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CRESCER PARA ALCANÇAR NOVOS PATAMARES DE COMPETITIVIDADE

Novos modelos de negócio que permitam vencer os desafios de um mundo volátil e abraçar o futuro com otimismo. Esta é uma ambição da indústria de moldes, patente no segundo painel do Congresso. Para que tal se concretize, importa alcançar uma nova forma de pensar, que permita identificar e criar fórmulas novas de fazer. Sozinhas ou em parceria, as empresas necessitam de crescer para alcançar novos patamares de competitividade. Um dos elementos-chave são as pessoas que as organizações têm de conseguir atrair e reter. E este capital humano precisa de novos saberes e competências para ajudar a indústria a alcançar os seus objetivos.

Olhar para a diáspora portuguesa como um aliado numa estratégia de negócio que se pretende mais diversificada e eficaz. Esta foi uma das conclusões do tema ‘Pessoas e Competências”. No primeiro dia do Congresso, a tarde foi dedicada a refletir sobre a forma de ganhar escala e, com isso, alcançar novos patamares de competitividade. Mas também de alterar as condições do negócio, de forma a assegurar maior equilíbrio financeiro.

Os oradores convidados deram pistas de como pode o sector modificar-se. ‘Sustentabilidade financeira e novos modelos de negócio’ foi o tema do primeiro painel.

Nuno Pereira Alves (Millennium BCP) abordou a temática das tesourarias das empresas que, em alguns casos, passam por momentos desafiantes. Manifestou a disponibilidade da instituição que representa para, em conjunto com as empresas, encontrar as melhores soluções.

A sustentabilidade a todos os níveis, considerou, é o objetivo. Só com ela as empresas conseguirão melhorar a sua estrutura e criar condições diferentes que lhes permitam crescer. A transição climática é, também nesta questão, uma das prioridades, advertiu.

Apesar das taxas de juro estarem mais elevadas do que no passado, considerou que as empresas têm de ponderar e procurar soluções. “Temos de ter condições para desenvolver projetos”, afirmou, fazendo alusão às verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que, considerou, será uma catapulta importante para muitas organizações.

Kerem Subasi (Payperchain) apresentou aos congressistas novas e diferentes soluções de pagamento, de forma a assegurar aquilo que hoje começa a ser complicado para as empresas de moldes: assegurar que se consegue dar resposta a um cliente quando este pretende pagar apenas no final do processo de fabrico.

Recurso Ao Digital

Uma das respostas poderá passar pelo sistema que apresentou, um ecossistema com diferentes utilizadores, através do qual, e de forma digital, é possível conectar fabricantes e clientes. E esta conexão permite também criar uma solução de pagamento por utilização. Ou seja, através da tecnologia, criar um sistema em que o cliente paga apenas quando as máquinas estão a produzir.

Por outras palavras, um sistema financeiro automático.

No seu entender, soluções deste tipo estimulam a confiança entre fabricante e cliente, até porque são geridas digitalmente, sem lugar a erros e sem perdas de tempo. “Hoje, a era digital permite novos tipos de negócio, com recurso a Inteligência Artificial ou Internet das Coisas”, afirmou, explicando que várias empresas europeias começaram já a adotar estes sistemas.

Claus George (DZ Bank) apresentou a solução que representa e que se insere também numa forma digital e automática de gerir pagamentos, ligando o dinheiro em papel (como o Euro) com o dinheiro virtual (as criptomoedas). Esta ligação cria dinamismo ao processo, fazendo com que as empresas ganhem tempo.

O sistema, lançado em 2020, conta já com a adesão de grandes empresas alemãs, anunciou ainda. Mas também as empresas de menor dimensão podem ver vantagens nestes sistemas. Foi o caso de Stefan Kreck (Giebeler), representante de uma empresa que integra moldes e plásticos que partilhou a sua experiência, falando de algumas vantagens do conceito ‘pagar por utilização’. “Isto dános oportunidade de, por exemplo, fazer serviços adicionais que são automaticamente pagos”, explicou. Esta é uma das possíveis respostas que permitirá ao sector “trabalhar, assegurando que recebe, e sobreviver no futuro”.

O debate entre os três foi moderado por João Luís de Sousa (Vida Económica).

Crescer

Escala e dimensão. Apesar de presentes de forma transversal em todos os painéis, estas duas ambições do sector foram debatidas no painel ‘Ganhar escala, ganhar dimensão – de que forma?”

Pedro Nascimento (Business Roundtable Portugal) apresentou uma associação, recentemente criada por um grupo de grandes empresas portuguesas, que tem como objetivo ajudar a crescer organizações com potencial e apoiar as PME a passarem a grandes empresas.

Defendeu, só com maior quantidade de empresas de maior dimensão será possível que “Portugal cresça e integre o top 15 dos países mais ricos da União Europeia, onde já esteve”. Sem empresas grandes não há escala. E sem escala, as empresas portuguesas não conseguem comparar-se às de outros países europeus. Advertindo que o défice das médias empresas é maior do que nas grandes, considerou que gerando melhores empresas é possível alcançar mais riqueza e, com isso, por exemplo, pagar melhores salários.

Para apoiar as empresas a crescer, esta associação criou o programa ‘Empresas Adolescentes’. Reconhecendo o seu potencial, desenvolve várias iniciativas de apoio à internacionalização, bem como formação para os líderes. Nesse sentido, tem disponível uma bolsa de conselheiros, à qual as empresas de menor dimensão podem recorrer. Esta ação, salientou, é totalmente financiada pelas empresas que compõem a associação.

Tendo como moderador Carlos Silva (Moldoplástico), seguiu-se um painel de debate que contou com José Carlos Gomes (Durit) e João Cortez (Celoplás).

Para João Cortez, as empresas de moldes têm de melhorar o seu planeamento, abarcar toda a cadeia de valor e diversificar. Para crescer, acrescentou, devem usar todas as ferramentas que têm ao seu alcance. Explicando que, no caso da empresa que representa, o crescimento tem acontecido de forma orgânica, admitiu que, no atual contexto, “possivelmente algumas microempresas irão passar por dificuldades”.

Já José Carlos Gomes defendeu que a escala, entre outras vantagens, permite diluir custos fixos das empresas. Além disso, enfatizou, para internacionalizar, as empresas precisam de dimensão. “A indústria de moldes em Portugal desenvolveu-se com empresas pequenas, mas acredito que as empresas maiores têm capacidade de captar melhores quadros, pagar melhor e ser mais competitivas”, defendeu.

E a escala, no entender dos dois oradores, pode fazer-se com investimento da própria empresa ou por investimento exterior. Aqui, poderá haver até lugar a fusões e aquisições que, sustentaram, em algumas situações podem ser benéficas. Além disso, uma forma possível de o fazer é através da cooperação.

José Carlos Gomes lembrou que esta colaboração existe, mas tem tido contornos pouco formais. “Poderá ser uma possibilidade positiva, criando formas novas de consórcio – mas este tem de ter regulação clara - para determinado tipo de mercados ou negócios. Até porque, a dimensão facilita a negociação”, considerou.

Ligar Escolas E Empresas

A reflexão sobre as pessoas nas organizações encerrou o primeiro dia de trabalhos do Congresso. ‘Como as empresas se preparam para o futuro? Dois caminhos para a capacitação profissional’ foi o tema do painel que juntou empresas, ensino superior, escola pública e ensino profissional.

Leonor Sottomayor (Sonae) partilhou a sua experiência na gestão de pessoas, considerando que há muita coisa a mudar e a um ritmo muito grande. “A transformação está a acontecer, com a introdução da Inteligência Artificial, por exemplo, que já está a mudar muita coisa”, alertou, exortando as empresas a priorizarem esta questão. Lembrando que, segundo estudos de entidades oficiais, até 2030 irão desaparecer 700 mil postos de trabalho, salientou que, em contrapartida irão surgir novas áreas. Mas deu nota do desajuste que existe entre aquilo que são as necessidades das empresas e as competências disponíveis. “Temos de ser rápidos a trabalhar e corrigir este desajuste”, defendeu.

Para isso, acredita, é fundamental um trabalho conjunto e coordenado entre empresas e instituições de ensino. A título de exemplo falou do projeto R4E, que mobiliza parcerias entre organizações relevantes e partilha as melhores práticas de requalificação para o emprego. Apontou ainda o ensino profissional como um importante elo de preparação para o mundo do trabalho, considerando que contribui para “reduzir a barreira entre a sala de aula e a empresa”.

No painel que se seguiu, moderado por Paulo Bastos (Simoldes), os professores Martinho Oliveira (Escola Superior de Design, Gestão e Tecnologias da Produção de Aveiro Norte) e Cesário Silva (Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente) deram conta do contributo das respetivas instituições de ensino na preparação dos jovens para o mercado de trabalho.

Martinho Oliveira lembrou que o ensino profissional já chegou às escolas superiores, através dos cursos técnico superiores profissionais, nos quais a ESAN foi pioneira. A grande vantagem, explicou, é desenvolver perfis profissionais mais adequados às necessidades das empresas sendo mais versáteis do que, por exemplo, as licenciaturas. A escola, referiu ainda, tem parte dos currículos destes cursos assegurados por profissionais das empresas.

Já para Cesário Silva, destacou como negativo que, num momento em que a discussão essencial se faz em torno de questões como as pessoas, a cooperação, as redes, a partilha e a comunicação, as escolas mantêm a avaliação individual de cada aluno (os exames). “Precisamos renovar o sistema de ensino, renovar os professores e aproximar mais a escola da indústria”, defendeu.

Os três foram unânimes em considerar que o papel das empresas é o de antecipar as suas necessidades a nível de formação para, depois, em conjunto com as escolas, definir as áreas de formação mais adequadas. As competências emocionais e comportamentais, salientaram, têm hoje um papel preponderante, seja do lado de quem procura, seja do lado de quem forma.

Leonor Sopas (Universidade Católica), responsável por apresentar a síntese destes painéis, fez referência a este último ponto como tendo o objetivo de desenvolver “um ecossistema em que temos instituições públicas e privadas, temos escolas profissionais e escolas secundárias, de forma a conseguir formar pessoas com conhecimento, com as competências transversais, com atitudes, mas que possam ter uma vida equilibrada em que aquilo que ganham lhes permite ter a capacidade de alcançar os seus sonhos, de melhorar, de terem uma vida preenchida”. Ora, enfatizou, “estas coisas estão todas ligadas à capacidade que as empresas têm de se tornar mais produtivas e conseguirem pagar melhores salários”.

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