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Freio na água urbana
Bacias de detenção se espalham pela cidade e lançam a dúvida: são o melhor e único caminho?
Texto: Tobias Ferraz
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A observação dos fenômenos naturais sempre foi o ponto de partida para o entendimento das “leis da natureza”. Ao longo dos séculos, o gênero humano absorve, adapta e aplica o conhecimento, muitas vezes ancestral, sobre a convivência harmoniosa com o meio ambiente. Esse fato produz ideias, ações e intervenções nas áreas urbanas.
No começo dos anos 2000, a capital mineira viveu uma experiência muito rica em participação e cidadania. Preocupados com uma região farta em nascentes de água, moradores do bairro São Francisco, na Pampulha, se organizaram em torno da preservação da área e da criação do Parque Ecológico do Brejinho, com o objetivo principal de proteger os olhos d’água que brotam no lugar. Com a organização, os moradores conquistaram votos no Orçamento Participativo e a liberação de verba para cercar a área – a consolidação do parque só se deu de fato ao final de 2021.
A professora Dalva Lara Corrêa, hoje aposentada, participou ativamente do processo e chegou a coordenar o Projeto de Preservação das Nascentes do Brejinho. “Com verba conseguimos construir uma guarita e cercar uma área de 73 mil m² que abriga as nascentes, com boa parte em vegetação natural”. Era o início de um grande projeto ecológico, mas que seria interrompido no meio do caminho.
Dalva conta que, anos depois dessa conquista, estava de férias, longe de Belo Horizonte, quando leu a notícia sobre a construção de uma bacia de contenção na área do Brejinho. “A Praça Bagatelle e o Aeroporto da Pampulha foram construídos em área brejosa, onde passam três córregos que causavam frequentes inundações. Por causa disso, a Prefeitura decidiu construir uma bacia de detenção dentro do parque. O Brejinho, com isso, perdeu 22 mil m² de área de preservação para a implantação da obra”, fato que deixou Dalva muito decepcionada com as decisões tomadas pelo poder público.
O caso do Parque Ecológico do Brejinho ilustra muito bem essa contradição entre solução natural ou intervenção humana. A geógrafa Viviane Ferreira Batista, especialista em geoprocessamento de dados, mestranda em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais, é moradora da região e membro da iniciativa Sistema Agroflorestal do Brejinho. Viviane é quem traz a questão dos impactos causados pela obra. “A bacia de detenção do Brejinho está dentro de uma unidade de conservação. Mesmo com as audiências públicas que aconteceram nos anos 1990 e 2000, com a aprovação pelo Orçamento Participativo, boa parte da vegetação nativa do parque foi retirada para a construção da bacia. Uma área arborizada, que poderia servir com escoamento e infiltração da água, de forma natural, deu lugar às obras de concreto”, explica a geógrafa.
Para ela, a falta de comunicação com os moradores foi sempre uma falha. “Numa visão geral vemos prédios, a bacia, isso tudo dentro da área de preservação do Brejinho. Em relação à comunicação visual, eu, como moradora, não sei se essa obra está acabada, se está em processo, não sei quem é o órgão executor. A gente não tem nenhum tipo de comunicação, seja uma placa indicadora com descrição da obra”. De acordo com a Secretaria de Obras da PBH, a Bacia de Contenção do Parque Ecológico do Brejinho está concluída.
Bacias de detenção aberta
Área para receber o excedente das águas das chuvas que pode ser adaptada como área de lazer, com implantação de paisagismo, quadras de esportes e pistas para patinação e skate. Custo de implantação relativamente mais baixo.
Bacias de infiltração
Localizadas em áreas com solo apropriado, funcionam nos períodos de maior concentração de chuvas, absorvem a água captada com maior rapidez.
Bacias de retenção subterrânea
Passadas quase duas décadas, com mais conhecimento acumulado sobre as ações da natureza e com as emergências climáticas batendo em nossas portas, a discussão sobre a execução de obras de macrodrenagem em centros urbanos volta com muita força. Em agosto de 2022, o Subcomitê Ribeirão Arrudas, ligado ao CBH Rio das Velhas, organizou um webinário para debater técnicas de manejo das águas das chuvas nas cidades, em especial as bacias de detenção, contenção e retenção. A conversa gira em torno da eficiência desse tipo de construção, os custos de implantação e manutenção, a necessidade de supressão de vegetação nativa para viabilizá-la e sobre o local ideal para instalar essas áreas de amortecimento das águas.
A discussão abre uma série de reflexões sobre até onde a intervenção é necessária e eficaz. Outro fator relevante no processo de implantação de uma bacia de contenção é a instalação ou remodelamento da rede de esgoto da região, tarefa que exige alinhamento e articulação com a concessionária de saneamento, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).
Mantêm nível constante de água, propiciam a sedimentação dos resíduos sólidos, guardam água de melhor qualidade. Precisam de monitoramento constante do volume armazenado e necessitam de manutenção para retirada dos resíduos sólidos ou desarenadores. Tem maior custo de implantação.