Uma histรณria escrita a uma mรฃo, mas trabalhada com o esforรงo de muitas... porque sรณ assim se marca a diferenรงa!
Ficha Técnica Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra Autora Carla Patrícia do Vale Lucas Ilustrações Cristina Sofia Abreu Coelho Áudio Carla Patrícia do Vale Lucas Cristina Sofia Abreu Coelho LGP Catarina Faria Pereira Design e Composição do E-book Carina Ferreira, Fabíola Alves, Otília Rodrigues, Sara Mota, Sílvia Silva, Susana Reis e Tiago Abreu Divisão de Acessibilidades e Ajudas Técnicas Direção de Serviços de Apoios Técnicos e Especializados Revisão Cíntia Palmeira e Sónia Spínola Supervisão Graça Ferreira Faria Editor Governo Regional da Madeira Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos Direção Regional de Educação Ano 2014 ISBN 978-972-99850-3-4 © Todos os direitos reservados.
Nota Introdutória
O Conto “Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra” participou na edição 2013 do Prémio de Literatura Infantojuvenil Inclusiva “OGIMA - Todos Podem Ler”, uma iniciativa da Direção Regional de Educação, da Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos da Região Autónoma da Madeira. Este conto foi apresentado a concurso, de acordo com o regulamento, adaptado em versões acessíveis: Língua Gestual Portuguesa e áudio. O Prémio de Literatura Infantojuvenil Inclusiva “OGIMA – Todos podem ler” é uma iniciativa da Direção Regional de Educação, com intenção de realização anual, a partir de 2013, sendo atribuído por ocasião da Semana Regional da Pessoa com Necessidades Especiais. O concurso tem como objetivo contribuir para a produção e promoção da Leitura Inclusiva, destinada à infância e juventude, através da utilização de formatos alternativos, designadamente Braille e relevo, negro ampliado, símbolos pictográficos, Língua Gestual Portuguesa (LGP) e áudio. O Prémio foi atribuído em duas categorias: a) Categoria I – Candidatos infantojuvenis: até 16 anos de idade; b) Categoria II – Candidatos adultos: a partir de 17 anos de idade.
O júri foi constituído por Ana Isabel Monteiro, Diretora da Escola Básica do 1.º ciclo com Pré-escolar Prof. Eleutério de Aguiar escola de referência para alunos surdos, Anabela Machado, Ilustradora, Francisco Fernandes, Escritor, e Graça Faria, Chefe de Divisão da Divisão de Acessibilidades e Ajudas Técnicas da Direção Regional de Educação. Na edição de 2013, de um total de 11 histórias a concurso, o júri selecionou os vencedores nas categorias I e II, bem como dois
outros
trabalhos
agraciados
com
menções
honrosas
nas respetivas categorias. Além dos prémios, patrocinados pela SULOG - Suportes Lógicos, Papelaria ABC, Alberto Oculista, Cartonada Papelaria e pela Miguel Viveiros Telecomunicações, os trabalhos vencedores são editados pela Direção Regional de Educação em formato digital. Esta edição digital de e-books tem como objetivo a divulgação e a disponibilização de livros inclusivos às bibliotecas escolares dos estabelecimentos de educação e ensino e à comunidade em geral.
Vencedores Edição 2013
Categoria I 1.º Prémio “O Jantar da Ovelhinha”, da autoria de Anabela Gomes da Silva, do Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade, do Porto, adaptado nos formatos de LGP, símbolos pictográficos e áudio. Menção Honrosa
"À Procura de um Pinheiro de Natal", da autoria de Pedro Joaquim, Artur Corte, Afonso Fernandes e Jénifer Gonçalves, alunos do pré-escolar, da Escola Básica do 1.º ciclo com pré-escolar da Vila de São Vicente.
Categoria II 1.º Prémio ex aequo “O Aniversário da Nonô”, da autoria de Valentina Silva Ferreira, adaptado nos formatos áudio, por João Pedro Silva Sousa, em negro ampliado e ilustrações, por Diogo Donato Catanho Freire. “A História de um Nome”, da autoria de Inês Margarida Mota Marques, adaptado nos formatos áudio, Braille e relevo. Menção Honrosa "A Breve História de Homero Joaquim, um Herói Especial", da autoria de Fátima Ribeiro, Hugo Alves e Roberto Silva, alunos do 9.º ano da Escola Básica e Secundária de Machico.
As Autoras
Carla Patrícia do Vale Lucas Contributo particular no trabalho: texto/voz Psicóloga no Serviço de Consulta Psicológica da Universidade da Madeira.
É
membro efetivo da Ordem
dos
Psicólogos
portugueses. Tem estado envolvida em projetos de investigação e na dinamização de workshops ao nível da promoção de competências pessoais, a par da dinamização de ações para crianças, principalmente no âmbito de programas de promoção da leitura e sessões de biblioterapia (a terapia do diálogo mediada pelo livro). Ao longo do seu percurso, a atividade de escrita tem sido uma área de interesse particular, tendo de igual modo algumas publicações em revistas e livros com trabalhos de poesia e prosa. Acredita que somos de facto autores da nossa própria história e que há sempre um caminho para quem persiste no esforço!
Catarina Pereira Faria Contributo particular no trabalho: LGP Psicóloga e Mestre em Psicologia da Educação, Formadora e Educadora Parental certificada. Detentora de uma mensão honrosa do Prémio Maria Cândida da Cunha 2013, com a investigação "Inclusão de alunos com necessidades especiais no ensino superior: Perceções dos docentes". Tem experiência no trabalho com alunos surdos e publicou vários artigos acerca da inclusão. Defensora da recuperação da
"humanidade" dos direitos humanos em relação às pessoas com necessidades especiais. Cristina Coelho Contributo particular no trabalho: ilustrações/voz Psicóloga
e
Mestre
em
Intervenção
Psicológica,
Desenvolvimento Humano e Educação. É membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Tem uma Pós-graduação em Neuropsicologia Clínica, área de particular interesse. Ao longo da sua vida, a
música tem sido sempre um
combustível da sua vida, tal como o gosto pela fotografia e pela natureza. Está sempre disposta a aceitar novos desafios, pelo que abraçou este trabalho, nesta sinergia de esforços e visões.
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
História em áudio
História em LGP
Viajava como eterno estrangeiro, apenas degustando tudo o que de bom deliciava o seu dia-a-dia. E assim lá ia vivendo, sem pensar e questionar tudo o que o circundava - as plantas, os animais, o mar, as montanhas, a água, o ar, a terra…, por achar que estes estariam ali sempre presentes (jamais faltariam). Gordinho, baixinho… Sancho, arrastava a tiracolo uma mochila que cruzava junto ao peito e uns óculos escuros que lhe ocupavam metade do rosto. Os cabelos ruivos encaracolados pendiam por baixo de um boné, parecendo enrodilhar sonhos e venturas…
E
lá
caminhava
sempre
cheio
de
pressa,
despreocupado com o mundo à sua volta, arrastando um jornal
9
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
debaixo do braço, comendo ora chocolates ora amendoins, cujo papel e/ou cascas ia semeando pelo chão. Era, de profissão, vendedor. Vendia tudo e mais alguma coisa. Parecia transportar uma verdadeira cartola de mágico, de onde fazia surgir o que os seus clientes precisavam. E eram computadores, playstations,
telemóveis
de
última
geração,
fogões, frigoríficos, aspiradores, e eram ainda brinquedos, móveis, peças antigas e raras… tinha tanto que oferecer, para todos os gostos e feitios, para todos os bolsos.
Certo dia, numa das suas muitas vendas, afigurou-se, diante de si, uma velha cigana. Era alta e ao seu lado, sentia-se tão pequenino… Mesmo tendo já uma certa idade, digna de respeito e cuidado, viu-lhe tamanha a beleza escondida pelo lenço que trazia amarrado ao cabelo tingido de preto. Lembrava-se perfeitamente dos sons surdos das suas muitas pulseiras e
10
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
colares… e era como se voltasse a sentir o toque da cigana na palma da sua mão, lendo-lhe a sina. - Meu caro senhor, deixe-me ver a sua mão! Vejo aqui escrito, nesta linha… nesta aqui… que o senhor está destinado a grandes feitos. Vejo aqui um tesouro, um tesouro que terá de encontrar… Mas muito esforço será necessário da sua parte! E não se esqueça, meu caro senhor... tem de estar alerta. Muitas histórias ainda por contar dependerão de si, e de outros tantos que a si se juntem nesta busca e luta... – avisou a cigana, penetrando-lhe na alma com um olhar aguçado.
Os dias lá iam passando. Não havia dia em que o rechonchudo vendedor não pensasse nas palavras da velha cigana. Num desses dias, em que tímido o sol parecia adormecido por detrás de nuvens pesadas, o rasteiro e gordinho Sancho partiu
11
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
em mais uma viagem de trabalho, no seu automóvel, um mini vermelho, que possuía há mais de vinte anos. Era tamanha a estima que fruía por ele, que mesmo já o tendo deixado pelo caminho diversas vezes, dele não se separava e lá ia andando, devagarinho... a menos de 40km à hora, largando uma gigante nuvem de fumo negro. Apesar de não ter tempo nem paciência para arranjar uma solução para este problema do carro, havia uma coisa que o seu mini não se podia queixar: das horas (horas mesmo... sem qualquer exagero) em que ficava a ser lavado. Sancho gastava litros e litros de água a lavá-lo. De cada vez que ligava a mangueira, perdia-se em pensamentos, escorrendo a água pelo pavimento, sem destino algum. Com o volante entre as mãos, assinaladas por um grande anel de ouro no dedo indicador, seguia atento à estrada. Caminhava em direção a uma região do norte da ilha, que há muito não visitava, e que primava por uma vegetação densa.
12
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Ia aproveitar esta viagem de negócios pela floresta, para se desfazer de todas as embalagens de plástico, vidro e cartão das quais já não precisava. Iria deixá-las algures num recanto, num sítio onde ninguém as visse. Dava muito trabalho fazer a separação, e deitá-las nos contentores apropriados. O pequeno e gordinho Sancho lá seguiu estrada fora, tão vagarosamente como se estivesse a andar a pé. Mas mesmo assim, o passar contínuo das árvores pela vidraça do carro, parecia hipnotizá-lo e levá-lo a pensar. O cliente que esperava Sancho tinha-lhe avisado expressamente que seguisse as suas orientações: - Tem de seguir a norte, depois virar à esquerda, voltar a subir, depois descer, voltar a subir, descer, curvar à direita… curvar à esquerda e seguir uma vez mais pela direita… e logo encontrará a minha pequena casa! É fácil, como vê, mas tenha cuidado, porque pode encontrar muito nevoeiro e não quero que a minha encomenda se perca pelo caminho. Deviam faltar cerca de três ou quatro quilómetros para alcançar o seu destino, quando de repente… Travou a fundo. O carro relinchou no piso escorregadio. Ainda com as mãos presas ao volante, aproximou a cara ao vidro do carro… O seu nariz a ele se colou estupefacto, a tentar discernir, o que à sua frente, pouco a pouco, se deixava engolir por um nevoeiro crescente. Sim! Era algo reluzente, talvez um conjunto de moedas… mas seria isso realmente?
13
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Sancho franziu o sobrolho, mordendo o lábio inferior. - Terá sido isto que a cigana leu nas minhas mãos e interpretou como
sendo
grandes
feitos
a
que
estava
destinado?
–
Encantado, Sancho já se imaginava dentro de uma limusina, enforcado numa gravata vermelha pintalgada de amarelos, um motorista privado, um mordomo, uns quantos criados a lhe satisfazerem as vontades todas… sem que se tivesse de preocupar com nada, nem ninguém. Uma gargalhada, oca e fria, soltou. Ali estavam elas, as moedas… - Já ganhei o dia! – Gritou. Colheu uma a uma as pequenas moedas de ouro… mas quanto mais as apanhava, mais elas se multiplicavam, guiando-o a algo incerto. É desta! É desta que fico rico... (esfregando as mãos)
14
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Mesmo não sabendo o que o esperava, o afoito Sancho lá se aventurou, enleado em sonhos e embrenhado em temor. Os seus pequenos pés lá se foram enterrando na terra molhada, penetrando cada vez mais no seio da floresta, enquanto ia enchendo
os
bolsos
das
calças
com
aquelas migalhinhas
douradas. Tal era o ar puro que sentia, que parecia estar a ser reciclado por dentro, de toda a poluição da cidade. Eram muitas as árvores que contornava, muitos os pássaros que ouvia a rasgar o silêncio. E ao longe, lá ia escutando um ténue marulhar de água. - Ai! Meu Deus?! Terei feito bem, em aventurar-me por estas bandas, que nem conheço?! – Sancho estava aterrado de medo, tanto que até o queixo lhe tremia. - O nevoeiro está cada vez mais denso. Já não consigo ver as minhas mãos… Ai, a minha vida! Por causa de um punhado de moedas, onde me vim meter… - O coração batia a Sancho tão rapidamente, que nem precisava de lá pôr a mão para o sentir.
15
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
De súbito, e para sua grande alegria, uma réstia de sol, abriu caminho por entre o pesado cobertor das copas das árvores. Os óculos de sol, que sempre o acompanhavam e que havia colocado no topo da cabeça, voltaram aos seus olhos, numa tentativa de confirmar se realmente estes não lhe estavam a pregar uma partida… Sim! Não estava enganado! Parecia um género de clareira… a poucos metros à frente. A curiosidade era demasiado grande, para que se pudesse conter. Por isso, Sancho começou a acelerar o passo. - Sim! Sim! Sim!! – Gritou, ao encontrar esquecido nessa clareira, um pequeno baú, de madeira ripada e do tamanho quase que das suas pequeníssimas pernas.
- Consegui…
consegui… este é o meu tesouro, vou ficar rico… Afinal a cigana estava certa! Passou a mão sobre a pequena caixa, tentou abri-la, mas debalde… estava bem fechada!
16
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
- Tenho que ver o que aqui existe! - Sentou-se e com uma pedra lá tentou abrir a caixa. Mas estava difícil… muito difícil. Batia… Batia… e nada. - Que grande trabalheira! Se não fosse para ficar rico, não fazia este sacrifício todo! Bateu
uma,
duas,
três
vezes…
outras
cinco
vezes
até
que… ... Ouviu um clic.
Sancho não teve tempo para dizer nada. Os seus grandes olhos falaram por si. Um rolo de papel e um novelo de lã?! Estarão a brincar comigo?! … -o pequeno vendedor, não queria acreditar no que tinha em mãos. Depôs o novelo de lã sobre o seu colo… e tentou abrir o rolo de papel, mas debalde! Estava tão bem fechado com um anel de metal, que teimava em não descer ou subir…
17
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
- Ai, como me corre o dia! De repente, sem que esperasse… sem que houvesse quaisquer indícios sentiu crescer um frio tremendo. Nuvens negras e gordas começaram a se desenhar sobre a sua cabeça (apenas sobre a sua cabeça). Em mais nenhum lugar parecia avistá-las. De um baque, umas pingas grossas de água lá se desprenderam do negrume. Puxou o blusão um pouco para cima da cabeça, e ficou ali durante uns minutos. Só se lhe viam os olhos pretos, assustados e incrédulos perante tudo o que estava a acontecer.
Depois, tão depressa como apareceu a chuva, desapareceu… e o pequeno corpo rechonchudo do vendedor, pareceu todo ele suspirar de alívio. Libertou a sua cabeça do blusão e ajeitou-se… mas logo, grossos flocos de neve começaram a baloiçar extrovertidamente,
prendendo-lhe
nos
seus
cabelos
encaracolados.
18
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Num ápice, os flocos de neve desapareceram, dando lugar a fortes rajadas de vento e a uns quantos trovões e relâmpagos que de luz encheram o céu negro. Parecia uma demonstração rude de todas as estações do ano.
19
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Um. Dois. Três minutos. Foi o tempo necessário para assistir ao pespontar de um sol vigoroso, que parecia tornar insuportável qualquer casaco, qualquer camisa… ou fosse o que fosse. O seu rosto, as suas mãos viram correr rios de transpiração. Não conseguia aguentar… Continuou a suspirar, tentando conter as lágrimas que queriam correr pelos seus olhos. Despiu o casaco e começou a balancear a mão de um lado para o outro, na esperança de se sentir mais refrescado. Precisava urgentemente de beber água. Mas onde a poderia encontrar?!
De súbito, sem que esperasse, acompanhado de uma aragem fria que lhe serviu para refrescar as feições, mas mais ainda para lhe espantar o espírito, ouviu um género de sibilo e com ele uma mensagem misteriosa, de uma forma tão clara e tão direta, quase que assustadora…
20
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
- Vês, é isto que pode acontecer… este é o teu planeta daqui a uns anos… se não fizeres nada! Tu e todos os outros seus habitantes!!! E
como
na
rodagem
de
um
filme…,
imagens
a
passar
sincronicamente, viu as estações a se reduzirem a duas – Invernos e verões, chuva… calor…; água a faltar, florestas queimadas... simplesmente, um deserto de vida! E tudo parou de súbito. As imagens, os sons, a agitação do dia. Apenas ouvia o silêncio, um silêncio frio e pesado. Ainda segurando com a mão o enigmático rolo de papel, deixou cair o novelo de lã… parecia estar a fugir do seu regaço e a correr sobre a terra húmida, desenovelando-se rapidamente. E foi nesse instante, nesse preciso momento, que o rolo de papel se abriu e pode lê-lo: O planeta Terra está doente… muito doente… – Pequenas lágrimas desprenderam-se do céu. – Ele precisa da tua ajuda… Ainda há tempo! Corre! Apressa-te para apanhares o fio à meada, antes que seja tarde de mais… recupera o tempo perdido! Esta é a tua terra, o teu Planeta… Tens que ajudar. Este é o teu lar, a tua morada! Foi
nesse
momento
que
Sancho
compreendeu…
compreendeu que mesmo sendo tão pequenino, mesmo sendo um entre milhares, seria capaz de ajudar a salvar e a cuidar do planeta, a sua casa. O seu mais pequeno gesto, por mais insignificante que fosse, seria capaz de contribuir para a mudança, porque tal como afirmara a cigana estava destinado a grande feitos.
21
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
O pequeno vendedor lá se levantou a custo, mas cheio de esperança… tentou agarrar o novelo que entretanto corria sem parar - ia descendo e se desenovelando cada vez mais. Aquele novelo representava o planeta terra, que o vira nascer e que lhe oferecia continuamente as dádivas que lhe serviam para viver… e agora, era o planeta que precisava ser embalado, protegido e amado. Não custava assim tanto, pensava Sancho para si. Não poderia arriscar-se a perder os sons (o marulhar da água, o chilrear dos pássaros…), os cheiros (a terra, a erva, a maresia…), as imagens (as montanhas, as árvores, o mar, o
céu, os
animais…), as cores, os sabores (doce, salgado, amargo…); todas essas sensações que lhe abraçavam continuamente o dia. Não, não podia deixar que tudo isto se perdesse, todo este tesouro… teria de estar mais atento, e esquecer o cansaço de dias em que apenas se centrava em si, no seu conforto e bemestar.
22
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
Sancho depôs o pequeno baú no mesmo lugar em que fora achado,
para
que
outros
o
pudessem
encontrar.
Tinha
consciência de que não mais poderia continuar indiferente. O planeta em que vivia estava doente e esperava pela sua ajuda e assim era e seria o seu herói… Não mais podia viver como simples estrangeiro que apenas passeava pela Terra. Tinha que assumir o seu papel enquanto verdadeiro morador do planeta, prestando-lhe os cuidados de que estava sequioso, porque, acima de tudo, sabia ser urgente agir…
ENQUANTO AINDA HAVIA TEMPO! ENQUANTO AINDA ERA TEMPO!
23
Um Eterno Estrangeiro no Planeta Terra
MENSAGEM FINAL:
Nรฃo sejas apenas um estrangeiro no teu planeta. Cuida da casa onde vives. Constrรณi o teu lar. Pequenos gestos podem fazer toda a diferenรงa!
FIM
24