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Geriatria e Gerontologia: Alguns
from DIGNUS nº1
by cie
Geriatria e Gerontologia
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Alguns conhecimentos médicos pessoais no tratamento de idosos
Glauco de Lorenzi Médico
© rawpixel.com
Conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de prática médica em consultório e mais 2 anos na prefeitura de Mogi das Cruzes com idosos consonantes e, por vezes, contraditórios com as atuais guidelines.
Apesar de no Brasil se ser considerado idoso a partir dos 60 anos e na Europa dos 65 anos, isso não faz tanta diferença. Tivemos no Brasil muitas imigrações voluntárias ou não, por isso a mestiçagem é um facto, a saber, com os nossos indígenas, portugueses, africanos, italianos, alemães e desde 1912 com muitos orientais, principalmente japoneses e muitos outros europeus e latino-americanos. Sabidamente algumas raças são mais propensas a determinadas doenças mesmo quando jovens e depois dos 60 anos quase sempre se agravam. Estamos a utilizar somente o critério cronológico de idade por ser mais didático. Deixemos os Telómeros, a Telómerase e os Cromossomas para uma outra vez.
Costumo dividir os pacientes ditos geriátricos por décadas, a saber, de 60 a 70 anos, de 70 a 80 anos e de 80 a 90 anos ou mais, porque muita coisa muda nos diferentes decanatos na fisiologia, na pele, nos órgãos internos, no arcabouço, músculo esquelético e na mente, abrangendo também os aspetos socio-familiares e a viuvez e a solidão consecutiva. Outra divisão de maior importância © Lotus Head
é por géneros masculino e feminino. É óbvio que certos problemas caraterísticos do homem como adenoma e cancro da próstata e testículos são apanágios dos homens enquanto problemas de útero, ovários, mama e vagina pertencem ao grupo feminino. É claro que também a psique de cada grupo é diferente.
Grupo A – de 60 a 70 anos de idade Tive oportunidade de acompanhar linearmente pacientes adultos jovens até à senectude pois tenho 53 anos consecutivos de consultório em clínica geral, cirurgia geral e ginecologia, já que a cidade era pequena e tinha poucos médicos, portanto fazíamos quase tudo, sem a enormidade de recursos que existem hoje em termos de exames de laboratórios e de imagem. No segmento de 60 a 70 anos de idade, onde menos de 10% se considera idoso, temos raramente os problemas geriátricos de verdade. Notei que os reformados e/ou aposentados que continuam com atividade na própria profissão ou em outros segmentos laborais, principalmente quando envolve atividade física, tem muito menos problemas do que aqueles que uma vez aposentados pedem imediatamente por um sofá em frente à televisão, e de preferência uma bandeja de petiscos a serem degustados, tornando-se totalmente sedentários.
Neste grupo, homens e mulheres colhem o que plantaram nos últimos 60 anos, fora doenças profissionais, o uso de tabaco, álcool, noites mal dormidas e nenhuma preocupação com os alimentos ingeridos pesam muito na qualidade de vida posterior. É muito comum que apresentem no mínimo uma a duas patologias crónicas e ingiram 2 ou 3 remédios, nem sempre inocentes. Nesta fase contamos com incontinência urinária nas mulheres que tiveram parto normal e urgência miccional nos homens, problema de incontinência de gases nos dois generos, os problemas de hipertensão arterial, próstatas aumentadas com os problemas urinários inerentes, alguns enfartes com stents ou pontes de safena, algumas senhoras, todas em pós menopausa, algumas apresentando as suas cicatrizes de mastectomia e início de secura vaginal e alguns casos já de craurose vulvar. Porém a maioria lúcida com alguns problemas de hipoacusia, dores lombares, fibromialgia, e alguns casos de depressão. Este grupo, do ponto de vista socio–familiar, apresenta-se ativo e frequentam festas de aniversário de netos e muitos ainda trabalham.
A artrose é também frequente, principalmente de joelho e ombros em ambos os sexos. Os pedidos para fazerem check-up são muito frequentes, creio que por lerem revistas de novidades, por medo ou por serem conscientes mesmo. Desvios de coluna vertebral fazem-se sentir, bem como a diminuição da altura por desidratação de discos intervertebrais. Consultas neste grupo raramente precisam de mais de 1 hora. Embora esteja na moda em geriatria a consulta slow, o que me deixou pasmado pois nunca consegui atender pacientes de qualquer idade em tempo menor excetuando-se os casos de escabiose ou pediculose que sempre atendi em menos de 15 minutos.
Grupo B – 70 a 80 anos Consideremos então o próximo grupo de 70 a 80 anos. Nesta fase muitos pacientes referem uma enorme satisfação por ainda conduzirem os seus carros, mas esse facto causa ansiedade nos seus familiares, já que há um aumento dos riscos pela diminuição dos seus reflexos e da sua mobilidade, maior probabilidade de apresentarem mal estar súbito, entre outros. Os problemas já enfrentados por perda de familiares e amigos, viuvez e solidão, exigem que nós, médicos, nos dediquemos mais ao estado mental e espiritual destes pacientes com palavras e frases positivas, estimulando algum tipo de atividade física, orientando para as mais variadas dietas e a sua importância, enfatizando mais os aspetos da saúde e não poupar elogios sobre os aspetos positivos de cada paciente, fazendo com que assim percebam a importância de cada um deles. Estimular a frequência a igrejas e templos, porque a fé é um instrumento forte para uma vida plena. Seja qual for a crença é sempre positivo estimular esta atividade. Aconselhar a prevenção em relação a quedas no lar ou nas vias públicas. Se possível estimular que frequentem ambientes próprios para a respetiva faixa etária onde exista música, eventuais danças (que já é uma atividade física), ou mesmo como temos aqui em Mogi das Cruzes, locais públicos para exercícios, jogos adaptados, hidroginástica, palestras, ensino de computação básica, biblioteca, bem como algumas formas de artesanatos e passeios em grupos. Conforme o lugar, fazendo juntos as diferentes artes culinárias segundo o costume ou o combinado previamente. Tecnicamente, como são plurimedicados por diferentes especialistas, verificar as interações medicamentosas e aconselhá-los dentro dos preceitos éticos a proceder a mudanças depois de comunicarmos com os seus outros médicos, já que é uma fase em que é necessária uma abordagem multidisciplinar. Evito pedir exames que os façam sofrer ou expô-los a situações de risco físico, a não ser quando absolutamente necessário.
Grupo C - 80 a 90 anos ou mais Este grupo é extremamente delicado no trato. Dificilmente estão sozinhos na consulta, quase sempre estão acompanhados por filhos, parentes ou cuidadores. Este grupo tem um número de óbitos quase igual ou o dobro da soma do grupo A e do grupo B. Muitas vezes querem apenas falar, então temos que ser bons ouvintes e escutarmos atentamente nem que repitam o mesmo assunto várias vezes, facto que é aliás comum. A maioria
falece de problemas cardiovasculares, seguido de neoplasias e depois de problemas respiratórios. É frequente estarem a tomar muita medicação pois passam em vários médicos. Quase sempre têm perda de massa magra e desvios da coluna, diabetes frequentemente. As próteses dentárias por vezes dificultam a mastigação pelo que os alimentos bem cozidos são aconselháveis. Enfatizo uma alimentação saudável rica em nutrientes, andar sempre que possível e exercícios respiratórios. Com este grupo retiro mais medicamentos do que receito, pois por vezes são de pouca valia e não modificam as estatísticas de forma a aumentar a sobrevida. A confusão com a grande variedade de medicamentos e os seus horários é frequente, assim deve ser muito bem definido como se devem tomar e deve estar por escrito de forma legível. Converso longamente com este tipo de pacientes que não raro são meus amigos, relembrando factos importantes do passado que são desempenhados sempre com alegria. A memória recente costuma não ser muito boa, mas a memória dos tempos mais recuados vai de boa a ótima.
Em suma este campo cada vez maior da medicina que é a Geriatria e Gerontologia exige dos
© Miroslav S.
© Andrew C.
profissionais que a ela se vão dedicar, uma preparação técnica excelente bem como uma preparação humanística e holística, onde a paciência seja constante, a disposição de ouvir e aconselhar esteja sempre presente, sem se descuidar do carinho e respeito que merecem como seres humanos que são.