Construção do que sou: Ilha da Madeira

Page 1

A construção do que sou… Ilha da Madeira

Carla Patrícia do Vale Lucas Funchal, 2006


A Construção do que sou… Ilha da Madeira

Carla Patrícia do Vale Lucas Funchal, 2006


Ficha técnica: A construção do que sou: Ilha da Madeira

Autora: Carla Patrícia do Vale Lucas Local: Funchal Ano: 2006 Nota: Este conto foi vencedor do concurso “30 Anos da Autonomia e 20 Anos de Integração Europeia”, organizado pelo Gabinete de Apoio ao Eleitor do Eurodeputado Sérgio Marques em Maio de 2006.

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

2


Uma pequena nota introdutória “Construção do que sou: Ilha da Madeira”

É uma história contada pela própria Ilha da Madeira, que sentiu e cresceu com as vicissitudes e vitórias de um povo. É a história, por isso, de todo o povo madeirense... Um tributo histórico às vivências desta Ilha e dos seus habitantes, escrito pelo coração de um ilhéu. De uma forma ligeira, enceta uma viagem ao longo dos séculos de existência da Ilha, desde o seu descobrimento até a atualidade. Embarque nesta viagem!

Carla Vale Lucas

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

3


N

asci… tal como um pequeno bebé do ventre da mãe… Sim! Nasci das entranhas da terra e continuo criança ora nos braços da mãe – as montanhas, ora nos braços do pai – o mar.

O tempo consolidou as minhas formas, os meus contornos que mãos divinas moldaram… Embora eterna criança cresci e continuo a crescer… O meu espírito marca e vincula a minha liberdade… Não sou prisioneira do mar! É ele que me deixa ser descoberta e que me leva a descobrir. Foi através dele que chegaram os primeiros homens, aqueles que permaneceram ano após ano e desbravaram a minha terra bravia, aqueles que penaram para trabalhar estas minhas abruptas e imponentes montanhas que só em arrojos de alpinista alguém ousou suplantar… aqueles que fizeram a minha floresta verde e persistente se recolher a zonas mais a norte, aqueles que fizeram pespontar, desta minha bravia terra fértil, novos arvoredos, flores, frutos que em cor espreguiçaram a minha tela verde e congregaram o aroma da terra húmida com o de outros tantos cheiros, tropicais é certo!

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

4


Hoje sei que a minha essência não só adormece junto desta mítica beleza, verdadeira Vénus no parthenon, que abraça, beija e entorpece todos os que me visitam, todos os que me desnudam com o olhar extasiado, me pintam sobre os seus corações, e encontram em mim inspiração para os seus versos... A minha essência não só adormece junto dos meus rebordos, na espuma que se desfaz em flor nos rochedos, junto das alcantiladas montanhas, junto do florido imenso, dos aromas, dos paladares incertos e até, às vezes, desconhecidos…, mas acima de tudo junto do povo que me fez engrandecer e que eu vi crescer… homens humildes que lutaram, jamais deixaram de lutar! Homens que ergueram montanhas, ultrapassaram mares… Qual Ulisses, qual Hércules, qual Eneias conseguiria igualar a labuta heróica destes homens que guerrearam para comer, para sobreviver nesta minha terra inóspita, selvagem? Sim! Sou arquipélago rude e gentil; imponente e singelo; mar e terra… Sou sim, o belo arquipélago da Madeira! Envolve-me pois esta agudeza de paradoxos…! As mesmas mãos excelsas, que me fizeram nascer, bordaram em mim a história sobre a qual me escrevi, a história pela qual me construí e revejo a cada instante… Tenho em mim a mesma força da lava… do fogo, da água, do ar, da terra, de todos os elementos que a minha vida embrenharam para que jamais pudesse esquecer que o tempo não pode esmorecer tamanha força que o fez erguer e ser… Agora, sei que sou verdadeiro tesouro. O meu tão grande mistério nem os livros de história conseguem encontrar… porque é preciso sentir, ouvir e ver para que tudo em mim consigam compreender! Sou um verdadeiro baú de recordações, de tantos e tantos sentimentos, de tantos e tantos acontecimentos, desses que não ocupam um quarto, uma casa, mas sim que me preenchem, preenchem a ilha que sou, perdida em caligem pelas montanhas; bordada em espuma pelo mar… Guardo os corações dos que se perderam nesta minha grandeza delgada, traçada em pequenez, no meio de um oceano imenso, no meio do mapa-mundo e até do português. A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

5


Ando continuamente à procura de alguém que descubra este meu baú… alguém que o abra e encontre a essência da vida, essa que alberga o meu norte, sul, este, oeste, todas as direcções, todos os portos que não deixo sem abrigo… É difícil não nego, mas a indómita coragem e a poderosa força espiritual de um amor à ilha, palpita sempre viva, com o desejo de ser livre, liberta de quaisquer amarras.

Sei que em tempos que o tempo fez esquecer fui livre… antes de ser descoberta! Depois passei a depender de Portugal, mas por tão grande ser a distância que nos separava (milhas e milhas de mar), dividiram-se as terras em províncias para melhor se administrar… No entanto, logo o Estado nos retirou estes privilégios! E assim mudaram os tempos… O País tão grande, tão pequeno, lançou amarras e prendeu-nos a todos: a mim e às minhas gentes, que ali construíram seu lar. Voltei a sentir-me presa… passei a depender de um poder real e sumptuoso, de um centralismo político absoluto, que um abismo inescrutável abriu entre a terra mãe e as suas filhas, as ilhas (eu, Madeira, sempre fresca e bela, e os Açores, terra vizinha, tesouro escondido em bruma e esguia fantasia). Os homens e mulheres que em mim habitavam, a minha rebeldia conseguiram amansar, uma rebeldia que clamava por liberdade! Nunca desistiram… lutaram continuamente pela vida, pela terra, pela própria liberdade! Partilhavam da mesma força, da mesma impetuosidade que me percorria… Foi com a crise económica que, na segunda metade do século XIX, se reavivou a verdadeira consciência política… Na verdade, todos nós passamos por esta crise, digo todos nós porque comecei a nutrir por este povo o respeito, que muitos deles devotavam por mim… A situação institucional em que se vivia havia gerado tamanha crise, por não permitir respostas rápidas aos problemas que surgiam. E foi face a este desespero que o povo encontrou esperança… assumiu que a única alternativa possível era a autonomia,

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

6


que esta era o único caminho para que a metrópole assumisse a postura correcta perante nós, ilhas e seus povos. Estava entregue a mim própria e o meu povo entregue ao nada, mas mesmo assim viu-o lutar acerrimamente… O eco da sua voz por mais forte que fosse, era pouco eloquente e não chegava à metrópole. O povo não sabia o que fazer… aguardava solução para as exportações dos vimes e dos bordados, nascidos da fusão das linhas com o tecido, verdadeira arte das mãos ásperas das mulheres … As exportações do vinho, a cultura da cana sacarina continuavam a constituir um problema, já que toda a agricultura passava por verdadeiros momentos de carência… Assim, o povo por mais que tivesse cumprido as leis de Baco, por mais que tivesse calcado os pés nus no lagar e sobre as uvas, por mais que tivesse carregado o borracho aos ombros, a vinha e o vinho viviam tempos de agonia. A cultura sacarina passava por semelhantes flagelos… Eram tempos de apuro, estes que se viviam! Os homens envergavam a faina ingente de dar vida ao que parecia já não ter vida… de ferir as mãos e reconstruir as culturas, o seu próprio sustento… E se aos poucos conseguiram alcançar a missão a que se entregaram de corpo e alma, por terem conseguido encontrar meios capazes de devorar as pragas que assolavam as suas culturas, não conseguiram restituir-lhes a força de tempos de outrora… Conseguiram sim, expandir a cultura da banana e enriquecer a flora hortícola e frutícola, mas nada mais… Aos poucos, a população foi crescendo, de tal modo que a terra fértil se tornou cara e escassa… nem a forte corrente emigratória conseguiu balancear tamanha balança de gente. Vi-os então, numa ousadia sem igual, a cinzelar as montanhas, a própria rocha, para um novo palmo de terra conquistar… Viu-os construir degraus nas minhas imponentes montanhas… Sei que as domaram e cultivaram… Eram homens humildes que mourejaram de sol a sol e heroicamente lutaram para viver e sobreviver! A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

7


Sim! Foi este povo que motivos me deu para sorrir e me orgulhar… povo rebelde que da própria rebeldia fez coragem e guerreou, sem medo… Não me feriu, e mesmo assim conseguiu construir levadas para a água, vinda do norte, empurrar… construiu-as à custa das vidas que viu perecer e do sangue que viu derramado! Povo de mil sopros de vida, este que inovou… criou e jamais se resignou! Mas os problemas que a crise arrastou não se ficaram por aqui. As más condições do porto do Funchal fizeram o comércio, as embarcações e os turistas fugirem para outras terras, ilhas vizinhas, as Canárias. Pesavam ainda as exorbitantes cargas tributárias e os impostos que alimentavam a barriga do estado, e que se aqui permanecessem seriam capazes de prover aos problemas as tão desejadas soluções… Foram tempos difíceis, estes que tivemos de passar! Lembro-me perfeitamente… como poderia alguma vez esquecer?!… os festejos do quinto centenário do meu descobrimento. Se antes não quisera ter sido descoberta, naquele ano de 1922 esperei e ensejei por alguém que me descobrisse e me ofertasse total liberdade, não uma simples e suposta autonomia administrativa colocada nas mãos da Junta Geral, como a que se patenteava por ali desde 1901 e que, embora tivesse marcado uma época de prosperidade, não tinha meios para continuar os melhoramentos públicos que iniciara e desencadear novas soluções para os problemas que continuamente nos assolavam. Assim, só uma ampla autonomia administrativa e financeira podia dar resposta às ansiedades e carências das minhas gentes. Mas, uma vez mais, levantaram-se tamanhos impedimentos, barreiras difíceis de transpor, que sucumbiram o sucesso alcançado a uma mera quimera. Quando me recordo que todo este discurso autonomista se enraizou na voz do povo e das classes políticas, quer através das revoltas do leite e da farinha, quer através de discursos e manifestos políticos, sinto tão grande pesar por todos nós que perdemos esta luta, mas não a derradeira batalha. E mais pesar sinto ao verificar que, como consequência de todo este movimento, o governo central desvalorizou as nossas preces e acusou-nos de independentistas. A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

8


Se sofri nos tempos que precederam a este acontecimento, maiores foram os males que padeci, posteriormente. Votados ao abandono pelo Estado Novo, a forte consciência autonómica esmoreceu… e se os mesmos que haviam reclamado avidamente por uma autonomia mais ampla, se acomodaram ao estatuto de fiéis seguidores do novo regime, o que de resto se podia fazer? Tempo de opressão, este que se vivia! A inaudível voz cansada das minhas gentes, as mãos feridas e tatuadas pelo esforço diário, o coração entorpecido pela revolta do desejar mais… Como me identifico com todos estes sentimentos! Sou livre e quero continuar a sê-lo. Nego-me a ficar enjaulada, a não ter brado suficiente para resolver o que me preocupa e engendrar soluções, leis que me socorram nos momentos de aflição… Se nem o mar me prende, porque o irão fazer vãs mãos humanas? Se as minhas próprias montanhas se despenham em precipícios de vertigem, porque deixará a minha essência de ter esta capacidade, esta liberdade? Sou livre tal como este povo, mártir e lutador, sempre o desejou ser! E por isso tão grande é a minha admiração, tão grande minha devoção… venero a força com que deu luz ao seu sonhar, venero o seu espírito e o amor com que ele próprio me venera… Tal como os seus corações escondem sentimentos que se enraízam, lá bem no fundo, escondo eu os lugares recônditos e a beleza vertiginosa de pequenos trilhos, grandes aventuras, incultas cascatas, alcatifas de verdura, abrigos cerrados de árvores e todos os seres que a meu lado caminham e me tornam una e singular num universo inexorável. Esta é, sim, a minha essência, o meu coração… o meu querer impetuoso e selvagem como o das gentes que ganharam a força insana da vida! E foi com esta mesma força e impetuosidade que a esperança voltou a ter e fazer sentido, uma esperança que nunca morreu e apenas se aquietou no ímpeto do querer e, em 1969, ganhou novo fulgor. Se a primavera é tempo de beleza, de paz, de renovação de vida e desfile de cores e se em eterna primavera me aninho, na política vigente viveu-se a chamada “Primavera A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

9


Marcelista”. Subiu ao poder Marcelo Caetano, atenuou-se a repressão e abriram-se as portas a uma luz que ainda se adivinhava distante. Caetano acreditava no pleno exercício de uma autonomia administrativa, focalizada na descentralização do poder… Sim! Pareciam soprar novos ventos… mas embora se tenha remado um pouco mais, a enseada a que se atracou não foi a tão desejada… as novas bases instituídas no estatuto de autonomia, poucas novidades traziam! Como forma de fazer o levantamento de todos os problemas e se equacionar soluções, dividiu-se o continente e as ilhas (eu e os Açores), desonrosamente chamadas Ilhas Adjacentes, em regiões e sub regiões, para se potenciar o progresso de Portugal, através do desenvolvimento das mesmas. Aos poucos, levantaram-se pequenas areias junto dos olhos mais abertos, que pareciam associar a verdadeira autonomia à democratização da sociedade. E porque muitos dos olhos, teimaram em se proteger destas areias, a revisão da Constituição de 1971, imbuída neste receio, provou ser impossível avançar com reformas significativas na sociedade portuguesa… Se por um lado, foi atribuída às províncias ultramarinas a tão desejada autonomia, as ilhas continuaram a depender da metrópole… Silenciou-se, uma vez mais, o desejo de autonomia! As províncias ultramarinas, a partir daquele momento, possuíam tudo o que desejávamos há anos! Possuíam órgãos electivos de governo próprio, tinham direito de legislar e possuir um regime económico adequado às suas necessidades e bem-estar da população. Perante mais este impasse, vi o meu povo aspirar por novos rumos… Muitas foram as vozes que se impuseram, como a de Alberto João Jardim, hoje e já há muitas décadas (desde 1978) presidente regional desta minha região, ao propor a hipótese de uma autonomia selectiva, preconizada por um equilíbrio delicado entre os interesses regionais e o poder central, isto no ano que tudo viria revolucionar – 1974.

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

10


Jardim sublinhava que a construção do meu futuro passava pela participação activa das populações e pelo despertar de uma consciência política regional. Para isso, era necessário a centralização dos serviços distritais e a extinção da Junta Geral, passando o serviço desta para a dependência dos governadores… Falava de um regime político administrativo, fundamentando todas as suas ideias nas minhas características geográficas, mas também nas características sociais, culturais e históricas nas quais sempre naveguei. Corajosamente, bradou que nada disto afectaria a soberania do estado, por se exercer no quadro da Constituição. Várias foram as vozes que, em vão, se fizeram ouvir, clamando por uma autonomia que permitisse resolver, pelas nossas próprias mãos, os problemas e tomar decisões. No entanto, continuavam a nos prender as amarras de um Estado distante! E foi então que, com a queda do regime, a vinte e cinco de Abril de 1974, se abriram as portas para um novo sopro de vida… e se iniciou o caminho para a regionalização e para a autonomia político-administrativa dos arquipélagos – o meu e o dos Açores. Partidos políticos e o conselho de revolução foram ainda criados. O vinte e cinco de Abril não só fora sinónimo de liberdade e democracia. Fizera também despertar a verdadeira autonomia, em 1976… Passou-se assim daquilo que teimosamente nos impuseram para o que sempre quisemos ser e construir. Virou-se uma página da minha história, guardada hoje a um recanto deste meu baú de recordações… um baú que tatuou em mim e na alma de todos estes, de gema madeirense, esta história que desfolhou o passado dorido e a luta permanente pelos interesses e direitos políticos, e escreveu letra a letra a tão desejada autonomia! Por isso, digo… grito ao vento, essa aragem que me acompanha e bafeja continuamente, fui uma vez mais descoberta, tal como o esperava! Na autonomia foram encontradas as armas para vencer os obstáculos do presente, e, em eloquentes desafios, achou-se a força para os alcançar e para novos rumos projectar num futuro escrito a cada sonho, a cada gesto e a cada pensamento!

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

11


Hoje, somos um só – eu e o meu povo… Somos uma unidade social, económica, política… Temos identidade própria, somos uma terra e um povo lutador e temos uma forma singular de ser e estar no mundo. O hino, o escudo, o selo e a bandeira criámos para nosso emblema… A bandeira que nos caracteriza, de ouro e de azul pintada, espelha a ouro o clima sempre ameno, a riqueza, a força, a constância, a fé… e a azul tece o mar, que constrói a minha insularidade, representando nobreza, formosura e serenidade! Embora muitos digam que este mesmo mar é factor de isolamento, digo-o sem medo que, acima de tudo, o é de aproximação… Sou uma ilha ultraperiférica e orgulhome do posicionamento privilegiado, com que mãos divinas me prendaram, no contexto nacional, europeu e mundial… Estou no cruzamento de diferentes rotas e abro-me constantemente ao mundo, por correr em mim a liberdade e a autonomia! E porque o coração dos que em mim habitam se entregou ao sonho, crescemos e fomos uma vez mais patenteados com uma ovação… Portugal entrou, a um de Janeiro de 1986, na hoje intitulada União Europeia e, como tal, nós – as ilhas pudemos participar, através da representação efectiva, na delegação nacional responsável pelas negociações e nas comissões de execução e fiscalização. Sei que, embora eterna criança nascida das entranhas da terra, sou moldada por mãos humanas, mãos que, num passo de gigante, me desenvolveram sócioeconomicamente, minorando alguns efeitos das inúmeras barreiras naturais que me serpenteiam, e o efeito de tantos outros problemas, que sem medo conseguimos ultrapassar. Foram com estas mãos que me embeveci e deixei humanizar… foram estas mãos que me desenvolveram com eficácia e eficiência, obedecendo às premissas e à filosofia da União Europeia – a criação de um Europa mais solidária.

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

12


Por tudo isto, sou a essência que convergiu a força e a luta daqueles que sofreram… sou a fusão de todos os que em mim viveram, sou a fusão de todos aqueles que com o esforço teimoso dos braços, da inteligência, coragem, fé, irmanados por um amor sempre vivo a esta minha terra, tatuaram em mim a verdadeira arte da vida! Por isso, só com a alma, será alguém capaz de compreender tamanha impetuosidade deste meu mar, junto do qual as largas encostas adormecem, junto do qual se ancora a força indómita da natureza e das minhas gentes, do meu povo… E mais digo… só com o peito se poderá compreender porque existem tamanhos paradoxos de vida, aqui, em mim… só assim, se poderá compreender tamanha brandura dos vales, da própria espuma que tece toda a vida e borda os tempos que se perdem, recalcados num baú, neste meu baú… Sou, sim, verdadeiro jardim no mar imenso, jardim feito de vida! Sou, sim, esqueleto rochoso construído de força e tenacidade… Sou, sim, produto do fogo com a água, produto do sofrimento com a alegria, da desilusão com a esperança… E porque sou tudo isto… sou as montanhas, o mar, as flores, as nuvens, as gentes, a própria liberdade, a própria autonomia, sou também filha do mundo e filha de Portugal! “ Do vale à montanha e do mar à serra, teu povo humilde, estóico e valente, entre a rocha dura te lavrou a terra para lançar do pão a semente herói do trabalho na montanha agreste que se fez ao mar em vagas procelosas, os louros da vitória em tuas mãos calosas A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

13


foram a herança que a teus filhos deste.

Refrão: por este mundo além Madeira, teu nome continua em teus, filhos saudosos, que além fronteiras de ti se mostram orgulhosos, por esse mundo além, Madeira, honraremos tua história na senda do trabalho nós lutaremos, alcançaremos teu bem-estar e glória. »

Hino da Região Autónoma da Madeira Letra: Ornelas Teixeira

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

14


Referências Bibliográficas:

Gonçalves, Ângela Borges & Nunes, Rui Sotero (1990). Ilhas de Zargo – Adenda. Funchal: Câmara Municipal do Funchal Jardim, Alberto João (1994). A Experiência da Autonomia Regional da Madeira. Funchal: Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunicação Natividade, J. Vieira (1953). Madeira – A Epopeia Rural. Edição da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal Veríssimo, Nelson (1989). O Alargamento da Autonomia dos Distritos Insulares – o Debate na Madeira (1922-1923). Colecção Separatas, 32. Centros de Estudos de História do Atlântico – Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração Veríssimo, Nelson (1990). Autonomia Insular – As Ideias de Quirino Avelino de Jesus. Islenha, 7, 32 a 36 Veríssimo, Nelson (1991). Autonomia Insular – O Debate na Primavera Marcelista. Islenha, 9, 5 a 20 Veríssimo, Nelson (1995). O Alargamento da Autonomia Insular – O contributo Açoriano no debate de 1922-23. Islenha, 16, 22 a 30 Vieira, Alberto (2006). A História da Autonomia da Madeira. Available online at www.cetta_madeira.net/auto/auto.html

A construção do que sou. Ilha da Madeira Carla Vale Lucas (2006)

15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.