10 minute read

o envelhecimento ativo Envelhecimento x Longevidade: O que nos faz feliz?

Next Article
O Cuidador, EU

O Cuidador, EU

© Michael Helmer

Envelhecimento x Longevidade O que nos faz feliz?

Advertisement

Enfermeira, Profissional & Leader Coach Trainer. Docente na Universidade Braz Cubas Janinéri Cordeiro

Envelhecimento e longevidade diferem num ponto: tempo vital.

O nosso corpo, composto por biliões de células, depara-se minuto a minuto com o envelhecimento. Ele é implacável e resoluto. Trabalha exatamente como o bater dos ponteiros do relógio. Enquanto isso, a mente da maioria do “adulto +” trabalha incansavelmente para corrigir os erros de um passado que já ficou para trás ou anseia desenfreadamente na busca do futuro perfeito. Não vive o agora, não aproveita as oportunidades que ainda tem e foca-se na finitude da vida, na herança e testamento que tem que deixar aos seus descendentes, no seu próprio velório que tem de preparar, no trabalho que tem de voltar a fazer, para agora, sustentar filhos e netos que ainda vivem às suas custas. O senil considera os “seus últimos dias” como um prazo de validade prestes a expirar.

Em contrapartida, a longevidade é leve, pois como a palavra diz, há um longo caminho a ser percorrido ainda, no qual a idade supera estatísticas, limitações físicas e mentais e ultrapassa os julgamentos. Sonhos, prazeres e felicidade são permitidos dentro deste conceito. A longevidade amplia os horizontes para uma vida jamais vivida, onde a experiência ganha força no momento da tomada de decisões mais assertivas e proporciona grandes oportunidades de ainda experimentar mudanças e novidades. O “eu senil” revigora-se a cada dia e não há nada que os impeça de vi- ver intensamente. O foco é no aqui, no agora, no viver. Richard Restak, no seu livro “O cérebro nunca envelhece”, destaca que existem estudos que revelam que algumas habilidades cognitivas — como a verbal, por exemplo — podem aumentar conforme envelhecemos. Desta forma, e com base no que os investigadores descobriram sobre a forma como o cérebro compensa o “envelhecimento” mental, Richard Restak aconselha que devemos continuar a aprender coisas novas e, assim, rechear a mente com informações que podem ajudar-nos a nivelar parte da perda cognitiva ao longo da vida.

Um dos grandes segredos para ter uma vida longa e sã é aprender a vivê-la, e uma em cada quatro pessoas considera que não o está a fazer. É o que aponta um estudo que colocou em confronto a satisfação com a própria vida com o risco de morte, conduzido por investigadores da Universidade de Londres, no Reino Unido.

A pesquisa britânica foi realizada com 9365 adultos ingleses com 63 anos de idade, em média. Os participantes responderam a questionários, com intervalos de dois anos, entre 2002 e 2006 e avaliaram o andamento dos seus sentimentos quanto à própria vida. O estudo apontou respostas como: “Eu gosto das coisas que faço”, “Eu gosto de estar na companhia de outras pessoas”, “O meu passado traz-me felicidade”, entre outras informações.

As respostas negativas a essas afirmações foram reportadas por cerca de 24% dos participantes. Praticamente uma em cada quatro pessoas não está satisfeita com o seu viver. Durante o período de acompanhamento, ou seja, até ao final de 2013, 1310 dos inquiridos morreram. A taxa de mortalidade mais alta foi constatada entre aqueles que disseram estar menos felizes e satisfeitos. As mortes diminuíram progressivamente conforme aumentavam as afirmações positivas sobre a vida. Segundo a pesquisa, as mulheres são mais propensas a sentirem-se felizes, assim como casados, pessoas empregadas e com formação intelectual elevada, os mais ricos e os mais jovens. “Estes resultados revelam uma associação real entre a mortalidade e os níveis de bem-estar”, concluíram os investigadores. Além da felicidade, existem outros segredos para se obter uma vida longa e saudável.

“Zonas azuis” Habitamos num belo planeta e, por mais que tenhamos aspetos de vida diferentes, vivemos integrados através de ações fundamentais da vida como dormir, acordar, comer, beber, caminhar, pensar, relacionar-se, entre outros. De facto, determinadas regiões ao redor do mundo apresentam uma população com alto índice de saúde e, por consequência, maior longevidade comparadas com outras regiões mundiais. Estes locais foram chamados de “zonas azuis ou blue zones”. O conceito das zonas azuis desenvolveu-se a partir do trabalho demográfico de Gianni Pes e Michael Poulain, que identificaram a província de Nuoro, Sardenha, como a região com a mais elevada concentração de centenários do sexo masculino do mundo.

Dan Buettner e a sua equipa uniram-se à National Geographic para ampliar essa pesquisa e descobrir onde estão as pessoas mais longevas e que fatores contribuem para isso. Identificaram cinco áreas geográficas espalhadas ao redor do planeta, incluindo povoações na Grécia, Costa Rica, Itália, Japão e Califórnia.

A partir da pesquisa, o termo blue zone começou a ser utilizado para designar essas regiões do mundo onde as pessoas consistentemente têm uma saúde e qualidade de vida acima da média mundial. Nesses locais, a quantidade de pessoas que atinge os 100 anos é destacadamente maior que a média. As cinco blue zones são:

Sardenha, Itália. Maior concentração de centenários do mundo. Numa montanha específica, mais de 50% dos homens chega aos 100 anos de idade. Esta é uma região de planaltos montanhosos do interior da Sardenha com a mais elevada concentração de centenários do sexo masculino. Ilhas de Okinawa, Japão. Lar de mulheres de extraordinária saúde, com a maior expetativa de vida do mundo. Os habitantes morrem cinco vezes menos de cancro do pulmão e do colo, e seis vezes menos de doenças cardiovasculares (em relação aos Estados Unidos). Figura 1 Icária na Grécia tem a maior taxa de pessoas que alcançam os 90 anos no planeta.

© Wikipédia

As mulheres com mais de 60 anos de idade são a população mais longeva do mundo. Loma Linda, Califórnia. Grupo mais longevo dos Estados Unidos, constituído por religiosos Adventistas do Sétimo Dia. Pessoas desse grupo vivem em média 11 anos a mais do que outras pessoas da região. Península de Nicoya, Costa Rica. Ali os habitantes comem muitas frutas e cereais ricos em antioxidantes. É considerada a maior zona azul do mundo. Icária, Grécia. Maior taxa de pessoas que alcançam os 90 anos no planeta — aproximadamente 1 em cada 3. Os investigadores também constataram que os icarianos têm uma taxa 20% menor de incidência de cancro, 50% menor de doenças cardíacas e praticamente 0% de demência.

Estilo de vida O que é que as “zonas azuis” têm de especial? Quais são as caraterísticas comuns no estilo de vida dos habitantes desses lugares pertencentes a países e culturas tão diferentes? Em suma, os resultados da pesquisa podem ser agrupados em três grupos de atitudes que os longevos praticaram desde a sua tenra infância:

De acordo com os investigadores das blue zones, a expetativa de vida média de uma pessoa pode aumentar de dez a doze anos ao adotar os hábitos mais importantes presentes nas zonas azuis. Dan Buettner reuniu uma equipa de médicos, antropólogos, demógrafos e epidemiologistas para procurar por denominadores comuns entre estes cinco lugares e descobrir quais os elementos que são decisivos para a longevidade. Esta pesquisa revelou que, apesar das zonas azuis estarem em diferentes partes do mundo, com caraterísticas climáticas, culturais e históricas

© Italo Melo

bem distintas, o estilo de vida dos seus habitantes, de acordo com a pesquisa, possuem nove fatores em comum: 1 Movimente-se Nestes locais, o movimento faz parte da rotina. Atividades como o cultivo de jardins e hortas, marcenaria, locomoção e um quotidiano sem as comodidades modernas, faz com que seja necessário o uso de trabalho de braços para que as coisas aconteçam.

2Conheça e cultive o seu propósito As pessoas nas “zonas azuis” tendem a ter um forte senso do seu propósito de vida, conhecido como “Ikigai” em Okinawa ou “projeto de vida” em Nicoya, o que se pode traduzir como “a razão pela qual se deve levantar pela manhã”. Este propósito, que também está associado à sensação

© icon0.com

“Um aspeto em comum de todas essas regiões é o baixo consumo de produtos industrializados e refinados.”

de pertença, traz geralmente benefícios para outras pessoas e para a comunidade, é algo que traz ânimo, satisfação e apreciação pela vida. De acordo com Buettner, este senso de propósito pode acrescentar até sete anos a mais na sua vida.

3Administre o stress O estado de stress crónico é a principal causa de doenças e de infelicidade no mundo hoje. Ele leva à inflamação sistémica, que está associada às principais doenças relacionadas com a idade. Momentos de stress são parte da vida e até mesmo saudáveis, e certamente os habitantes das “zonas azuis” também os enfrentam, mas o modo como lidam com o stress faz toda a diferença. É comum para os okinawanos que as pessoas parem por alguns momentos todos os dias para relembrar seus ancestrais. Já os adventistas têm a sua pausa ao sábado para se conetarem com o criador, descansarem e estarem unidos em família.

4Siga a “Regra dos 80%” A restrição calórica e o jejum intermitente são práticas comuns nas “zonas azuis”. Os okinawanos recitam um mantra de Confúcio com 2500 anos antes das refeições, o “Hara hachi bu”, que significa aproximadamente “coma até que a sua barriga esteja 80% cheia”. Isto faz com que eles parem de comer antes do correrem o risco do excesso, ajudando a prevenir o ganho de peso e o surgimento de doenças.

Os icarianos, tipicamente cristãos ortodoxos gregos, praticam o jejum em feriados religiosos, em momentos diferentes durante todo o ano. Pesquisas demonstram que o jejum estimula a renovação das células, fortalece o sistema imunológico e reduz o risco de desenvolver doenças crónicas, como diabetes e hipertensão. Ter um senso de propósito corresponde a até sete anos a mais de expetativa de vida.

5Boa alimentação Um aspeto em comum de todas essas regiões é o baixo consumo de produtos industrializados e refinados. Vegetais frescos, frequentemente cultivados nos quintais, produtos animais de boa qualidade, grãos e leguminosas preparados tradicionalmente constituem a dieta típica.

6Valores elevados, fé e propósito A fé e a dedicação a princípios morais e espirituais desempenham um grande papel na vida dos habitantes das “zonas azuis”. Normalmente este conjunto de crenças e princípios fortalece o vínculo entre as pessoas, criando um senso de pertença que provê suporte social e pode ajudar a aliviar a depressão e a solidão. Todos os 263 centenários entrevistados (exceto cinco) pertenciam a alguma comunidade com base na fé. A denominação não é importante.

7A base familiar Nas “zonas azuis”, as famílias são mantidas por perto. Isso muitas vezes inclui os pais com mais idade a viverem na mesma casa ou bem próximos dos outros membros da família. Essa proximidade é especialmente importante para o convívio social dos mais velhos, contribuindo muito para a saúde e o equilíbrio mental e emocional.

8Convívio social Conviver com aqueles que confiamos e com os quais temos afinidade reforça as nossas qualidades e traz um benéfico senso de segurança e pertença. Estar rodeado de pessoas que promovam comportamentos saudáveis e positivos é ainda mais importante.

© Luiz M. Santos

9Evite toxinas Todas as regiões pesquisadas são relativamente livres de poluentes pesados, como os encontrados em áreas industriais e urbanas densamente povoadas. Além disso, quando há consumo de álcool, este é baixo, sendo que a principal bebida consumida é o vinho, feito artesanalmente a partir de uvas orgânicas, oferecendo assim polifenóis benéficos.

Com o conhecimento correto é possível maximizar a nossa longevidade com felicidade e saúde. Atitudes e escolhas simples podem contribuir muito para garantir uma vida plena. Portanto, não importa a sua idade, limitações de qualquer ordem, use o seu agora com sabedoria e desfrute melhor o dia: o hoje, afinal, a vida é um sopro, isso é facto. Porém, transformá-la em brisa ou tornado depende de si. O que escolhe?

Viva um dia de cada vez. Mais que quantidade, o essencial é a qualidade desses dias. Adicione anos à sua vida e à vida aos seus anos. Um brinde à longevidade!

This article is from: