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BRASIL PNUMA PNUMA

www Visite .bra noss silpn o si um a t e .org Nº 133 .br OUT/NOV 2013

Informativo do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Perda de alimentos e prejuízo ambiental FAO mostra relação entre desperdício de comida e danos a recursos naturais Arquivo Pnuma

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ovo estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO; na sigla em inglês), divulgado em setembro, mostra que o desperdício chocante de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos por ano não causa apenas grandes perdas econômicas, mas danos significativos em recursos naturais com que a humanidade conta para se alimentar. O relatório Food Wastage Footprint: Impacts on Natural Resources é o primeiro estudo a analisar os impactos da perda global de alimentos de uma perspectiva ambiental, focando suas consequências para o clima, a água, o uso da terra e a biodiversidade. Algumas conclusões são alarmantes. Anualmente, por exemplo, os alimentos que são produzidos, mas não consumidos, desperdiçam um volume de água três vezes maior do que o volume anual do curso de água do famoso rio russo Volga, além de adicionar 3,3 bilhões de toneladas de gases-estufa na atmosfera. A FAO estima que as consequências econômicas diretas desse desperdício para os produtores de alimentos (excluindo peixes e frutos do mar) alcançam cifras anuais da ordem de US$ 750 bilhões. Segundo o estudo, 54% do desperdício mundial ocorre em etapas posteriores à colheita e de armazenamento. O restante do desperdício (46%) se dá em estágios de processamento, distribuição e consumo. Como tendência geral, os países em desenvolvimento sofrem mais perdas de alimentos durante

1/3 dos alimentos vai para o lixo e 870 milhões passam fome no mundo

a produção agrícola propriamente dita, enquanto a perda de alimentos nos níveis de varejo e de consumo tende a ser maior nas regiões médias e de maior desenvolvimento econômico. Novo comportamento – “Todos nós – fazendeiros e pescadores, fabricantes de alimentos e supermercados, governos locais e nacionais, consumidores individuais – temos que promover mudanças em cada etapa da cadeia alimentar humana para evitar, em primeiro lugar, o desperdício de alimentos, reutilizando e reciclando o que não pudermos utilizar”, afirma o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.

Além do problema ambiental decorrente do desperdício de alimentos, Graziano da Silva chama a atenção para uma importante questão moral: “Não podemos simplesmente permitir que 1/3 de toda a comida que produzimos vá para o lixo enquanto 870 milhões de pessoas passam fome todos os dias”. Acompanhando o novo estudo, a FAO – que lançou com o Pnuma, no início do ano, a campanha internacional Pensar. Comer. Conservar – Diga não ao Desperdício – publicou um kitferramenta contendo recomendações sobre como a perda e o desperdício de alimentos podem ser reduzidos ao longo da cadeia alimentar. O kit lista vários projetos ao redor do planeta que mostram como governos locais e nacionais, fazendeiros, empresários e consumidores individuais podem adotar medidas para lidar com o problema. Três níveis gerais de ação são recomendados pela FAO: Em primeiro lugar, como prioridade máxima, reduzir a perda de alimentos, promovendo um melhor balanceamento entre os níveis de produção e a demanda real para determinados produtos. E no caso de excesso de alimentos, reutilizá-los, explorando mercados secundários ou doando-os para pessoas desassistidas. Finalmente, se não for possível a reutilização, reciclar os alimentos, produzindo-se, por exemplo, compostagens para fertilizar terrenos agrícolas. Mais informações em www.unep. org.


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Em nossa capa, destacamos o estudo pioneiro da FAO que mostra a conexão entre o grave desperdício de alimentos no mundo e a degradação ambiental, em especial com consequências negativas para o clima, fornecimento de água, uso da terra e a biodiversidade. Aqui ao lado, divulgamos mais um ponto positivo para o meio ambiente: a adesão de 139 países, como o Brasil, à Convenção de Minamata, que visa ao controle e, em alguns casos, à erradicação do uso de um dos elementos mais tóxicos da natureza: o mercúrio. Na página ao lado, voltamos ao tema da gravidade do aquecimento global em curso no planeta, divulgando um alerta do diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, sobre a importância das nações se engajarem em ações urgentes para o controle e a diminuição das emissões dos gases-estufa, sob pena da humanidade estar hipotecando seu futuro. No artigo das páginas centrais, o biólogo marinho Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Ecológico Aqualung, escreve sobre os melhores caminhos para as autoridades e a sociedade em geral minimizarem, de forma racional e não passional, os incidentes e mortes no litoral do Recife provocados por tubarões. Na contracapa, finalizamos esta edição com o anúncio de um novo produto, a ser comercializado pela ONG SOS Dental, para reciclar o grande volume de água de lavagem das cuspideiras dos consultórios dentários que é desperdiçado diariamente. Um abraço e até o próximo. Haroldo Mattos de Lemos Presidente

Tratado combate uso de mercúrio Brasil e 138 países aderem à Convenção de Minamata O Brasil aderiu à Convenção de Minamata sobre Mercúrio em conferência diplomática realizada, em outubro, na Japão. Até Premiada com agora, 139 países o Champions of the Earth Award adotaram o tratado internacional Mi- 2013 (ver Antena), Izabella Teixeira namata Convention assinou adesäo do on Mercury, que Brasil à Convençåo define prazos para de Minamata a redução, controle e até mesmo a eliminação do mercúrio em processos industriais e artesanais. O texto da convenção foi aprovado em fevereiro passado, após quatro anos de intensas negociações que tiveram apoio do Pnuma. A convenção entrará automaticamente em vigor assim que for ratificada pelos parlamentos de pelo menos 50 dos países signatários. Assinada pela ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, terá agora que ser aprovada pelo Congresso Nacional. O mercúrio é considerado um dos elementos mais tóxicos da natureza. Capaz de poluir o ar, a água e a terra, pode viajar a longas distâncias, contaminando a cadeia alimentar e podendo causar danos irreversíveis à saúde humana, inclusive provocando mortes. Fontes de poluição – A Minamata Convention on Mercury identifica como fontes de liberação de mercúrio no

Artigo Pnuma

EDITORIAL

ambiente segmentos produtivos como usinas de energia a carvão, fábricas de cimento, indústrias de equipamentos hospitalares e odontológicos e de incineração de resíduos. Pelo tratado, o mercúrio terá que ser eliminado, até 2020, de baterias, pilhas, lâmpadas, cosméticos, pesticidas e outros materiais. Em alguns casos, terá seu uso rigorosamente controlado. As maiores fontes de poluição por mercúrio são as atividades de mineração de ouro em pequenos garimpos e as estações de geração de energia à base de queima de carvão. Os países que aderiram à convenção concordaram em alinhavar estratégias para reduzir a quantidade de mercúrio utilizada em áreas de garimpo e em outras fontes importantes de poluição. Mais informações sobre a Minamata Convention on Mercury e a lista dos países que aderiram ao tratado em www.mercuryconvention.org.

Presidente: Haroldo Mattos de Lemos Diretor Jurídico: Oscar Graça Couto Diretor Admi-

mercial do Rio de Janeiro), Ricardo Boechat (diretor de jornalismo da Band Rio), Roberto Klabin

nistrativo: Roberto Carrilho Padula Diretor Técnico: Nélio Paes de Barros Jornalista Res-

(presidente da SOS Mata Atlântica, SP), Roberto Messias Franco (ex-presidente do Ibama)

ponsável: Ronie Lima (MTb 15.415/RJ) Referências Bibliográficas: Zilda Rodrigues de Souza

Conselho Fiscal: Joper Padrão do Espirito Santo, Telma de Avellar Guimarães, Vicente Hermo-

Arte e Diagramação: Eliana Mac Dowell Impressão: Corbã Conselho Consultivo: Adolpho

gerio Schmall (titulares), João Alfredo Noronha Viegas, Saint Clair Zugno Giacobbo (suplentes).

de Marinho Pontes (ex-deputado federal do Estado do Ceará), Aloisio Ferreira de Souza (expresidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental/Abes, AL), Cândido

Publicação bimestral. Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

Mendes de Almeida (diretor geral da Faculdade Cândido Mendes/RJ), Carlos Henrique de INSTITUTO

Abreu Mendes (ex-secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro), Carlos Minc (ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), Jean C. L. Dubois (presidente do Instituto

www.brasilpnuma.org.br

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(secretário de Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro), Henrique Brandão Cavalcanti PNUMA

Rede Brasileira Agroflorestal/Rebraf,RJ), João Augusto Fortes (presidente da Sociedade Civil Pró-Rio), Joaquim Falcão (ex-secretário-geral da Fundação Roberto Marinho), José Mário de Oliveira Ramos (ex-vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro/ Firjan), Márcio Nogueira Barbosa (vice-diretor executivo da Unesco), Paulo Nogueira Neto (ex-secretário especial do Meio Ambiente), Paulo Protásio (ex-presidente da Associação Co-

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O interessado em tornar-se sócio do Instituto BRASIL PNUMA e receber este informativo deve fazer contato pelo nosso telefone ou pelo email.

COMITÊ BRASILEIRO DO PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASIL PNUMA Av. Treze de Maio 13, sala 1.315 – Centro CEP 20.031-901 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Telefax: (21) 2262-7546 CGC: 40.200.230/0001-19 brasilpnuma@gmail.com

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IPCC mostra gravidade do efeito estufa A

pós a divulgação, em setembro, do último relatório científico produzido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que confirmou o agravamento do aquecimento global pela ação do homem, o subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, fez um chamamento mundial: “A mudança climática é um desafio de longo prazo, mas que exige ação urgente. Não amanhã, mas hoje e agora, dado o ritmo e o tamanho que os gases-estufa estão se acumulando na atmosfera e os riscos crescentes de um aumento de temperatura de mais de 2º Celsius. Os que estão interessados em focar em marcos de questões científicas têm o direito de fazê-lo. Mas hoje precisamos focar nos fundamentos e nas ações. Caso contrário, os riscos que corremos aumentarão a cada ano.” Steiner chamou a atenção sobre a importância da aprovação de um novo tratado das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em 2015, tendo como base inciativas voluntárias bem-sucedidas que vêm sendo tomadas ao redor do planeta para combater a liberação de gases-estufa para a atmosfera. O chamamento de Steiner se justifica a partir do agravamento da situação planetária que fi cou evidente em mais este relatório do IPCC, que teve o endosso de representantes dos 110 países presentes à última reunião do organismo, que foi fundado, em 1988, pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Pnuma. Situação alarmante – Os mais de 250 cientistas do IPCC confirmam que é extremamente provável – de 95% a 100% de probabilidade – que a OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 – Nº 133

Arquivo Pnuma

Pnuma defende ações urgentes dos países contra escalada do aquecimento global

Alerta máximo: sem o controle dos gases-estufa, as camadas de gelo continuarão a derreter mais rápido e os mares poderão subir até 10 m

maior parte do aquecimento da Terra, desde 1950, é devido a atividades humanas. E mais: que as atuais taxas de emissões de gases-estufa – que estão crescendo – já estão provocando um aquecimento global recorde, aumentando a temperatura e os níveis dos mares, derretendo camadas de gelo e glaciares e causando mudanças extremas nos padrões climáticos. O relatório do IPCC enfatiza que a limitação das mudanças climáticas demandaria reduções substanciais e sustentáveis das emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases-estufa. Caso contrário, algumas dessas mudanças poderão atingir níveis sem precedentes por décadas ou mesmo milhares de anos. Além do derretimento continuado de glaciares e de camadas de gelo, como no Ártico, os cientistas estão extremamente preocupados com a acidificação dos oceanos e a elevação

dos seus níveis. De 1901 a 2010, o nível médio dos mares cresceu aproximadamente 19 cm. Mas a taxa de crescimento se acelerou de 1993 a 2010, e deve continuar a aumentar se nada for feito para se controlar o aquecimento global. O IPCC faz uma advertência alarmante: durante o último período interglacial, quando o clima médio do planeta era 2º Celsius mais quente do que as temperaturas pré-industriais, os níveis máximos dos oceanos chegaram a ser de cinco a dez metros mais altos do que os atuais. E diante da tendência de crescimento das emissões de gases-estufa, a temperatura média da superfície planetária deverá ultrapassar – entre os anos de 2081 e 2100 – o clima do período pré-industrial em 1,5º Celsius a 2º Celsius. Mais informações sobre o novo estudo do IPCC em www.ipcc.ch, www.wmo.int ou em www.unep.org.

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Incidentes com tu

O que se p

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ais uma vez, o triste episódio da morte de uma menina de 18 anos, provocada pelo ataque de um tubarão no Recife, leva o tema às manchetes dos jornais e programas jornalísticos e suscita os mais variados comentários e discussões acerca do que se pode e o que se deve fazer, como o fechamento das praias e proibição do banho de mar, a colocação de redes ou telas de proteção e a captura de tubarões com fins de monitoramento e pesquisa. Apesar de estarmos carecas de saber que foi o próprio homem quem provocou tudo isso, ao remodelar o litoral de Suape ao seu bel prazer no início da década de 1990, e que teremos que conviver com suas consequências – e a maior interação entre homem e tubarão, prevalecente fator causador dos incidentes, é a principal delas –, medidas precisam ser tomadas a fim de minimizar incidentes e mortes. Sobre isso não há dúvida. Mas fazer o quê? Educação, esclarecimento e prevenção da população O trabalho realizado pelo Governo de Pernambuco, através do Cemit (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões), desde 2004, com a implantação de campanhas de esclarecimento, distribuição de folders educativos e a colocação de placas de alerta e prevenção nas praias, foi muito bem executado e surtiu o efeito esperado: orientou surfistas e banhistas para evitar locais e horários de maior risco real e diminuiu efetivamente o número de incidentes com tubarões. Entretanto, por mais que se esclareça e alerte, as pessoas (em especial os adolescentes) têm uma natural tendência a achar que com elas nada acontecerá. Para esses casos, não há medida mais eficaz do que estar preparado para dar o atendimento imediato e correto à vítima resgatada.

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MARCELO Qualidade e eficiência do primeiro-socorro à vítima Os bombeiros guarda-vidas brasileiros estão entre os melhores no resgate e atendimento aos afogados. Fato inquestionável. E seus pares pernambucanos são, além disso, verdadeiros heróis ao se colocar, sem hesitação, em risco pessoal para resgatar a vítima de ataque que está prestes a se afogar, como fez o soldado Figueiredo no caso da menina de 18 anos. Afirmo, categoricamente, que é muito raro um tubarão atacar o ser humano com fins de alimentação. Mais de 90% dos ataques no mundo todo, inclusive no Recife, ocorrem por erro de identificação visual. Uma única mordida investigatória. Assim, caso a vítima não seja resgatada a tempo, a morte se dará por afogamento secundário advindo do choque hipovolêmico provocado pela hemorragia. Então, se o resgate é apropriado, o que falta? Faltam equipamentos adequados (e treinamento especializado) para executar um eficiente primeiro-socorro e uma rápida remoção, fundamentais em muitos casos para definir se a vítima sobreviverá após ser resgatada (tirada da água). Essa, entre outras razões, explica por que o índice de 40% de fatalidade dos ataques de tubarões em Recife é o mais alto do mundo, enquanto a média internacional é de 13%. Mesmo na África do Sul, a chamada Costa dos Tubarões, onde o grande tubarão branco está entre as espécies envolvidas nos incidentes, a taxa de fatalidade é de apenas 12%. Tomemos o exemplo do estado norte-americano da Flórida que, apesar de ter quase dez vezes mais incidentes com tubarões do que o Estado de Pernambuco, apresenta somente 1% de fatalidade. É isso mesmo. Não escrevi errado. SOMENTE 1% de fatalidade. Lá, os guarda-vidas são alta e constantemente treinados para

Szpilman: o melhor caminho é investir em em pesquisas de ações mitigadoras sem aplicar de forma correta e eficiente os primeiros-socorros nas vítimas de ataque de tubarão. E, para isso, tem à disposição uma caixa com os mais modernos insumos e equipamentos médicos. Enquanto dão o primeiro atendimento já na areia, imediatamente após o resgate, para conter a hemorragia e estabilizar as funções básicas, um helicóptero pousa ao lado e leva a vítima rapidamente para o hospital mais próximo. Fechamento das praias e proibição do banho de mar Todos sabem, há muitos anos, que não há risco de incidentes com tubarões nas áreas protegidas pelos arrecifes naturais (e são muitas). E sabem também que existem épocas do ano e horas do dia em OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 – Nº 133


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ubarões no Recife

pode fazer? Arquivo Pnuma

SZPILMAN

equipamentos e treinamento de resgate e m grandes impactos no ambiente marinho que o banho de mar e as práticas esportivas devem ser evitados nas áreas desprotegidas por representar maior risco de incidente. Além disso, há dezenas de placas de alerta nas praias sinalizando as áreas de maior perigo. O número de mortes por atropelamento no Recife (como em todas as grandes cidades) é infinitamente maior. Mas ninguém, em sã consciência, decide fechar as ruas e proibir os pedestres de atravessá-las. Cabe ao estado, tanto no caso dos atropelamentos quanto na questão dos tubarões (como já vem fazendo), promover campanhas de educação, esclarecimento e alerta para que os cidadãos e turistas tenham consciência, discernimento e responsabilidade em seus atos. OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 – Nº 133

A menina morta no ataque de tubarão foi avisada dos riscos por um bombeiro guarda-vidas, e mesmo assim decidiu banhar-se na área desprotegida da Praia de Boa Viagem. Mais do que isso, impossível. Colocação de redes ou telas de proteção Implantar essa medida de proteção tem o seguinte significado: para termos o livre arbítrio de não respeitar as regras e avisos acima descritos sacrificaremos milhares de animais marinhos inocentes todos os anos. Redes ou telas de proteção, como demonstram experiências em outros países, prendem e matam peixes, tartarugas, golfinhos e outros tubarões que nada têm a ver com os incidentes provocados pelos tubarões das espécies cabeça-chata ou tubarão-tigre. Fora o enorme custo ambiental, as redes ou telas de proteção exigirão altos custos de vistoria e manutenção que, se não forem bem feitos, poderão provocar a inusitada situação de ter um tubarão entrando na área protegida, através de prováveis buracos, e ali permanecer provocando incidentes. Captura de tubarões com fins de monitoramento e pesquisa A captura de tubarões com o objetivo real e efetivo de monitoramento e pesquisa sempre foi e continua sendo realizada no mundo todo. Essa prática é necessária e útil para os cientistas estudarem o comportamento e a movimentação das populações de tubarões. E obviamente, no caso do Recife, isso pode contribuir sobremaneira para prevenir e minimizar os riscos de incidentes. No entanto, pescar tubarões com o simples objetivo de eliminar as espécies mais agressivas do litoral pernambucano, para com isso dimi-

nuir a frequência de incidentes, é um procedimento bastante controverso e vai contra todos os conceitos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. É mais uma demonstração prepotente do ser humano em acreditar que pode desequilibrar a natureza e depois, com a pretensa tentativa de consertar o dano colateral provocado, sacrificar espécies “problemáticas” que apenas se comportam de acordo com seus instintos. Seria como admitir a eliminação de tigres e leões motivada simplesmente por eventuais ataques e mortes de invasores de seu ambiente natural. Isto posto, e se me fosse possível definir ações para minimizar incidentes e mortes no litoral do Recife, em resposta à pergunta do título, definiria que o melhor caminho seria investir recursos consideráveis em duas áreas:

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Equipamentos e treinamento para os órgãos responsáveis atuarem de forma mais eficiente nos primeirosocorros e na remoção;

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Pesquisas de longo prazo com o propósito de obter dados científicos seguros que permitam estabelecer intervenções mitigadoras sem grandes impactos no ambiente marinho local.

Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Ecológico Aqualung, é biólogo marinho formado pela UFRJ, com Pós-graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela Coppe/UFRJ, e autor dos livros Guia Aqualung de Peixes (1991) e de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to Fishes (1992), Seres Marinhos Perigosos (1998), Peixes Marinhos do Brasil (2000) e Tubarões no Brasil (2004)

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E S TAN T E

Parte das publicações, periódicos e DVDs recebidos pela biblioteca Ahmed, Flavio. Direitos culturais e cidadania ambiental no cotidiano das cidades/ Flavio Ahmed. – Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. 304 p. CADERNOS de esportes do Estado do Rio de Janeiro: passaporte para a geração de atletas e promoção do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro, 2013. Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Relatório de atividades 2010/2013. Rio de Janeiro: Cebri, 2013. CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Eco4Biz: ferramentas de biodiversidade e serviços ecossistêmicos para apoiar decisões corporativas – versão 2013. Rio de Janeiro: CEBDS, 2013. FÓRUM CLIMA. Guia metodológico para inventário de emissões de gases de efeito estufa na engenharia de construção. [s.l.]: O Fórum, 2013. ISO. CHG schemes addressing climate change. Genova: ISO, 2013. (How ISO standards help). ISO. Environnmental labels and declarations. Genova: ISO, 2013. (How ISO standards help). ISO. ISO 14064-1:2006 (E). Greenhouse gases – parte I: specification with guidance at he organization level for qualification

and reporting of greenhouse gas emissions and removals. Genova: ISO. 2013. LAGOA VIVA. 12º Seminário celebrando o Dia Mundial da Água: água, mobilização e comunidade. Rio de Janeiro: Lagoa Viva, 2013 Lemos, Haroldo Mattos de. Responsabilidade socioambiental/Haroldo Mattos de Lemos. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013. 228 p.– (Gestão socioambiental (FGV Online). MOREIRA, Maria Suely. Estratégia e implantação do sistema de gestão ambiental (modelo ISO 14000). 4. ed. Nova Lima, MG: Editora FALCONI, 2013. Rio de Janeiro (Estado). Governo. Desenvolvimento rural sustentável. Rio de Janeiro: Secretaria de Agricultura e Pecuária, 2013. RODRIGUES, Janine. No reino de Pirapora. Rio de Janeiro: Editora Multifoco. 2013. SEMINÁRIO ISO/ABNT, 2013: Rio de Janeiro. ISO 14064 e ISO 14065 – quantificação, relatório e verificação da emissão de gases e efeito estufa. Rio de Janeiro: O Seminário, 2013. STEWART, Christopher, et al. Guia de boas práticas para avaliações de altos valores para conservação: orientações práticas para profissionais e auditores. Oxford: Proforest, 2013.

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AGENDA

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FIEMG – Seminário Internacional de Responsabilidade Social e Sustentabilidade – De 11 a 13 de novembro, em Belo Horizonte (MG). Realização: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. Informações em www.seminario2013. com.br. 19th Session of the Conference of the Parties to the UNFCCC – De 11 a 19 de novembro, em Bangkok (Tailândia). Realização: Pnuma. Informações em www.unep.org. Reunião Regional do Tunza para a América Latina e Caribe – De 20 a 21 de novembro, na Cidade do Panamá (Panamá). Realização: Pnuma. Informações em www.unep.org. IV Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA) – De 23 a 28 de novembro, em Brasília (DF). Realização: Ministérios da Educação e do Meio Ambiente. Informações em conferenciainfanto.mec.gov.br.

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Cotas de Reserva Ambiental no Amazonas A emissão de Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) foi regulamentada, em setembro, pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas. Previsto no novo Código Florestal, esse mecanismo de compensação permite que proprietários rurais com excesso de áreas de Reserva Legal emitam cotas que podem ser negociadas com aqueles com déficit de vegetação nativa, para fins de regularização ambiental. A medida beneficia financeiramente aqueles proprietários que, com visão ambiental moderna, preservaram mais o verde do que eram obrigados. Como o Amazonas é o primeiro estado a regulamentar a emissão de CRAs em seu Programa de Regularização Ambiental, deverá também ser o primeiro a começar a emiti-las.

“Esta iniciativa do governo estadual sinaliza aos proprietários rurais do Amazonas que a conservação de suas florestas pode ser lucrativa”, afirma o presidenteexecutivo da BVRio, Pedro Moura Costa. Desde dezembro de 2012, a BVRio – uma associação sem fins lucrativos, com sede na cidade do Rio de Janeiro, que trabalha com mecanismos de mercado para facilitar o cumprimento de leis ambientais no Brasil – opera um mercado de CRAs através da plataforma de negociações BVTrade. Mais informações sobre a BVRio em www.bvrio.org ou www. bvtrade.org. OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 – Nº 133


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Cooperação Sul-Sul Em parceria com o Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul, o Pnuma promoveu, de 28 de outubro a 1º de novembro, em sua sede, em Nairóbi (Quênia), a Exposição Global sobre Desenvolvimento Sul-Sul 2013, com a participação de representantes de países da várias partes do mundo. O tema deste ano foi Construindo uma Economia Verde Inclusiva: Cooperação Sul-Sul para o Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza. O principal objetivo do evento foi promover e divulgar

soluções criadas no Hemisfério Sul para problemas existentes e desafios emergentes. A Cooperação Sul-Sul pode ser definida como a troca de tecnologia, recursos e conhecimento entre países em desenvolvimento. Atualmente, reservas de mais de US$ 5 trilhões estão localizadas nos países do Hemisfério Sul, onde também circulam 47% do comércio global. Para o Pnuma, esta oportunidade econômica sem paralelo pode ser um dos principais fatores de crescimento econômico no futuro próximo.

Campeões da Terra 2013 A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, foi um dos agraciados com o mais importante prêmio ambiental das Nações Unidas, o Champions of the Earth Award 2013, que é dedicado a ressaltar o trabalho de líderes de governo, sociedade civil e do setor privado que se destacam na atuação em prol do meio ambiente. Lançado em 2005, o prêmio Campeões da Terra é entregue anualmente em quatro categorias: Liderança Política; Visão Empreendedora; Ciência e Inovação; e Inspiração e Ação. A ministra foi laureada na categoria Liderança Política por ter desempenhado um importante papel na redução do desmatamento da Floresta Ama-

zônica e por conta de sua atuação internacional em defesa do meio ambiente. Segundo levantamos do governo brasileiro, nos últimos oito anos, houve uma queda de 84% na taxa de desmatamento da Amazônia, com o índice de redução anual da cobertura florestal caindo de 27 mil km2, em 2004, para 4,5 km2, em 2012. Na edição 2013, sete personalidades foram laureadas com o Champions of the Earth, dentre elas, o co-criador e vice-presidente do Google Earth, Brian McClendon, e o desenvolvedor do Sistema de Informação Geográfica (SIG), Jack Dangermond. Os dois foram reconhecidos por elaborar importantes ferramentas para monitoramento e análise ambiental.

Petrobras entra pelo oitavo ano no Índice de Sustentabilidade da Bolsa de Nova York Pelo oitavo ano consecutivo, a Petrobras foi selecionada para integrar o Dow Jones Sustainability Index World (DJSI World) da Bolsa de Nova York. Ao longo desses anos, a empresa recebeu sete vezes nota máxima no critério transparência, e agora também na categoria liberações ao meio ambiente. A Petrobras recebeu ainda destaque nos critérios impacto social nas comunidades, políticas e sistemas de gestão ambiental e gerenciamento de risco e crise. O DJSI World é o mais importante índice mundial de sustentabilidade,

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avaliando as melhores práticas de gestão social, ambiental e econômico no planeta. Na edição deste ano, a DJSI World conta com 333 empresas de 59 setores da indústria de 25 países. Somente no setor de petróleo e gás, são 27 companhias. A Petrobras foi incluída ainda no índice regional Dow Jones Sustainability Emerging Markets, que reúne 81 empresas de 20 países em desenvolvimento.

Em defesa da camada de ozônio O secretário-geral da ONU, Ban KiMoon, anunciou, em setembro, duas novas lideranças no trabalho de retirada do mercado das substâncias que destroem a camada de ozônio que protege a Terra dos efeitos danosos dos raios ultravioletas do Sol: a exministra de Meio Ambiente, Energia e Mudanças Climáticas da Grécia Tina Birbili e o mexicano Eduardo Ganem, que era delegado-oficial-chefe do Fundo de Montreal. Tina Birbili assumiu a secretariaexecutiva da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio e o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. Já Eduardo Ganem foi alçado ao posto de oficial-chefe do Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal. Com 197 integrantes, a convenção e o protocolo são o tratado que teve mais ratificações na história das Nações Unidas. O bem-sucedido acordo internacional já viabilizou a redução de mais de 98% do consumo global de substâncias registradas que destroem a camada de ozônio. Estudos mostram que estão caindo a cada ano os níveis atmosféricos das substâncias que destroem essa camada protetora. Com a implementação completa das etapas previstas no Protocolo de Montreal, espera-se que a camada de ozônio retornará, entre 2050 e 2075, aos níveis ideais que possuía antes de 1980.

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Cuspideira ecológica recicla água de dentistas Aparelho da SOS Dental economizará 80 milhões de litros de líquido por dia

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undada em 2008, com a missão de fornecer atendimento odontológico a populações carentes no Brasil e no exterior, a ONG SOS Dental iniciará em 2014 a comercialização de um modelo de reciclador de água das cuspideiras dos consultórios dentários. Como os dentistas têm como hábito deixar o registro de água da cuspideira aberto, essa tecnologia inovadora visa a reciclar e reutilizar essa água de lavagem. Patenteado pela SOS Dental, o aparelho compreende um conjunto de filtros que, acoplado à saída de esgoto da cuspideira, faz a filtragem e purificação da água utilizada, que contem resíduos e detritos, dentre eles mercúrio, podendo estar ou não contaminados. “Sabemos que hoje o recurso mineral mais escasso no mundo é a água, e por isso precisamos de medidas mais energéticas para que o desperdício seja combatido de todas as formas”, afirma o empresário e cirurgião dentista Marcelo Schettini, diretor da SOS Dental e criador da cuspideira ecológica. “Existem 240 mil dentistas no Brasil, que desperdiçam, somente na lavagem de uma cuspideira, a média de 700 litros de água por dia, gerando um desperdício diário de mais de 80 milhões de litros agua.” Além do ganho para o meio ambiente com o uso dessas cuspideiras ecológicas, Schettini destaca os benefícios financeiros para os dentistas, que diminuirão seus gastos com contas de água, sobrando recursos para inclusive investirem em outros equipamentos, pessoais e profissionais.

A SOS Dental complementa o atendimento odontológico em comunidades em regiões de difícil acesso, como rurais e ribeirinhas. “Já atendemos em diversas regiões do Rio de Janeiro: Comunidade do Arará, Pavão-Pavãozinho, Complexo do Alemão, Favela da Maré, Comunidade do Acari, Morro da Caixa D'água, comunidades de São Januário, Rocinha, Jacarezinho, Guaratiba. Estivemos na Comunidade do Rio Purus, no Amazonas. Nossa equipe levou também atendimento ao Haiti, Honduras, República de Cabo Verde e África do Sul”, diz Schettini.

Soluções criativas – A SOS Dental busca soluções criativas para agilizar seu trabalho. Segundo Schettini, a ONG já atendeu milhares de pessoas no Brasil e no exterior, trabalho que é viabilizado por possuir um consultório móvel chamado Odontocase, que permite ao paciente atendimento em qualquer localidade, sem investimento em infraestrutura física. Seguindo normas e especificações técnicas de qualidade, segurança e higiene bucal, o Odontocase é único equipamento móvel no Brasil com certificado da Anvisa. “Isto também nos permite atender a pessoas que tenham dificuldades no acesso ao atendimento odontológico, como crianças e adolescentes em regime de internato, clínicas de reabilitação, creches, escolas, casas de apoio, entidades beneficentes e grupos com dificuldades de locomoção”, afirma.

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OUTUBRO/NOVEMBRO 2013 – Nº 133


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