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EDUCAÇÃO COM AJUDA DO MEIO AMBIENTE

Número de jovens que se envolvem no movimento escoteiro aumenta nos últimos 10 anos, estimulando a conscientização ambiental

FELIPE DOURADO

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Ser escoteiro está se tornando cada vez mais comum entre jovens no nosso país. A prática, de acordo com a União dos Escoteiros do Brasil (UEB), cresceu cerca de 35% nos últimos 10 anos, atingindo, direta e indiretamente, mais de 100 mil pessoas no território nacional. No DF, já são mais de 2 mil crianças e adolescentes, com idades entre 4 e 18 anos, segundo o órgão nacional. Esse aumento no interesse pelo movimento escoteiro tem relação direta com um estímulo fundamental na vida dos praticantes, e que se intensificou nos últimos anos: o amor à natureza e o despertar da juventude brasileira pela defesa da maior riqueza do Brasil. Os adeptos desse movimento são sempre voluntários e acreditam na educação como principal ferramenta para mudança da realidade brasileira. Os escoteiros atuam principalmente como responsáveis pela fiscalização e conscientização nas comunidades em que se localizam, em busca de uso sustentável dos recursos naturais e maior cuidado para com o meio ambiente.

A prática do escotismo existe desde o início do século XX – no Brasil, já tem 98 anos. Ao longo dos últimos anos, contudo, o movimento escoteiro tem recrutado cada vez mais jovens. Entre 2010 e 2018, o número de ingressantes do movimento passou de 75 mil para 100 mil pessoas, desde o primeiro ramo escoteiro (os chamados lobinhos) até o último (pioneiro). Destes, apenas 25% possuem mais de 18 anos. “Nossos métodos não se congelam. Eles se moldam. Nós sempre nos moldamos à realidade que os jovens vivem. Seja por meio da abordagem, seja por meio da linguagem”, sustenta Márcio Albuquerque, diretor presidente da União dos Escoteiros no Distrito Federal.

Cuidando do meio ambiente

Em diversas regiões do DF, ações de limpeza urbana, exploração em leitos de nascentes, entre outras atividades, têm sido incorporadas à rotina dos grupos, que se encontram normalmente aos sábados para aprender sobre a importância da natureza.

A prática incentiva os adolescentes a adotar uma postura mais consciente. Todos os anos, por exemplo, os escoteiros promovem um Mutirão de Ecologia (Muteco). Durante uma semana, os grupos desenvolvem atividades relacionadas à preservação, conscientização e conservação do meio ambiente. “Nas atividades de 2017, os meninos aprenderam a importância da reciclagem na paisagem urbana. Foi muito interessante vê-los aprendendo sobre como fazer uma separação eficiente do lixo, como reutilizar materiais e outras atividades assim”, conta Albuquerque.

Durante o mutirão de 2017, o grupo escoteiro João XXIII, do Guará II, realizou atividades dentro do Parque Ecológico do Guará, envolvendo coleta de material para reciclagem e plantação de árvores. “Praticamente todas as árvores do parque foram plantadas pelo nosso grupo”, conta Maiara Bezerra de Lima, estudante de 14 anos, e membro do ramo escoteiro do grupo. “A gente atua de uma forma, muitas vezes, discreta. Sempre tentamos deixar os lugares por onde passamos melhores do que quando os encontramos”, completa.

O presidente regional ressalta, ainda, a importância dessas atividades para os membros da comunidade. “Nosso trabalho é similar a um ‘trabalho de formiguinha’: de pouquinho em pouquinho. Nós ensinamos as crianças, que ensinam os amigos, e ensinam os pais, que passam a implementar nos condomínios, nas quadras, e acaba que, no final, uma região inteira já está se conscientizando”, detalha.

O movimento escoteiro utiliza a meritocracia como principal “modelo educacional”. E é assim que os grupos escoteiros vêm trabalhando a prática da educação ecológica. Uma das maneiras de estimular à conscientização é a distribuição de insígnias – emblemas que são conquistados através da realização de diversas atividades, e que simbolizam uma especialização do escoteiro. “Nós tivemos recentemente uma insígnia que ensinou os jovens a separar o lixo e reduzir o

ESCOTEIROS SEMPRE buscam deixar o lugar por onde passam melhor do que quando encontraram

"Ensinamos as crianças, que ensinam os amigos e os pais, que passam a implementar nos condomínios, nas quadras" Márcio Albuquerque, presidente da União dos Escoteiros do DF

consumo”, exemplifica João Henrique Moretti, diretor do 6º Grupo Escoteiro do DF – Caio Martins; sediado no Setor Militar Urbano.

A importância dos escoteiros na vida urbana também é percebida por quem luta em prol de um futuro mais sustentável. Segundo a analista de conservação do WWF-Brasil Alessandra Manzur, os ganhos da comunidade são percebidos ao longo do tempo. “O trabalho de educação ecológica que esses grupos desenvolvem, principalmente nas crianças e nos adolescentes, reforça a importância de lutarmos por um país melhor para as gerações futuras. Em longo prazo, os cuidados que são ensinados, se tornam fundamentais para nossa sobrevivência enquanto espécie no planeta”, afirma.

Dentre outras atividades, Caio Martins também desenvolveu, no último ano, a criação de uma horta comunitária para a comunidade cultivar alimentos orgânicos. “Foi outra ação de impacto, que estimulou as famílias a terem alimentação balanceada e coerente. Além do mais, foi extremamente divertido aprender a cultivar alimentos. Todos acabamos aprendendo um pouco mais”, observa.

Em 2018, o tema mais importante a ser abordado em cada grupo escoteiro pelo Brasil, delimitado pela UEB, trata da “educação para a vida”. O assunto é estabelecido pelo órgão a fim de preparar terreno para o principal encontro dos escoteiros no Brasil: o Jamboree Nacional. Para isso, as instituições ao redor do Brasil têm até o fim do ano para desenvolver atividades relacionadas à consciência ecológica, inteligência emocional e, principalmente, espírito social e liderança.

Além disso, a proposta também estimula os grupos a desenvolverem uma maior interação entre os familiares e os jovens ligados ao movimento. O modelo já vem sendo aplicado em algumas das associações de escoteiros em Brasília, como no caso do grupo João XXIII.

“Nós nos preocupamos em usar de modo consciente e cauteloso o ambiente em que estamos inseridos. Afinal, a prática do escotismo depende diretamente de um meio ambiente fortalecido para ser praticada. Até o planejamento de o que podemos retirar da natureza para o nosso uso é calculado, para que não haja excessos. Ensinar isso ao jovem, é ensiná-lo a ser mais consciente, de uma forma intuitiva e natural”, explica Matheus Weny, chefe-escoteiro do grupo.

O mutirão ecológico ressaltou a importância da conscientização, principalmente nos jovens, e demonstra que ainda precisamos reduzir o consumo de lixo. Na Região Administrativa do Guará, por exemplo, aproximadamente 13 toneladas de lixo foram recolhidas pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU) nos três primeiros meses de 2018. Em 2017, foram 39 toneladas de resíduos recolhidos pelo SLU, cerca de duas toneladas a mais do que em 2016.

Aos poucos, o Distrito Federal e o Brasil vêm percebendo a atuação sutil do escotismo, e a importância da manutenção e do incentivo à educação ambiental, cada vez mais cedo. “Se passássemos a tratar o meio ambiente como ele realmente deve ser tratado, como a maior riqueza que temos, com certeza teremos uma vida ainda mais pacífica e harmoniosa”, detalha Márcio Albuquerque. O brilho em seus olhos ressalta o valor que a natureza precisa ter, principalmente para quem, hoje, é o futuro do nosso país.

O QUE É E COMO GANHAR A INSÍGNIA DO MEIO AMBIENTE

A Insígnia Mundial do Meio Ambiente (IMMA) envolve uma série de atividades as quais o escoteiro realiza, com o objetivo de “explorar e refletir” sobre os seguintes itens: Ar e Água; Habitats e Espécies; Substâncias Perigosas; Melhores Práticas Ambientais; e Riscos Ambientais e Desastres Naturais. Cada um dos itens possui sua série de atividades, orientadas para desenvolver o conhecimento acerca deles. Como o sistema educacional estimula a autoaprendizagem, o jovem que persegue essa insígnia deve se orientar por um guia que estabelece como proceder para cada tipo de atividade proposta pelo seu chefe-escoteiro. Entre as atividades executadas está, por exemplo, um projeto ambiental criado pelo jovem (ou pelo grupo em que ele está inserido) que reúna todo o conhecimento adquirido. Nesse momento, o jovem é encaminhado à “Corte de Honra”, um conselho formado por membros da UEB, que avaliam suas atividades e, enfim, redigem uma recomendação atestando a participação do jovem nas ações coletivas da seção ambiental. A organização destaca, ainda, que cada um dos ramos do escotismo (lobinho; escoteiro; sênior ou pioneiro) tem seu ciclo de atividades.

AMANDA PENNINGTON é uma das contempladas pela IMMA

Para ganhar a insígnia, Amanda Brito Pennington, de 13 anos, se empenhou em um projeto, ao longo de três meses, em que confeccionou cerca de 120 brinquedos reutilizando material reciclado, quando ainda era do ramo lobinho (aos 8 anos de idade). Como parte da ação social a qual a jovem precisava desenvolver, todos os brinquedos produzidos pela escoteira foram doados para crianças de uma creche na Estrutural. “Conheci outras realidades além da minha: crianças que não tinham condições de ter brinquedos. Apenas juntei um sentimento de vontade de ajudar o próximo, ao mesmo tempo em que aprendia com a insígnia que eu ganhei”, sustenta.

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