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Anos de frustração
O futebol de Brasília passa por um momento de ressurgimento depois de alguns anos de decadência em nível nacional
por: Felipe Medeiros
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O Brasil é, se não a maior, uma das maiores referências mundiais em relação a esse esporte, sendo o maior campeão em copas do mundo: 1958 na Suécia, 1962 no Chile, 1970 no México, 1994 nos Estados Unidos e 2002 no Japão e Coréia do Sul. É berço de jogadores de extrema qualidade e destaque, como Pelé, Ronaldo Fenô¬- meno e Ronaldinho Gaúcho. Um cartão de apresentação de respeito se conside¬rado o fato de que 77% da população nacional colocam o futebol como maior paixão dos brasileiros, tanto entre homens (82%) quanto mulheres (72%) - dados levantados por uma pesquisa realizada pelo Ibope em 2012.
Apesar disso, o futebol na capital federal não tem mais tanta representatividade se comparado há alguns anos. Até 2010, ano em que o futebol candango disputou a série B do Campeonato Brasileiro pela última vez, alguns times tiveram destaque nacional-mente, como o Gama (campeão da série B em 1998) e o Brasi liense que com apenas 2 anos de existência foi finalista da Copa do Brasil e perdeu a final para a equipe do Corinthians de forma muito contro¬versa, segundo a imprensa da época. Desde então, passando por inúmeros rebaixamentos das divisões do campe¬onato nacional, falta de organização das diretorias dos clubes e cada vez menos apoio da mídia, o esporte foi perdendo visibilidade.
Um dos principais fatores que indica a força de um clube é sua torcida e um dos principais pontos de defasagem dos clubes locais também é a torcida. Uma pesquisa realizada em 2013 pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) em seis cidades indicou que de 840.930 pessoas entrevistadas, apenas 76.866 torcem para algum time de Brasília. Os clubes locais têm o apoio de apenas 9,1% dos torcedo res, os outros 90,9% torcem para clubes de fora do DF.
O ex-jogador Mazinho Brasília explica o porquê dessa falta de apoio: “Somos uma mistura na formação de nosso DF. A identificação com o clube é bem menor em relação ao Nordeste, Sul e Sudeste. Quando se consegue montar um time forte e se destaca, logo, logo perdem os atletas para fora. O torcedor não cria vínculo. Há uma variação e não se firmam como segundo time. A maioria torce pelo seu primeiro time que é de outro estado”.
O fato de Brasília ser uma das capitais mais novas do Brasil é outro ponto que justifica a pequena concentração de torcedores dos times locais. Os clubes não têm tanta tradição por serem muito novos e tradição é algo que cria um vínculo entre time e torcedor. Para o jornalista e apresentador do programa Donos da Bola, exibido pela TV Band, Danny Pança, os torcedores se identificam com os clubes de fora por seguirem as paixões de seus pais que já vieram à capital torcendo para algum time de outro estado. Isso explica a falta de identidade do torcedor com os clubes locais.
Segundo o apresentador: “Isso está enraizado desde o início, porque as pessoas que criaram a cidade já vieram para cá torcendo para outro clube. Todos têm um pai e geralmente em 90% dos casos o filho acaba torcendo para o time do pai, criando uma paixão. A partir do momento que a cidade vai ficando mais experiente e tenha mais idade isso vai diminuindo aos poucos”.
O editor chefe da Band News FM e comentarista de futebol, Adriano Oliveira, aposta em empresários que pensem além das quatro linhas e justifica a queda de qualidade do futebol local: “Acho que no campeonato desse ano boas ideias surgi ram e eu cito duas equipes em destaque: o Real e o Capital. São empresários investindo e pensando além das quatro linhas, levando opções para fazer com que o jogo de futebol seja mais um atrativo e não o principal atrativo. Eu acho que esse é um caminho para você conseguir criar novos torcedores e agregar novos seguidores”.
Fábio Guimarães, de 41 anos, é assessor de comunicação da torcida Ira Jovem do Gama. Para ele o vínculo que se tem com um clube de futebol é algo muito pessoal. Ele afirmou que quando pequeno acreditava ser torcedor do Vasco, por influência da família, mas quando começou a acompanhar o Campeonato Candango descobriu que torcia para a equipe do Gama.
Fábio diz que para que ocorra um crescimento no número de torcedores dos clubes locais é necessária uma exposição maior. “Na minha visão teria primeiro que consolidar o futebol daqui. A maioria das pessoas teria que torcer para os times daqui e isso é algo mais difícil de acontecer pois os demais times ao redor do Brasil já estão consolidados”. O fato de Brasília ser uma cidade jovem, e consequentemente os clubes também, implica em uma restrição de torcedores. É difícil fazer com que torcedores de outros estados simpatizem com as equipes locais assim como acontece com os times do eixo Rio-São Paulo. Nisso a imprensa tem uma grande importância. Segundo pesquisa da
Abandono da mídia O futebol local não atrai mais a grande mídia. Faltam atrativos, jogadores de destaque, rivalidade entre os clubes, competitivi dade. No campo da publicidade não se pode oferecer um produto a alguém caso não exista a certeza de que aquele produto será de qualidade.
Adriano Oliveira cita que isso se deve à falta de compro metimento das equipes. “No futebol do DF você tinha a falta de respeito com horário de jogos, ou seja, não começava no horário, os clubes atrasavam, mudavam de dia. Essa relação de falta de
Danny Pança é um dos apresentadores do programa “Donos da Bola”
compromisso com os veículos de comunicação, principalmente aqueles que acabam tendo uma grande abrangência, acaba sendo prejudicial”.
Quando a Copa Verde ainda era realizada (competição disputada por equipes do Centro-Oeste, Norte e estado do Espírito Santo), as equipes locais tinham algum destaque nacional, pois o torneio era transmitido em um canal da TV fechada. Porém 2018 marcou o fim das transmissões da competição. A equipe do Brasília foi a primeira campeã, em 2014, e única do DF que conseguiu o feito, porém, após o título, o time não se manteve e segue apagado na segunda divisão do campeonato local.
Mazinho utiliza o exemplo do time para justificar a queda de rendimento dos clubes locais: “O Brasília é um exemplo recente. Formou um bom time, venceu a Copa Verde, em 2014. Foi vice candango e não suporta a manutenção da equipe e a carga a seguir. O time acaba, cai e nem se ouve falar mais”.
Daniel Vasconcelos é o atual presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal. Já está há mais de um ano à frente da federação e diz que o principal objetivo é resgatar a credibilidade do futebol local, muito manchada pela falta de organização que estragou a experiência do público competições. Em ordem, o Ceilândia é a equipe local mais bem colocada, ocupando a 83ª posição, seguida de Luziânia (112º), Brasiliense (117º), Gama (133º) e, por fim, o Brasília (189º). O ranking da CBF é o critério utilizado para a distribuição de vagas por estado dos campeonatos locais. Atualmente, o campeão e vice-campeão do Candangão têm direito a uma vaga direta na série D do ano seguinte.
Jairo de Araújo tem 44 anos e é o atual técnico da equipe do Ceilândia. Ele cita que o fato de o futebol de Brasília não ter clubes disputando as séries mais importantes do campeonato nacional prejudica o desenvolvimento do futebol na capital. O calendário de competições também não favorece já que o Campeonato Candango começa em janeiro e termina em abril. Nos meses restantes do ano não sobram competições para disputar, com isso os jogadores acabam por buscar outros clubes onde tenham oportunidade de dar continuidade ao trabalho.
O treinador destaca: “O calendário do nosso campeonato está complicado em função de não termos equipes nas principais divisões do campeonato nacional. Poderiam mudar nosso calendário colocando o início para maio e, assim, teríamos mais atletas de qualidade à disposição, diminuiriam a folha de pagamento porque teriam grande quantidade de atletas desempregados por conta de as divisões do Campeonato Brasileiro não terem demanda para essa quantidade de atletas”.
O presidente da Federação espera que com o trabalho que vem sendo feito junto à diretoria dos clubes os resultados comecem a aparecer o mais rápido possível.
Futebol de baixo nível Atualmente, cinco equipes do Distrito Federal estão no ranking de clubes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que contabiliza um total de 218 times. A pontuação do ranking considera a participação dos clubes nos últimos cinco anos de
Adriano Oliveira é torcedor do Grêmio; em Brasília, torce para o Gama