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Beleza além das curvas

Movimento Body Positive visa combater vergonha e preconceito e promover a aceitação das pessoas gordas

por: Carolina Honorato

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Movimento que prega a aceitação do corpo, o Body Positive foi fundado em 1996 pela americana Connie Sobczac. A ideia é quebrar usuais padrões de beleza, incentivar o amor-próprio e combater a vergonha e o preconceito. “O gordo também é uma pessoa normal”, afirma a estudante de moda Iasmin Novais, 21 anos, militante do movimento.

Iasmin lembra que levou algum tempo para aceitar seu corpo. Hoje, sente orgulho do que é. “O Body Positive é a forma de normalizar o corpo gordo, o corpo que não é considerado padrão, é a forma de combater preconceito, o bullying”, declara. O trabalho, segundo ela, é ajudar as pessoas a se descobrirem e, por outro lado, fazer a sociedade entender que a obesidade não é doença.

A estudante de administração na Universidade de Brasília (UnB) Maria Luísa de Oliveira, 20, concorda. Ela observa que o olhar preconceituoso de uns, para o que consideram defeitos, está longe do que consegue perceber. “Muitas vezes o que para mim é defeito ou imperfeição no meu corpo, para outra pessoa pode ser uma quali dade, fazendo com que se sinta bonita e empoderada’’, conta. Para a empresa ria Daphne Constantino, 31, o próprio termo “acima do peso” é equivocado. “Presume que há um peso máximo certo”, pondera.

O Índice de Massa Corporal (IMC), que envolve uma equação entre altura e peso, é a forma mais usual de classificar se uma pessoa está fora dos padrão considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A faixa de IMC vai de menor que 15, que é extremamente abaixo do peso, até acima de 40, considerado obesidade mórbida. A nutricionista Ana Paula Jansen alerta para os riscos que uma pessoa acima do peso pode ter, mas reconhece que há diversas formas para se avaliar as condições físicas. “A obesidade crônica aumenta ainda mais a possibilidade de o indivíduo ter alguma doença associada. O excesso de gordura corporal sempre acarreta maiores riscos de desenvolver doenças”, explica.

Entre as possíveis doenças associadas à obesidade estão diabetes, hipertensão, síndrome metabólica, resistência à insulina, entre outras. Os adeptos do movimento Body Positive, no entanto, ponderam que tudo passa pelo autocuidado. “Existe algo chamado biotipo, que infelizmente não dá para ficar se matando para caber em um corpo que não é seu”, diz. Nas muitas vezes que tentou se adequar aos padrões da sociedade, Iasmin acabou por tomar remédios e chegou a desenvolver compulsão alimentar. Para Daphne, cuidar da saúde é uma questão que independe do IMC. “O peso é algo relacionado a características genéticas que em nada se relacionam com uma vida saudável”, completa.

“É a forma de normalizar o corpo gordo, o corpo que não é considerado padrão, é a forma de combater preconceito, o bullying”

Iasmin Novais, militante do movimento

“De certa maneira, a publicidade, a produção de moda vai tentar entender esses tipos de corpos”

Cláudio Bull, antropólogo

Militante Iasmin mostra o amor pelo seu corpo

Os adeptos do movimento argumentam que a sociedade sempre fez o papel de submeter padrões de como os outros devem se vestir, quanto cada um deve pesar, como as mulheres devem se comportar. Muitas vezes, alertam, isso faz com que a pessoa que está sendo submetida a essas pressões tenha sentimento de que não se encaixa no padrão sociológico, ou que está destoando do que é o padrão de um determinado grupo. “A nossa sociedade acredita que ser gordo é ser descuidado com a saúde” comenta Iasmin.

O antropólogo Cláudio Bull explica que existe a ideia de um corpo publicitário. Muitas vezes a aceitação ocorre por meio da mídia. “De certa maneira a publicidade, a produção de moda vai tentar entender esses tipos de corpos”, aponta Bull. A partir do momento que há uma padronização do que a ciência aponta como saudável, a pessoas passam a temer retaliações por estarem fora da padronização. “A questão não é de ele ser gordo, voce tem hoje em dia uma questão de vários procedimentos da sociedade que não vai se dar bem com qualquer tipo de coisa que seja diferente”, explica o antropólogo. O olhar de aprovação do outro acaba sendo uma busca constante. “Por mais que as pessoas possam assumir seus próprios corpos você precisa da validação do outro”, comenta.

Iasmin observa que quando a pessoa se sente bem com o próprio corpo, busca se cuidar. “Quando a gente se ama, quer cuidar da saúde, não é por ter um corpo gordo que necessariamente está com alguma doença.” No Body Positive há algumas dicas para ajudar as pessoas a se amarem da forma como são. Uma delas é não se

comparar com ninguém, para evitar a busca de aceitação por um padrão de beleza comum à sociedade e rejeitar o seu corpo tal como ele é.

Ser diferente é interessante A verdade é que ninguém é igual. Todos têm diferenças, o que para o Body Posi tive faz com que a pessoa se torne mais interessante. O mister plus Pernambuco Felipe Miranda conta que sempre foi diferente dos seus amigos da escola. Criança obesa, na adolescência enfrentou ainda mais dificuldades. Não era chamado pelo nome, mas por apelidos pejorativos. “Só me chamavam de gordo, baleia e saco de areia.

Negro e gordo, nunca se acostu mou com o preconceito. Aos 24 anos, participou do primeiro concurso para se tornar mister. “Estava em casa quando vi em minhas redes sociais inscrições para o concurso. Fiz a inscrição, morrendo de vergonha. Quando vi já estava entre os finalistas”, fala Felipe, todo orgulhoso. O julgamento alheio e o preconceito, no entanto, ainda são frequentes.

Felipe tenta mudar essa realidade não só para si, mas também para todos que enfrentam esse tipo de situação. Por meio das redes sociais, busca motivar que as pessoas se amem mais e encon trem sua identidade.

Rótulo A rejeição ao rótulo constante é algo comum entre os adeptos do movimento. A engenheira de produtos Gabriella Silva diz que nunca teve problemas de auto estima. Como se adjetiva, é uma mulher mega confiante. “Como não tinha meu corpo para me apoiar, eu tentava procurar em outros ramos da minha vida, assim não deixava nada me abater, minha mãe sempre me fala que sou muito linda”, afirma Gabriella.

A psicóloga Laianne Santana explica que há vários estudos científicos afirmando que a aceitação é o primeiro passo para a mudança. “No meu ponto de vista, não se refere somente a uma mudança física ou estética, mas a mais importante que é mudar a maneira de pensar, principalmente quando se trata de algo que diz respeito a não aceitação própria”.

Aceitar significa tomar consenti mento sobre como seu corpo está, mas não se entregar ou deixar de se impor tar. Para Laianne, as pessoas que fazem parte do movimento Body Positive têm que ter visão própria e da vida. “Todos sabemos que a obesidade traz inúmeras complicações para a nossa saúde, logo, quando aceitamos que estamos acima do peso recomendado por um médico, de acordo com nossa altura, podemos usar a favor de uma melhor qualidade de vida”.

A falta de aceitação própria e da sociedade pode trazer tanto a ansiedade quanto a depressão, ressalta a

Gabriella diz que família teve papel fundamental para elevada autoestima

psicóloga. O efeito pode ser uma bola de neve. “Uma crise de ansiedade ou depressão pode provoca compulsão alimentar”. Neste caso, segundo ela, o profissional busca a psicoeducação de todas as queixas envolvidas e a reestruturação cognitiva, em busca da mudança comportamental. Percebe- -se que para mudar um sentimento ou comportamento, precisa-se trabalhar primeiramente o pensamento por trás de tudo.

Body Positive

Reveja com quem você anda “Diga-me com quem andas e direi quem és”

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