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Jabó-Baldim: um paraíso entre serras e cachoeiras
Texto: Luiza Baggio
“Ah, ah, ah! Tô indo agora pra um lugar todinho meu. Quero uma rede preguiçosa pra deitar. Em minha volta, sinfonia de pardais cantando para a majestade, o sabiá”. A canção ‘
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A Majestade o sabiá’ é um dos grandes sucessos da cantora e compositora Roberta Miranda e mostra muito bem a realidade da Unidade Territorial Estratégica (UTE) Jabó-Baldim, localizada no Médio-Alto Rio das Velhas.
Composta pelos municípios de Baldim e Jaboticatubas, ocupa uma área de 1.082,10 km2. A unidade é caracterizada por sua beleza natural, serras, cachoeiras e rios preservados que atraem um número crescente de turistas, devido a sua proximidade com a capital Belo Horizonte.
O principal rio da UTE é o Jaboticatubas, com 83,25 km de extensão, seguido pelo Córrego Trindade (ou Córrego Grande, como é conhecido por alguns), com aproximadamente 30 km. Esses cursos d’água são afluentes diretos do Rio das Velhas e responsáveis pelas águas caudalosas que o oxigenam, após o Velhas percorrer a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Os municípios da UTE
Jaboticatubas possui em parte do seu território a Serra do Espinhaço, declarada Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em razão da rica biodiversidade, e é um dos destinos que compõem a região da Serra do Cipó. Seu território integra o Parque Nacional da Serra do Cipó (ParnaCipó) num percentual de 80% da área total. A grande diversidade de recursos naturais e riqueza biológica, os recursos hídricos, notadamente os Rios Cipó, Vermelho e das Velhas, são fortes atributos locais.
Sua estrutura urbana é a de uma tradicional cidade mineira, com um povo hospitaleiro, culinária típica, igrejas centenárias, comunidades tradicionais quilombolas, festejos folclóricos, religiosidade, cachoeiras, fazendas e outros monumentos históricos. Essas características elevam Jaboticatubas à condição de detentora de bens imateriais que confirmam a própria identidade cultural do estado de Minas Gerais.
A denominação “Jaboticatubas” provém do nome do ribeirão que banha a localidade, assim designado em virtude da abundância de pés de jabuticabas, planta da família das mirtáceas, gênero “Eugenia”, típica de solos úmidos de Cerrado ocorrentes na área central de Minas Gerais.
A cidade de Jaboticatubas teve sua origem nas sesmarias. No século XVIII, Félix da Costa, Ermitão da Caridade, iniciou as obras de construção dos mosteiros de Macaúbas e, na busca ansiosa de recursos, deparou com terras de aparências fértil e agradável “na barra de Jaboticatubas, Rio das Velhas abaixo”. Surgiu-lhe, então, a ideia de conseguir posse daquela região, que seria colonizada para o sustento das recolhidas.
O outro município pertencente à UTE Jabó-Baldim também teve seu processo de formação do núcleo populacional no século XVIII. Na verdade, a região era rota de passagem e parada dos tropeiros que viajam pela Estrada Real. O primeiro nome dado ao vilarejo foi Pau Grosso, devido à existência de um jequitibá gigante que abrigava os tropeiros que passavam pela região, rumo ao norte. Em 1917, surgiu o nome Baldim, cuja origem é o nome Balduino ou Ubaldino, português que residiu no extremo do município.
As belezas da região
No coração da UTE Jabó-Baldim está São José da Serra, distrito de Jaboticatubas, um povoado aconchegante e charmoso, de receptividade simples e acolhedora por parte de seus moradores. O distrito faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Morro da Pedreira e reúne belos atrativos de grande valor ecológico.
O Rio Jaboticatubas corre em torno da vila e reserva aos seus visitantes muitos lugares para lazer e descanso. Sua comunidade guarda “causos” e tradições irresistíveis de se ver, ouvir e experimentar. Ainda hoje vê-se pelo vilarejo casas antigas e sedes de fazendas, que guardam na arquitetura e em seus moradores a memória local.
São José da Serra é sinônimo de tranquilidade e simplicidade. Lá é possível caminhar pelas matas, através de belas trilhas pelas serras, se refrescar em cachoeiras e contemplar lindas paisagens. No distrito se encontra a Cachoeira Lagoa Dourada, também conhecida como Cachoeira das Fadas, situada nos arredores do Parque Nacional da Serra do Cipó (ParnaCipó). A cachoeira tem esse nome pois, em determinada hora do dia, a lagoa formada antes da queda recebe os reflexos do sol e ganha uma cor dourada.
Segundo Sônia Oliveira, da Associação Amanu - Educação, Ecologia e Solidariedade e membro do Subcomitê Rio Cipó, a beleza de destaque da UTE Jabó-Baldim é a Cachoeira do Bené. “Ela fica no Parque Nacional da Serra do Cipó, que por sua vez conta com uma infinidade de atrações. Para mim é a beleza mais bem preservada da unidade. É um lugar que todos devem conhecer. São quedas d’água de várias alturas, a última e maior delas forma um poço grande. Um lugar muito lindo, que vale a pena ir para passar o dia todo”, afirma.
A Cachoeira do Bené se localiza a 16 Km do centro de Jaboticatubas. O acesso de carro é um pouco complicado, por isso, é aconselhável a contratação de um guia local, mas a trilha a pé é fácil e agradável.
Baldim é uma cidade aconchegante, com a Praça Emilio Vasconcelos enfeitando a região central do pequeno município que possui aproximadamente 8 mil habitantes. A cidade fica movimentada nos finais de semana e promove festividades religiosas, encontros folclóricos com as tradicionais festas do Rosário e jantar do Divino Espírito Santo.
Economicamente, Baldim é um município voltado para as práticas agropecuárias como a produção de hortifrutigranjeiros e hortaliças para o abastecimento do CEASA-MG e a pecuária leiteira. Além disso, quem visitar Baldim pode se deliciar com os doces produzidos em diversas partes da cidade, como goiabada cascão, doce de leite e bananinha cremosa. Essa atividade vem fortalecendo, ao longo dos anos, o cooperativismo e a criação de postos de trabalho – recentemente instituíram a badalada Festa do Doce com o slogam “Baldim: a cidade do doce, um doce de cidade”.
Associação Amanu atua no intuito de mobilizar e apoiar ações populares comprometidas com uma sociedade mais justa e ecológica.
Loteamentos irregulares podem causar impactos ambientais
O parcelamento irregular de solo e a abertura de loteamentos irregulares são motivos de preocupação na UTE Jabó-Baldim. Somente no município de Jaboticatubas são cerca de 25 empreendimentos com indícios de irregularidades, de acordo com a Secretaria Municipal de Agropecuária e Meio Ambiente. Em geral, os lotes de 20 mil m² situados em zona rural estão sendo fracionados em glebas de 1 mil m². O fracionamento irregular de solo configura crime, conforme a Lei nº 6.766/79. Para o secretário municipal de Segurança Social e Meio Ambiente, Fernando Henrique Siqueira Silva, essa é uma prática que foge totalmente dos moldes da Lei Municipal: “Nossas equipes estão cumprindo o dever de fiscalizar esse tipo de crime com a intensão de colocar em prática a lei que deve ser respeitada. Se isso não for feito, nosso município pode se transformar em uma terra de ninguém, o que irá prejudicar toda a população”.
As consequências ambientais decorrentes da instalação desses loteamentos irregulares é a poluição de nascentes e mananciais, a degradação das Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Proteção Ambiental (APA), a derrubada de árvores nativas, graves prejuízos à biodiversidade local. Além desses impactos, também pode ocorrer o aumento da erosão, com o consequente carreamento de resíduos para os ribeirões e cursos d’água, a contaminação das águas, o aumento no volume dos resíduos sólidos descartados em desrespeito à legislação ambiental, com a consequente contaminação dos solos onde se instalaram tais loteamentos.