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BRASIL PNUMA PNUMA

www Visite .bra noss silpn o si um a t e .org Nº 131 .br JUN/JUL 2013

Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Energia renovável cresce em países pobres Nações em desenvolvimento já investem mais do que ricas em fontes sustentáveis Mas em 2012, foi registrada uma diferença curiosa: enquanto os US$ 132 bilhões investidos em 2012 pelas nações ricas representaram um volume 29% menor do que em 2011, os US$ 112 bilhões de investimentos nos países mais pobres foram 19% maiores do que os de 2011. O que se depreende de dois estudos divulgados pelo Pnuma sobre o tema – Global Trends in Renewable Energy Investment 2013 (//fs-unepcentre.org) e The REN21 Renewable 2013 Global Status Report (www. ren21.net/gsr) – é que os fluxos de investimentos em energias renováveis estão não apenas mudando geograficamente, mas se tornando parte vital da matriz de energia do mundo, estando presentes em cada aumento conjugado de plantas de geração de energia. Arquivo Pnuma

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s investimentos anuais em fontes de energia renovável nos países em desenvolvimento quase empataram com os das nações desenvolvidas em 2012, alcançando US$ 112 bilhões. Nos países ricos, foram de US$ 132 bilhões. Uma mudança expressiva se comparada a 2007, quando as economias desenvolvidas investiram 250% a mais – excluindo-se as grandes plantas de energia hídrica – do que as dos países em desenvolvimento. No entanto, mesmo com uma redução de 30% a 40% dos preços da energia solar – um fator de mercado positivo –, a crise econômica nos Estados Unidos e na União Europeia provocou uma diminuição geral dos negócios no setor. Assim, pela segunda vez desde 2006, o volume de investimentos em renováveis em determinado ano foi menor (12%) em relação ao ano anterior.

Maior suprimento energético – Apesar do menor volume de negócios no setor, a capacidade total de suprimento de energias renováveis superaram 1.470 GW em 2012 – mais de 8,5% em relação a 2011. A energia eólica contabilizou 39% da capacidade adicionada à matriz de renováveis em 2012, seguida pelas fontes hídricas (26%) e solar fotovoltaica (26%). Ao alcançar o marco de 100 GW, os painéis solares fotovoltaicos ultrapassaram os biocombustíveis. Das 138 nações que possuem metas ou políticas de instalação de fontes de energias renováveis, 2/3 são economias em desenvolvimento. A grande líder é a China, que em 2012, em relação a 2011, assistiu a um aumento de 22% em seus investimentos, alcançando US$ 67 bilhões; em especial devido aos investimentos em solar. Houve também aumento acentuado na África do Sul, Marrocos, México, Chile e Quênia. O Oriente Médio e a África apresentaram o maior aumento regional (228%), alcançando US$ 12 bilhões em 2012. Enquanto isso, nos Estados Unidos, mercado líder em 2011, os investimentos caíram 34% em 2012, somando US$ 36 bilhões – muito devido a incertezas em relação à política governamental para o setor. Os especialistas estimam que, em 2012, o setor de renováveis empregou, direta ou indiretamente, 5,5 milhões de pessoas – a maior parte, porém, ainda concentrada em um número relativo de países como o Brasil, China, Índia, Estados Unidos e nações da União Europeia. Mais informações em www.unep.org. Em 2012, a energia eólica liderou os investimentos com 39% da capacidade adicionada à matriz de renováveis


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Em nossa capa, destacamos o aumento dos investimentos em fontes de energias renováveis nos países em desenvolvimento, apesar da diminuição geral dos negócios no setor, em 2012, devido à crise econômica nas nações mais ricas. Aqui ao lado, publicamos um alerta para a iniciativa privada: a necessidade crescente, para a sua sobrevivência, de se implementarem estratégias gerenciais e de negócios focadas em ações em prol do desenvolvimento sustentável e da economia verde. Na página 3, mostramos a importância de se incentivar a produção das pequenas fazendas e promover a preservação ambiental, em uma estratégia para aliviar a pobreza e alimentar a crescente população mundial. No artigo das páginas centrais, o gerente de Mudanças Climáticas da Prefeitura do Rio de Janeiro, Nelson Moreira Franco, faz um balanço positivo das ações articuladas ou promovidas pela administração municipal no combate às mudanças climáticas em curso no planeta. Fechamos esta edição com reportagem na contracapa em que destacamos o lançamento da Frente Pró-Juçara, na PUC-Rio, para o plantio de 10 milhões de mudas dessa espécie de palmeira que já foi predominante na Mata Atlântica. Um palmeira cujo fruto, que lembra o do açaí, pode ser tornar precioso – e delicioso – ingrediente em nosso cardápio alimentar. Um abraço e até o próximo.

Haroldo Mattos de Lemos Presidente

Empresas têm que apostar no verde Futuro corporativo depende de respostas a questões ambientais O futuro do setor privado dependerá crescentemente da habilidade do mundo corporativo de se adaptar às rápidas mudanças ambientais em curso no planeta e em desenvolver produtos e serviços que possam reduzir os impactos provocados pelas mudanças climáticas, escassez de água, emissão de substâncias químicas nocivas e outros problemas. Divulgado em junho, pelo Pnuma e a consultoria de estratégias empresariais SustainAbility, o relatório GEO-5 for Business: Impacts of a Changing Environment on the Corporate Sector avalia que mudanças no meio ambiente planetário provocarão impactos crescentes em custos operacionais, em mercados de produtos, na disponibilidade de matérias-primas e na reputação dos negócios – dos setores de finanças e de turismo ao de atendimento de saúde e de transporte. A partir de análise detalhada dos setores industriais, como construção, químicos, mineração e alimentação, o GEO-5 for Business descreve, em linhas gerais, os riscos específicos devidos às mudanças ambientais em curso e como o mundo dos negócios poderá se ajustar para criar vantagens competitivas a longo prazo. O crescente aumento da temperatura global, por exemplo, repre-

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EDITORIAL

80% do capital para se lidar com mudanças climáticas será privado

senta um desafio para a viabilidade futura do turismo. O estudo afirma que menos da metade dos resorts de esqui em operação nos Estados Unidos deverá, em 30 anos, se manter viável financeiramente caso a média do aumento da temperatura se situe entre 2,5º e 4º. Fahrenheit (1,39º a 2,23º Celsius). O relatório sustenta que mais de 80% do capital necessário para o planeta lidar com questões relacionadas às mudanças climáticas deverá vir do setor privado. Isto poderá gerar oportunidades significativas de investimentos na economia verde, como em construções ecológicas, tecnologias de eficiência energética, transporte sustentável e outros produtos e infraestruturas de baixo consumo de carbono. O GEO-5 for Business: Impacts of a Changing Environment on the Corporate Sector está disponível em w w w.unep.org/geo/pdfs/ geo5/GEO5_for_Business.pdf.

Presidente: Haroldo Mattos de Lemos Diretor Jurídico: Oscar Graça Couto Diretor Admi-

mercial do Rio de Janeiro), Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin

nistrativo: Roberto Carrilho Padula Diretor Técnico: Nélio Paes de Barros Jornalista Res-

(presidente da SOS Mata Atlântica, SP), Roberto Messias Franco (ex-presidente do Ibama)

ponsável: Ronie Lima (MTb 15.415/RJ) Referências Bibliográficas: Zilda Rodrigues de Souza

Conselho Fiscal: Joper Padrão do Espirito Santo, Telma de Avellar Guimarães, Vicente Hermo-

Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell Impressão: Corbã Conselho Consultivo: Adolpho

gerio Schmall (titulares), João Alfredo Noronha Viegas, Saint Clair Zugno Giacobbo (suplentes).

de Marinho Pontes (ex-deputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (expresidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes, AL), Cândido

Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

Mendes de Almeida (diretor geral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Henrique de INSTITUTO

Abreu Mendes (ex-secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc

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(secretário de Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro), Henrique Brandão Cavalcanti (ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L. Dubois (presidente do Instituto

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Rede Brasileira Agroflorestal/Rebraf,RJ), João Augusto Fortes (presidente da Sociedade Civil Pró-Rio), Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (ex-vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/ Firjan), Márcio Nogueira Barbosa (vice-diretor executivo da Unesco), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (ex-presidente da Associação Co-

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O interessado em tornar-se sócio do Instituto BRASIL PNUMA e receber este informativo deve fazer contato pelo nosso telefone ou pelo email.

www.brasilpnuma.org.br COMITÊ BRASILEIRO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASIL PNUMA Av. Treze de Maio 13, sala 1.315 – Centro CEP 20.031-901 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Telefax: (21) 2262-7546 CGC: 40.200.230/0001-19 brasilpnuma@gmail.com

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Pequenas fazendas reduziriam pobreza Apoio a agricultura de menor escala ajudaria a alimentar população mundial

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relatório Smallholders, Food Security and the Environment, lançado em junho, sustenta que o apoio para que pequenos fazendeiros tenham papel relevante na produção de alimentos e no gerenciamento de recursos naturais é um dos caminhos mais rápidos para tirar mais de um bilhão de pessoas da pobreza e alimentar de forma sustentável a crescente população mundial. Produzido pelo centro de monitoramento da conservação mundial do Pnuma World Conservation Monitoring Centre (Unep-WCMC) e pelo fundo para o desenvolvimento agrícola InternationalFund for Agricultural Development (IFAD), o estudo sustenta que mais de 1,4 bilhão de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia habitam áreas rurais e dependem, em grande parte, da agricultura para

Cerca de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do planeta estão envolvidas em atividades agrícolas de pequeno porte JUNHO/JULHO 2013 – Nº 131

sua subsistência. Além disso, estima-se que 2,5 bilhões de pessoas estão envolvidas totalmente ou na maior parte do tempo em atividades agrícolas de pequeno porte. Os pequenos proprietários gerenciam cerca de 500 milhões de fazendolas e fornecem mais de 80% dos alimentos consumidos em grande parte do mundo em desenvolvimento, em particular no Sul da Ásia e na África Subsaariana, contribuindo assim para a segurança alimentar e a redução da pobreza mundial. Estudo prévio citado no relatório do Pnuma/IFAD mostrou que um aumento de 1% do PIB per-capta agrícola reduziu o nível de pobreza cinco vezes mais do que aumento semelhante do PIB de outros setores econômicos. Outro estudo demonstrou que para cada aumento de 10% em áreas de fazendas houve redução de 7% da pobreza na África e de mais de 5% na Ásia. Dificuldades do setor– No entanto, a crescente fragmentação de terras, a redução de investimentos de apoio e a marginalização de pequenas fazendas nas políticas econômicas e de desenvolvimento têm dificultado o desenvolvimento dessa vital produção de alimentos, deixando vulneráveis muitos pequenos proprietários. Segundo o estudo do Pnuma/IFAD, ao obterem as condições adequadas e apoios direcionados, esses pequenos fazendeiros – atualmente negligenciados – podem transformar o cenário rural e desencadear uma nova e sustentável revolução agrícola. O relatório faz uma série de recomendações para que os promotores de políticas públicas e os profissionais do setor entendam melhor a relação entre pequenos proprietários, segurança alimentar e meio ambiente. O estudo sugere iniciativas como a remoção de barreiras políticas ao crescimento da agricultura sustentável, como a adoção de mecanismos de mercado que incentivem os pequenos agricultores a investir em sustentabilidade; citando como exemplos a remoção de subsídios em fertilizantes insustentáveis e a adoção de subsídios a práticas de conservação das águas e dos solos. No sentido de prover os pequenos fazendeiros com informações necessárias para o desenvolvimento dos negócios, o estudo recomenda investimentos em escolas rurais e no uso de rádios rurais e de outros meios móveis de comunicação.O relatório está disponível em www.unep.org/pdf/SmallholderReport_WEB.pdf.

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Combate às mudanças climáticas: o N

as últimas quatro décadas, o Brasil viveu um processo de mudanças econômicas e sociais caracterizado pela modernização da economia e intenso fluxo migratório em direção aos principais centros urbanos do país, notadamente o Rio e São Paulo. Entretanto, essa urbanização acelerada resultou na ocupação desordenada do espaço urbano através de intervenções desconexas com intensa verticalização, compactação e impermeabilização do solo, supressão de vegetação e cursos d´água. E esse processo ainda teve outro agravante: não foi acompanhado de um planejamento de expansão de infraestrutura e de serviços, comprometendo tanto a qualidade de vida das populações quanto o ambiente natural. É fundamental que uma metrópole como o Rio de Janeiro promova a transformação desse modelo de exploração desordenada do meio ambiente, que além de produzir custos sociais danosos para a população e para o poder publico, contribui de forma decisiva para o aumento dos impactos resultantes das mudanças climáticas na cidade. Neste sentido, a atual administração municipal tem envidado esforços na execução de projetos e programas direcionados, principalmente, ao enfretamento das mudanças climáticas, considerando, além da dimensão ambiental, tecnológica e econômica, a dimensão cultural e política, o que vai exigir a participação democrática de todos os segmentos da sociedade. Historicamente, a cidade tem se destacado pelo pioneirismo nas ações relacionadas às mudanças climáticas. Em 1992, sediou a Conferência da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como “Cúpula da Terra”, que consagrou os princípios do desenvolvimento sustentável como paradigma da agenda global e estabeleceu o marco regulatório no combate ao aquecimento global, com a criação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima da Rio 92, e realizada com grande êxito e trazendo grandes benefícios para o planeta. Visando a fortalecer ainda mais a política ambiental do município, foi estabelecido, na diretriz da atual gestão, que todo projeto ou atividade desenvolvida tenha como princípio a disseminação de conceitos e práticas do desenvolvimento sustentável, associado à redução das emissões de gases do efeito estufa e ao uso de tecnologias limpas. A Cidade do Rio de Janeiro foi uma das primeiras no país a definir uma Política Municipal de Mudanças Climáticas e de Desenvolvimento Sustentável, iniciativa essa que consagrou o esforço conjunto do Poder Executivo com a Câmara de Vereadores da cidade. A lei estabelece metas de redução de emissões de gases do efeito estufa para os próximos anos (de até 16%, em 2016, a até 20%, em 2020, em relação às emissões registradas em 2005). Foi também criado e empossado o Fórum Carioca de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável (Decreto nº 31.415/2009), presidido pelo prefeito

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e composto por representativos segmentos do poder público, inciativa privada e sociedade civil, cujo objetivo é contribuir na busca de soluções para o efeito estufa e combater seus impactos na cidade. O Município do Rio de Janeiro foi um dos primeiros a negociar compensações de emissões de gases do efeito estufa com a iniciativa privada, antecipando-se à definição dos marcos regulatórios nacional e internacional sobre o tema. A política climática da cidade, coordenada pela Gerência de Mudanças Climáticas da Prefeitura do Rio de Janeiro, vem sendo implementada através de uma moderna, ágil e intensificada atuação, que envolve a transversalidade entre as diversas áreas da administração municipal e sólidas parcerias com instituições acadêmicas de excelência, através de ações compartilhadas, como projetos, pesquisas e atividades inovadoras no setor gestão de resíduos sólidos, transportes, urbanismo, energia, defesa civil, entre outros, visando sempre à sustentabilidade e à mitigação e/ou adaptação das emissões dos gases-estufa. Tendo sido a primeira cidade da América Latina a elaborar um inventário de emissão de gases de efeito estufa em 2003 e atualizar esse inventário em 2011, a Cidade do Rio de Janeiro promoveu, no inicio de julho, o 1º Seminário Internacional sobre Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa de Cidades, que JUNHO/JULHO 2013 – Nº 131


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legado da Cidade do Rio de Janeiro

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Nelson Moreira Franco: O Rio de Janeiro foi uma das primeiras cidades no país a definir uma Política Municipal de Mudanças Climáticas e de Desenvolvimento Sustentável

reuniu, no Jardim Botânico, especialistas e técnicos das iniciativas pública e privada, sociedade civil brasileira e de países como Inglaterra, China e Estados Unidos, além da participação efetiva de renomadas instituições que estudam as emissões de GEE, como o Banco Mundial, o WRI, ICLEI e C 40. O evento teve como objetivo a construção de um novo padrão global de elaboração de inventário de emissão de GEE, que possa utilizar as melhores práticas e experiências e ter o reconhecimento internacional, para que seja adotada uma metodologia que permita a geração de dados precisos, transparentes e consistentes que possibilitem a comparação das emissões de grandes cidades do planeta. Inclusive, o Terceiro Inventário de Cidades do Rio de Janeiro, que será finalizado em dezembro de 2103, já vai fazer a migração desses dados, podendo ser a primeira megacidade a adotar esse novo padrão global de inventário. A Prefeitura do Rio executa concomitantemente uma série de projetos sustentáveis de grande porte e com significativo alcance em relação à redução dos gases do efeito estufa, como, por exemplo: a construção do Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica; a implantação dos quatro corredores viários Transcarioca, Transoeste, Transolímpica e Transbrasil, que totalizam mais 150 km de extensão, onde os ônibus utilizarão JUNHO/JULHO 2013 – Nº 131

combustíveis renováveis trafegando em pistas exclusivas; e o Programa Rio Capital Verde, que visa a impedir a progressiva degradação da cobertura vegetal da cidade decorrente da urbanização desordenada, recuperar o ecossistema original da Mata Atlântica, regularizar os mananciais e prevenir ocupações irregulares. Neste último, além de gerar trabalho e renda, a SMAC realiza plantios em quase cem áreas, em parceria com as comunidades localizadas nas encostas da cidade, e registra o plantio de mais de 2 mil hectares em 15 anos. Até o final de 2013, está previsto o plantio de mais 1,5 mil ha, contribuindo para consolidar o Rio como a cidade com maior cobertura verde do Brasil. O programa Rio Capital da Bicicleta (o transporte ciclo-viário produz conhecidas externalidades positivas em termos ambientais, no tráfego e na qualidade de vida) consiste na manutenção e melhoramento dos 150 km de ciclovias existentes (segunda maior rede da América Latina) e na implantação de mais 150 km. A ampliação está associada à instalação de bicicletários, conectados à estação ferroviária, rodoviária e metrô, integrando a malha à rede de transportes públicos. Já O Programa Gestão de Resíduos Sustentáveis, que conta com recursos do BNDES e objetiva à ampliação da coleta seletiva e ao estímulo à reciclagem, permitirá que o material reciclado, hoje em torno de 1%, atinja 5% nos próximos anos e alcance o recolhimento de 30 mil t./mês de material reciclável. Além de atender à maioria dos bairros da cidade, o programa contribuirá para a melhoria do reordenamento urbano e o menor consumo de matérias-primas não renováveis, e prevê a construção de seis galpões, devidamente equipados, em áreas estratégicas da cidade, que serão geridos pela cooperativa de catadores, e a incorporação da dimensão climática no planejamento de toda malha viária da cidade. Outra iniciativa importante foi a criação do Centro de Operações Rio, utilizando tecnologia de ponta que reúne e consolida as informações produzidas pela prefeitura e por diversas instituições, e que muito contribuirá para os esforços visando a minimizar sensivelmente os impactos das mudanças climáticas na cidade. Dentre as atividades de grande alcance socioambiental desenvolvidas pela Gerência de Mudanças Climáticas da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, destacamse as articulações institucionais, tendo como referência a cooperação técnico financeiro da Prefeitura do Rio com o Banco Mundial para a implantação do sistema de monitoramento de emissões dos gases de efeito estufa, possibilitando que a Cidade do Rio de Janeiro seja a primeira megacidade do Hemisfério Sul a implantar esse importante instrumento de combate ao aquecimento global. Dentre outras articulações, destacam-se as realizadas com Fundação Konrad Adenauer, Fiocruz, Inpe, Tribunal de Contas do Estado Rio de Janeiro, World Resource Institute – WRI, C-40 e ICLEI. Nelson Moreira Franco é gerente de Mudanças Climáticas da Prefeitura do Rio de Janeiro

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E S TAN T E

Parte das publicações, periódicos e DVDs recebidos pela biblioteca ANJOS JR., Ary Haro dos. Gestão estratégica do saneamento. Barueri, SP: Manole, 2011. BLIACHERIS, Marcos Weiss, FERREIRA, Maria Augusta Soares de Oliveira. Coord. Sustentabilidade na administração pública: valores e práticas de gestão socioambiental. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2012. 312 p. BRAUN, Ricardo. Incentivos verdes. [s.l.], 2009.

PANAYOUTOU, Theodore. Mercados verdes. Rio de Janeiro: Nordica, 1994. A PEGADA ecológica de Campo Grande e a família de pegadas. Brasília: WWF Brasil, 2012. PEREIRA, Adrianna Camargo, SILVA, Gibson Zucca da, CARBONARI, Maria Elisa Ehrardt. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013.

CADERNOS NAE. Mudança de clima. Brasília: Presidência da República. Núcleo de Assuntos Estratégicos, 2005.

Rio de Janeiro (Estado). Governo. Desenvolvimento rural sustentável. Rio de Janeiro: Secretaria de Agricultura e Pecuária, 2013.

Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Relatório de atividades 2010/2013. Rio de Janeiro: Cebri, 2013.

Rio de Janeiro (RJ). Prefeitura. Rio no caminho da sustentabilidade. Rio de Janeiro: A Prefeitura, 2012.

Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Brasil e os temas globais. Rio de Janeiro: O Centro, 2011.

SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.

COPPE. UFRJ. Inventário e cenário de emissões dos gases-estufa na cidade do Rio de Janeiro: Coppe. UFRJ, 2011.

SESI. Programa Prazer de Estar Bem. Rio de Janeiro: Sesi, 2011.

DA RIO 92 à RIO+20: o Cetem e pesquisa sustentável dos recursos minerais. Rio de Janeiro: Cetem/MCTI, 2012. 92 p. FGPE/UNEP/BAYER/NIKON. The international children´s painting competition. [s.l.], 2012. GLOBAL forest resources assessment 2010: main report. Roma: FAO, 2010. GONÇALVES, Teresinha Maria, SANTOS, Robson dos. (Org.). Cidade e meio estudos interdisciplinares. Criciúma, SP: Unesc, 2010. MILIOLI, Robson, SANTOS, Robson dos, CITADINI-ZANETTE, Vanilde. (Coord.). Mineração de carvão, meio ambiente e desenvolvimento sustentável no sul de Santa Catarina. Curitiba: Juruá Editora, 2009.

UNEP Finance Initiative. A new angle on sovereign credit risk: E-RISC environmental integration in sovereign credit analysis. Nairobi: Unep, 2012. _____. Global mercury assessment 2013: sources, emissions, releases and environmental transport. Nairobi: Unep, 2013. _____. A simplified guide to the IPCC" climate change 2001: mitigation. 2011. UNEP year book: emerging issues in our global environment 2013. Nairobi: Unep, 2013. YOUNG, Carlos Eduardo et al. O Brasil e a agenda da sustentabilidade: desafios e oportunidades para o Estado, o setor privado e sociedade civil. Rio de Janeiro: Cebri, 2012.

Patrono para Oceanos do Pnuma O nadador inglês Lewis Pugh é o novo patrono do Pnuma para ações de preservação dos oceanos. Única pessoa a ter completado travessias de longas distâncias em todos os oceanos do planeta, ao longo de 27 anos, Pugh começará, em 2014, uma jornada de três anos pelo mundo, passando por três oceanos e 18 mares – e promoverá o trabalho do Pnuma no setor e campanha pela criação de mais áreas de proteção marinhas. Uma das metas da Convenção sobre Diversidade Biológica é que 10% dos mares se tornem áreas protegidas até 2020. Mais de 10% das áreas terrestres já estão protegidas como parques nacionais. O programa do Pnuma Regional Seas Programme foi lançado, em 1974, para incentivar países vizinhos a desenvolver ações para a conservação do ambiente marinho comum. Cerca de 140 países participam em 18 iniciativas por mares regionais, seis delas administradas pelo Pnuma. Mais informações sobre o programa e a carreira de Pugh em www.unep.org/regionalseas/ default.asp e www.lewispugh. com. Divulgação

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2º Seminário ISO sobre Quantificação, Relatório e Verificação da Emissão de Gases de Efeito Estufa – De 4 a 5 de setembro, no Rio de Janeiro (RJ). Realização: Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e International Organization for Standardization (ISO). Informações pelo email vanessa.mendes@abnt.org.br.

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Reciclagem urgente de metais Dois relatórios divulgados pelo painel internacional IRP – um grupo de especialistas reunidos pelo Pnuma – concluíram que a crescente demanda por metais exige nova abordagem sobre as práticas e processos atuais de reciclagem.O subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, alerta que com as economias dos países em desenvolvimento adotando tecnologias e estilos de vida semelhantes aos das nações desenvolvidas, “a demanda global de metais no futuro próximo será de três a nove vezes maior que a quantidade atual”. A solução do problema é complexa, pois inclui questões relacionadas à promoção crescente de negócios ligados à economia verde. As técnicas de energias renováveis, por exemplo, diminuem as emissões de gasesestufa na produção de metais, mas contribuem para o aumento dessa demanda, já que produtos como paineis solares usam mais

elementos de metais que as fontes de combustíveis fósseis. A reciclagem demanda bem menos energia por quilo de metal produzido do que a produção primária. Na teoria, metais podem ser reciclados quase que indefinidamente. É grande o potencial de reciclagem se forem considerados todos os equipamentos eletroeletrônicos em uso no planeta, que têm quantidade de resíduos estimada entre 20 milhões a 50 milhões de toneladas por ano – ou de três a sete quilos por pessoa. No entanto, os índices de reciclagem são baixos: menos de 1/3 entre os 60 metais estudados tem índices de reciclagem acima de 50%; sendo que 34 deles têm índices inferiores a 1%.Os relatórios Environmental Risks and Challenges of Anthropogenic Metals Flows and Cycles e Metal Recycling – Opportunities, Limits, Infrastructure podem ser acessados na seção de publicações de www.unep.org.

Prêmios para curtas ambientais no YouTube Divulgação

A companhia Television for the Environment (TVE), o Pnuma e as organizações WWF e Biodiversity International, entre outros, convidam cineastas ao redor do planeta para enviar ideias inspiradoras – por mais loucas e iconoclastas que sejam – para uma competição de filmes de um minuto sobre meio ambiente. Em seu quarto ano, o tvebiomovies 2013 é uma iniciativa voltada para a chamada geração You Tube e aberta a qualquer um com acesso a uma câmera; e que pode se inscrever em sete categorias.

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Os melhores projetos receberão US$ 300 de ajuda para a elaboração dos fi lmes. O Pnuma está desafiando os cineastas a inscrever projetos em duas categorias em especial: mudanças climáticas e desperdício de alimentos. Os finalistas em cada uma das sete categorias que obtiverem o maior número de visitações no YouTube serão premiados com US$ 1.500. Mais informações e inscrições em http://bit.ly/pAx7GE ou em www. tve.org.

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Pelo banimento do mercúrio O emprego na Mongólia de um processo de mineração de ouro em pequena escala pode ser a solução para o banimento do uso de mercúrio no setor. Trata-se da utilização do composto de uma rocha existente no distrito de Mandal que, moído e misturado ao material garimpado, consegue, ao ser chacoalhado, separar o ouro do produto restante. Para o Pnuma, esse processo artesanal é uma alternativa ambiental ao tradicional método de utilizar mercúrio para obtenção de ouro em garimpos. O mercúrio é um metal altamente tóxico que contamina em especial fetos em desenvolvimento e crianças. Ao ser liberado no meio ambiente, pode viajar a grandes distâncias pelo ar, causando contaminação global de ecossistemas, de animais e da cadeia alimentar humana. Em janeiro, após quatro anos de negociações patrocinadas pelo Pnuma, foi estabelecida a Convenção de Minamata, um tratado global para o controle progressivo e o banimento do uso do mercúrios em diversos setores. Os garimpos de ouro espalhados pelo mundo são responsáveis por 35% do mercúrio emitido no ar, ameaçando diretamente a saúde de cerca de 15 milhões de mineradores em 70 países, em especial na África, Ásia e América do Sul.

Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável Uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente do Brasil e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Pnud), com apoio do Pnuma, foi lançado em junho, na Cidade do Rio de Janeiro, o Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+), e que funcionará, até o fim do ano, na Ilha do Fundão, em espaço cedido pela Coppe/URFJ. Centro de referência da ONU, o Rio+ promoverá a pesquisa, o intercâmbio de conhecimento e a realização de debates internacionais sobre ações inovadoras nos campos econômico, social e ambiental, em prol do desenvolvimento sustentável. O centro reunirá parceiros internacionais representando o poder público, organizações não governamentais, universidades e iniciativa privada.

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PUC sedia ações da Frente Pró-Juçara Ambientalistas lutam para preservar palmeira endêmica da Mata Atlântica

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om o plantio de mil mudas de palmeira juçara, em junho, no campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e na Bacia do Rio Rainha, na Gávea, na Zona Sul do Rio, foi lançada oficialmente a Frente Pró-Juçara, com o objetivo de povoar a Mata Atlântica com 10 milhões de palmeiras dessa espécie. No lançamento da frente, na abertura da XIX Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio, foi promovido um festival gastronômico tendo por base o fruto da juçara, que lembra o do açaí, embora seja mais nutritivo. Muitos dos presentes, ao provarem suco, sorvete e dois tipos de tortas confeccionados a partir da juçara, acharam seu fruto mais saboroso que o do açaí. Segundo o advogado e professor de Direito Ambiental da PUC Oscar Graça Couto, estudos demonstraram que uma em cada quatro árvores da cobertura original de Mata Atlântica era de palmeira juçara, endêmica desse bioma. Dentre as razões para essa abundância, destacase que mais de 60 espécies de animais – aves, mamíferos e répteis – comem o fruto da juçara, disseminando suas sementes. No entanto, embora fosse a árvore predominante da Mata Atlântica até há menos de cem anos, a juçara encontra-se na lista oficial do Ministério do Meio Ambiente de espécies da nossa flora ameaçadas de extinção. Por

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isso, o Projeto Amável – A Mata Atlântica Sustentável, por meio do programa Frente Pró-Juçara, tem o objetivo de reverter esse quadro, estimulando o repovoamento da Mata Atlântica com espécimes dessa palmeira. “Queremos fazer com a juçara o mesmo que se faz com o açaí na Amazônia: explorar, consumir e comercializar seus frutos, de modo legal e sustentável, gerando renda, trabalho e alimento, além de contribuir para revitalizar a floresta”, diz Graça Couto. Com o plantio de 10 milhões de palmeiras juçara, a frente contribuirá para que o Governo do Estado do Rio de Janeiro cumpra o compromisso olímpico de plantio de 24 milhões de espécies de árvores até as Olimpíadas de 2016. Para estimular esse plantio e a exploração do fruto, a

Frente Pró-Juçara pretende mobilizar pequenos agricultores familiares e orgânicos, comunidades indígenas e quilombolas, assentados, proprietários rurais, gestores de unidades de conservação, como parques, ONGs e associações de bairros, entre outros. Além disso, quer estimular a conversão de palmiteiros em plantadores de juçara e em coletores legalizados dos seus frutos, demonstrando ser mais lucrativo colher frutos do que extrair palmito. São também previstas ações como cooperar com empresas interessadas em mitigar suas pegadas de carbono ou sujeitas à obrigação legal de compensar suas emissões de gases-estufa, com o plantio de árvores, além de ações de educação ambiental em escolas e comunidades rurais, entre outros locais, para mostrar a importância da juçara na prestação de serviços ecossistêmicos, como a proteção de solos, águas e clima. As metas da frente ultrapassam o apoio à preservação da juçara, ao incentivar a produção de sementes, o plantio e o manejo sustentável de outras espécies nativas da Mata Atlântica com potencial de geração de renda e alimentos. Mais informações sobre a Frente Pró-Juçara no Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio (Nima), em www.nima.puc-rio.br. JUNHO/JULHO 2013 – Nº 131


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