustentável. O trabalho do Pnuma sobre a economia verde, em parceria com uma ampla gama de órgãos da ONU e outros, levou a um leque de relatórios de apoio, incluindo: O carro-chefe Green Economy Report: Pathways to Sustainable Development and Poverty Eradication (Relatório da Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza) The Economics of Ecosystems and Biodiversity Synthesis Report (Relatório-Síntese sobre a Economia dos
Ecossistemas e Biodiversidade) http:/ /www.teebweb.org/TEEBSynthesisReport/tabid/29410/Default.aspx. The Global Environment Outlook-5 (Perspectiva Ambiental Global-5) tp:// www.unep.org/geo/pdfs/geo5/ GEO5_report_full_en.pdf. Muitos aspectos dos resultados da Rio+20 serão levados agora para a próxima 67ª Sessão da Assembleia-Geral da ONU, que tem início em setembro e inclui a consubstanciação dos detalhes sobre a atualização do Pnuma. Estes debates e decisões devem ser guiados por um sentido de urgência: antes da Rio+20, o Pnuma anunciou os resultados do seu quinto carrochefe, Perspectiva Ambiental Global (GEO). O relatório mostrou que dos 90 indicadores-chave globais, apenas quatro têm demonstrado progresso significativo, incluindo a retirada de produtos químicos que danificam a camada de ozônio e do chumbo em combustíveis. O restante exibe pouco ou nenhum progresso, indo do corte de emissões de gases do efeito estufa ao restabelecimento dos estoques de pesca. No final das contas, a Rio+20 será julgada por estes tipos de fatos e números – se as avaliações científicas futuras, incluindo o planejado GEO-6, revelarem que estes números e a avaliação das melhorias permanecerem baixos e inexpressivos, então a Cúpula terá realizado aquilo que seus mais ferozes críticos mais temiam. Se o GEO-6 puder mostrar um progresso genuíno, então todos os setores da sociedade podem dizer que o esforço hercúleo que trouxe mais de 50.000 delegados para a Cidade do Rio de Janeiro, no final de junho de 2012, valeu a pena – 20 anos após a Cúpula da Terra do Rio e 40 anos após a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano, que marcou o início de uma longa jornada em direção a um mundo gerenciado de maneira sustentável. Achim Steiner é subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
5
B R A S I L P N U M A
E S T A N T E
Parte das publicações, periódicos e DVDs recebidos pela biblioteca ABNT (São Paulo). ABNT sustentabilidade. São Paulo: A Associação, 2012. Não paginado. The Asahi Glass Foundation. The Asahi Glass Foundation. Tokyo: 2012. 6 p. ______. Questionnaire on Environmental problems and the survival of humankind a 20-year summary preview. Tokyo: The Asahi Glass Foundation, 2012. 9 p. Blue Planet Prize. Environment and development challenges: the imperative to act. Tokyo: The Asahi Glass Foundation, 2012. 170 p. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Biofuels in Brazil: realities and prospects. Brasília: MRE, 2007. 1025 p. CEBDS. GUIA Rio+20. Rio de Janeiro: CEBDS/FBDS, 2012. Não paginado. Centro de Excelência para o Mar Brasileiro. O Brasil e o mar no século XXI. Rio de Janeiro: BHMN, 2012. 540 p. CETESB (São Paulo). Relatório de qualidade ambiental no Estado de São Paulo – 1993. São Paulo: CETESB, 1993. 59 p. Fundação Getúlio Vargas. Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil: processos industriais e tratamento de resíduos. Rio de Janeiro: A Fundação, [2011]. 81 p. SEX
Global Footprint Network. What happens when an infinite-growth economy runs into a finite planet? California, [2012]. 72 p. ISO. RIO+20: construindo ações por meio de acordos. Brasília: ISO, 2012. 22 p. OELOFSE, Gregg. et al. The economics of ecosystems & biodiversity. [London]: TEEB, 2011. 41p. (TEEB Manual for Cities: ecosystem services in urban management). PEREIRA, José Almir Rodrigues, SILVA, Jaqueline Maria Soares da. Rede coletora de esgoto sanitário: projeto, construção e operação. 2ª ed. Belém: 2010. 301p. PNUMA. Dia mundial do meio ambiente. Brasília: Pnuma, 2012. 32 p. ______. GEO-5: panorama ambiental global. Brasília: Pnuma, 2012. 18 p. ______. RUMO a uma economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza: síntese para tomadores de decisão. Brasília: Pnuma, 2012. [48] p. STARLING, Rodrigo. 2050 voluntariado e sustentabilidade = 2050 volunteerism and sustenability. Belo Horizonte: O Lutador, 2011. 61 p. UNEP. GEO-5: environment for the future we want. Nairobi: Unep, 2012. 525 p.
TA
6
JUL
. .
HO
AGENDA
EnerSolar+BRASIL – A Exposição Internacional de Energia – De 11 a 13 de julho, em São Paulo (SP). Realização: Artenergy Publishing e Fiera Milano. Informações em www.enersolarbrasil.com.br, info@enersolarbrasil.com ou (11) 5585-4355. Seminário Resíduos Sólidos – As Responsabilidades de Cada Setor – Em 11 de julho, em Presidente Prudente (SP). Realização: Fiesp. Informações em http:// www2.fiesp.com.br/agenda/seminario-residuos-solidos-a-responsabilidade-decada-setor/, ciesppte@stetnet.com.br ou (18) 3222-1488.
6
Economia de energia Um mapeamento global de políticas sobre eficiência no setor de iluminação, promovido pelo Pnuma e parceiros, projeta que um total de 5% do consumo global de eletricidade poderia ser poupado anualmente com a implantação de iluminações mais eficientes, o que resultaria em uma economia anual de mais de US$ 110 bilhões. Somente o Brasil pouparia mais de US$ 3 bilhões por ano e reduziria em mais de 5% o seu consumo de energia ao adotar sistemas mais eficientes de iluminação. Lançado pelo Pnuma, o programa de parceria internacional para estimular o uso mais eficiente de iluminação en.lighten Global Efficient Lighting Partnership Programme já conta com a adesão de cerca de 50 países, emergentes e em desenvolvimento, que se comprometem a deixar de usar lâmpadas incandescentes por volta de 2016. Para isto, estão tendo apoio de especialistas para o desenvolvimento de planos nacionais de substituição para lâmpadas mais eficientes, como as LED. Ações para estimular o uso de lâmpadas mais eficientes são defendidas por especialistas como formas de se economizar energia e combater o aquecimento global. O gasto de eletricidade para a iluminação responde por cerca de 20% do consumo elétrico e por 6% das emissões globais de CO2. Além disso, cerca de 3% da de demanda global por petróleo pode ser atribuída à iluminação. Como parte da iniciativa en.lighten, 14 países estão iniciando workshops nacionais para o desenvolvimento de planos para a substituição do uso de lâmpadas incandescentes, como Uruguai, Chile, Costa Rica, Jordânia e Tunísia. Segundo o Pnuma, as lâmpadas incandescentes já foram retiradas do mercado ou existem planos para sua retirada na maioria dos países desenvolvidos e em alguns países em desenvolvimento como o Brasil, Argentina, China, Colômbia, México e Vietnam. Mais informações em www.enlighteninitiative.org.
JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
B R A S I L
Índice de Riqueza Inclusiva Um novo indicador da riqueza socioambiental e econômica dos países, apresentado na Rio+20, poderá se tornar uma poderosa ferramenta de estímulo à transição para uma economia verde. O Índice de Riqueza Inclusiva (IWI, na sigla em inglês) pretende ir além dos tradicionais índices de desenvolvimento econômico e humano – o PIB (Produto Interno Bruto) e o IDH (Índices de Desenvolvimento Humano) –, acrescentando a estes cálculos ativos fundamentais como o capital natural e o capital humano, que, inclui, por exemplo, o nível educacional das populações. Com a divulgação do relatório Inclusive Wealth Report 2012 (IWR), o Pnuma e a Universidade da ONU apresentaram mudanças ocorridas, de 1990 a 2008, na chamada “riqueza inclusiva” de 20 países que, reunidos, respondem por cerca de 3/4 da produção econômica global. Estava em pauta, portanto,
não apenas o crescimento econômico dessas nações, mas a situação de ativos como recursos renováveis ou não renováveis, como combustíveis fósseis, florestas e pescado. Surgiram então resultados surpreendentes. Apesar de registrarem crescimento do seu PIB, países como África do Sul, Brasil, China e Estados Unidos tiveram significativas perdas do seu capital natural nesse período, e que precisam ser descontadas do seu suposto crescimento econômico. Pelo cálculo tradicional, a África do Sul cresceu 24%; o Brasil, 31%; a China, 422%; e os Estados Unidos, 37%. Mas se os cálculos levarem em conta o índice IWI, Brasil e China cresceram apenas 18% e 45%, respectivamente. Os Estados Unidos chegaram a 13%, enquanto que a África do Sul teve decréscimo econômico de 1%. Mais informações em www.ihdp.unu.edu.
Amid/Shutterstock/Arquivo Pnuma
P N U M A
Desenvolvimento sustentável Na Rio+20, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, e a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark, anunciaram uma boa notícia para a cidade: a criação do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Inicialmente, o centro funcionará no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com a inauguração, dias antes da Rio+20, do Instituto Global para Tecnologias Verdes e Empregos, a Coppe consolida assim um trabalho voltado para a preservação planetária e para o desenvolvimento sustentável.
Furnas contra desigualdades A empresa Furnas assinou termo de compromisso com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para apoiar, com R$ 2 milhões, iniciativas que permitam que organizações sociais e municípios brasileiros implantem políticas voltadas aos Oito Objetivos do Milênio, de redução das desigualdades sociais até 2015.
Polo de desenvolvimento sustentável ao lado da UFRJ Polo Verde da Ilha do Bom Jesus é a multinacional General Electric. Em área de 240 mil km2, o Polo Verde vai concentrar empresas de alta tecnologia, pesquisadores e profissionais especializados, além de uma incubadora tecnológica, voltados para o desenvolvimento sustentável. Um dos destaques será a instalação de uma central de utilidades, comum a todos
os seus usuários, para distribuir, entre outras, energia elétrica e vapor, de forma centralizada e otimizada. Haverá ainda um sistema de reciclagem de lixo, iluminação com lâmpadas LED (que consomem menos energia), pavimentação de ruas com asfalto borracha (que aproveita pneus usados reciclados), maior mobilidade com ciclovias e bicicletas elétricas e uma grande área verde.
Luiz Morier
Primeiro parque tecnológico do país com infraestrutura sustentável, integrando governo, iniciativa privada e universidade, o Programa Polo Verde, da Secretaria de Estado do Ambiente, teve sua pedra fundamental lançada em junho, na Ilha do Bom Jesus (foto), na extensão do campus da UFRJ, na Ilha do Fundão. Uma das empresas que vão integrar o
JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125
7
B R A S I L P N U M A
Passaporte para o turismo sustentável Campanha do Pnuma estimula interação com natureza e tradições locais
O
Luiz Morier
do então a programar s ministérios do várias iniciativas susMeio Ambiente e do Tutentáveis, a começar rismo lançaram em jupela gastronomia. Seus nho, no Corcovado, restaurantes são espoucos dias antes da timulados a adquirir Rio+20, a campanha produtos da agriculmundial do Pnuma tura familiar, da pesca Passaporte Verde – e da população rural Turismo Sustentável da região. por um Planeta Vivo. A Ao lado de Steiner e partir de agora, o turisda ministra do Meio ta que desembarcar Ambiente do Brasil, Izanos aeroportos brasibella Teixeira, o secreleiros receberá orientário estadual do Amtações sobre padrões biente do Rio de Janeide consumo sustentáro, Carlos Minc, destavel. O objetivo é oferecou a importância de cer aos visitantes uma se investir no turismo e nova maneira de intetambém aplicar recurragir com a natureza, sos em obras de infracom as tradições e os estrutura: “Em Paraty, valores locais. estamos investindo Presente ao evento, cerca de R$ 40 milhões o diretor-executivo do em saneamento, mas Pnuma, Achim Steiner, temos que rever veafirmou que aquele era Achim Steiner (5º à direita): os turistas precisam ser estimulados a lhos hábitos e adotar o momento ideal para o adotar comportamentos sustentáveis e respeitosos com a natureza novos comportamenlançamento da campatos. O Passaporte Verde vai estimular o turista a não nha, pois o Rio de Janeiro, além da Rio+20, receberá sujar, não poluir, conhecer e respeitar nossa cultura e nos próximos anos dois megaeventos: a Copa do Munnosso povo. Com o tempo, o turista vai querer saber se do e os Jogos Olímpicos. aquele hotel tem construções e instalações sustentá“Essa campanha tem o objetivo de estimular a perveis, gastronomia orgânica e roteiros ecológicos”. cepção do turismo sob a ótica do desenvolvimento Segundo a ministra Izabella Teixeira, a tiragem inicial sustentável. Como qualquer atividade, o turismo tamdo Passaporte Verde será de 100 mil exemplares, e a bém gera impactos negativos. Os visitantes precisam campanha contará com o reforço de spots de rádio e de informação e alternativas. Temos que influenciar o TVs, além de divulgação maciça em redes sociais. turista para que seu comportamento seja respeitoso e “Temos direito ao consumo e dever com o planeta. Essa sustentável”, disse Steiner. campanha tem o objetivo de traduzir a sustentabilidade Cerca de 5,5 milhões de turistas visitam anualmente para o cidadão comum, tornando-a palpável”, disse. o Brasil. Com a chegada da Copa do Mundo de 2014, Izabella destacou a importância da bem-sucedida a previsão do Ministério do Turismo é a de que esse experiência de Paraty para a continuidade da campanúmero suba para 7,2 milhões. Nos Jogos Olímpicos nha: “Paraty hoje está se tornando uma cidade modelo de 2016, serão mais 380 mil estrangeiros. devido à parceria entre a Agenda 21 Local, a prefeitura Cidade histórica do Estado do Rio de Janeiro, no Sul e o governo estadual. Só no último ano, foram recolhiFluminense, Paraty foi escolhida há quatro anos para dos 600 mil litros de óleo vegetal usado”. sediar o projeto piloto do Passaporte Verde, passan-
8
JUNHO/JULHO 2012 – Nº 125