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Um rio para irrigar o bom turismo

Rio das Velhas pode ser o grande estimulador de um desenvolvimento sustentável, consistente e justo, afirma especialista

Texto: Paulo Barcalla

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“Quem conduz esse manancial de desenvolvimento que o turismo pode representar é o Rio das Velhas. O rio vai nutrindo, liga a natureza e a história. Traz as potencialidades. Sem água não tem turismo, não tem vida”. As palavras são da historiadora e especialista em Governança em Rede e Desenvolvimento Territorial, Jussara Rocha, há mais de duas décadas atuando nas áreas do turismo e da economia criativa, nas esferas pública e privada.

“Se olhar pro mapa”, continua, “ele nasce em Ouro Preto e vai até a Barra do Guaicuí, passando por BH, pelas grutas, Serras do Cipó e do Cabral e o Circuito dos Diamantes”. Para ela, o Rio das Velhas, que pode ser “o grande estimulador de um processo mais consistente” de turismo em Minas, é “pouco falado, subdimensionado, só vem à tona nos desastres ambientais, mas precisa ser tratado também no âmbito da educação e do turismo”.

De fato, o maior afluente do São Francisco liga os principais destinos indutores de Minas Gerais e possui vasta rede de Unidades de Conservação (UCs), também polos de atração turística. Os 27.850 km2 da bacia abrigam 51 municípios, 4,5 milhões de habitantes, seis circuitos turísticos e 118 Unidades de Conservação, distribuídas entre 66 Parques, sendo três nacionais, importantíssimos [Serras do Gandarela e do Cipó e Sempre-Vivas], sete estaduais e 56 municipais, 23 Áreas de Proteção Ambiental (APAs), 14 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), nove Monumentos Naturais, três Estações Ecológicas, dois Refúgios de Vida Silvestre (REVIS) e uma Floresta Estadual. Além de tudo isso, a Serra do Espinhaço, que emoldura grande parte da bacia, é Reserva da Biosfera reconhecida pela Unesco desde 2005.

Caminho das pedras

Treinado na longa trajetória profissional, o olhar prático de Jussara se volta “para o chão do turismo”. A atividade, “tão falada”, é segundo ela “ainda muito pouco definida” e “até hoje não foi prioridade na esfera pública, em nenhuma instância”.

As lacunas ganham forte exemplo nas Unidades de Conservação (UCs), áreas preservadas que trazem todo um contexto não só da natureza, mas da história e das pessoas. No mundo, há pelo menos 15 anos é crescente a demanda por esse nicho, em que o turista espera encontrar mais segurança, informação e opções orientadas.

Jussara Rocha aponta, contudo, “uma falta muito grande de gestão, deficiências estruturais para cuidar da conservação, imagina para o processo de gestão turística”. Os números não ajudam. Das 313 UCs federais, 173 não tinham plano de manejo um ano atrás, 60 não tinham conselho formado e 297 não haviam concluído a consolidação territorial.

Remando ao lado dos que veem no turismo, em UCs ou fora delas, combustível poderoso para “dinamizar a economia de forma justa e equilibrada”, a historiadora frisa: “Tem que trazer benefícios às comunidades do entorno”.

Preconizando medidas de ordenamento e estratégias para superar a ação fragmentada, clama para que os seis circuitos da bacia comecem a trabalhar de forma integrada, computem dados como ticket médio, perfil do turista, preferências e demandas e traduzam sua oferta em bons produtos.

A profissionalização é outra vertente crucial: “incluir as pessoas do lugar de forma qualificada, preparar os destinos e roteiros, capacitar os receptivos, descobrir os vazios a preencher para criar novas atividades turísticas”, receita.

“Precisa deixar de romantizar o turismo”, indica, e ressalta que a atividade envolve “uma cadeia produtiva muito grande”. A arte reside em atrair o fluxo turístico, mas fazer com que ele venha de forma estruturada, “que queira preservar, se integrar às comunidades existentes, se inteirar da história que ali existe, dos saberes, dos ofícios, de todas as pequenas singelezas que contém cada milímetro de mata, de rua, de pedra, de água”.

“Enquanto a gente não se sentir rio, montanha, a gente não anda”, diz, ecoando a alma xamânica dos povos originários.

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